quarta-feira, 9 de abril de 2008

A GRANDE NANNY QUILOMBOLA - A MÃE DA JAMAICA

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com


Introdução
Ministrando aulas aos estudantes sempre reitero as mentiras dos livros didáticos, ratificando que todo o cuidado é pouco com a história oficial escrita, pois foi organizada para atender as elites brancas desse país. Alguns desses aspectos são interessantes: a omissão da resistência do povo preto ao lado da negação da formação civilizatória africana com todas as suas conseqüências e a fixação de explicar toda a história somente através das lutas de classes onde o povo preto é colocado como mais um entre os explorados aonde a concepção classista torna-se reducionista negando a problemática racial.
Infelizmente a maioria de educadores e educadoras de colorações epiteliais cheias de melanina é descompromissada com a descoberta da verdade, meros repetidores dos ensinamentos eurocêntricos e de professores oriundos da classe dominante que ridicularizam as resistências africanas e na diáspora. Cabe a nós, povo preto, o dever de desmitificar a história e suas linguagens que servem para escravizar e manter os afro-diásporicos com sentimentos de inferioridade. Cabe a você irmão e irmã a responsabilidade também da procura das verdades escondidas e perfazer o legado roubado do povo preto no mundo.
A reconstrução desse legado tem nas mulheres pretas grandes exemplos, senão os maiores, estas que são as mais belas do planeta e foram os ícones e representações de deidades nos primórdios civilizatórios em todos os anais da história mundial. Necessário é ressaltar que ao nos defrontarmos com os estudos afrocentrado, notamos que não é mera mudança semântica ou simplesmente a criação de mais um ismo, no devir histórico o Afrocentrismo, mas, a verdade que se revela por si mesma e nestas revelações afrocêntricas a cada dia a presença da mulher preta no desenvolvimento da humanidade, na quebra de paradigmas veiculados pelo eurocêntrismo baseadas na meia-verdade e na divulgação de machismos e achismos, na construção de uma história machista e branca onde a mulher é colocada como coadjuvante e simples ventre reprodutor, as recentes descobertas de escavações em todo o planeta de civilizações pretas comprovam poderosas civilizações matrilineares e matriarcais. Não se pode falar em Afrocentrismo e Panafricanismo sem resgatar a participação das nossas ancestrais como grandes líderes em terras afro-asiáticas e nas lutas de libertação na escravidão, na formação de identidades étnico-culturais e de novas nacionalidades na diáspora. Continuo afirmando que a concepção da não participação das mulheres nas decisões são concepções ocidentais e machistas. Ainda hoje o poder matriarcal é exercido em cultos de origem africana em muitos locais da diáspora representando através do simbolismo diferenças profundas do poder patriarcal ocidental e branco, onde as mulheres não passam de simples auxiliadoras.


A Grande Nanny
A Jamaica um país que é pouco conhecido no Brasil especialmente pela sua localização geográfica - terceira ilha em extensão no Caribe, menor do que Cuba e Hispanhola - e também da diferença lingüística. A maioria da população brasileira quando se fala em Jamaica entende como se fosse somente terra do reggae e de Bob Marley, desconhecendo a história da resistência dos pretos e das pretas jamaicanas.
A história da resistência dos pretos jamaicanos inicia com os primeiros seqüestrados do continente africano que fugiram dos navios em 1512 e se embrenharam nas florestas jamaicanas, iniciando o movimento de resistência “maroon”, em língua portuguesa é conhecido como mocambo, quilombo ou cafundó. A população jamaicana tem na pessoa da Grande Nanny, mulher preta e guerreira, seu maior ícone nacional, maior do que Zumbi dos Palmares no Brasil, ao passo que este fora incluído como herói nacional do povo preto somente nas últimas décadas por lutas do Movimento Negro, não sendo ainda consensual para as elites brancas brasileiras a sua inclusão, assim elas o fazem para não modificar a sua história embranquecida, omitindo a resistência do povo preto e a desqualificando, incorrendo no meu protesto e desabafo nos artigos escritos neste blogger: BRANCOS QUILOMBOLAS EM PALMARES: ROMANTISMO E MENTIRAS! e É NECESSÁRIO RESPEITAR NOSSAS MEMÓRIAS - QUILOMBOS E CRISTÃOS-NOVOS NO BRASIL NUNCA FORAM ALIADOS.
Fatos estes não ocorridos com Nanny: A Rainha Preta da Jamaica. Esta guerreira africana provavelmente nasceu entre os povos ashanti e veio de uma família nobre de guerreiras africanas, no nosso blogger discorremos sobre outra guerreira ashanti que convocou os homens para a guerra contra o invasor europeu, após os mesmos terem se acovardado: YAA ASANTEWAA: A RAINHA GUERREIRA ASHANTI e AS GUERRREIRAS DO DAOMÉ- A RESISTÊNCIA DA MULHER AFRICANA CONTRA O INVASOR FRANCÊS
Os documentos históricos sobre Nanny relatam a sua presença, conforme Deborah Gabriel, somente quatro vezes e de formas depreciativas, evidente que os documentos foram escritos pelos escravizadores britânicos. O seu nascimento ocorreu provavelmente em 1680 no povo Ashanti e a sua morte data de 1730, foi casada com Adou e não teve filhos. Em alguns relatos históricos Nanny não aceitou a escravização e quando desembarcou liderou a fuga e com mais cinco irmãos foram para as montanhas azuis e fundou a Nanny Town, liderando a guerra contra os britânicos por quase 50 anos.
A opressão dos escravizados na Jamaica na plantação da cana-de–açúcar transformou essa ilha como um dos maiores exportadores.

As revoltas dos quilombolas jamaicanos (marrons) foram intensas de 1655 até 1830, com um suporte religioso considerável de práticas africanas ancestrais, de respeito a memórias dos antepassados, perfazendo um grau elevadíssimo de auto-estima em ser africano em uma diáspora forçada. Os escravizados africanos na Jamaica são considerados por alguns historiadores como grandes revoltosos.
A luta de Nanny e sua liderança dos marrons foram de enfrentamento ao exército britânico baseada em confrontos de estratégia de guerrilhas, facilitadas por causa das cidades marrons situadas nos altos de montanhas como o caso de Nanny Town. Nanny era uma líder espiritual, uma zeladora do Obeah, religião de matriz africana praticada na Jamaica. O Obeah é também praticado em Suriname, Jamaica, Ilhas Virgens, Trinidad e Tobago, Guiana, Belize, Bahamas, St. Vicente e Granada, Barbados e em muitos outros países do Caribe. A religião dava forças nas lutas dos marrons contra representantes de uma religião européia deformada que escravizava e tirava a dignidade da liberdade. Nanny foi uma conhecedora das ervas e uma líder nata que dava aos guerreiros e guerreiras confiança que poderiam viver livres e vencer o inimigo.
No ano de 1994 o estado jamaicano homenageia Nanny com uma nota de 500 dólares jamaicanos. No Brasil o grande líder Zumbi nunca foi homenageado em nenhuma cédula nacional, porque para as elites e sua historiografia ele foi simplesmente um escravizado revoltoso e não é interessante o estado corroborar histórias de pretos e pretas que lutaram pela liberdade. Inclusive é espantoso que na cidade de Salvador o dia 20 de novembro ainda não seja feriado municipal, e é o momento político que nas próximas eleições municipais tenhamos Olívia Santana e Luís Alberto para candidatos a prefeito da cidade mais preta desse país.

A grande Nanny é um dos exemplos de resistência que devemos ensinar para as nossas crianças e para nossa militância. A rainha Nanny não é um exemplo somente para a Jamaica e sim de toda a Afro-América e continua através da oralidade mantendo viva a chama da liberdade.

Um comentário:

Unknown disse...

Uma forma de agilizar o surgimento da verdade em todas as escolas e livros, é fazer uma visita aos velhos da Ação Griô do Brasil. É um Projeto do MinC onde os Velhos contam histórias orais. É bingo. Eles falam o que passaram e o que seus pais e avós disseram. Pena que já são bem idosos e por falta de entrevista, mais verdades irão para o túmulo.

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