segunda-feira, 21 de abril de 2008

PENTECOSTALISMO E O DESPERTAR DA AFRICANIDADE

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br
É de suma importância o Movimento Pentecostal, posto que é um fenômeno religioso de amplitude e possuidor em sua maioria de membros pretos. O interessante é que análises simplórias e discriminatórias de estudiosos o colocam diferenciado de outras igrejas protestantes, com análises ermas de dentro para fora e com olhares eurocêntricos e uso de instrumentos metodológicos os quais não permitem compreender valores africanos em sua formação e resistência aos valores europeus originários da Reforma do século XVI.
Toda a minha infância e adolescência foram bipolares, vivendo na Assembléia de Deus e na Igreja Presbiteriana. Quase em frente a casa onde cresci no município de Queimados-RJ ainda há uma grande igreja Assembléia de Deus a qual possuia cânticos alegres, manifestações espirituais de origem africana, com instrumentos não convencionais na concepção reformada e uma plenitude de pretos e pretas.
Quando falamos em consciência e escravização mental nas questões raciais colocamos no bojo todas as religiões praticadas no Brasil, porque parto dessa premissa, não há nenhuma religião no Brasil independente dos graves momentos de aumento de falta de respeitabilidade a cultos de matriz africana, que tenha em sua formação e reuniões de lideres para o combate a discriminação racial de forma organizada, e uma proposta de poder político para o povo preto sendo uma viés o caráter religioso, baseado nos princípios do Panafricanismo.
O mais recente movimento pentecostal nos USA foi um processo de despertar da africanidade, uma negação das concepções brancas de cultos e de valores eurocêntricos litúrgicos e de interpretações da divindade por um pequeno grupo de eleitos que dominam o saber teológico, possível somente pelo passar das faculdades teológicas que permitem entender o sagrado e suas manifestações somente através dos estudos acadêmicos. O pentecostalismo reage a essas concepções do distanciamento de Deus pela necessidade da própria ancestralidade, de sentir e exercer a espiritualidade de uma forma mais parecida com os seus valores ancestrais africanos, e não com a letargia caucasiana de climas gelados e cânticos anglo-saxônicos e germânicos, tornou-se necessário africanizar a Igreja e resistir às pressões raciais da fé reformada européia, tanto assim que o movimento pentecostal surge de maneira abrasiva com “O Chamado Avivamento da Rua Azusa, ocorrido em Los Angeles, nos EUA, há 100 anos, foi um dos mais importantes movimentos evangélicos da história da Igreja. No raiar do século 20, a sociedade americana, impregnada pelo racismo, presenciou uma onda carismática varrer as igrejas do país. E à frente do movimento estava justamente um pastor negro, William Joseph Seymour. De origem humilde, cego de um olho e sem formação escolar, Seymour chegou a ser discriminado na igreja - para assistir aulas numa escola bíblica freqüentada por brancos, ele tinha que se sentar no corredor, enquanto ouvia as explicações através da porta entreaberta da sala.
Após ser expulso de uma congregação afro-americana por pregar a doutrina pentecostal, Seymour iniciou uma série de reuniões inter-raciais em uma residência particular. A medida que a notícia sobre curas e milagres espirituais se espalhou, cresceu também o número de pessoas nos cultos. O grupo então mudou-se para uma estrebaria desativada na Rua Azusa. Ali, pessoas de todo o país e até do exterior vinham presenciar a manifestação do poder de Deus.
Apesar do avivamento, a questão racial provocava situações bizarras. Seymour tinha o cuidado de dispor os bancos em círculo, para que os freqüentadores negros não dessem as costas aos brancos, o que era considerado ofensivo. Como nem todos os crentes brancos aceitavam que o pastor orasse por eles, Seymour, para evitar constrangimentos, costumava ajoelhar-se atrás do púlpito feito com caixas de sapatos e orar dali. Enciumados da liderança espiritual exercida por aquele negro, os outros pastores da cidade passaram a evitá-lo. Seymour não era convidado para pregar nem participar de convenções. Quando ia a um culto, sequer tinha sua presença anunciada. Mesmo assim, William Seymour continuou com a missão da Rua Azusa - que se tornou uma igreja quase toda negra - até sua morte, em 1922".
(Marcos Stefano) Revista Eclésia Edição 108 2005
Azusa Street Revival

No Brasil está resistência continua liturgicamente e de cultos totalmente africanizados nas manifestações espirituais, assista esse vídeo:
VIGILIA DO RETETE NA ASSEMBLÉIA DE DEUS PARTE 3
Já surgem vozes discordantes de lideranças brancas contra as expressões africanizadas dentro dos cultos pentecostais como o pastor Silas Malafaia.
Embora a Africanidade esteja presente nos cultos em que pese a espiritualidade dos participantes, pretos e pretas, uma teologia prática que oferece cura para os problemas espirituais e fisicos, os valores caucasianos ainda imperam no seio das Igrejas Pentecostais, sendo representado em sua maioria pelas lideranças brancas e sua teologia de omissão para as questões raciais.
Os fundadores da Assembléia de Deus no Brasil foram dois suíços que vieram dos USA e sabiam muito bem das questões raciais e se estabeleceram na cidade de Belém, e cria-se uma ruptura na idéia de ser uma igreja nacional sem influências externas, esse movimento cresceu no Brasil alheio ao movimento pentecostal dos pretos nos USA.
Os fundadores da Assembléia de Deus em Belém foram Daniel Berg e Gunnar Vingren.
Nos USA, através dos Spirituals a comunidade preta resistiu e não aceitou ser tratada como mercadoria e surgiram diversas igrejas pretas contestatórias da discriminação racial, através de conceitos teológicos, alguns afrocentrado, e todos com a consciência da vivência na discriminação racial violenta, não significando que todas as igrejas tivessem um conceito não integracionista e seus membros ainda são desejosos de usufruir os valores europeus e se integrar na América Branca.
O Movimento Pentecostal no Brasil não discute as questões raciais,os membros de maioria preta são embranquecidos mentalmente ,outrossim, é incontestável o grande paradoxo da dominação e escravização mental, não podemos especialmente considerar a Assembléia de Deus a maior religião negra do Brasil, por negar a negrura nos sentidos psíquicos e sociais, na demonização da ascendência africana,na repulsa as culturas ancestrais e na prática teológica branca.São igrejas como ponta-de-lança de um problema ainda maior, da não resignificação simbólica da fé e da negritude e ao mesmo tempo de maior aceitação da comunidade afro-diásporica no Brasil.
A história do moderno pentecostalismo nos serve de arcabouço para entender e pontuar como igrejas de milhões de membros pretos no Brasil não assumem um questionamento da problemática racial e discriminação da maioria de seus fiéis, os colocando fora da própria realidade, como vivessem dentro de um paraíso racial, contrariamente ao Movimento pentecostal nos Usa que na sua formação teve a necessidade de separação pela discriminação racial e a fé Pentecostal assumiu uma nova postura teológica e levantou lideranças para o combate a discriminação racial.
É interessante pontuar também que nenhuma grande denominação protestante brasileira discute o racismo seriamente, e nesse ponto, todas podem ser comparadas aos pentecostais. Não temos nenhuma denominação que seja capaz de liderar e consiga reunir dentro do seu próprio grupo um grande encontro, nem cerca de 30 pastores para intervir diretamente e propor mudanças reais. As igrejas protestantes são omissas e quanto mais ”intelectualizadas” mais embranquecidas,os pretos(as)que chegam ao pastorado ensinam os padrões teológicos e litúrgicos caucasianos mantendo a mesma situação de inércia acerca da questão racial,e denominações que possuem pastorais para enfrentamento da discriminação racial os membros pedem permissão e prestam relatórios as suas lideranças brancas, as quais permitem ou não tomadas de atitudes, e outros grupos são orientados por pastores brancos os quais consideram o CNNC radical quando afirmamos a necessidade de discutirmos e planejarmos os nossos próprios caminhos.Incrível que pareça a couraça de ser anti-africano se torna mais evidente nas igrejas não pentecostais, do outro lado dentro de todas as denominações há contestações isoladas.
No Brasil, no caso especifico das Assembléias de Deus, já surgem vozes que ensaiam discutir as questões raciais: jovens seminaristas e membros que já participam do Movimento Negro timidamente e ativamente nas lutas pela terra em diversos quilombos evangélicos. No blogger do CNNC/BA foi postado um artigo de uma jovem do Paraná da Assembléia de Deus que faz um questionamento. Leia o artigo NEGROS CRISTÃOS NO SUL DO BRASIL
Uma seara de esperança surge com essas vozes, para a resignificação dos membros das Igrejas Pentecostais, e mais além de toda a Igreja de Yeshua: o redescobrimento com sua ancestralidade africana e a resistência contra a discriminação racial, nas bases do Panafricanismo e surgimento de uma Teologia Preta.

Um comentário:

Anônimo disse...

o pentecostalismo surgiu há muito tempo o que se nota e que nesses lugares o numeros de negros é expressivo portanto assim como o cristianismo sao as religioes que mais crescem nesse pais,repare vcs que no catolicismo nunca teve um papa negro, sao poucos padres,cardeais,freiras etc aqui já nos pentecostalismo é diferente há mais liberdade em todos os ambitos eu me sinto muito bem nesse meio.dils

God bless you ...peace.

PRETAS POESIAS

PRETAS POESIAS
Poemas de amor ao povo preto: https://www.facebook.com/PretasPoesias