segunda-feira, 28 de setembro de 2009

MUTILAÇÃO GENITAL FEMININA - VIOLAÇÃO DO CORPO DA MULHER

Por Aidan Foluke, membro da COPATZION, Tesoureira do CNNC/BA e Acadêmica de Enfermagem. E-mail: vanessasoares13@hotmail.com

Skype: aidanfoluke


Desde os primórdios as questões fisiológicas feminina sempre foram ponto de questionamento, principal quanto se fala nos seus órgãos sexuais/reprodutores. Sabe-se que o sistema reprodutor feminino é divido em órgãos genitais internos e externos. Na sua porção interna encontramos o útero, tubas uterinas, ovário, vagina e na parte externa os lábios maiores e menores, o monte púbico, o vestíbulo da vagina, o clitóris, o bulbo do vestíbulo e as glândulas vestibulares maiores. A partir desse pontuamento dos órgãos genitais, vamos entender o que significa a tão complexa e polêmica circuncisão feminina.

A circuncisão feminina pode ser chamada de mutilação genital feminina (MGF) ou castração feminina. O geógrafo Agatharchides de Cnido, no século II a.C. relatou nos seus escritos a prática dessa cirurgia mutiladora nas comunidades que habitavam na costa ocidental do Mar Vermelho (agora atual Egito). Com base nessa localização geográfica, parece que a origem desse ato é Egípcia e se espalhou em direção ao sul e ao oeste. Alguns pesquisadores acreditam que a circuncisão feminina estava enraizada na mitologia de Kemet da bissexualidade dos deuses, sendo refletida aos mortais essa característica a cada indivíduo possuidor de uma alma masculina e uma alma feminina. A alma feminina do homem foi localizada no prepúcio do pênis e a alma masculina da mulher no clitóris. Para que houvesse o desenvolvimento saudável e equilibrado dos gêneros, a alma feminina tinha que ser extirpada do homem e a alma masculina da mulher.
A circuncisão foi, portanto a prática essencial para a transição dos meninos em homens e das meninas em mulheres. Entretanto, é questionável o conhecimento das populações que praticam a circuncisão feminina com a mitologia de Kemet.

Em muitas comunidades a maior justificativa para circuncisão feminina é o controle sexual das mulheres. Tal controle psicofísico é imposto de maneira tão violenta que deixam seqüelas por toda vida. Esse controle sexual pode ser pontuado como:
1. Preservação da virgindade;
2. Ajuda a ter uma boa saúde;
3. Tem um valor estético muito grande;
4. Previne a promiscuidade;
5. Cria mais oportunidade de matrimônio;
6. A conservação da fidelidade;
7. Aumenta a fertilidade;
8. Potencializa a desempenho sexual e o prazer masculino;
9. Promove a coesão política e social;
10. A conservação da opção sexual – não lesbianismo.
FEMALE GENITAL MUTILATION...WHY SHOULD WE CARE??

A mutilação foi e é comum em diversas culturas. Sendo praticada por indígenas da América Central e do Sul e ainda faz parte do cotidiano cultural dos Shipibo-Conibo do Peru, um povo guerreiro da família Pano que vive na região do Ucayali. Segundo sua tradição, depois da menarca, toda jovem deve se submeter à circuncisão. Eles abordam outras justificativas muito interessantes como: “se não tirasse cresceria um pênis ali”; “se não todas as suas inimigas caçoariam dela”; “ela seria discriminada”; “a verdadeira mulher não tem”.
Na América do Norte os puritanos praticaram a mutilação como respostas médicas a masturbação das mulheres. O Dr. AJ Bloco de New Orleans, em um artigo intitulado "Sexual Perversion in the Female" (1894) cita um de seus casos, e descreveu como uma estudante de quatorze anos que sofria de nervosismo e palidez tinha sido curada por "liberar o clitóris de suas adesões" e se livrou da lepra moral. Em 1866, um jornal médico americano discutindo o trabalho de um médico britânico, Dr. Isaac Brown Baker, que afirmou ter sucesso no tratamento de epilepsia e outras perturbações do sistema nervoso em pacientes do sexo feminino por excisão do clitóris. Depois de notar que a grande massa da opinião médica inglesa foi de forte oposição às idéias de Baker e "irrestritamente condenou" o seu funcionamento. O editor americano concordou com a profissão médica Inglês, declarando que a retirar do clitóris é "para acalmar a irritabilidade sexual é tão filosófico como a retirar o órgão análogo do macho”. Entre outros artigos médicos defendiam nos U.S.A a extirpação do clitóris para curar o lesbianismo e mulheres ninfomaníacas.
No continente Africano a circuncisão feminina surgiu antes da invasão do Islamismo. A lei islâmica, conhecida como sharia é baseado especialmente no Alcorão, que segundo os islamitas contém proclamações do próprio Deus ao profeta Maomé não diz nada de suporte em apoio à circuncisão feminina. Na igreja Copta, uma das igrejas mais antiga do cristianismo fundada segundo a tradição pelo apóstolo Marcos no Egito em meados do I século d.C. há prática da circuncisão feminina, porém sem bases na doutrina teológica. Mas seguindo parte da tradição religiosa, que as mulheres devem permanecer castas até o casamento. Apesar de altos líderes religiosos manifestarem oposição a esta prática, é ainda apoiada por séculos de tradição e fé da família.
Uma tradição relata que Sara esposa de Abraão, percebendo o interesse crescente de Abrão por Agar, uma princesa de Khemeth que foi escolhida para engravidar, ficou enciumada e irada, mandando mutilar os órgãos sexuais de Agar, tendo ai uma circuncisão.
Inicialmente as circuncisões eram feita por mestres homens, os quais decidiam sobre a função sexual feminina. Reforçando historicamente a idéia de que as mulheres são propriedades de seus maridos que lhe devem toda e total submissão, que os corpos femininos necessitam de correção, a contestação do respeito, dignidade e pudor das mulheres e especialmente a independência e diferenciação na aparência natural da sua genitália e sua função sexual normal. Essas mulheres são submetidas à circuncisão há milhares de anos, e o costume está profundamente enraizado no pensamento humano de cada região. Muitas vezes é a própria mulher que deseja dar continuidade a esse ritual. É uma prática de diversas culturas em todos os continentes, e utilizada em diversos países da África, da Ásia, ente populações de imigrantes africanos na Europa.
No mapa há uma relação das nações que grupos culturais continuam com a mutilação feminina.
A circuncisão feminina é característica pela retirada totalmente ou parcial das partes da genitália externa feminina, principalmente do clitóris, órgão que quando estimulado proporciona o prazer sexual feminino. A Organização Mundial da Saúde (OMS) condena a prática da mutilação genital feminina tão prejudicial à mulher, tanto física como emocionalmente. Geralmente é feito sem anestesia ou antibióticos. Esta prática é agonizante, dolorosa e extremamente perigosa. Muitas meninas morrem de hemorragia, muitas têm infecções crônicas que dura toda a vida, como também muitos problemas com parto, no relacionamento conjugal, na menstruação e de caráter psicológico.
Female Genital Mutilation (Circumcision)

A Organização Mundial de Saúde conjuntamente com nove dos mais representativos organismos das Nações Unidas, publicou o acordo específico sobre a Mutilação Genital Feminina, com a reclassificação dos quatro tipos de identificados:
1. Remoção parcial ou total do clitóris e/ou do prepúcio (clitoridectomia).
• Tipo I a - remoção apenas do prepúcio (capuz) do clitóris;
• Tipo I b - remoção do clitóris com o prepúcio.
2. Remoção parcial ou total do clitóris e dos pequenos lábios, com ou sem excisão dos grandes lábios (excisão).
• Tipo II a - remoção apenas dos pequenos lábios;
• Tipo II b - remoção parcial ou total do clitóris e dos pequenos lábios;
• Tipo II c - remoção parcial ou total do clitóris, dos pequenos lábios e dos grandes lábios.
3. Estreitamento do orifício vaginal através da criação de uma membrana selante, pelo corte e aposição dos pequenos lábios e/ou dos grandes lábios, com ou sem excisão do clitóris (infibulação).
• Tipo III a - remoção e aposição dos pequenos lábios;
• Tipo III b - remoção e aposição dos grandes lábios.
4. Atos não classificados: todas as outras intervenções nefastas sobre os órgãos genitais femininos por razões não médicas, por exemplo: punção/picar, perfuração, incisão/corte, escarificação e cauterização.

Qualquer tipo de MGF provoca danos nos genitais femininos e no seu funcionamento,
originando complicações físicas que podem ser mais ou menos severas consoante o tipo de corte e sua extensão; quem realiza a mutilação, a existência ou não de condições assépticas e a própria condição física da mulher, jovem ou menina.
Profissionais de saúde que realizem MGF violam o princípio fundamental de ética médica de “primeiro, não prejudicar”.
Os riscos imediatos de complicações de saúde resultantes dos Tipos I, II e III:
• Dor intensa devido ao corte de terminações nervosas e de tecido genital;
• Choque hipovolêmico;
• Sangramento excessivo e choque séptico;
• Dificuldades na eliminação de urina ou fezes;
• Infecções;
• Vírus de Imunodeficiência Humana;
• Morte por hemorragia ou infecções diversas, incluindo tétano e septicemia.
Os riscos em longo prazo para a saúde resultantes dos Tipos I, II e III
• Dor crônica;
• Infecções;
• Infecções pélvicas crônicas;
• Infecções do trato urinário;
• Quelóides;
• Infecções do aparelho reprodutivo e infecções sexualmente transmissíveis;
• Vírus de Imunodeficiência Humana;
• Aumento da prevalência de herpes genital;
• Complicações no parto;
• Fístulas obstétricas devido a um parto mais demorado e obstruído;
• Perigos para os recém-nascidos;
• Diminuição da qualidade de vida sexual.
Os riscos adicionais de complicações resultantes do Tipo III (infibulação)
• Intervenções cirúrgicas subseqüentes;
• Problemas urinários e menstruais;
• Incontinência urinária;
• Relações sexuais dolorosas;
• Infertilidade.
Alguns estudos revelam um aumento de:
• Medo/receio de ter relações sexuais;
• Síndrome de stress pós-traumático;
• Ansiedade, depressão e perda de memória;
• Perturbações psicossomáticas com quadros de sintomatologia como insônia, pesadelos, perda de apetite, perda de peso ou ganho de peso excessivo, pânico, dificuldades desconcentração e aprendizagem, Cleptomania.
Disfunção sexual feminina e dispareunia(…), alterações no relacionamento do casal ou da sexualidade masculina. Existem estudos que referem que homens casados com mulheres excisadas procuram, fora do contexto do casamento, mulheres não excisadas que descrevem como “completas” e “quentes”.
Texto modificado o original é encontrado no site: http://www.apf.pt/cms/files/conteudos/file/folhas%20de%20dados/MGF2009.pdf
Estudos atuais afirmam que mesmo após a circuncisão a mulher continua tendo libido sexual em suas relações. Sendo mutilação genital feminina é uma operação destrutiva com resultados altamente patológicos, entretanto, é uma questão cultural de milhares de anos, praticadas em diversas culturas e religiões. Na nossa concepção é uma violação fundamental dos direitos humanos e viola o corpo das mulheres. Nós mulheres e homens que acreditamos na respeitabilidade da infância, na dignidade e espiritualidade dos seres humanos, temos que levantar a nossa voz de protesto e na desmistificação das suas justificativas.Maasai Female Circumcision Dance

sábado, 19 de setembro de 2009

BRUXARIA BRANCA - A EXPRESSÃO DO MAL


Por Walter Passos, historiador e teólogo Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br
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As crianças, independentes de cor epitelial e prática religiosa, têm receio e curiosidades em relação a bruxas e fadas. A didática através do lúdico as insere no mundo da fantasia criado pelos adultos, em uma realidade controversa e de explicações através das fábulas de problemas não resolvidos.
Todos os povos e civilizações sempre tiveram códigos de moralidade e de costumes, entretanto, o desconhecimento de outro grupo cultural cria falsas respostas através de ideologias discriminatórias. Os questionamentos de gerações afloram nos contos, nas mitologias do poder e de identidades dos grupos sociais, e nestas análises as respostas estão inacabadas, gerando conflitos, surgindo à necessidade didática de final feliz para o grupo social que idealiza a fábula, conforme as suas aspirações sociais e influências religiosas.
Neste sentido, os povos que sofreram invasões e foram escravizados encontram nas fábulas e mitos do invasor e escravizador referências deturpadas de si mesmo, pois são forçados a se encontrar no pertencimento do outro e, aprendem a desprezar os seus contos e mitos, seja por desconhecimento de sua história ou rejeição de sua ancestralidade.
Quando conhecemos o mundo, a mulher nos é apresentada como símbolo do amor materno, sabedoria, religiosidade, compreensão e poder. Para a criança o ato de “falar com a minha mãe!” tem um significado muito forte. O ato da comunicação torna-se instrumento de pertencimento com aquela que teve o poder da procriação e manutenção da vida.
Nas sociedades europeias e em seus contos a mulher é representada como detentora do poder mágico da bondade, como as fadas (a mulher submissa sempre atenta aos desejos do homem) bruxas e feiticeiras (simbolizada da perversão e maldade, questionadoras do patriarcado).
A maioria das crianças conhece o Conto Branca de Neve e os Sete Anões, da relação conflituosa, gerada pela disputa de beleza física, entre a protagonista com sua madrasta, uma rainha-bruxa. O clássico cinematográfico da Disney foi premiado com um Oscar especial da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. A história finaliza com a quebra do feitiço do sono eterno por um beijo do príncipe, que vive “feliz para sempre” com branca de Neve, a mais bela, notadamente por ser a mais branca, como o nome já sugere. Incrível que muitos aniversários de crianças, a idéia de ser uma princesa como a branca de neve e encontrar um príncipe encantado é um sonho de milhões de meninas pretas.


Branca de Neve e os Sete Anões - Filme Completo Parte Única



Estes estigmas são perpassados e formulam identidades que influenciam civilizações neste mundo globalizado, através dos diversos meios de comunicação e muitos o são adaptados conforme as concepções ocidentais.
Aparentemente essa idéia de fadas, bruxas e feiticeiras nada de mal trazem, porque no conceito da ideologia eurocêntrica a criança conhecerá o mundo e poderá trabalhar as diversas facetas de um diamante que está sendo lapidado para a vida toda.
Outro exemplo são os livros da escritora britânica J. K. Rowling da série Harry Potter com mais de 550 milhões de cópias vendidas - ocupam o quarto lugar no ranking dos livros mais vendidos da história da humanidade, além de se tornarem filmes campeões em bilheterias. Nestes a maioria das ações se passa na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwart onde ensinam a considerar os que não são bruxos de trouxas.
Inclusive a idéia de bruxas e fadas está dentro do cristianismo de forma explicita. Muitas igrejas cristãs recomendam o filme - As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa -, considerado conto de fadas cristão, adaptado do livro de Clive Staples Lewis, conhecido como C. S. Lewis. Foram vendidos mais de 200 milhões de cópias dos 38 livros deste autor irlandês e membro da Igreja Anglicana, os quais foram traduzidos para mais de 30 línguas. Lewis é considerado por muitos como o maior escritor cristão que o mundo já teve, e as suas obras são recomendadas por homens e mulheres formadoras de opiniões, citada por pregadores, estudadas em faculdades, nos seminários e nos institutos bíblicos. É comum ouvir em certos púlpitos mensagens onde Lewis é mais citado do que Yahoshua, e seus livros de referencial em lugar da Sagrada Bíblia.
O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, tem uma interpretação sob o ponto de vista cristão, o Guarda-roupa representa o mundo espiritual, a Feiticeira Branca representa o inimigo das nossas almas (Satanás) e o Leão, representa Yahoshua, o Leão da Tribo de Judá, o Senhor de todos os homens. Após Aslam (o Leão) se entregar em favor de Edmundo (a redenção de Yahoshua, para cobrir seu erro arrependimento), ressuscita selando a vitória sobre o inimigo. Para uma grande maioria dos cristãos é uma maneira de evangelizar as crianças, e a bruxaria europeia é sagrada, não demoníaca. Demonizar bruxas, feiticeiras, magos, fadas, gnomos, druidas, e outras figuras brancas contidas nos contos europeus são um ato de rebeldia, racismo ou heresia.

Aslan and Jesus Christ's Crucifixion and Resurrection



Os conceitos do viver africano e afro-diásporico não deveriam ser baseados no pensamento ocidental eurocêntrico e suas experiências de fadas e bruxas, porque não trazem as realidades históricas e mitológicas africanas, e as crianças pretas introjeta falsas sonhos-realidades do mundo que só servem para baixar a autoestima. Os contos de fada numa visão junguiana são uma representação simbólica de problemas gerais humanos e suas soluções possíveis, só que os simbolismos eurocêntricos e suas respostas existências são diferentes e muito diferentes para nós.
Desde a nossa tenra infância aprendemos a respeitar e admirar as vovós, as tias e todas as senhoras da nossa convivência, porque as nossas mães nos informaram que as mesmas eram detentoras de ensinamentos antigos e inclusive conheciam os segredos de realizar um bom parto, rezar o corpo contra o mau-olhado e receitar remédios das folhas. Já tomamos muitos banhos de folha nas nossas vidas e já tivemos o corpo rezado por senhoras pretas. Nunca ouvi a minha mãe e minhas tias se referirem as idosas como bruxas ou feiticeiras. O nosso povo sempre respeitou os mais idosos, e ainda é educada a prática de pedir a benção aos mais antigos, forte lembrança de pessoas da minha geração que lêem este artigo.
O Povo preto é um povo que amava os idosos e os respeitavam pelo conhecimento do mundo. É gostoso ouvir em reuniões aqui em Salvador quando um idoso (a) recebe o respeito dos mais novos, demonstrando que a força da ancestralidade ainda não foi destruída por total pelas influências cristãs ocidentais.
São deprimentes as conceituações e divulgação do poder da mulher africana e afro-diásporica nos novos paradigmas criados pelo cristianismo: de detentoras do conhecimento ancestral para perversas feiticeiras e bruxas ocidentais. O que tem levado essas mudanças na criação de novos juízos de valor sobre o conhecimento das mulheres pretas?
Desde a chegada dos primeiros missionários na África começou a perseguição às detentoras do conhecimento, e inseriram nos seus discursos a mudança, outrora mulheres sábias foram consideradas “bruxas” e feiticeiras. A “bruxaria e feitiçaria” são conhecimentos ancestrais perpassados das diversas tradições, representando símbolos que proporcionam uma sensação de familiaridade e continuidade da experiência do viver das comunidades.
O filme Kiriku e a Feiticeira precisa de uma análise mais aprofundada sobre as relações de poder da mulher e feitiçaria sobre a ótica afrocentrada. A feiticeira Karaba no final segue a linha eurocêntrica de encantos e desencantos e casa-se com Kiruku e todos ficam em paz.
KIRIKU E A FEITICEIRA (PARTE 8/8)

As invasões europeias e seus modelos filosóficos afetaram profundamente as culturas ancestrais criando novas realidades socioeconômica e política, e os resultados desastrosos do colonialismo, capitalismo e modernidade corrompem o mundo invisível, desequilibrando processos naturais e espirituais do bom viver visível e outrora equilibrado. A antropologia, a filosofia, a sociologia e a história e seus conceitos eurocêntricos ainda tem discipulado entre as academias, africanos e afro-diásporico na defesa e propagação de suas análises, servindo como ciências não somente observadoras e críticas, mas decisórias para explicar modos e comportamentos de sociedades milenares com a ótica do invasor e colonizador.
As sociedades africanas e afro-diasporicas analisadas por xenófobos, individualistas que temem e não entendem o desconhecido e classifica-os como inferior, tornam-se necessário que usemos as nossas metodologias afrocentradas para darmos respostas as ciências que tenta nos destruir, deve ser por isso que tenho críticas às academias, porque não desejo e nem almejo os seus títulos de conhecimento eurocêntrico.
O conhecimento africano é baseado na solidariedade e os conflitos ocorridos possuem em seus mitos diferenças explicitas nas suas resoluções, os que visam o bem estar coletivo e não a individualidade. Quando se ensina as crianças acerca das yabás e das Yami Osorongá, através da oralidade da palavra verbalizada, entendem-se o seu poder de resolução dos problemas sociais, essas chamadas de “feiticeiras” que representam as forças da natureza e equilíbrio social diferem filosoficamente das malvadas bruxas e das “bondades das fadas”, apesar de que muitas das mitologias helênicas foram apropriadas do conhecimento africano, inclusive conceituações metafísicas já conhecidas e desenvolvidas no Vale do Nilo.
O empobrecimento dos africanos, as mudanças alimentares, o aumento das doenças, como o ebola e a AIDS, a destruição de áreas agrícolas e transformações no modo tradicional de cultivos, o desprezo pela solidariedade, a quebra da respeitabilidade pelos anciãos e anciãs, e a desconfiança do poder das mulheres, resulta na intensificação da procura de dinheiro, no desejo incontido de adquirir bens materiais, influenciadas pelas famosas teologias da prosperidade (ideologia capitalista travestida de religiosidade), fez com que as tradições sejam progressivamente desprezadas e ignoradas. Tornando os africanos e afro-diásporicos alvos mais fáceis de controle e dominação, porque quando duvidamos das nossas tradições e desprezamos a nossa ancestralidade estamos cometendo suicídio espiritual e físico, que amaldiçoa o legado ancestral e cria uma geração corrompida e envergonhada de ser o que é.
O entendimento do que chamo de choque cultural entre os africanos e os caucasianos, se dá em todos os sentidos da existência, porque as nossas tradições não separam o corpo em dicotomia e tricotomia, somos um ser integral conforme os escritos dos antigos hebreus. Com o advento da Cultura Helênica e sua apropriação e deformação do pensar africano, proporcionou a quebra da afrocentricidade e a divulgação filosófica da eurocentrismo.
A mudança no devir do ser preto especialmente pode tentar uma análise do mundo mágico branco e o mundo mágico preto. É um parâmetro inteligível do por que as mitologias são diferentes e as conceituações socio-religiosas são dispares, não sendo acentuada a bipolaridade do bem e do mal.
E conforme o Dr. LLAILA AFRIKA:

AFRICANOS:

  • Unificação do espírito, corpo e mente para o conhecimento.
  • Verdade e Mentira são diferentes
  • O Propósito do conhecimento e das ações é a justiça, a retidão e a precisão
  • Os Conhecimentos são conectados holisticamente.

CAUCASIANOS:

  • Fragmentação e Divisão para o conhecimento
  • Verdade e Mentira são as mesmas e corretas
  • O Propósito do conhecimento é o controle dos outros e o poder.
  • Os Conhecimentos são conectados por idéias fragmentadas.


Como vimos acima os modelos africanos e caucasianos são dispares em relação às vivências, retratam que os choques culturais deturparam violentamente a concepção de vida e relações com a natureza. Entender como o conhecimento ancestral das mulheres e o poder não somente simbólico como mágico foi afetado violentamente pela xenofobia européia, que pelo medo do diferente não compreendeu os conceitos e saberes não conhecidos, é uma caminho urgente dos praticantes da afrocentricidade, para reparar os males feitos as nossas crianças, criadas a imagem e semelhança das fadas e bruxas ocidentais.
As mulheres acusadas de bruxaria possuíam dentro do poder matriarcal e da construção matrilinear importância fundamental ainda existente e resistente dentro de muitos povos africanos que opõe a islamização e a cristianização.
As africanas são cosmopolitas como ainda são as mulheres pretas na América Africana e guardiãs do conhecimento. Na concepção europeia as mulheres sempre foram submissas, desprezadas e humilhadas, consideradas fontes de perversão e vitimas da inquisição, torturadas, queimadas e demonizadas. Consideradas objetos, propriedades do macho: bruxas as que resistem à opressão e fadas as que permitem os desejos masculinos. Por isso o surgimento do feminismo que é mais um ismo branco em contraposição a outra deformação, o machismo. Bem diferente dos conceitos afrocentrados de equilíbrio dos gêneros.
As mulheres pretas guardiãs do conhecimento foram primeiramente desacreditadas pelos missionários e pelo poder colonial, existem legislações em países africanos que as perseguem e as condenam, crianças e mulheres são assassinadas em diversos países pelo crime de bruxaria, acusadas por membros das comunidades, seguidores da falta de tolerância européia.
A perseguição as “Bruxas Africanas” pelo catolicismo e igrejas do protestantismo histórico tem se tornado mais violenta com a ascensão de cultos pentecostais e nopentencostais inclusive em uma disputa pelo poder. Estes grupos precisam mostrar poder diferente do maior poder que é o amor, criou no continente africano, a nova inquisição que parte para a destruição e morte de milhares de crianças e mulheres.
No Brasil a falta de respeitabilidade com as religiões de matriz africana por parte do cristianismo: católico, protestantismo histórico, pentecostais e neopentecostais, têm na gênese do racismo a vertente da idéia de religiões de bruxas e feiticeiras. Bruxalizar o conhecimento africano é a maneira mais eficaz de catequizar e converter milhões de africanos, escondendo séculos de opressão de bruxos cristãos e bruxas cristãos que trouxeram a desordem econômica e a escravidão.
A religião católica ainda tenta através da catequese, desestruturar tradições, como foi o caso da visita do papa Bento XVI em Angola quando apelou aos católicos à conversão dos adeptos da bruxaria ameaçados por “espíritos” e “poderes do mal” e afirmou que o Cristianismo era uma ponte entre as pessoas locais e os colonizadores portugueses.

PAPA BENTO XVI EM ANGOLA

Os europeus foram os grandes piratas na África e praticantes da xenofobia, com uma idéia de vida solitária e anti-solidária, divulgando o pessimismo, a individualidade e a ganância.
Entre todos esses fatores foi impossível para o europeu e o cristianismo se adequar a prática da solidariedade africana e tentaram destruí-la, necessitando, então, que o renascer africano e afro-diásporico tentassem recriar o pan-africanismo, porque deixou de acontecer por causa da divisão territorial, da escravização e colonização, resultando no continente africano transformações de xenofobia por xenofilia entre os primeiros seres humanos.
Na África e na Afro-América o medo dos conhecimentos ancestrais e as mudanças orquestradas determinando o diferente como inferior e demoníaco foram direcionados par abater a família, na representação feminina. “Bruxalizar” é quebrar o poder feminino, embrutecer os homens pretos, criar uma sociedade de órfãos, desagregando a família preta.
“Bruxalizar” tornou-se para os invasores cristãos e muçulmanos negar milhares de anos de conhecimento em todas as áreas da ciência.

sábado, 5 de setembro de 2009

OS DOGONS - CONHECIMENTO DAS ESTRELAS E A MATEMÁTICA


Por Walter Passos, historiador, teólogo e membro da COPATZION (Comunidade Pan-Africanista de Tzion). Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br
Skype: lindoebano

Os conhecimentos cosmogônicos, astronômicos, matemáticos, metafísicos, filosóficos, biológicos dos dogon não são limitados a simplórias observações visuais do céu ou chamadas observações empíricas da vida. Com grande profundidade sempre souberam, por exemplo, a função do oxigênio no corpo e aspectos do sistema circulatório humano, conhecimentos que a ciência ocidental só descobriu em tempos modernos. Conheceram também os mistérios das principais estrelas do céu, das luas do Sistema Solar sem nunca terem manipulado telescópios.
Neste artigo iremos falar sobre uma das mais importantes civilizações do planeta, ela tem deixado o eurocentrismo sem respostas, gerado especulações e fantasias de cientistas e ficcionistas brancos que afirmam que o conhecimento dos dogon por ser tão profundo só pode ter sido ensinado por extraterrestres.

MALI : PAYS DOGON

A civilização dos Dogon está situada no Mali e uma pequenina parcela populacional em Burkina Fasso e Costa do Marfim, países da Costa Ocidental da África. A maior parte da população, estimada em 400 mil pessoas, vive nos distritos de Bandiagara e Douentza, no Mali. É uma área composta por três distintas regiões topográficas: a planície, as falésias e o planalto. Concentrados ao longo de 200 quilômetros (125 milhas) trecho da escarpa chamada Falésia de Bandiagara composto de arenito em direção sudoeste, para o nordeste margeando o rio Níger com altura de até 600 metros (2.000 pés). As falésias proporcionam um ambiente físico de beleza ímpar para as aldeias dogon construídas ao lado da escarpa. Há aproximadamente 700 aldeias sendo a maioria com média de 500 habitantes.
Os Dogon se estabeleceram nesta área de Bandiagara em conseqüência ao se recusarem a se converter a religião Islâmica, fato ocorrido há mil anos; como conseqüências de ataques de jihadistas islâmicos tiveram membros de sua comunidade escravizados por eles, inclusive mulheres e crianças. A localização geográfica das aldeias foram sabiamente escolhidas em posições defensáveis ao longo das paredes da escarpa, e a proximidade do rio Níger possibilitando acesso a água permitiu a continuidade deste maravilhoso povo.
Até 1946, a civilização Dogon foi o último grupo de pessoas a viver sob o domínio colonialista francês. Porque tinham mantido suas próprias crenças e práticas religiosas, sendo considerado pelo invasor-colonialista branco um dos maiores exemplos da “selvageria primitiva”, conhecido no mundo naquele momento. Os africanos muçulmanos afirmaram dificuldades para entender o sistema de crença Dogon.
Antes dos Dogon a região foi habitada por populações que viviam nos penhascos Há mais de 2.000 anos. Relíquias foram datadas sobre o povo “pigmeu” Toloy de 300 anos a.C, e mais tarde, entre o décimo e décimo quarto séculos d.C, o povo Tellem que viviam em cavernas cortadas nas falésias, onde deixou muitos artefatos ainda descobertos pelos dogon. Os Tellem (“aqueles que foram antes de nós” vocábulo dos Dogon), comprovada por escavações arqueológicas que tem descobertos cemitérios, ossos e objetos produzidos de cerâmicas, cestaria, miçangas, etc. Viviam em cavernas com as casas construídas para o precipício. Eram pessoas de pouca estatura e de cor avermelhada, considerados “pigmeus” que desapareceram. Há informações entre os habitantes do Mali que os Tellen tinham o “poder de voar”.
A origem precisa dos Dogon está perdida no tempo. As informações históricas de tradições orais diferem de acordo com o clã Dogon a ser consultado, também são baseadas em escavações arqueológicas. São fontes de informações inexatas e incompletas, porque há uma série de diversos mitos de origem, bem como versões diferentes de como chegaram a suas terras ancestrais para a região de Bandiagara. As informações mais antigas são chamados de Habe, uma palavra Fulbe que significa “estranho” “ou” pagão”. Algumas teorias sugerem de serem de ascendência egípcia, que foram para a Líbia, e migraram para algum lugar na região de Burkina Fasso, Guiné e Mauritânia. Em cerca do ano 1490, chegaram às falésias de Bandiagara, no Mali, perto do grande Centro Universitário de Timbukutu, tema já abordado neste blogger.
Trabalham a agricultura de subsistência, e cultivam milheto, sorgo e arroz, bem como a cebola, tabaco, amendoim e alguns legumes.
O saber endógeno da civilização dos dogon tem deixado abismado e sem respostas os eurocentristas e suas academias devido a seus conhecimentos profundos em astronomia, medicina, arquitetura, filosofia, psicologia, física, álgebra, geometria, aritmética, música. A civilização Dogon deve ser ensinada as nossas crianças em salas de aula, em matéria como matemática, biologia, geografia, física, artes e história.
O pensamento ocidental baseia-se no cartesianismo, enquanto o pensamento do dogon é baseado na espiral, o que o torna proporcionalmente mais eficiente e complexo. Inclusive ainda não são conhecidos seus princípios matemático-filosóficos, porque se torna necessário a iniciação, sendo que sua língua diária é radicalmente diferente daquelas que são faladas por seus vizinhos. Eles têm um segundo tipo de linguagem, um segredo e linguagem rítmica (Sigi So), apenas conhecida por certas pessoas usadas em casos específicos cerimônias e rituais.

Dogon Sigi Ritual Dances

O conhecimento Dogon foi pesquisado por muitos anos, ainda assim os eurocêntricos não conseguem entender a riqueza destes conhecimentos ocultos, que são apresentados paulatinamente em diferentes estágios de iniciação, e que são atingidos apenas pelos excepcionalmente dotados.
Eles têm um sistema patrilinear e cada comunidade e a família é dirigida por um idoso, sendo sempre herdado pelo primogênito. Há casamentos poligâmicos, mas esse fato ocorre raramente, e em caso de divórcios toda a comunidade tem que ser consultada.
As crenças religiosas dos Dogon são imensamente complexas e o conhecimento deles varia muito dentro da sociedade Dogon. A religião dos Dogon é definida principalmente através do culto dos antepassados e os espíritos que se depararam em que lentamente migraram de suas terras ancestrais para obscurecer as falésias Bandiagara.
Há três principais cultos entre os Dogon: Awa, Lebe e Binu.
O AWA é um culto dos mortos, cujo objetivo é reorganizar as forças espirituais perturbadas pela morte do Nommo, antepassado mitológico de grande importância para os Dogon. Os membros do culto dançam Awa e ornamentam se com máscaras esculpidas e pintadas em ambas as cerimônias fúnebres e aniversário de morte. Existem 78 tipos diferentes de máscaras de ritual entre os Dogon e suas mensagens iconográficas vão além da estética, no reino da religião e filosofia.

Dogon Funeral

O objetivo principal das cerimônias de dança Awa é conduzir as almas dos defuntos ao seu lugar de descanso final nos altares da família e consagrar a sua passagem para as fileiras dos antepassados.
O culto de Lebe, o deus da Terra, está relacionado com o ciclo agrícola e seu sacerdote é chamado de Hogon que é o líder espiritual, escolhido entre os idosos. Os dogon acreditam que o deus Lebe em forma de serpente visita os hogons à noite e lambe as suas peles, dando força vital e os purificando.
O culto a Binu é uma prática totêmica e tem associações complexas com os Dogon e seus lugares sagrados para o culto dos antepassados, comunicação e espírito de sacrifícios agrícolas. Os Santuários Binu são casas dos espíritos dos antepassados míticos que viveram antes do aparecimento de morte entre os homens. Binu muitas vezes torna-se a conhecer seus descendentes sob a forma de um animal que intercedeu em favor do clã durante a sua fundação, ou a migração, assim tornando-se totem do clã.
A fundição do ferro já era conhecida pelos dogons há mais de mil anos. Assista o vídeo.
HOUSE OF IRON - PREVIEW

Na filosofia dogon o gênero masculino e feminino carrega os dois componentes sexuais. O prepúcio é considerado feminino, enquanto que o clitóris é considerado ser do sexo masculino. Os ritos da circuncisão permitem cada sexo assumir sua própria identidade física. Os meninos são circuncidados em grupos de três anos, contando, por exemplo, todos os meninos entre 9 e 12 anos. As meninas são circuncidadas em torno da idade de 7 ou 8 anos, às vezes mais jovens. A circuncisão para homens e mulheres é vista como necessária para que o indivíduo possa assumir o gênero porque antes da circuncisão são considerados neutros.
Um dos maiores mistérios da civilização dogon está no seu conhecimento das estrelas e sua tradição astronômica remonta pelo menos 5.000 anos. Os sumos sacerdotes já tinham conhecimento profundo dos astros, incluindo Sirius, bem antes de serem detectados pelos telescópios modernos.
O deus Amma, em seguida, modelou duas cerâmicas brancas, simbolizando o sol e a lua. Além disso, os altos sacerdotes sabem há muito tempo que Sirius é acompanhada por outra estrela, conhecida pelos astrônomos como Sirius B. O que é extraordinário é que durante vários séculos, toda a cosmogonia dos Dogon é controlada por Sirius B.
A existência de Sirius B só foi inferida a existir através de cálculos matemáticos realizados por Friedrich Bessel em 1844 e identificado como uma anã branca, em 1915.
Os sábios dogon desenham o chão com varas voltadas para o céu, representando-as.
Esta estrela leva 50 anos para ir ao redor de Sirius e comemoram este evento a cada 50 anos na festa de "Sigui" para regenerar o mundo. O calendário Dogon é completamente não-tradicional em que o seu ciclo de cinqüenta anos não se baseia na rotação da Terra em torno do Sol (como é o nosso calendário Juliano), nem os ciclos da Lua (um calendário lunar). Em vez disso, os centros Dogon de cultura se baseiam em torno do ciclo de rotação de Sírius B, que circunda a principal estrela Sirius A cada 49,9 - ou 50 anos. Para incluir esta estrela menor, os Dogon escolhem o menor objeto em sua posse: a semente da variedade de grãos de milheto fonio como seu principal alimento.
Em sua língua, "Po Tolo” (Sirius B) é pequeno em tamanho, mas muito pesado. Sabe-se desde 1920 que as anãs brancas embora pequenas tenham uma densidade incrível. As tradições orais ensinam que há milhares de anos a Terra gira em torno do Sol e que Júpiter tem quatro satélites principais e Saturno tem anéis, e as estrelas são corpos em movimento perpétuo. Eles também sabiam que a lua é um planeta morto de natureza deserta e infecunda. Por gerações, os sacerdotes ensinam que a Via Láctea é animado por um movimento em espiral, que participa no nosso sistema solar.
Outro fato fenomenal são os argumentos de que Sirius seria acompanhado, não de uma estrela, mas de duas estrelas. Denominam PoTolo, e desenhavam, com exata precisão, a sua órbita elíptica em torno de Sírio. Projetaram corretamente a sua trajetória até o ano 1990, em desenhos que conferem precisamente com o curso projetado pela astronomia moderna.
Em 1950, dois antropólogos franceses, Marcel Griaule e Germaine Dieterlen, declararam que a Sirius B, embora absolutamente invisíveis a olho nu, foi durante séculos a espinha dorsal da cosmologia celeste dos Dogon.
O autor Robert Temple descreve o Nommo como seres anfíbios enviados para a Terra do sistema estelar de Sirius para o benefício da humanidade. Eles se parecem com Tritões, sereias e Mermens. Estes estrangeiros supostamente vieram do sistema estelar de Sírius. A nave mergulhou do céu e aportou em algum lugar a noroeste da pátria dos Dogon.
A Mitologia Dogon é baseada em uma unidade dualizada - ou uma uni-dualidade original - representada por uma infinitamente pequena forma de vida átomo (kize uzi), que se transforma no ovo do mundo (ADUNO talu), de onde o cosmos vem. Este átomo é simbolizado na terra, na semente da Digitaria exilis. Segundo a mitologia é conhecido como Po, e o Supremo Criador do Universo, Amma, fez o universo inteiro explodir um único grão de fonio, localizado no interior do ovo "do mundo".

MITOLOGIA E MATEMÁTICA DOGON
A mitologia Dogon é mais antiga do que a egípcia e a grega. Os dogon explicam a sua mitologia através dos símbolos matemáticos. Quando falam da criação se referem ao Senhor Supremo chamado Amma o deus do céu e criador do universo e o aparecimento de pares de gêmeos que se tornaram os ancestrais do povo Dogon. Amma casou-se com a terra e a tornou fértil com a sua semente divina (chuva), ou o homem se desenvolveu a partir do ovo do mundo, o princípio da dualidade aparece sempre com o primeiro conjunto de gêmeos, Nommo, (um masculino e outro feminino).
Segundo a mitologia Dogon, Nommo foi o primeiro ser vivo criado por Amma, multiplicado em seis pares de gêmeos. Esta é uma metáfora para a nossa original DNA-12. O nosso DNA físico atual contém dois fios que possuem os códigos genéticos para a nossa evolução física.
Nommo – Masculino e feminino
Esta dualidade é reforçada pelos dois ossos do colar a partir do qual o embrião do homem desenvolvido, (onde a dualidade se traduz como a simetria axial) e pelas duas complementares “meias placentas" do ovo do mundo ou matriz primordial. A dualidade é imediatamente aparente como cada um desta “Meia-placenta" produz uma jovem hermafrodita. Estes Casais se tornaram os 4 ancestrais míticos que por sua vez deu origem aos primeiros 80 descendentes.

Ao lidar com o caráter geral e totalizante de 4, podemos ver como estes 4 ancestrais em cadeias de correspondência simbólica, não apenas em 4 tribos, 4 árvores e 4 instituições sociais, mas também nos 4 pontos cardeais e os 4 elementos fundamentais.
O criador Amma usa os 4 elementos contidos no átomo inicial e cria a substância que mais tarde é vivificada.
Os problemas surgiram com o rival de Nommo, chamado Ogo ou Yurugu que desce a terra e se apropria das 8 sementes. Mas, Ogo ou Yurugu nasceu do ovo original sem o gêmeo do sexo feminino, então estava fora do processo normal de dualidade, trazendo problemas ao mundo, e Amma reorganiza o mundo através da morte e ressurreição do Nommos que é sacrificado e seu corpo jogado nas 04 partes do espaço.
Há outros números simbólicos os Dogon têm 266 sinais que prefiguram as categorias de tudo no universo: os dois objetos e seres.
O número 60: Nommos foi dividido em 60 partes para purificar o mundo e 60 é valor simbólico essencial nos rituais de chuva e na safra de outono, com a presença de 60 chefes, em cerimônias fúnebres, com 60 urnas; e, especialmente, no festival itinerante da estrela Sigui, realizadas a cada 60 anos e dedicado à revelação da "liberdade condicional tecida na água e para o surgimento da morte no mundo. A diferença entre esses 60 anos cíclicos corresponde ao tempo gasto por alguns corpos celeste em órbita em torno de Sirius, chamada pelos Dogon de "a estrela do Sigui”.
O número 22 é associado ao culto dos antepassados, que envolve a invocação dos 22 membros da primeira geração mítica. Tem as 22 famílias de liderança dos seres vivos e os atributos das 22 articulações do corpo ressuscitado de Nommo.
Para os Dogon, "A ciência da roupa" é uma conta do mecanismo da criação, o pano é considerado o "centro do mundo”: o número 22 está ligado a esse conhecimento de vestir, como a túnica do Hogon (líder religioso) é composta de 22 peças. Um homem só é considerado completamente adulto quando alcança os 22 anos de idade.
O número 7 representa as origens da criação. São 7 ordens de reprodução e vibrações, 7 números de segmentos que homem prefigura no ovo do mundo. Foi o sétimo ancestral do homem que ensinou a palavra de Nommo e 7 animais foram os seus aliados. O futuro Hogon retirar-se para uma caverna por 7 dias em preparação para sua missão entre os homens. Havia 7 plantas sagradas, 7 tabus e 7 sementes que Yurugu roubou do homem.
O número 5 representa as 5 gerações após o surgimento de Nommo que são veneradas e surgiram as instituições sociais e religiosas, sendo ainda hoje, seguido o relacionamento de cada dogon com as suas 5 gerações, as 03 anteriores, a sua e a que ele vai gerar. E em cada residência há 5 nichos de cada lado da porta representando os ancestrais e o número 5 representa os grupos de idade, desde o nascimento, adolescência, juventude, maturidade e velhice. As crianças são alimentadas por 5 temporadas consecutivas e a semana tem 5 dias e as feiras são realizadas a cada 5 dias. O sacrifício de Nommo durou 5 dias e passou 5 dias para Amma ressuscitá-lo, tanto assim que o ritual dos mortos ocorre de 5 em 5 anos, e a alma do morto demora 5 anos para chegar à terra dos antepassados. As festas itinerantes da Estrela Sigui relacionado com Sirius e o aparecimento de morte no mundo são celebrada por 5 dias consecutivos. As mulheres menstruadas têm que se retirar por 5 dias e permanecer na Casa das Mulheres fora da aldeia.

A unidade 10 é abstrata, inicialmente, visto como o conjunto de dedos de duas mãos, sendo 80, uma das bases fundamentais do julgamento mande, é obtido a partir de 8 conjuntos de 10 elementos. O número 80 é usado por diversos povos do ocidente africano, quando usam os 5 dedos das mãos para jogar os búzios, quando jogam 5 vezes com as duas mãos o resultado é 80
A outra base de calculo dos dogon é número 60 como uma meta unidade usando o número 5, criando uma relação isomórfica entre 5 e 60 para a purificação do universo realizado por Amma que dividiu o corpo do Nommo em 60 peças, em 04 elementos e jogado aos 4 ventos. O hogon em certos rituais de chuva e colheita de outono fica rodeado de 60 chefes, representando as 4 regiões do espaço. 60 está ligada a uma revolução astral em torno da estrela Sigui (o nome Dogon de Sirius), a relação é esclarecida quando consideramos que Sigui literalmente significa "o umbigo do céu" e Hogon (o centro de o corpo social) significa "cordão umbilical”. Esta cardinalidade holística provoca uma unificação, que também é traduzida por uma simbólica indivisível circularidade.
Explanation of symbols on a Dogon miniature door from Mali




Os dogon usam a espiral para o seu pensamento mítico e também no espaço simbólico do ensinamento gráfico. A espiral é uma palavra-chave geométrica com uma relevância única. Esta relevância deve ser abordada por dois principais razões. Em primeiro lugar, uma vez que a espiral é uma forma específica de importância do vestuário para os Dogon podemos acrescentar que as fibras do tecido são consideradas formas primárias de "liberdade condicional". “A palavra foi tecida no movimento de água, por isso é que a água se move em uma linha ondulada e a tecelagem produz um padrão em espiral do centro da coroa até a borda, que simboliza o caminho seguido pela semente original.
Esta analogia entre o movimento em espiral e desenvolvimento de sementes é revelada com particular clareza no caso das sementes de sene. A germinação segue um padrão representado pelas 5 centrados, mas também pode ser representado por um conjunto de elipses concêntricas (geometricamente, uma forma descontínua da espiral) ou equiparado a "teia de aranha”.

A segmentação do ovo do mundo pela primeira 7 vibrações ou a espiral de elementos contidos no original embrião e incluindo os 22 pontos considerados os Testemunhas da palavra exteriorizada e classificados, os exemplos de simbolismo da espiral no âmbito dos ensinos gráfico do dogon. Este também pode dar outro significado as mais pragmáticas questões, tais como dar números nos pilares vem em frente das casas, relacionados com a 8 pontos cardeais.
Estes exemplos mostram como a espiral atua no nível de um modelo cognitivo que abarca todo o projeto da criação concebida pelo criador de tudo. Ele está dentro da espiral que a palavra, a água e o sangue, então, o sol e as estrelas são todos formados e que a tecelagem do tecido e o desenvolvimento de sementes tem lugar. É no espiral que os 8 pontos cardeais, as 22 principais categorias de seres vivos e as 7 vibrações iniciais tomam forma. O universo é executado de acordo com seu ritmo, a dança dos homens o seu ritmo, e a serpente sagrada que instruem os chefes os movimentos das pessoas ao seu ritmo.
Este movimento em espiral é uma metáfora geométrica, que expressa à compreensão holística do mundo e todas as coisas. Em um nível cognitivo, a espiral é a Imagem simbólica de conhecimento profundo e harmonioso, que na vida normal é expressa pela categoria da boa palavra. É a partir desta categoria que vem a música, a bondade, o prazer e poesia - Uma palavra feminina ligada à natureza amorosa da mulher, a luz solar e a força totalizadora do 4º centrado.

ARTE DOGON
Os artesãos Dogon estão entre os melhores escultores do mundo. O chefe de cada família deve cuidar das figuras de culto de madeira em que os espíritos de seus ancestrais habitam e alimentá-los regularmente com milheto e de sangue para assegurar a fertilidade dos campos, o retorno das chuvas sazonais e à saúde das pessoas.

A melanina tem a capacidade de captar todos os tipos de freqüências de energia e por isso os Dogon em virtude de sua melanina são capazes de captar vibrações de Sirius B como se possuíssem telescópios infravermelhos. A melanina deu aos antigos habitantes de khemet (Egito) e outros pretos de civilizações antigas a percepção extra-sensorial, psi e a capacidade de prever o futuro. Por isso que o povo preto é o mais espiritual de toda a humanidade, criado a imagem e semelhança de Yah, sendo os primeiros humanos a desenvolver tecnologias, filosofias, ciências e a observar as estrelas e desvendar os seus segredos.


Crianças dogon

Dogon Drumming and Dancing (from rootsyrecords.com)


PRETAS POESIAS

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