domingo, 29 de junho de 2008

RELIGIÃO E POLÍTICA – A ELEIÇÃO PARA A PREFEITURA EM SALVADOR

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br


O site Salvador Negro Amor publicou:
Quatro candidatos negros poderão disputar prefeitura de Salvador em 2008
A corrida eleitoral deste ano pela prefeitura de Salvador poderá contar com representantes que vão levar as discussões étnicas para os palanques. Na semana passada, nada mais do que quatro políticos envolvidos com a militância negra lançaram suas pré-candidaturas à vaga no Palácio Thomé de Souza. “Salvador tem 80% de afrodescendentes e é natural que a agenda da questão racial também seja refletida na política”, declara Luís Alberto, pré-candidato pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
Primeiro prefeito negro da capital baiana, Edvaldo Brito assumiu a prefeitura em agosto de 1978 e governou a cidade por sete meses. Em 1985 tentou a voltar ao cargo, mas perdeu a disputa para Mário Kértesz. Este ano, Brito deverá disputar a eleição municipal pela terceira vez, pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), mas desde já fica claro o distanciamento do pré-candidato da questão racial. “Ao disputar um cargo executivo, o candidato deve representar toda a cidade e não só o movimento negro”, afirmou.
Uma das fundadoras da União dos Negros pela Igualdade (Unegro), Olívia Santana também participa das primeiras negociações em torno de sua candidatura pelo Partido Comunista do Brasil (PCB). Ela tem o apoio do companheiro de luta na militância negra, Luiz Carlos França, também pré-candidato pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSL). Para Ney Castro, militante político, “é importante que exista uma representação e engajamento na luta de classes que se trava na cidade. O fato do candidato ser negro só reforça esta posição do partido”, concluiu.
http://www.salvadornegroamor.org.br/main/noticias/default.jsp?CId=1334
Evidente que os militantes mais experientes sabiam que esse fato não ocorreria porque os pretos e pretas em Salvador não dominam os grupos políticos, apesar de ser um paradoxo a maioria étnica não decidir o seu próprio destino.
Salvador é denominada de “Capital da Alegria" e "Roma Negra” por ser um referencial em possuir as mais importantes manifestações culturais africanas, de ter majoritariamente uma população de 90% de descendentes de africanos: a cidade mais preta do Brasil.
A afirmação étnico-racial da população se mistura paradoxalmente na concepção cosmopolita nas posições hierárquicas de poder político, onde as esperanças populares se colocam sem as preocupações étnicas como se vivêssemos em uma democracia racial.
Não é mais possível disfarçar o obvio, mesmo os militantes pretos mais calmos e integracionistas considerados pelo poder como os mais razoáveis hão de concordar que o movimento negro não é harmônico, coerente e consistente.
A verdadeira razão de não ocorrer oportunidades de se criar um víeis político libertário e panafricanista é a prática liberal centrada na incapacidade ou falta de vontade de viver o coletivo, ao contrário de se desejar a procura de benesses pessoais.
Há muito se fala em um projeto político para o povo preto como se organizar um projeto houvesse a exclusão da população, não se falam em projeto sem se consultar os interessados, sem ouvir os que vão apoiar e viver o projeto.
Discutir Poder para o Povo Preto é a frase mais usada pela juventude preta afrocentrada que em uma parcela coloca em dúvida as lideranças antigas repetidoras dos discursos da década de 70 e 80 do século passado, que não evoluíram no tempo, que estão fora da conjuntura e estão presas a teorias e axiomas de confrontos não mais existentes de polarizações entre Leste X Oeste, entre o capitalismo ocidental e o “socialismo” do leste europeu e da China. Defensoras de práticas políticas obsoletas e conchavos partidários onde o povo preto continuará fora do poder. A palavra geopolítica é uma das menos pronunciadas nos discursos e análises das lideranças pretas porque não a conhecem e nunca a analisaram por um olhar afrocentrado.
Nas preocupações e formulações do ideal panafricanista quando se deu a libertação de países africanos, com a instituição de “republicas socialistas na África” e surgimento de grandes lideranças como Kwame Nkrumah, Samora Machel, Agostinho Neto, Amilcar Cabral, Sékou Toré, Sam Nujoma e outros. A continuidade do apartheid na África do Sul, sem a manifestação e interferência direta dos países do leste europeu, demonstrava que os interesses econômicos da exploração de diamantes e da mão-de-obra africana oprimida eram mais importante para os países ocidentais que a exploração patrocinada pelo sistema racista, nesse ínterim os USA e a URSS se entendiam muito bem.
As eleições para a prefeitura de Salvador se aproximam e nela os quadros políticos se definiram pela primeira vez na história da cidade com um diferencial político-religioso digno de estudos sociológicos, na questão que representantes de grupos religiosos que se consideram evangélicos estão em diversas coligações partidárias. Nesse ínterim, política e religião mais uma vez dão as mãos e em nome da instituição igreja e na prática da fé os diversos interesses econômicos se apresentam a população com velhas propostas políticas em roupagens novas abalizadas pelo caráter religioso.
A religião sempre esteve ligada a dominação política e dela se construiu constituições e partidos, apesar dos marxistas analisarem como o “o ópio do povo”, chargão antigo dos marxistas históricos que não evoluíram nas suas análises da modernidade política mundial. As religiões em um mundo que parecia entrar para o ateísmo se tornam a cada dia palco de se atingir a maioria da população em todos os recantos do mundo globalizado, Salvador não ficou de fora.
Em uma análise superficial, quando notamos que os candidatos, digo candidatos, em uma cidade de maioria feminina e preta, as mulheres pretas não postularão a prefeitura com a retirada de Olivia Santana do PC do B, o partido que nas suas análises internas notou que não possuía cacife eleitoral e nem financeiro para manter a candidatura da chamada “Negona”, e acima de tudo, não tem o apoio da maioria da população preta de Salvador para aventurar uma campanha baseada na questão étnica em uma cidade onde vivemos em uma suposta “democracia racial”.
Os evangélicos estão representados em 03 coligações de força política, reitero o termo evangélico, porque dentro da mídia e do movimento negro baiano, assim são reconhecidos: deputado federal Walter Pinheiro, membro da Igreja Batista - candidato a prefeito do PT e partidos coligados; Bispo Marinho, membro da Igreja Universal do Reino de Deus- candidato a Vice-Prefeito pela coligação do Dem e partidos coligados; Prefeito João Henrique Carneiro, membro da Igreja Batista, candidato a reeleição do PMDB e partidos coligados. O interessante que em todas essas postulações deixou mais uma vez o Movimento Negro Baiano dividido em diversos grupos políticos e interesses diversos.
O fator interessante é que na questão da intolerância religiosa todos os grupos acima descritos terão representantes que se dizem contrários a qualquer discriminação, porque as composições trazem pessoas ligadas às diversas práticas; o Prefeito João Henrique que foi alvo de contestações no caso da destruição do terreiro Oyá Onipó Neto, traz como candidato a vice-prefeito um dos mais conceituados advogados trabalhistas do Brasil, ex-prefeito de Salvador, e ogã de uma das casas mais conceituadas, o Sr. Edvaldo Brito, e tem atualmente na Secretaria Municipal de Reparação, o mestre em geografia e professor da UNEB, Sandro Correia que sempre defendeu a prática religiosa do candomblé e tem origem no bairro mais preto de Salvador: Liberdade. Nessa junção apresentada a cidade, a união política de uma parcela dos evangélicos e de membros do candomblé, quebrando o estigma que a futura gestão da prefeitura de Salvador terá uma só concepção religiosa, na verdade nunca teve, em todas as uniões políticas há representantes de diversos interesses religiosos.
Do outro lado, o deputado federal ACM Neto do partido que tenta acabar com as cotas nas universidades, o DEM, representante de uma família que dominou a política baiana há décadas e sempre teve um bom relacionamento com diversas casas de candomblé e organizações afro-baianas, traz em sua companhia o deputado federal Bispo Marinho, representante da Igreja Universal do Reino de Deus, que consegue emplacar na cidade mais preta do Brasil o seu projeto político de poder, sendo acusada a todo o momento de ser intolerante com os cultos de origem africana.

Candidato a prefeito de Salvador, o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA) conseguiu montar uma coligação em torno de seu nome que une partidos adversários na política federal (DEM e PR), religiões antagônicas (católicos e evangélicos) e sistemas de comunicação concorrentes (TV Globo e Record). A pouco menos de quatro meses das eleições municipais, o palanque de ACM Neto transformou-se em uma espécie de terreiro do sincretismo político, reproduzindo o famoso ecletismo religioso da Bahia. http://www.votebrasil.com.br/noticia/politica/acm-neto-monta-alianca-ecumenica-em-salvador
No caso do deputado federal Walter Pinheiro, membro da igreja Batista, consegue unir no projeto político Lídice da Mata,ex-prefeita, atualmente deputada federal, como vice-prefeita que tem origem de militância no movimento estudantil e na defesa do socialismo e a não importância da religiosidade, e traz no seu apoio a vereadora do PC do B Olivia Santana, de todos as coligações, o PT tem mais "aproximação" com a maioria dos militantes do Movimento Negro, não significando que essa "aproximação" signifique a aprovação da maioria da população preta soteropolitana.
Evangélicos e seguidores de religiões afro-brasileiras, brancos e pretos, nesse momento em Salvador estão unidos em diversos grupos políticos com propostas de gerenciamento da denominada “Roma Negra” ou de “Salvador é de um só Santo”, conforme dizeres dos evangélicos.
Constatamos que as eleições em Salvador demonstram a desorganização do chamado Movimento Negro que como em todo o Brasil ainda não conseguiu criar um projeto político próprio que possa aglutinar as diversas tendências em um único objetivo. E sabemos que em todos os grupos políticos citados há pessoas pretas que participam e sonham em uma sociedade sem racismo e sem opressores, e dizer que o grupo, x, y, ou z possui as respostas para a comunidade preta é uma falácia. Há em todos os grupos pessoas respeitáveis que nos momentos políticos não podem coadunar com as propostas as quais não fazem jus o seu pensamento e vivência política, sendo assim teremos pretos e pretas ligados a igrejas e casas de candomblé, com seus candidatos pretos defendendo propostas diferentes, demonstrando que queriam ou não e felizmente o Brasil não é, e não pode se tornar um estado religioso.

sábado, 21 de junho de 2008

AXUM - AS IGREJAS ESCULPIDAS EM ROCHAS NA ETIÓPIA


Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br
Introdução
O reino de Axum (Etiópia) foi o terceiro das civilizações clássicas do Vale do Nilo. A sua extensão territorial era de 6.400.000 quilômetros quadrados, uma extensão do deserto do Saara, com uma pradaria rica e apropriada para a criação de bovinos e o restante montanhoso indo do rio Nilo Superior ao Mar Vermelho. Possuía também territórios na Arábia, no Vale da Fenda do Quênia e da Tanzânia até o Mar Vermelho. Sua cultura era uma mistura de influências locais e Sabaenas da Arábia Meridional. Os axumitas possuíam uma posição estratégica entre o Yemen do Sul e a Núbia.
A Etiópia tem uma das tradições mais antigas da história mundial. As informações sobre o Reino de Axum antigo são raras; os escritores gregos e romanos foram os primeiros a escrever sobre essa importante civilização bem perto da era cristã e citam a cidade de Adulis, porque foi uma das mais importantes cidades portuárias da África.
A história de Axum é relatada também na Bíblia em 1000 a.C. com a Rainha de Sabá, conhecida por Makeda ou Balkis , da cidade de Marib na Arábia Meridional, que visitou o rei Salomão em Jerusalém. Presenteando-o com riquezas retomou com valiosos presentes, e grávida de Salomão. Gerou um filho o qual chamou de Menelik, que mais tarde fundou a dinastia etíope dos Leões de Judá. Essa dinastia terminou bem recentemente em 1970 quando o último imperador, Haile Selassie, foi derrubado por um golpe militar.
Entre os anos século III e IV d.C. Axum adquiriu territórios na Península Arábica, através do Mar Vermelho, conquistou a Etiópia do Norte e então finalmente dominou a cidade Meroé e todo o Império de Cush; uma das regiões mais férteis no mundo. A queda dos poderes da Núbia conduziu à ascensão meteórica do poder imperial dos axumitas.
A civilização Axumita construiu palácios, templos e tumbas bem arquitetadas e de rara beleza. Altas torres de pedras chamadas steale como monumentos. Um deles tem treze andares feitos de uma rocha de 100 pés de altura e pesando quatrocentas toneladas.

AS IGREJAS ESCULPIDAS EM ROCHAS
Atos 8:27- Filipe se aprontou e foi. No caminho ele viu um eunuco da Etiópia, que estava voltando para o seu país. Esse homem era alto funcionário, tesoureiro e administrador das finanças da Candace, rainha da Etiópia. Ele tinha ido a Jerusalém para adorar a Deus. Na volta, sentado na sua carruagem, ele estava lendo o livro do profeta Isaías.
Leia todo o texto em Atos 8:27-39 em sua bíblia.
A igreja etíope começou com a conversão do eunuco, um oficial da corte, ministro das finanças da rainha. “Candace” não era o nome dela, mas um título, como “Faraó”, no Egito; “César”, em Roma, etc. Ele era um homem temente a Deus e tinha vindo de longe para a adoração em Jerusalém.
O cristianismo se estabeleceu como religião oficial de Axum no quarto século, com a conversão do rei Ezana. Salmo 68: 32- “E a Etiópia estendia as mãos para Deus.”
O rei Ezana permitiu também as religiões tradicionais. Ele mandou fazer inscrições de ações de graças a Deus por suas vitórias as quais estão gravadas em monumentos públicos nas línguas Ge'ez, sabeana e em grego além de emitir moedas douradas inscritas em cruzes.

A Arca da Aliança levada de Israel por Menelik estava no Monastério de Tana Kirkos, o lago mais largo da Etiópia e fonte do Nilo Azul. O Rei Ezana mandou buscá-la e a colocou em uma capela sagrada em Axum, onde só uma pessoa pode vê-la, o homem sagrado, o guardião das tradições religiosas.
As procissões ainda hoje em Axum passam ao redor da capela central e da igreja central em honra a arca da aliança.
O Imperador Lalibela viveu em 1185- 1225 d.C foi um dos mais proeminentes governantes de Axum. Conta à tradição que sua mãe o chamou de Lalibela porque no dia de seu nascimento ele foi cercado por diversas abelhas. Este mudou a capital para Rhoa e a rebatizou de Lalibela. Foi o primeiro a construir igrejas nas rochas, em locais que nomeou com passagens bíblicas: sepulturas com o nome de Adão e Jesus Cristo, córregos com o nome de Jordão e etc.
Lalibela desejou criar uma nova Jerusalém na sua cidade devido à conquista da cidade sagrada pelos muçulmanos no ano de 1187, por causa disto o povo etíope estava impedido de realizar peregrinações.
O primeiro caucasiano europeu a visitar as Igrejas foi o Português Pero de Covilhã. Outro Português, o padre Francisco Alves ainda desacreditado por suas descrições das incríveis Igrejas em Axum:
“Estou cansado de escrever sobre essas magníficas edificações, pois parece que não acreditam em mim caso escreva mais... Eu juro por Deus, em cujo poder estou submetido, tudo que tenho relatado é verdade.”
Lalibela construiu onze igrejas esculpidas em rochas. E uma das características notáveis destas igrejas é um túnel, de quarenta pés de profundidade em forma de cruz, que liga as onze igrejas.
As Igrejas foram consideradas Patrimônio Histórico-Cultural da Humanidade, pela UNESCO em 1978. Elas são divididas em quatro grupos:
As Igrejas do Norte: Casa do Salvador do Mundo, Casa de Maria, Casa Gólgota, Capela Selassie e do Túmulo de Adão.
As Igrejas Ocidentais: A Casa de São Jorge; a mais preservada e bela das treze igrejas.
As Igrejas Orientais: Casa de Emanuel, Casa de Gabriel, Casa Abba Libanos
E os monastérios de Ashetan Maryam e Yimrehane Kristos.
A Casa do Salvador do Mundo é a maior delas, e também é a maior igreja do mundo construída em pedras. Ainda há monges negros seguidores da igreja etíope que moram nessas cavernas. A liturgia das onze igrejas continua a ser no Ge'ez antigo. O incenso queimado em rituais religiosos de hoje foram herdados do antigo cristianismo etíope. O Cristianismo da Etiópia é um dos mais antigos do mundo, tem cerca de 1600 anos. A teologia da Igreja Ortodoxa Etíope mantém ritos do Antigo Testamento, como a guarda do sábado, a circuncisão no oitavo dia após o nascimento, a abstenção da carne de porco.
Através de monges da Igreja da Síria, adotaram o monofisismo, doutrina que acredita que Cristo existia em apenas uma natureza, a divina. E que Jesus, portanto, não era uma pessoa humana e não tinha uma alma como os outros. Os monofisistas acreditam que após a encarnação, a natureza divina tinha absorvido a natureza humana em Jesus. Esse pensamento foi considerado herético pelas Igrejas européias.
O Cristianismo africano é de suma importância e infelizmente não é conhecido. O povo preto foi predestinado antes da fundação do mundo para ser criado à imagem e semelhança de Deus e ser sua testemunha através dos séculos. A igreja etíope é uma das provas inconteste da história que os caucasianos se apropriaram e mudaram a história da igreja original: as igrejas africanas.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

HOMOSSEXUALIDADE E A TEOLOGIA PRETA


                                                                                                         Walter Passos - Historiador
Skype: lindoebano
 Facebook: Walter Passos

Há alguns aspectos que precisam ser pontuados e discutidos na formulação de uma teologia preta libertadora. A princípio deve-se ressaltar que teologia é o estudo das relações humanas de fé e seu imaginário-real de adoração dos grupos sociais a Deus, sendo assim, a construção de uma teologia inclusiva e libertadora para o povo preto e seus diversos segmentos deve contemplar essas relações humanas de fé e adoração.
Uma das grandes questões não ainda discutidas dentro dos grupos de cristãos pretos é a homossexualidade. Em verdade, o que é ser preto homossexual e cristão? Quais são as nossas concepções acerca da homoafetividade? Quais são as respostas que os grupos cristãos pretos podem dar a pretos cristãos homossexuais? O que nos tem a dizer os homossexuais pretos sobre os seus sofrimentos? Quais são as indagações e posicionamentos que os pretos e pretas homossexuais têm aos grupos pretos cristãos? Como se portar em um processo de discriminação racial nos enfrentamentos da sexualidade do povo preto em suas diversidades?
De certo, é impossível se discutir uma ação libertadora e inclusiva para toda a comunidade preta omitindo que a prática da homofobia é real dentro das igrejas brasileiras. Impossível não constatar que a lacuna do combate à discriminação racial alija em suas discussões os nossos irmãos e irmãs. É também concreto afirmar que se tornará necessário que comecemos a construir novos olhares, em busca de uma nova teologia inclusiva para todas as pretas e pretos, baseada no amor e respeito das diversidades que possuem o nosso povo, sem nos distanciar dos ensinamentos de YAHoshua , o Messias.
A questão de milhões de irmãos e irmãs que são discriminados pela sexualidade, obviamente deve ser uma preocupação no processo libertário e reconciliador da teologia preta. Notamos que a omissão e a hipocrisia são caminhos da violência e da intolerância, e a religião tem se tornado porta-voz de perseguição. A teologia preta deve ser a porta-voz de todos os que estão sem voz, sem nenhuma exceção. Os teólogos e teólogas pretas têm que ouvir, entender e proclamar o amor de YAHoshua : inclusivo e reconciliador. Há práticas de permissividade eclesiástica para hipócritas, racistas, homofóbicos, caluniadores, dissimuladores, egocêntricos, capitalistas, machistas, e todos mentirosos que abrem as suas bocas e se colocam como embaixadores de “verdades” e “moralismos”, que não passam de sepulcros caiados, podres por dentro, alvos diretos dos questionamentos e repreensões de  YAHoshua na sua vivência terrena.
Na concepção judaico-cristã qualquer relação sexual que não seja procriativa é pecado. O sexo é considerado permissivo e a homossexualidade é demonizada e execrada pelos defensores do puritanismo, que não raras vezes, praticam os atos censurados por si mesmos.
Pretas e pretos cristãos GLBTT nos perguntam: Qual o direito que temos de excluir a nossa irmã ou o nosso irmão do convívio religioso por causa da sua orientação sexual? Somos todos nós filhos e filhas de um mesmo Deus que não é do gênero masculino e nem do gênero feminino. Deus é Deus.
Segundo a concepção de pretas e pretos cristãos heterossexuais: Temos que pregar o amor a todos os homens e mulheres. Conseqüentemente com a conversão aYAHoshua , há uma transformação na vida, uma mudança de conduta, aumento da espiritualidade e comunhão, entretanto a homossexualidade é considerada pecado, impedindo a plena realização da Graça de Deus no ser humano.
Há duas posições defendidas entre os diversos grupos cristãos pretos protestantes sobre a questão da homossexualidade:

1- OS QUE DEFENDEM A INCLUSÃO DOS HOMOSSEXUAIS NAS IGREJAS
Herndon Davis, homossexual, filho de um pastor Batista, empresário bem sucedido, apresentador de televisão, conta que foi vítima de um sermão homofóbico na sua Igreja na cidade Atlanta quando estava com dois amigos gays e teve medo de ser linchado, levando-o a forte depressão, que durou até que o YAH  lhe revelou, conforme o próprio afirma:
- "O Senhor falou para mim não só para escrever sobre a experiência, mas também para combater a homofobia”. E conclui dizendo:
- “O meu conhecimento e da educação teológica prova que não há condenação contra a homossexualidade, mas, há erro e má interpretação baseada em diferenças de língua, cultura e história”.Nas suas pregações ele aconselha como gays devem lidar com o conflito entre a sua fé religiosa e orientação sexual; e que recebeu de Deus a missão de escrever o livro Black, Gay & Christian: An inspirational Guidebook to Daily Living, que tem com objetivo ajudar às lésbicas e aos homossexuais enfrentarem a discriminação nas igrejas e na sociedade. Conforme o autor declara, este livro é cheio de espiritualidade.
Em sua opinião as pessoas devem professar o perdão, ler a escrituras, porque elas dão sabedoria e inspiração nas situações difíceis para entender que atrás das palavras sagradas está o Espírito de Deus.
Leia mais:
http://www.afterelton.com/archive/elton/TV/2005/7/herndondavis.html

2- OS QUE CONSIDERAM A HOMOSSEXUALIDADE PECADO.
Charlene E. Cothran, uma proeminente activista homossexual e chefe de redacção da publicação “homossexualidade de negros” da revista “Venus Magazine,” anunciou recentemente que abraçou o Cristianismo e renunciou à homossexualidade.
O anúncio de Charlene veio em forma de artigo de primeira página na edição de Fevereiro da revista “Venus”, intitulado “Redimida: 10 Formas Para se Sair da Vida Gay, Se Quiseres Sair”. A revista outrora considerada por muitos como revista líder dos homossexuais Afro-Americanos, mudou de direcção.“Nos passados 29 anos da minha vida eu fui criadora e apoiante estratégica agressiva das questões de gays e lésbicas,” escreveu Charlene: “Organizei e participei em inúmeras marchas e vários lobbies na luta pelo tratamento igual para gays e lésbicas”.
A entrega de Charlene a Cristo levou-a a ver o seu lesbianismo sob uma nova luz.“Como uma crente na Palavra de Deus, aceito completamente que as relações com o mesmo sexo não são o que Deus concebeu para nós”, escreveu ela.
“Jesus limpará e perdoará a confissão, de todos os pecados, que provém de um coração voluntarioso e sincero”, declarou Charlene. “A homossexualidade é apenas um deles. Não há nenhum pecado maior que outro; é tudo pecado.”Leia mais: http://www.venusmagazine.org/cover_story.html e
http://pwp.netcabo.pt/iqc/lesbica.htm

Não há mais como esconder e nem negar o sofrimento que passam irmãs e irmãos pretos por causa da sua sexualidade, e da não permissão de comunhão de fé e adoração, por conta dos estigmas e preconceitos que nos afastam do amor, da resignificação harmoniosa de encontro fraterno na nossa comunidade, do vivenciar pleno da espiritualidade e da procura da felicidade individual e coletiva. O nosso vocabulário para a palavra felicidade foi esquecida e transformada na palavra dor e exclusão.
Devido o caráter polêmico da questão, o apresentador Herndon Davis está correto em afirmar que há interpretação errônea das escrituras? Ou Charlene E. Cothran está correta em afirmar que a homossexualidade é pecado e é necessário uma mudança de vida? Deixamos com voces irmãos e irmãs a reflexão sobre o tema. E dentro desse posicionamento, como construir uma Teologia Preta Libertadora e inclusiva, baseada no amor e respeito das diversidades que possuem o nosso povo, sem nos distanciar dos ensinamentos de Yeshua, o Messias?

I CORÍNTIOS 13
1 Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine.
2 E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
3 E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
4 O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece,
5 não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal;
6 não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade;
7 tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
8 O amor jamais acaba; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
9 porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos;
10 mas, quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado.
11 Quando eu era menino, pensava como menino; mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
12 Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido.
13 Agora, pois, permanecem a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o amor.


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segunda-feira, 9 de junho de 2008

INTOLERÂNCIA A DEUSES E DEUSAS PRETAS

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br


Há todo o momento o povo preto é agredido de diversas formas e maneiras por manter o referencial africano nas religiões - Umbanda, Candomblé, Catolicismo, Cristianismo de Matriz Africana - em conseqüência diversas retaliações são empregadas, como a iconoclastia (destruição de imagens), invasão de locais de culto em uma cruzada religiosa contra o povo preto, além de mudanças exegéticas e hermenêuticas para o branqueamento de civilizações e personagens nos livros religiosos. Não possuo sentimentos de raiva e nem de ódio, porque entendo haver um planejamento para o desconhecimento da história das civilizações primitivas, civilizações africanas, sendo assim, nem raiva e o ódio são sentimentos que devem ser cultivados, mas, cultivado deve ser a preocupação da continuidade de difusão de mentiras.
Caminho para tal entendimento é o afrocentrismo e a prática do panafricanismo, ambos, podem reverter esse processo no nosso povo. Sendo nós a maioria da população, ainda assim, usados como ponta-de-lança e testa-de-ferro nos ataques de um engendramento racista bem aprimorado, percebemos que o ocorrido é um aprisionamento da consciência, tornado-se necessários métodos educacionais e empenho panafricanista de solidariedade entre o povo preto, para mudar essa realidade e libertar os prisioneiros mentais do racismo e das mentiras caucasianas.
Devemos ressaltar que as mudanças foram progressivas e são sistemáticas na destruição da verdade histórica. Imagine que desde a escravidão o povo preto foi obrigado a assimilar imagens européias, mutilação das deidades pretas. Todos os deuses e todas as deusas das civilizações antigas foram pretos, inclusive nas primeiras civilizações caucasianas, as quais imagens e mitologia retratam os primeiros habitantes do planeta: a civilização preta. As deidades do mundo antigo, inclusive das bem recentes civilizações caucasianas Grécia e Roma, foram pretas: Júpiter, Baco, Hercules, Apolo, Vênus, Hécate, Diana, Juno, Métis e outras. Sabemos inclusive que Dionísio foi Osíris reinventado.
E-mails são enviados por pessoas pretas protestantes que ficam histéricas com os posicionamentos do CNNC, ao afirmar a pretitude de Yeshua, não aceitam porque aprenderam a adorar Deus com uma concepção européia. Nós do CNNC não inventamos um Deus Preto.
Os relatos do Primeiro Testamento retratam sacerdotes que adoravam Deus na sua essência de pretitude.
Nee 9:7 - Tu és o Senhor, o Deus, que elegeste a Abrão, e o tiraste de Ur dos caldeus, e lhe puseste por nome Abraão.
Há alguma dúvida entre as leitoras e leitores que os Caldeus foram homens pretos?
Gen 14:18 -E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e era este sacerdote do Deus Altíssimo.
Melquisedeque foi um homem preto, provavelmente da Etiópia e um dos primeiros sacerdotes do Eterno.
Gen 41:45 - E Faraó chamou a José de Zafenate-Panéia, e deu-lhe por mulher a Azenate, filha de Potífera, sacerdote de Om; e saiu José por toda a terra do Egito. O sacerdote de Om. Om significa "luz" ou o "sol". A cidade de Om era o centro da adoração ao sol no Egito. Os egípcios adoravam deuses e deusas pretas, deuses que demonstravam sua imagem de pessoas pretas, José casou-se, dessa forma, com uma mulher preta, sendo ele também um homem preto.
Exo 3:1 - E apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote em Midiã; e levou o rebanho atrás do deserto, e chegou ao monte de Deus, a Horebe.
Tanto assim que Jetro, um homem preto era um sacerdote de Javé, bem antes dos hebreus voltarem a conhecê-lo.
Todos os relatos do Primeiro Testamento são de civilizações pretas afro-asiáticas adorando deuses e deusas pretas.
Pretas foram as primeiras civilizações do planeta e retrataram-se em imagens pretas, pois não havia branco no planeta. Quais foram os profetas e fundadores das religiões antigas de origem caucasiana? Não há algum, significando que todas as grandes religiões do planeta com os seus erros e acertos foram criadas pelas civilizações pretas. Como que os europeus que surgiram há pouco tempo tentam modificar a verdade histórica, inventaram a bruxaria nas regiões geladas podem maquiar as divindades africanas ancestrais com a sua imagem e semelhança, através do poder das armas e da ideologia.
As provas surgem a todo o momento do aparecimento da civilização caucasiana que para muitos cientistas foi uma mutação dos primeiros habitantes do planeta terra, os seres originais: O povo preto.

NOSSA SENHORA APARECIDA

A imagem de Aparecida foi atacada duas vezes: a primeira em 16 de maio de 1978, por um jovem protestante que atirou uma pedra destrindo-a dentro da basílica, e outra, quando milhões de telespectadores viram quando um bispo branco da Igreja Universal, chutou em um programa de televisão, uma réplica da imagem.

Confira o Bispo Chutando a Imagem:

Há dezenas de relatos na internet sobre pessoas que questionam a imagem preta de Aparecida e relatos de católicos que, após discriminarem a imagem por sua cor, dizem agraciados e se arrependem. Evidente que esses fatos levam a três questões: a iconoclastia e o racismo da sociedade cristã branca brasileira e o desconhecimento das primeiras sociedades do planeta que criaram imagens de deuses e deusas pretos, porque foram os primeiros a habitar o planeta e conhecerem Deus antes do surgimento da civilização branca, uma mutação dos homens e mulheres originais. O conhecimento dessa mutação faz com que as imagens pretas sejam atacadas e destruídas. Conforme relatos de jornais: “A imagem de nossa Senhora Aparecida está protegida por dois seguranças e assim mesmo um protestante atirou uma lata na imagem”.
Por que tanto ódio à imagem de Nossa Senhora Aparecida?
Segundo está escrito no Livro Teologia Negra: A Revelação:
"Os fundamentalistas que a todo o momento, tentam descobrir o ANTICRISTO e a Besta Apocalíptica a identificam como preta a deusa citada no livro de Jeremias 7:18 – Os filhos recolhem lenhas, os pais acendem o fogo e as mulheres preparam a massa para fazer broas em honra a Rainha dos céus. E em Jeremias 44:17 – Antes certamente cumpriremos toda a palavra que saiu da nossa boca, queimando incenso a Rainha dos céus.
Essa adoração a Rainha dos Céus era praticada em todas as sociedades do mundo antigo e as representações dessas deusas foram de mulheres pretas: Athor, no Egito, Virgem Depaira na China e no Tibete, Hestia na Grécia, Juno em Roma, entre outras. Fato esse normal porque as civilizações pretas foram às primeiras que surgiram e se desenvolveram no planeta."
“Por milhares de anos as mulheres pretas foram adoradas na África em todo o mundo.”

Isis -Deusa Preta do Egito

Enquanto Aparecida é uma imagem preta, há inúmeros questionamentos sobre a etnicidade de Maria, dentro do próprio catolicismo e protestantismo brasileiro. Não é simplesmente o fato de a iconoclastia ser praticada pelos protestantes, pois eles não são iconoclastas em suas revistas e outras produções literárias que só representam a Maria Branca e Yeshua Branco.

Capa da revista dos adventistas usada no 2º trimestre de 2008

A Igreja Católica Romana com a sua diversidade cultural é "mais aberta" e bem mais próxima das vertentes históricas, juntamente com as Igrejas Ortodoxas, possuem documentações do cristianismo primitivo, sendo detentoras de documentação icnográfica do cristianismo inicial, onde se constata que as imagens de Maria são todas pretas.

A Madona Preta do Nekromanteion- Grécia

Virgem Preta - Notre Dame - Dijon

As igrejas protestantes surgiram após os movimentos reformadores do séc. XVI na Europa, com uma visão capitalista e discriminatória. O Pentecostalismo clássico e o neopentecostalismo se originaram de pessoas oriundas do protestantismo histórico.
Aparecida é uma representação histórica real da cor epitelial de Maria e se torna vítima de ações depreciativas e racistas na sociedade brasileira. Esses ataques são feitos atualmente em grande parte na nova vertente protestante, conhecida como neopentecostalismo, e por outros grupos dos protestantes históricos e do pentecostalismo clássico, que na sua maioria são de descendentes de africanos, e por mais paradoxal que seja são os primeiros a negar a etnicidade de Maria.
A mulher preta no Brasil sempre foi um ícone de serviços e bênçãos: como mãe preta na casa grande e ama-de-leite amamentando forçadamente os filhos de senhores, como Anastácia, mulher guerreira e quilombola, lutando pela liberdade.
E a presença de Maria na vida brasileira é apenas um exemplo de representação das madonas pretas. Na Espanha são mais de cinqüenta, na França trinta e duas, Na Itália trinta, e dezenove foram encontradas na Alemanha.
No meio protestante brasileiro seja ele histórico, pentecostal clássico ou neopentecostal, o nome de Maria não é lembrado. Fruto do anticatolicismo inicial dos primeiros missionários sulistas norte-americanos. Hoje, na intolerância religiosa os antigos perseguidos se tornaram perseguidores e criadores da inquisição protestante no Brasil, que é fundamentada na discriminação religiosa e racial, e Maria se tornou à representatividade do mal, vista como satânica, bestial, anticristã e símbolo do início da chamada grande tribulação.
Juntamente com essas concepções protestantes, uma parcela da sociedade brasileira, imbuída ainda de práticas discriminatórias e, outra parte africana presente em todas as correntes do protestantismo, sem bases históricas das populações afro-asiáticas da época na qual viveu Maria, não aceitam que a Padroeira do Brasil seja uma mulher preta.
A imagem de Aparecida é uma das comprovações do afrocentrismo que todas as imagens das divindades foram de homens e mulheres pretas.

domingo, 1 de junho de 2008

PASTORES ACUSAM CRIANÇAS DE BRUXARIA NA NIGÉRIA


Por Walter Passos.

Teólogo, Historiador, Pan-africanista e Afrocentrista.
Pseudônimo: Kefing Foluke.
E-mail:
walterpassos21@yahoo.com.br
Facebook: Walter Passos

Diversos Blogs em muitos países divulgaram a situação de algumas igrejas e seus pastores na Nigéria que acusam crianças de bruxarias. Sem olhar mais acurado, de certo preconceituoso, usa-se a mídia como arma psicológica para agredir o povo preto, perpassando mais uma vez a ideologia caucasiana de que tudo na África é demoníaco.
Ao entendimento desse fenômeno étnico-social e religioso, é imprescindível conhecermos a Nigéria.

NIGÉRIA
A Nigéria está localizada no centro-oeste da África com uma área: 923.768 km2. E Total: 148.000.000 milhões, sendo grupos étnicos autóctones 94,5% (principais: hauçás 23%, fulanis 22%, iorubas 21%, ibos 18%, tives 3%, ijos 6%, buras 1,5%), outros 5,5%%.
É o país mais populoso da África e um dos mais ricos do continente africano. Numericamente, ultrapassa a população total estimada de todos os países do Oeste Africano. Cerca de metade da população nigeriana afirma seguir a fé cristã.
Nesta região floresceram diversas civilizações, entre elas, a civilização de Nok que vivia no Vale do Rio Níger, surgida entre 700 a.C e desaparecida no ano 200 d C, possuíam um sistema social bem avançado e conhecimento do ferro e da fundição. As primeiras descobertas dessa importante civilização ocorreram em 1928 em uma mineração de estanho.
Escultura da Civilização de Nok
Desenvolveram-se na região poderosos impérios em Ife, Oyo, e Benin. Destes, o reino de Oyo se tornou o mais dominante, mantendo o seu poder até o final do século XIX.

CRISTIANISMO NA NIGÉRIA
O cristianismo já existia na região desde o século IV através do grande teólogo africano e preto Agostinho. Os primeiros contatos dos cristãos caucasianos na Nigéria ocorreram no século XV, com a introdução do cristianismo católico pelos portugueses. No entanto, foi praticamente extinto durante os anos seguintes, no século XIX foram enviado cerca de 200 missionários católicos romanos. Desde então, a Igreja Católica tem crescido e agora afirma aproximadamente ter 19 milhões de membros e seguidores, principalmente no sudeste.
Os primeiros missionários protestantes foram metodistas weslyanos. Eles começaram a trabalhar no sudoeste entre os Yoruba, em 1842. Outros grupos protestantes seguiram: Igreja Missionária Society (evangélico anglicano), United Free Church of Scotland, e os batistas do sul. Ao longo dos últimos 100 anos, várias outras missões já entraram Nigéria: Onde Iboe Missão (agora conhecida como Missão África), Sudão Unido Missão (incorporando tais grupos como os britânicos e Sul Africano interdenominacional sucursais, bem como o CRC, Países Baixos Igreja Reformada, a Igreja Reformada holandesa Sul Africana, os Metodistas Unidos e da luterana dinamarquêsa, Synodical Conferência das Igrejas Luterana, Exército de Salvação, Assembléias de Deus, e da Igreja Menonita da América do Norte. Quase todas estas missões têm plantado grandes igrejas. Por exemplo, a Igreja Anglicana da Nigéria agrupa mais de 11 milhões de membros e seguidores.
As igrejas protestantes na Nigéria possuem diversos centros universitários, sendo considerados entre os melhores do país, entre eles podemos destacar o pertencente à Convenção Batista Nigeriana.
http://www.bowenuniversity-edu.org/

PENTECOSTALISMO E CARISMÁTICOS NA NIGÉRIA
A maior parcela religiosa nigeriana está dividida entre mulçumanos e cristãos, agrupando assim, uma minoria seguidora de outras religiões. Evidente que na Nigéria como no Brasil, as religiões que cultuam os orixás possuem minoria de adeptos, pela perseguição e falta de respeito decorrente da colonização caucasiana, e no país africano, especificamente, também em conseqüência da invasão islâmica na região.
O crescimento do cristianismo e do islã na Nigéria acarreta problemas seriíssimos na administração do país, pela luta do poder político. Nos últimos censos realizados viu-se que de dez nigerianos, três são pentecostais e carismáticos. De dez protestantes, seis são pentecostais e carismáticos, e entre dez católicos, três são carismáticos. Conclui-se assim que cerca de um terço da Nigéria é pentecostal-carismatica, terceiro país do planeta em número de membros carismáticos e pentecostais, só sendo superado pelo Brasil e pelos Estados Unidos da América.
“Todo domingo, centenas de milhares de fiéis em Lagos se dirigem às inúmeras igrejas da cidade para vivenciar a experiência do pentecostalismo e sentir o espírito divino. Nas vias de saída da cidade, na direção de Ibadan, foram construídas verdadeiras catedrais com capacidade para 10 mil pessoas. Na entrada estão escritos dizeres como "Montanha do fogo e do milagre", "Embaixada Christi" ou "Campo da redenção". Essa rodovia da religião, a "Auto-estrada de Deus", já se tornou um símbolo do êxito das igrejas carismáticas na África.
Um dos grandes culpados pela demonização do povo nigeriano é o alemão Reinhard Bonnke, de Frankfurt. http://www.cfan.org/
O jornal alemão Die Zeit o caracteriza como "um dos mais bem sucedidos missionários do nosso tempo".
Uma dessas evangelizações em massa foi visitada por 1,6 milhão de pessoas em Lagos, e em Oshogbo, também na Nigéria, um mega-evento deste tipo, em fevereiro de 2007, foi transmitido pela God TV para 200 países.
Esteve no ano pasado na Igreja batista de Lagoinha:
- ”Ele afirmou: “Go forward” (siga a diante, vá em frente). Suas palavras serviram de encorajamento para que a Igreja brasileira possa “seguir em frente” e lembrar que quem está a frente da batalha é o Senhor dos Exércitos. Disse ainda que quem entrar na frente do Senhor quando ele estiver realizando seus propósitos, será fulminado”.

BISHOP OYEDEPO'S SLAP AND ARROGANCE!





CRIANÇAS E ACUSAÇÃO DE BRUXARIA
A influência de pastores caucasianos nos últimos anos tem deformado ainda mais o Evangelho do Reino, e pastores pretos tentando enriquecer copiam as suas táticas de demonização.
Alguns pastores de igrejas evangélicas pentecostais e carismáticas na Nigéria estão acusando crianças de serem bruxas, levando ao abuso e as crueldades indescritíveis a crianças inocentes. Elas estão sendo abandonadas pelos pais para morrerem, isso quando não são mortas, espancadas, queimadas, envenenadas, enterradas vivas, amarradas a árvores, entre outras crueldades. Estima-se que cerca de 5.000 crianças foram abandonadas desde 1998, e que de cada cinco crianças abandonadas, uma acaba morrendo, e as que sobrevivem ficam em estado de choque. Os pastores fazem parte das igrejas evangélicas "Assembléia do Novo Testamento", "Igreja de Deus das Missões", "Evangelho Monte Sião", "Glória de Deus", "Irmandade da Cruz", "Liberdade do Evangelho", entre muitas outras. São os pastores que dizem que as crianças estão enfeitiçadas, prometem fazer um exorcismo para curar as bruxas mediante pagamento, que podem custar 03 a 04 meses de trabalho. Com a grande maioria das pessoas não podem pagar, elas abandonam as crianças, ou utilizam outros métodos para tentar "curá-las". Esse é o link da notícia, em inglês: http://www.guardian.co.uk/world/2007/dec/09/tracymcveigh.theobserver
O Pastor Ita da Igreja do Evangelho Libertador, com cerca de 60 igrejas no Delta do Níger, possuidor de um novo e brilhante Audi, em seu terno e gravata, afirma:
"Nós baseamos a nossa fé na Bíblia, somos conduzido pelo Espírito Santo e nós temos um programa para expor a falsa religião e a magia.” O pastor nega cobrança de exorcismos, mas reconhece que sua congregação é pobre e tem que trabalhar duro para cumprir com as contas e vive das doações. Também pacientemente ele explica a condição das crianças bruxas:
"Dar mais do que você pode pagar é benção. Nós somos os únicos que realmente conhecemos os segredos das bruxas. Os pais não vêm aqui com a intenção de abandonar os seus filhos, mas quando uma criança é uma bruxa, então você tem a dizer "o que é que há? “Não é o seu filho.” Os pais vêm até nós quando vêem manifestações. Mas o segredo é a de que, mesmo se você abandonar o seu filho, ainda é a maldição sobre você, mesmo se você matar o seu filho a maldição não acaba. Então você tem que vir aqui para curá-lo e recebê-lo bem.”
O Pastor ainda acusa as crianças de colocar feitiço sobre a sua mãe e provocar nela câncer de mama, e também de espalhar o vírus HIV.


CONCLUSÃO
"Para as Igrejas pentecostais, doar dinheiro e receber a proteção divina como recompensa é um negócio normal. Quem não tem sucesso em vida é culpado por sua desgraça. Por isso, pastores e fundadores de Igrejas são considerados os melhores por terem conquistado grandes riquezas com o próprio esforço."
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,2782509,00.html
No Brasil, a bruxaria, a demonização de culturas e exorcismo estão ligados também a grupos recentes saídos do protestantismo, da Renovação Carismática Católica, sendo mais conhecida a Igreja Universal do Reino de Deus, Grupos do G 12, Diante do Trono e similares.
A Nigéria berço de grandes civilizações africanas e com problemas imensos de distribuição de renda, apesar de grande potencialidade industrial e detentora de riquezas minerais como o petróleo, se tornou alvo predileto pelo grande contingente populacional, por ter a metade da população seguidora do islã, para um palco de interesses políticos internacionais para as chamadas cruzadas evangelísticas, onde os caucasianos e a globalização de métodos discriminatórios atacam culturas milenares africanas e demonizam o povo preto, além do mais, propagam a idéia do evangelho capitalista, através da teologia da prosperidade e explora a bela nação nigeriana, terra de uma grande parcela dos nossos ancestrais.

PRETAS POESIAS

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