sábado, 23 de fevereiro de 2008

SAARTIJE BAARTMAN – ZOOLÓGICOS HUMANOS – A MULHER PRETA HUMILHADA


Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com
Introdução
O colonialismo, escravidão, racismo e todas as suas mazelas, as questões de concepções normativas de beleza têm como principal alvo a mulher preta. Surpreendem as músicas cantadas em Salvador-BA pelos grupos de pagode.
Uma das músicas atualmente mais cantadas em Salvador com grande cobertura da mídia é “Vaza canhão”, interpretada pelo grupo Black Style.
Vaza Canhão
Black Style
Composição: Robyson
Cantor falando: "Eu conheci essa mulher no Orkut, ela me disse que era loira, com um metro e oitenta, com os olhos verdes, com um bundão, com peitão... eu fiquei louco marquei um encontro com ela e deu música."
E eu conheci uma menina na Internet
Ela me disse que é um verdadeiro avião
Eu marquei um encontro com ela na avenida sete
E quando eu vi a menina pirei o cabeção
Ela tem cara de jaca
Nariz de chulapa
Estria nas pernas
Bunda de peteca
Perna de alicate
Cabelo de asolã
.......................
E ela tinha uma papada
Parecia um urubu
Tinha uma impigem na cara
E cocava uu..uhhhh
http://letras.terra.com.br/black-style/1053925/
Vídeo da Banda Black Style encontrado no site Youtube Br.
Os estereótipos usados são de extrema falta de sensibilidade para com as mulheres pretas, falta o respeito às próprias mães, avós, irmãs, companheiras e filhas; músicas repetidas e dançadas pelas crianças, adolescentes, jovens, mulheres e senhoras pretas sem analisarem profundamente a exploração da sexualidade e do corpo da mulher, da sua estética e comportamentos. Sem analisar verdadeiro o racismo empregado nos termos “urubu” e “cabelos de asolã”, comprovando assim o aprisionamento da consciência.
E conforme Carlos Cavalcanti no artigo:Por que os negros preferem as loiras?
"Por que eles preferem as loiras?
Parece que está virando regra: negro bem- sucedido tem sempre uma loira a tiracolo. Não é um problema só nosso. Muito menos de falta de esclarecimento. Basta lembrar de algumas frases do líder negro norte-americano Eldridge Cleaver, em sua autobiografia Alma no Exílio. "...Não existe amor entre um homem negro e uma mulher negra. Eu, por exemplo, amo as mulheres brancas e odeio as negras. Está dentro de mim, tão profundo que já não tento mais arrancar." "Todas as vezes que eu abraço uma mulher negra, estou abraçando a escravidão, e quando envolvo em meus braços uma mulher branca, bem... estou apertando a liberdade."
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2004/02/274659.shtml
O processo histórico da violência caucasiana através do racismo científico, quando divulgaram como verdadeiras o fenótipo caucasiano utilizando uma pseudociência, objetivando destruir o povo preto, e as conseqüências dessas mentiras ficaram introjetadas em grande parte da nossa população. O racismo científico utilizou das formais mais cruéis homens e mulheres pretas africanas e afro americanas para tentar mistificar a superioridade caucasiana.
ZOOLÓGICOS HUMANOS
Na Europa e nos Estados Unidos da América surgiram o Human Zoo (zoológicos humanos) um meio de popularizar o racismo científico e tentar comprovar através da antropologia e da antropometria a inferioridade dos não-brancos.
Em 1836, Phineas Taylor Barnum exibiu durante sete meses a Joice Heth: escravizada, anciã, cega e quase paralisada de seus movimentos, inventando que a mesma possuía mais de 161 anos de idade, havia sido escravizada da família Washington, carregando o próprio George Washington, líder da independência dos USA, ainda bebê.
Barnum foi desmentido, após uma autopsia realizada pelo Dr. David L. Rogers em um local de show na cidade de Nova York na presença de 1500 expectadores. Mesmo após a sua morte Joice Heth serviu para os estudos caucasianos racistas.
Após perder a esposa e dois filhos em um massacre no Congo pelas Forças Armadas do genocida Leopoldo II da Bélgica, Oto Benga foi outro exemplo de vitíma do racismo cientifico dos caucasianos. Benga foi trazido aos Estados Unidos, em 1904, pelo missionário cristão Samuel Phillips Verner. Oto Benga e mais oito Batwa, erradamente chamados de “Pigmeus” pelos caucasianos, sendo exposto em uma gaiola no zoológico de Bronx em Nova York ao lado com um chimpanzé, idéia originaria de Madison Grant, um dos maiores eugenistas da história. Houve protestos de pastores pretos batistas, especialmente do Pastor James H. Gordon que disse:
- A nossa raça está bastante deprimida com a exibição de um de nós como um macaco.
Após ser retirado do Zoológico trabalhou na plantação de tabaco e em 20 de março de 1916 após passar por diversas humilhações e racismos, Oto Benga realizou uma dança ritual e disparou um tiro sobre o próprio coração acabando o seu calvário nos Estados Unidos da América.

Outro exemplo foi o Show Popular ocorrido em Stuttgart na Alemanha com amostras de africanos apresentado de 02 de julho a 05 de agosto de 1928.
Em breve escreverei mais detalhadamente sobre os zoológicos humanos, sendo o nosso objetivo neste artigo comentar sobre Saartjiee Baartaman, exemplo do desrespeito feito as mulheres pretas e a sua memória deve ser lembrada por toda a militância panafricanista no planeta.
SAARTTJIE BAARTMAN
Nasceu em 1789 no Cabo Oriental, membro do povo Griqua, subgrupo dos Koi San, conhecidos também como “Bushman” considerados os primeiros habitantes da África do Sul.
São considerados descendentes diretos do Homo Sapiens que evoluiu há mais ou menos 100 mil anos, os seus marcadores de DNA não são encontrados em nenhum outro povo fora da África, são os humanos mais antigos do planeta. Conforme pesquisa feita pelo geneticista Spencer Wells', publicado no National Geographic News em 2003, são a prova biológica que todos os seres humanos descendem dos africanos pretos, os quais são os seres originais feitos a imagem e semelhança de Deus.
A família de Saartjiee mudou-se para perto do Cabo Town e ela escravizada, com 20 anos de idade, de um fazendeiro holandês, foi percebida pelo cirurgião Willian Dunlop, o qual observou o seu fenótipo e constatou que ela possuía steophagia (aumento do glúteo), então foi levada da Cidade do Cabo para Londres e Paris entre 1810-1814.
No decorrer deste período ela foi exibida em "freak shows" em muitos lugares e tratada como um ser medonho, exótico, monstruoso, bizarro e apresentada em circos, museus, bares, universidades e outros locais pelos caucasianos, sendo transformada no ícone da inferioridade racial da mulher preta pelo período de cem anos.
Ela veio a falecer em 1815, seu corpo foi levado para o Museu de História Natural de Paris, onde o famoso "cientista naturalista" G. Cuvier realizou sua autópsia, moldou em gesso um molde de seu corpo, retirou seu cérebro e genitais que foram preservados em garrafas de formol e foram exibidos ao público no Museu do Homem até 1992. Mas alguns africanos nunca esqueceram Baartman. Nelson Mandela fez um pedido à França em 1994 para que seus restos mortais fossem devolvidos. Sua causa ganhou impulso no pós-apartheid da África do Sul quando surgiu uma nova consciência da identidade étnica. Por todo o país, os povos indígenas estão afirmando sua herança, direitos, alegando não só o reconhecimento político e cultural, mas também a restituição da terra ancestral e à proteção dos direitos de propriedade intelectual. O San, uma vez conhecidos como os bushmen da África meridional, com êxito histórico valorizadas terras tribais e ganhou uma quota-parte dos produtos comercializados internacionalmente de medicamentos fabricados a partir de suas plantas medicinais tradicionais. E agora Baartman khoisan da tribo, que foi reconhecido pelas Nações Unidas como um indígena "First Nation", tendo ganhado uma vitória para tribal reconhecimento por garantir o regresso dos' Hottentot Venus' para a África do Sul.
Demorou anos de negociações e questionamentos antes que uma lei fosse votada, em 6 de março de 2002, que possibilitou o seu retorno. Analistas Jurídico francês disseram que o texto foi redigido cuidadosamente para evitar que ele seja utilizado em outros casos. Investigação ministro francês Roger-Gerard Schwartzenberg disse: "A França pretende restabelecer a dignidade de Saartjie Baartman, que foi humilhada e explorada como uma mulher, como uma Africana". Embaixador Thuthukile Skweyiya declarou:
"Saartjie Baartman está começando sua última viagem para casa, com um livre, democrática, não-sexista e não-racista sul-africano. Ela é um símbolo da nossa nacional necessidade de confrontar nosso passado e restaurar dignidade para todos os nossos povos."
Em 09 de agosto de 2002 o Presidente Mbeki dirigiu-se à cerimônia, disse: "A história de Sarah Baartman é a história do povo Africano". É a história da perda da nossa antiga liberdade... É a história da nossa redução ao estado de objetos que possam ser possuídos, utilizados e rejeitados por outros".
Baartman se tornou um ícone na África do Sul como representante de tantos aspectos da sua história. O Saartjie Baartman: Centro de Mulheres e Crianças, um refúgio para as sobreviventes da violência doméstica, foi aberto na Cidade do Cabo, em 1999.

Saartjie é um dos maiores símbolos da resistência do povo preto.
Saartjie é um símbolo do panafricanismo, da luta das mulheres pretas e do combate ao racismo empregado sem pudor pelos caucasianos europeus.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

BATALHA ESPIRITUAL – AS CRIANÇAS BRUXOS DO CONGO

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com

Com a invasão do continente africano e conseqüentemente a colonização, seqüestro e a escravidão de milhões de pretas e pretos, um dos fatores de dominação foram à imposição religiosa cristã branca na África e nas Américas.


Introdução
Na dominação territorial-política e econômica os momentos de genocídios desenvolveram-se paralelamente com a escravização mental, criando uma geração prisioneira da consciência. Fez-nos acreditar nos modelos políticos e econômicos estruturados pelo invasor europeu, tanto na África como na Afro – América. Exemplos contemporâneos, ao assistirmos com “alegrias e esperanças” a possibilidade de Obama tornar-se candidato a presidência nos USA. Enquanto no Brasil, vemos ensaios de grupos imponderados com propostas de nomes para o chamado “poder” na SEPPIR (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial): mudanças de nomes e continuação de velhas estruturas.
Percebemos a inoculação da escravidão mental, a continuação do modelo econômico-imperialista dos USA e do mesmo modelo de exclusão, desta vez com “algumas cotas”, para tentar calar a boca da maioria e beneficiando com cargos uma minoria sedenta do “poder” envolvida com os partidos políticos, os mesmos nomes que não conseguem pôr em passeata 10 mil pessoas e, ainda sim, afirmam representar milhões de pretas e pretos no Brasil.
Essa pequena reflexão versará sobre as mudanças estruturais no pensar africano e no seu viver religioso que afetaram o nosso povo modificando a sua identidade, comportamentos e maneiras de enfrentar os problemas sócio-políticos, destruindo o modelo de vida ancestral, favorecendo a dominação, nos dividindo e conseqüentemente nos explorando.
A mídia tem sido o meio caucasiano mais potente para concretizar a exploração através da escravidão mental. Ela detém um poder político-sócio-econômico considerável, atingindo veementemente com falta de respeito às religiões não brancas, afirmo isso, porque o alvo preferido da mídia religiosa evangélica no Brasil e na África está nas religiões afro-brasileira e ancestrais africanas, enquanto religiões européias como o Espiritismo Kardecista, não o é.
Para entendermos as desconstruções no viver religioso e no pensar religioso atual africano, tornar-se-á necessário citar, sem muitos detalhes doutrinas criadas dentro dos USA pelas igrejas brancas que atingem diretamente os africanos na África e seus descendentes na diáspora:
Maldição Hereditária
Na crença em maldições hereditárias a cultura africana é considerada maldita, e para que este crente que tem ligações com ela, se veja livre de suas maldições dos antepassados (apenas crer em Jesus não é suficiente), é necessário que ele ainda faça renúncias verbais e unções com óleo sagrado pelo corpo, para se desvincular de todo envolvimento (direto ou indireto) com a cultura preta que é neste contexto considerada demoníaca; e qualquer relação futura que ele venha ter com esta cultura, isso poderá ainda trazer de volta as maldições, para isso é aconselhável que este novo crente, se afaste totalmente da cultura demoníaca (cultura preta), para enfim adotar como padrão os valores euro-norte-americano de ser evangélico, como se estes valores culturais fossem de alguma forma mais puros, santos e superiores.
Batalha Espiritual
Na Batalha Espiritual o caso parece ser mais sério ainda para o preto, pois se olharmos cuidadosamente nos livros que tratam do assunto (principalmente dos E.U.A, traduzidos para o português. Ver o livro de ficção: Este Mundo Tenebroso, de Frank E. Peretti – Editora Vida) veremos que os exércitos de Deus são todos brancos e loiros e o exército do diabo são todos pretos e negros.
Os demônios expulsos em sessões de libertação destas igrejas, em grande parte são identificados como sendo do panteão das religiões afro, denotando assim uma implacável demonização desta cultura por parte dos crentes, que por herança histórica, passaram a ver todas as culturas que não são euro-norte-americana, como sendo obra do demônio.
Também os anjos, quando vistos em ditas experiências espirituais destes crentes brasileiros, estes seres espirituais são sempre brancos, loiros e de olhos azuis (padrão euro-norte-americano), e quando estas visões raramente fogem do comum, nota-se que o anjo avistado é ruivo.
E isso pode ser observado também nos livros de batalha espiritual do escritor Daniel Mastral, onde supostamente foi visto um anjo ruivo, o qual é apresentado como o mentor de Daniel Mastral (ex-satanista), conforme o próprio autor narra ao longo de sua história. Observa-se também, que durante esta narrativa, este anjo ruivo é identificado por Neuza Itioka(Grace), como sendo o próprio Arcanjo Miguel (o príncipe dos exércitos celestes).

http://www.jornalismogospel.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=9590
E congoleses estão indo para os USA reforçando a idéia da batalha espiritual: "A religião para eles não é como a ocidental", diz Jacob Olupona, professor de tradições religiosas africanas na Escola de Teologia da Universidade Harvard. "Não é vista simplesmente como significado e referência em uma ordem transcendental. A religião é vista como algo que funciona. Existe uma visão utilitária a respeito, e as pessoas procuram por soluções sob ângulos e maneiras diferenciados".
Os membros do culto dizem que, porque seus ancestrais não eram cristãos, viviam amaldiçoados, e que a África também vive uma maldição. Agora, os pecados dos pais recaem sobre os filhos.

http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI2165827-EI8141,00.html
Teologia Da Prosperidade
Fundada também nos USA essa teologia afirma que, todo crente tem que ser rico, não morar em casa alugada, ganhar bem, além de ter saúde plena, sem nunca adoecer. Caso não seja assim, é porque está em pecado ou não tem fé. O crente deve ter carro novo, casa nova (jamais morar em casa alugada!), as melhores roupas, uma vida de luxo. Dizem que Jesus andou no "cadillac" da época, o jumentinho. O cristão deve determinar, exigir, requerer, tomar posse.

Esses fatores econômicos atingem a maioria da população preta no mundo. Uma prosperidade que o alvo é se tornar rico igual os brancos norte-americanos e desejar usufruir do seu mundo capitalista, tornando-se uma apologia ao modo de viver dos USA, ocultando os interesses imperialistas de dominação e exploração dos USA. Convencer um povo através da religião que a prosperidade está a mãos é uma forma bem sutil de escamotear a verdade.
A Maldição Hereditária, A Batalha Espiritual e a Teologia da Prosperidade são concepções brancas neopentecostais nas quais podemos fazer uma leitura econômica de valores do neoliberalismo ao valorizar a riqueza e o individualismo.
Resultado dessa inoculação da escravidão mental no modo de pensar religioso e viver em muitas regiões africanas encontram casos espantosos na Terra-Mãe, como o que será citado agora, na Republica Federativa do Congo.
Congo – Terra Abençoada à Terra Amaldiçoada
A história do Congo é lindíssima e rica de acontecimentos históricos que nos orgulham de sermos descendentes também dessa região africana. O Reino do Congo ou Império do Congo foi um reino africano localizado no sudoeste da África no território que hoje corresponde ao noroeste de Angola, a Cabinda, à República do Congo, à parte ocidental da República Democrática do Congo e à parte centro-sul do Gabão. O comércio transatlântico de escravos à partida da embocadura do Congo para as Caraíbas e o Brasil cessou ao redor de 1862.

Em agosto de 1865 o rei Leopoldo II da Bélgica sem conseguir colonizar o Extremo Oriente voltou-se totalmente os seus interesses para o continente africano criando a Associação Internacional Africana (AIA) objetivando a exploração e “civilização” da África Central, sendo aplaudido pela grande iniciativa em setembro de 1876 na Conferência Geográfica ocorrida em Bruxelas por diversos representantes europeus, foi considerado um filantropo em planejar levar a civilização aos africanos e ajudá-los.
Atendendo ao convite do chanceler do II Reich alemão, Otto Von Bismarck, 12 países com interesse na África encontraram-se em Berlim, entre novembro de 1884 a fevereiro de 1885 para a realização de um congresso. O objetivo de Bismarck era que os demais reconhecessem a Alemanha como uma potência com interesses em manter certas regiões africanas como protetorados. Além disso, acertou-se que o Congo seria propriedade do rei Leopoldo II da Bélgica (responsável indireto por um dos mais terríveis genocídios de africanos), transformado, porém em zona franca comercial. Tanto a Alemanha, como a França e a Inglaterra combinaram reconhecimentos mútuos e acertaram os limites das suas respectivas áreas. O congresso de Berlim deu enorme impulso à expansão colonial, sendo complementado posteriormente por acordos bilaterais entre as partes envolvidas, tais como Convênio franco-britânico de 1889-90, e o Tratado anglo-germânico de Heligoland, de 1890. Até 1914 a África encontrou-se totalmente divida entre os principais países europeus (Inglaterra, França, Espanha, Itália, Bélgica, Portugal e Alemanha).
Com a Conferência de Berlim o Rei Leopoldo II consegue impor-se no Congo que é o segundo país em extensão territorial da África e dirigiu a colônia como se fosse uma possessão pessoal. Recebendo a sua parte na divisão da África. Vale ressaltar que o Congo tem cerca de 2,5 milhões de quilômetros quadrados e Bélgica tem uma área de 30 528 km². O rei Leopoldo II transformou o Congo no quintal de sua casa. O que ele fez no Congo foi explorar e auferir imensos lucros a sua filantropia foi baseada no genocídio de 10 milhões de africanos, nada devendo a Hitler e seu extermínio.
A invasão belga foi culpada de desequilíbrio ecológico, manifestação de epidemias como a varíola, matanças de milhares de elefantes para retirada do marfim, exploração desenfreada das riquezas minerais, desestruturação familiar e ruptura dos valores ancestrais, em todas essas questões a presença de missionários católicos e protestantes foi fundamental, com exceção para o Reverendo presbiteriano afro-americano William Henry Sheppard (1865 – 1927) - de terno branco - que denunciou veementemente as atrocidades dos belgas no Congo. Em 1908, após uma forte campanha da imprensa européia e mundial, que revelou as atrocidades que ali eram cometidas, a região deixou de ser um domínio pessoal do monarca e foi transformada em colônia da Bélgica, condição que se manteve até 1961, quando o Congo conquistou sua independência sob a liderança do pan-africanista Patrice Lumumba, criou o Movimento Nacional Congolês (MNC), primeiro partido formado numa base nacional, e não étnica que posteriormente foi detido sob a proteção dos soldados das Nações Unidas, Lumumba acabaria sendo entregue a seus inimigos e deportado para a província de Katanga, onde o líder local, Moisés Tchombé, a soldo de companhias mineradoras européias, o mandou assassinar juntamente com dois de seus companheiros.
Atualmente a região congolesa de Katanga possui alguns dos melhores depósitos mundiais de cobre e cobalto. Outras áreas do país possuem fontes ricas de minerais diversos, incluindo diamantes, ouro, ferro e urânio, o primeiro produtor mundial de Coltan, na África onde está 80% das reservas mundiais. A República Democrática do Congo (RDC) concentra mais de 80% das jazidas, dos quais se extraem metais mais cobiçados do que o ouro, onde 10 mil mineiros labutam todo dia na província de Kivu (no leste do Congo) O coltan é essencial para as novas tecnologias, estações espaciais, naves tripuladas que se lançam no espaço e às armas mais sofisticadas. Sendo estas áreas alvos da cobiça internacional dos países ocidentais e da China.
Ao Congo pouco restou à sua população após das atrocidades da colonização belga. Privados de qualquer dignidade humana, assolado pelas doenças trazidas pelos colonizadores caucasianos, pela guerra civil, outra herança direta das divisões instauradas pelos belgas, e mais recentemente pela corrupção no governo, restou-lhes apenas as esperanças de um milagre.
Milagres esses financiados pelo Governo às igrejas neopentecostais, nas igrejas do despertar, que já contam com cerca de 10.000 templos na capital, Kinshasa. Podemos citar: “Ministério da Fé Audaciosa”, “Ministério da Fé Abundante”, “Ministério do Combate Espiritual”, “Exército do Eterno”, “Exército da Vitória”, “Ministério do Poder”, “Igreja de Deus Vivo”, “a Arca Noé”, entre outras.
Essas igrejas utilizam dentro do seu arcabouço as doutrinas da maldição hereditária, instigam e propagam a batalha espiritual e são adeptas à Teologia da Prosperidade, que tem iludido e desestruturado a população do Congo e casos semelhantes também ocorrem em Angola com especialmente com a população Bakongo.
Com a colonização e cristianização do Congo surgiram novas igrejas de cunho neopentecostal como as igrejas do despertar,
Estas igrejas do despertar também estão ligadas à emergência de um novo fenómeno, "as crianças-feiticeiras": as famílias persuadem-se que a origem das suas desgraças se deve ao "feitiço" que um dos filhos teria lançado e acontece mesmo que este se convença que está dotado de poderes sobrenaturais ou maléficos. O desenfeitiçamento é da competência do pastor, pago pela família, acontecendo mesmo que a criança "culpada" seja posta fora de casa, indo então engrossar as coortes de crianças da rua. A criança pode também ficar a cargo do "religioso", que não se privará de recorrer à violência física e aos maus tratos. Esta explosão das "seitas" e das práticas mágico-religiosas reflecte a profunda desestruturação social criada pelos anos de guerra, pelo êxodo rural e pela deslocação forçada das populações. Resta esperar que, se o país retomar a senda do desenvolvimento, os Congoleses consigam preservar o melhor da sua prática religiosa e da sua "economia da solidariedade", desfazendo-se de todas as derivas.
http://www.enjeux-internationaux.org/articles/num11/pt/eleicoes.htm
“As igrejas do despertar são caracterizadas igualmente pelas curas milagrosas de todas as espécies de doenças, pela expulsão dos demónios (de pobreza ou de “bloqueio”, ou seja, os demónios que impedem que se obtenha um visto para o Ocidente), pelos transes com virtude catársicas.”
Os fieis dessas igrejas são utilizados, a exemplo do que ocorre no Brasil, como massa de manobra política e alicerce dos pastores que diferente da maioria população preta do congo são riquíssimos.
Para expandir e dominar as igrejas do Congo utilizam os programas televisivos chamados de “tele-evangelismo” que foram trazidos por missionários e pastores norte-americanos brancos, e tornou-se hoje um dos grandes poderes econômicos e políticos do congo.
“Os tele-evangelistas americanos, bem como numerosos evangelistas suíços, alemães e suecos financiarão inicialmente o desenvolvimento dos seus colegas congoleses. Estes patrocinadores estrangeiros foram-se sucessivamente retirando, desiludidos pelo facto dos pastores congoleses serem mais propensos a utilizar os seus subsídios para fins pessoais do que para fins religiosos. Mas, a máquina estava lançada, e o negócio lucrativo dos milagres não parou de prosperar no Congo.”
Uma das grandes atrocidades pregadas nas Igrejas do Congo é chamada de “Calvário das crianças-feiticeiras de Kinshasa”. Depois da destruição do modo matrilinear, destruições da base familiar preta e das sucessivas repressões às tradições religiosas originárias da população do Congo diversas crianças são acusadas de bruxaria, chamadas então de Kindoki, e conseguintemente abandonadas pelos pais.
Embora o impacto de inicio seja estarrecedor, cerca de 70% das crianças moradoras de rua na capital do Congo são acusadas de bruxaria e abandonadas pelos pais, com o incentivo das pregações dos pastores. De uma parte e de outra do rio Congo, os pregadores afirmam: o diabo esconde-se nos olhos desesperados das crianças abandonadas, acusadas de trazem com eles o mal e o pecado.
“Mama Louise Mujinga, 55 anos, partilha um alojamento nojento com quinze “crianças feiticeiras”. Os seus métodos de exorcismo são relativamente suaves: não recorre nem à pancada nem à tortura, submete as crianças a um jejum de nove dias, e dá-lhes apenas um bocado de pão e um copo de água ao pôr-do-sol. “Devem sofrer para se entregarem inteiramente a Deus e serem libertas do mal”, explica. Segundo ela, as crianças transformam-se frequentemente emanimais durante a noite. “Tu, em que é que te transformaste?”, pergunta a uma criança aterrorizada. “Em rato”, respondeu. “E tu?” pergunta a outro. “Em gato.” Outro rapaz afirma que se transforma regularmente em porco, outro, em cabra. “São muito perigosos”, continua Mama Mujinga. “Vejam esta criança. A sua mãe teve uma gravidez de onze meses. E apenas quando expulsei o demónio que estava nele é que ele pôde vir ao mundo. Aquele, além, paralisou o seu pai. O homem já não se podia mover. Então tive que expulsar o espírito maligno. Felizmente, tenho as minhas orações para me proteger.”
Há mais de 40.000 mil crianças acusadas de bruxaria na capital da Congo, que vivem escondidas, esse fato começou a ser denunciado pela ONG Save the Children:
A ONG "" denunciou ontem, o abusos e a violência de que são vítimas milhares de crianças, acusadas de bruxaria, na República Democrática do Congo um fenômeno que começou no início da década de 90, nas grandes cidades desse país africano.
A "Save the Children" publicou um informe, segundo o qual, em torno de 70 mil crianças são acusadas ou perseguidas por bruxaria, a maioria das quais, na capital do país, Kinshasa.
O informe revela que a perda dos valores tradicionais, o poder alcançado por alguns grupos religiosos como, por exemplo, a "Igreja do despertar", e o trauma dos anos de guerra (que deixaram um saldo de quatro milhões de mortos e um milhão e 600 mil deslocados) têm levado a coletividade a considerar certas crianças como uma possível ameaça, da qual é preciso se proteger.
Alguns eventos naturais ao crescimento de uma criança são considerados, por alguns pregadores e por numerosas famílias congolenses como "sinais inequívocos de bruxaria": debilidade física, magreza, baixa estatura, aspecto de desnutrido, sujeira, epilepsia, desordens de comportamento, desobediência, má-educação, nervosismo e incontinência urinária, além do fato de vagar pelas ruas, tudo isso pode ser sinônimo de que a criança é uma bruxa ou um bruxo. A maioria dessas "características" é própria da adolescência e, outras tantas derivam da pobreza e do escasso nutrimento.
Os pregadores da "Igreja do despertar" asseguram que a bruxaria é capaz de provocar danos, de trazer má sorte, de contagiar enfermidades e desencadear matanças. Essa "seita" religiosa atua graças a doações que obtém, por meio de exorcismos, e conta com a condescendência de funcionários estatais, aos quais paga consistentes subornos. (AF)
Fonte: Rádio Vaticano
http://noticiascristas.blogspot.com/2007/07/congo-violncia-contra-crianas-acusadas.html
A multiplicação de igrejas evangélicas, pentecostais ou africanas havida desde finais dos anos 1980 em Angola e no Congo acompanhou o crescimento das denominações pentecostais em outras partes da África e do mundo.
No Brasil podemos notar posicionamento semelhante:
A Serviço Do Diabo
Para Elinaldo Renovato de Lima, líder da AD em Paranamirim (RN), desmascara as verdadeiras intenções da obra. "As crianças são alvo predileto do diabo. Ele quis matar os meninos de Belém, visando a Jesus. Graças a Deus, seu plano foi frustrado, pois os pais de Jesus obedeceram à direção Divina, tirando-o para bem longe dos que queriam destruir sua vida. Era o 'projeto Herodes'. Esse projeto continua em vigor. O diabo quer destruir as mentes infantis, levando-as a crer que existem poderes sobrenaturais que podem ajudá-las na luta entre o bem e o mal. É uma trama diabólica, pois, usando o mal, o inimigo das crianças faz com que elas acreditem que estão sendo ajudadas. Harry Potter é mais uma das armadilhas do diabo", denuncia pastor Elinaldo.
Pastor Elinaldo faz um paralelo com um dos períodos negros da humanidade registrado na Bíblia: "O menino bruxo está fazendo com que milhares de crianças no mundo deixem de crer no poder de Deus para crer no poder da bruxaria. No Antigo Testamento, em Canaã, antes da chegada de Israel, pais jogavam seus filhinhos no fogo, nos braços do deus moloque. Hoje, crianças são lançadas diretamente nos braços de satanás".
A preocupação do Pastor Elinaldo Renovato de Lima tem todo fundamento. Basta lembrar da declaração da escritora diante dos primeiros protestos, em entrevista ao The London Times, edição de 17 de julho de 2001. "Acho que é uma total bobagem protestar contra os livros infantis, dizendo que estão atraindo as crianças a Satanás... As pessoas deveriam estar contentes por isso! Esses livros guiam as crianças para uma compreensão que o fraco e idiota Filho de Deus é uma fraude", afirma a escritora. Não é à toa que nos livros de Rowling todas as pessoas que não são bruxos são chamados de "estúpidos" ou "trouxas".
"Creio que tal declaração dispensa mais comentários. Está mais do que claro que os Pais Cristãos devem manter seus filhos à distância dessa literatura perversa e maligna, que tem por objetivo afastar ainda mais as crianças de Deus e iniciá-las na bruxaria.
A Bíblia tem razão: "Instrui o menino no caminho em que deve andar; até quando envelhecer não se desviará dele", Pv 22.6. Jesus disse: "Deixai vir a mim os pequeninos, e não os impeçais; porque dos tais é o Reino de Deus", Mc 10.14. Que os Pais Cristãos zelem melhor pela vida de seus filhos, afastando-os do 'projeto herodes', como os pais de Jesus o fizeram", alerta o ministro.
Leia toda a declaração: http://www.marciobatista.jor.br/diaforos/pontosponderar/midia/pontos_harry3.htm
Os novos ventos doutrinários criados nos Estados Unidos da América se direcionaram especialmente para a América Latina e a África objetivando manter a dominação política, as quais com extrema sagacidade atacam a ancestralidade e hoje atinge as crianças especificamente no Congo e de maneira diretamente também no Brasil. Crianças-bruxos no Congo expulsas de casas acusadas de feitiçaria e crianças pretas no Brasil que odeiam sua ancestralidade por acharem que são descendentes de feiticeiros. É necessário que estejamos alerta e protejamos as nossas crianças denunciando a falácia da maldição hereditária e da batalha espiritual que domina os meios de comunicação e nos atinge independente da prática religiosa.
Não podemos permitir que envenenem o nosso povo e o caminho é a solidariedade panafricanista: Um só povo e uma só luta.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

É NECESSÁRIO RESPEITAR NOSSAS MEMÓRIAS - QUILOMBOS E CRISTÃOS-NOVOS NO BRASIL NUNCA FORAM ALIADOS.




Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com


Li essa semana em diversas listas do Movimento Negro um artigo de Jane Bichmacher de Glasman, escritora e doutora em Língua Hebraica, Literaturas e Cultura Judaica da USP, o qual inicial com a seguinte frase:
"Consciência negra não é só Zumbi dos Palmares. Há muitas estórias para serem contadas. No mês da Consciência Negra, não vamos deixar de lado as boas histórias também. Você sabia que há judeus negros? Na África há dois povos muito antigos que só recentemente foram reconhecidos como judeus: os Falashas e os Lembas."

"Zumbi dos Palmares abriu o quilombo não apenas aos negros foragidos da escravidão, mas também aos judeus que estavam fugindo da inquisição"

"Com a chegada de numerosos judeus fugidos da inquisição, a população abriu-se aos brancos e estes últimos muito inspiraram a sua organização económica e política a partir de então."
E termina o artigo:
"Quando homenageamos no dia 20 de novembro a Consciência Negra, é preciso relembrar os horrores e a suprema vergonha do passado escravagista, da mesma forma que devemos relembrar os horrores do Holocausto dos judeus e outras minorias da II Guerra Mundial."

Leia todo o artigo:

http://comunidadeshemaisrael.blogspot.com/2006/11/os-negros-e-os-judeus.html
Houve alguns questionamentos e algumas sugestões de que esse assunto estivesse presente em todos os seminários do Movimento Negro e que fosse um tema sempre ventilado, trazendo-me uma forte preocupação porque nem tudo que reluz é ouro e venho compartilhar com os irmãos e irmãs pretas considerações sobre os cristãos-novos e a escravidão e a situação dos Falashas em Israel.
Em primeiro momento, foi o holocausto um crime horrível praticado pelos nazistas o qual como todos sabem levou seis milhões de seres humanos a morte, e genocídio não se esquece, tem sempre que ser lembrado de geração em geração para que não mais ocorra.
Não podemos esquecer o maior genocídio da história mundial realizado na África com quase 200 milhões de assassinatos e mais de 30 milhões de escravizados. Nós ainda não aprendemos a chorar os nossos mortos; porque dizem que devemos esquecer a escravidão e seus assassinatos. Nessa parte os judeus têm muito a ensinar e ninguém de sã consciência dirá a comunidade judaica mundial para esquecer o holocausto, porque será considerada inimiga do povo de Israel.
Falando em holocausto está havendo uma grande polêmica no carnaval do Rio de Janeiro, porque a Escola de Samba Viradouro que tem o tema ARREPIOS queria levar para a avenida uma alegoria sobre o holocausto, e teve de recuar por causa do plantão judiciário do Tribunal de Justiça do Rio o qual concedeu uma liminar, a pedido da Federação Israelita do Rio, proibindo a escola de samba de levar à Marquês de Sapucaí o carro alegórico que representa o Holocausto. Segundo decisão da juíza de plantão até a manhã de hoje, se o carro for exibido na avenida, a Viradouro terá de pagar multa de R$ 200 mil.
Leia mais:
http://www.estadao.com.br/cidades/not_cid118135,0.htm
Muito importante os israelitas preservarem a memória dos seus ancestrais vítimas da bárbarie do nazismo na segunda guerra mundial. Um exemplo que deveria ser seguido pela população preta brasileira que a todo o momento tem a sua história romantizada e seus ancestrais vítimas do maior genocídio mundial.


Operário prepara carro alegórico da escola de samba Viradouro representando o Holocausto, nesta segunda-feira, na Cidade do Samba, no Rio de Janeiro. Photo by Sergio Moraes. http://br.reuters.com/article/entertainmentNews/idBRN2848317620080128?pageNumber=2&virtualBrandChannel=0
E os protestos surgiram em uma comunidade do Orkut contra a decisão na justiça:
http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=75760&tid=2580784584753995588&start=1
A Dra. Jane Bichmacher de Glasman, deixou de explicar as riquezas adquiridas pelos cristãos-novos nas Américas com o tráfico de escravizados africanos e exploração da mão-de-obra-escravizada nas fazendas açucareiras, na mineração, com os escravizados-de-ganho nas cidades coloniais e imperiais do Brasil escravocrata. Em hipótese nenhuma estou negando as perseguições inquisitoriais aos marranos em terras brasileiras, mas, estou afirmando que muitos deles conseguiram se adaptar como cristãos-novos ao modo de produção escravista colonial e dele tirarem proveitos econômicos astronômicos. Não podemos concordar com romantismos históricos simplesmente, é necessária uma análise acurada quando se tratam da história diásporica e escravagista a qual os nossos ancestrais foram submetidos.
Uma das provas incontestes que ainda se mantêm no Brasil da escravização realizada pelos cristãos-novos aos nossos ancestrais são os sobrenomes que se mantêm até hoje dentro da comunidade preta brasileira. Impostos pelos judeus aos seus escravizados pretos, e eu sou uma prova inconteste, tenho o sobrenome Oliveira, significando que um dos meus ancestrais foi escravizado de cristãos-novos, tema esse que trabalhei detalhadamente no próximo livro que lançarei em fevereiro deste ano intitulado Afro-Reflexões.
Insinuar uma coligação de escravizados pretos e cristãos-novos em formação de quilombos é deveras preocupante carecendo de dados históricos e tenta apagar a união dos cristãos-novos com as forças coloniais na opressão da população preta nas Américas.
A história não se escreve com achismos e muito menos com acomodações e junções objetivando inserir no fato ocorrido acomodações políticas. Os Judeus sefardistas, conhecidos como marranos, traficaram e escravizaram pretos, de oprimidos se tornaram opressores, e devemos ter cuidados com essas informações sobre a resistência de nossos ancestrais. É necessário exigirmos respeito a nossa memória.
Em HOLOCAUSTO NEGRO: CITAÇÕES

Escravidão Negra, o Rabino Marc Lee Raphael escreve:
"Judeus também tiveram uma ativa participação no tráfico colonial holandês de escravos; realmente, os estatutos das congregações do Recife e Maurício (1648) incluíam um imposta (taxa judia) de cinco soldos por cada escravo negro que um judeu brasileiro comprasse da Companhia das Índias Ocidentais. Leilões de escravos eram adiados se eles caíam num feriado judaico. Em Curaçao, no século dezessete, como também nas colônias britânicas de Barbados e Jamaica, no século dezoito, mercadores judeus desempenharam um papel destacado no comércio de escravo. De fato, em todas as colônias americanas, seja francesa (Martinica), britânica ou holandesa, mercadores judeus freqüentemente dominavam. "Isto não foi menos verdadeiro no continente norte-americano, onde durante o século dezoito judeus participaram do 'comércio triangular' que trazia escravos da África para as Índias Ocidentais e lá os trocava por melaço, que por sua vez era levado para a Nova Inglaterra e convertido em rum para vender na África. Isaac da Costa, de Charleston, nos anos de 1750, David Franks, de Philadelphia, nos anos de 1760, e Aaron Lopez, de Newport, nos finais dos anos de 1760 e início dos de 1770 dominaram o comércio judeu de escravos no continente americano."

Leia mais sobre a declaração do Rabino Raphael Ira Rosenwaike :
"Em Charleston, Richmond e Savannah a maioria (acima de três-quartos) das famílias judias tinham um ou mais escravos; em Baltimore, apenas uma em cada três famílias era dona de escravo; em Nova Iorque, uma em cada oito... Entre famílias donas de escravos o número médio de escravos variava de cinco em Savannah a um em Nova Iorque." ""The Jewish Population in 1820," in Abraham J. Karp, ed., The Jewish Experience in America: Selected Studies from the Publications of the American Jewish Historical Society (Waltham, Massachusetts, 1969, 3 volumes), volume 2, pp. 2, 17, 19. Cecil Roth "Os judeus de Joden Savanne (Suriname) foram também os primeiros na supressão das sucessivas revoltas negras, de 1690 a 1722: estas eram na verdade amplamente dirigidas contra eles, uma vez que eram os maiores donos de escravo da região." History of the Marranos (Philadelphia: Jewish Publication Society of America, 1932), p. 292. Jacob Rader Marcus.
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2005/01/301745.shtml
Sobre os cristãos-novos em Recife escreveu Ana Beatriz Magno:
"Da população civil, 1.492 moradores eram judeus, atraídos da Holanda para o Brasil pela idéia de fazer daqui filial da terra prometida. A maioria dos israelitas era de origem ibérica e correu para os países baixos durante a Inquisição.
Logo enriqueceram no Brasil e aqui brigaram pela permanência de Nassau quando, em 1644, a Holanda ordenou o retorno do conde. Dois dos mais famosos israelitas, David Coronel e Duarte Saraiva, lotearam uma rua só para seus irmãos de fé, chamados de. gente da nação.. Era a rua dos judeus, hoje do Bom Jesus, preservada no centro do agora restaurado Recife antigo.
Ali, num prédio de dois andares, fundaram a primeira sinagoga das Américas e trouxeram da Holanda Aboab da Fonseca para ser o primeiro rabino do continente. Aqui escreveu a primeira oração judaica em terras brasileiras."
http://www2.correioweb.com.br/hotsites/500anos/recifeholandes/recifehol1.htm

"Gradualmente porém, com a transferência do capital da Europa para as Américas, cristãos-novos e Judeus abertamente a professar a própria religião — estes últimos sobretudo nas Caraíbas, no Suriname e, ora sim ora não na Guiana Francesa e na Guiana Britânica — conseguiram acumular riquezas e a estabelecer-se no seio da população, contribuindo à prosperidade da colónia. Isto implicava sobretudo ser proprietários terreiros, ser donos de plantações e, óbvia e tristemente, ser donos de escravos africanos. Infelizmente, então, de opresso o Povo de Israel nas Américas, uma vez ambientado, tornou-se opressor. Nisso não havia nenhuma diferença entre eles e as suas contrapartidas de fé católica a residirem nas Américas. Foi sobretudo por esta razão, pelo facto de os Judeus/cristãos-novos terem um interesse económico na prosperidade do Brasil que as autoridades coloniais, mesmo se com uma certa relutância, lhes deram cargos administrativos. A Metrópole sabia que iam defender os seus interesses económicos."
Leia mais: http://www.triplov.com/cictsul/exodus.html
Leia mais na Visão Judaica on line:
História dos judeus no Brasil - Capitulo VIII
Período Pós-Holandês - Dispersão e Acomodação (1654 – 1700)http://www.visaojudaica.com.br/Principal/Historia/historiadosjudeusnobrasil/8.htm
Na questão das populações pretas em Israel também se torna preocupante a adaptação e inserção na soc iedade israelense e diversos casos de racismo ocorrem:
http://www.telegraph.co.uk/news/main.jhtml?xml=/news/2007/08/03/wisrael103.xml

Nascida em uma pequena cabana na Etiópia Oriental, a bela modelo Esti Mamo(foto abaixo) nascida em 1983 foi obrigada a viver em guetos falasha no sul de Israel, enfrentando o racismo por causa da sua origem africana e cor da pele. Hoje é considerada uma das mais belas modelos do mundo.
Leia mais: http://www.ajlmagazine.com/content/032006/estimamo.html

Violenta manifestación «falasha» en contra del racismo interjudaico
Los hebreos negros etíopes acusan al Gobierno y al pueblo israelíes de ejercer contra ellos la segregación racial.
Leia todo o artigo do jornal El Mundo de 29 de janeiro de 1996:
http://www.elmundo.es/papel/hemeroteca/1996/01/29/mundo/80691.html

A autora do artigo foi infeliz na comparação de “outras histórias”, quilombos e cristãos-novos no Brasil nunca foram aliados. Os quilombos de homens e mulheres escravizadas que lutaram pela liberdade e os cristãos-novos de escravizadores que lucraram com a escravidão.

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