quinta-feira, 24 de julho de 2008

MACHADO DE ASSIS - A DENÚNCIA PRETA OMITIDA

* Artigo inédito retirado do Livro Afro-Reflexões de Walter Passos, págs. 62-68

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrado e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br

O autor do texto em um Curso de História e Cultura Afro-brasileira e Africana escreveu:
“É dessa época também nomes como Gonçalves Dias e Machado de Assis, escritores mestiços/pardos(conforme a nomenclatura atual do IBGE), sendo que primeiro, em seus escritos, se ocupou de forjar a identidade indígena e o segundo, pouco se ocupou da situação negra, tendo escrito
apenas uma poesia, “Sabrina,” sobre uma escrava que se apaixona e é enganada por um sinhozinho e feito pouco menos de dez crônicas(Bons Dias), abordando o contexto pré abolicionista e pós, ressaltando as poucas ou quase nenhuma mudança na vida daqueles que deveriam ser beneficiar com o fim da escravidão” .

Discordo do autor. Machado de Assis foi o maior escritor realista brasileiro e fundador da Academia Brasileira de Letras (ABL), sendo perseguido por diversos escritores da sua época e epitetado como o “Bruxo do Cosme Velho”, e ainda hoje continua sendo acusado de omisso nas questões relacionadas a causa preta, a escravidão, e a situação do escravizado. Infelizmente o autor do texto não conhece profundamente a literatura machadiana.

Machado de Assis: Um Mestre na Periferia I

Destaco, um trecho de Sueli Carneiro publicado em 22/10/2004 no Fala, Brasil uma análise do escritor angolano José Eduardo Agualusa:

“Como medida da exclusão histórica do negro desde o pós-abolição, do acesso ao desenvolvimento econômico e cultural e sua invisibilização, o escritor alude ao fato de que:“atualmente não dá para citar um grande escritor negro ou mestiço brasileiro. Isso é incrível porque no século XIX havia grandes escritores afro-descendentes, como Machado de Assis e Cruz e Sousa”. É provável que o autor desconheça a forma categórica com que a negritude de Machado de Assis foi descartada por nossas elites que, para ofertar-lhe o reconhecimento a um talento que não podia ser negado, teve que o destituir das marcas de sua negritude, decretando, como o fez Olavo Bilac, "Machado de Assis não é um negro, é um grego”.

Os racistas e anti-Panafricanistas não aceitam um homem preto com a capacidade de Machado, intitulado como maior escritor brasileiro; e muitos críticos incorrem em erros de análise, imbuídos de preconceitos e desconhecimentos literários e históricos.
O autor do texto deveria ler Iaiá Garcia, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro e outros contos e livros os quais Machado de Assis descreve com brilhantismo as mazelas da escravidão e as critica veementemente. Acredito que assim o fazendo não exporia desconhecimento sobre a importância dos escritos machadianos sobre a escravidão e a abolição, como diz o poeta Limeira: “Hábil lição da escravatura”. Machado de Assis conseguiu em seus textos denunciar a farsa abolicionista com o seu olhar cético, só o fazendo porque era conhecedor das elites escravagistas e sabia que, entre outras conseqüências, o povo preto saiu da senzala e foi transportado para as favelas, sendo ele mesmo um antigo morador dela. Foi cumprido um projeto de empobrecimento da população ex-escravizada, sendo sua mão-de-obra, agora livre, substituída por imigrantes brancos, os quais se tornaram donos dos instrumentos de produção, num processo de embraquecimento no território brasileiro. Vale ressaltar que esse processo começou com a teoria Eugenista, inspirada no racista francês Joseph Arthur de Gobineau, amigo do Imperador D.Pedro II, o qual sugeriu a imigração de caucasianos da Europa, para "salvar" o país da degeneração imutável.
Todavia, Machado retrata o escravizado como um olhar realista, sem retoques, o observa como um ser destituído de todo senso crítico pelos senhores, e especialmente no romance Iaiá Garcia, o personagem Raimundo é considerado uma criança com responsabilidades de adulto no que concerne ao seu trabalho de escravizado, e ao mesmo tempo um incompetente. Ainda hoje o afrodescendente é considerado pelas elites desse país um individuo incapaz de gerir o seu próprio destino.
Em Memórias Póstumas de Brás Cubas o escravizado Prudêncio é transformado em um objeto, um brinquedo, um cavalo, e após a abolição não sabe lidar como a liberdade.
Em Pai contra a Mãe Machado retrata a escravatura em toda a sua realidade e crueldade, fala dos castigos: “Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha-de-flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dous para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado.” Relata as fugas individuais usadas como uma forma de resistência pelos nossos ancestrais, que não aceitaram a escravidão. Observa os castigos cruéis aplicados aos escravizados: “O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. “Há meio século, os escravos fugiam com freqüência”.
Informa com sapiência a continuidade da escravidão pelo ventre materno, a sujeição da mulher escravizada que não pode usufruir seu filho, aquela que não gera uma criança, mas, sim uma mercadoria. Machado enfoca com maestria a dominação do homem pelo homem, no qual o escravismo cria relações monstruosas em um sistema político imoral e autoritário. Não esconde a opressão de suas vítimas e nem escamoteia em versos lindos e poéticos os sofrimentos dos escravizados. Cita o personagem Cândido Neves, caçador de escravizados fugitivos, retratando uma forma de resistência que foi a fuga individual. Denuncia o sistema escravocrata que cria homens insensíveis que vivem a caçar pessoas consideradas “bichos fujões”, por estarem fora das elites e precisam de dinheiro, esse é o caso de Cândido Neves, um capitão-do-mato, que endividado vai vender o próprio filho. Mas no caminho captura uma escravizada, e recebe uma boa recompensa, mantendo assim o seu filho. A escravizada estava grávida, e abortou com os castigos recebidos, ficando a vida do filho de Candinho em troca da morte de um ser preto, que no país escravista era considerado simples mercadoria. Este conto de machado de Assis foi um dos maiores alertas e protestos feitos contra a escravidão no Brasil e o bastaria e mais nada para considerá-lo um dos maiores abolicionistas brasileiros.
Foram criados adjetivos e estigmas sobre Machado de Assis, infelizmente repetidos, até por membros pretos na luta contra a discriminação. Falar sem conhecer é preconceito e devemos ler as obras machadianas, sendo assim, através de projetos de leituras orientar os nossos estudantes no sentido de discutir a contribuição machadiana nas denúncias do escravismo no Brasil.
Tornar-se-á necessário que acabemos com as visões racista inseridas nas nossas mentes de desprestigiar e negar aqueles poucos descendentes de africanos que no passado souberam usar a língua dos dominadores para denunciar a escravidão e suas mazelas.


Machado de Assis - Desenho animado sobre a vida do mestre da literatura brasileira

* Artigo inédito retirado do Livro Afro-Reflexões de Walter Passos, págs. 62-68

Leia mais sobre o Livro Afro-Reflexões - http://cnncba.blogspot.com/2008/04/livro-afro-reflexes.html

quinta-feira, 3 de julho de 2008

OS NEGROS VÍTIMAS DO NAZISMO

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrado e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br

- O senhor despreza os negros. No Brasil, apesar de serem vítimas de poderosos mecanismos de exclusão sóciocultural, existem negros que vêm se destacando em todas as áreas. O que o senhor tem a dizer a respeito, por exemplo, dos artistas, dos escritores, dos cientistas e dos juristas negros que venceram todos os enormes obstáculos e se impuseram à admiração geral?
- Um negro que se torna advogado... Isso é um ultraje, uma ofensa à nossa razão! É uma idiotice criminosa a de quem adestrou durante tantos anos um meio-macaco até chegar ao ponto de fazer acreditarem que ele é um advogado. Enquanto isso acontecia, enquanto esse investimento era feito, milhões de indivíduos pertencentes às raças mais elevadas ficaram subaproveitados! [original]

Por Leandro Konder, no Jornal do Brasil de 25/1 e 1/2 (2003) http://www.consciencia.net/2005/mes/08/hitler-mussolini.html


A história do povo preto está sendo reescrita pelos afrocentristas que desmitificam a falácia em que foi posta a verdadeira história da humanidade. De certo, a história é dinâmica, portanto fatos recentes ainda estão escondidos e desconhecidos da maioria da população preta. Dentre eles o Nazismo Alemão contra o povo preto.
O nazismo alemão perseguiu e assassinou pretas e pretos na Alemanha. Esse mesmo racismo anti-negro alemão já existia com suas barbáries no território africano. A Alemanha através do neocolonialismo dominou o Togo, Camarões, Namíbia e Tanzânia, onde foram realizados experimentos genéticos e massacre de mais de 60.000 africanos que resistiram nas terras africanas invadidas.

Na década de 1890, africanos foram torturados pelos alemães no Sudoeste da África, atualmente chamada Namíbia, antes do holocausto dos judeus na Alemanha, africanos sofreram torturas e foram vítimas de experiências médicas, o que resultou em milhares de mortes, aumentando o número de vítimas do neocolonialismo europeu, em conseqüência ao ódio para com povo original. A separação de brancos e pretos foi aprovada pela Reichstag (parlamento alemão), que promulgou uma lei contra os casamentos mistos nas colônias africanas.

"Fotos de nossas colônias," Der wahre Jacob (década de 1890)

Esta caricatura é intitulada "Fotos de nossas colônias" ["Bilder aus unsern Kolonien"]. Na legenda lê-se: "Um domingo a Tarde na África Ocidental." Ela mostra um mundo, no sudoeste africano: nativos vestindo uniformes militares prussianos, cavalgando animais selvagens, tigres comendo salsicha alemã, e o canibalismo como uma prática habitual.
O ódio aos africanos e a tentativa de bestialização pelos europeus foi publicada neste blogger no artigo intitulado: SAARTIJE BAARTMAN – ZOOLÓGICOS HUMANOS – A MULHER PRETA HUMILHADA


Show Popular ocorrido em Stuttgart na Alemanha, com amostras de africanos apresentado entre 02 de julho a 05 de agosto de 1928.

O NAZISMO ANTI-NEGRO
Na década de 20 do século passado 24.000 mil pretos viviam na Alemanha e a maioria foi vítima do nazismo, após o tratado de Versalhes a França ocupou a Renânia, enviou soldados pretos que tiveram filhos com mulheres alemãs.
As Propagandas racistas contra os soldados pretos os mostravam como violadores de mulheres alemãs e portadores de doenças venéreas.


Negro ataca uma mulher em cartaz de propaganda

http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,675862,00.html

Sendo alvo da crítica no livro Mein Kampf (Minha Luta), Hitler acusa os judeus de imigrarem os pretos para Renânia com o real objetivo de arruinar a raça branca.
O destino do povo preto a partir de 1933 a 1945 foi a esterilização na Alemanha, considerados ameaça a pureza da raça germânica, justificado segundo os nazistas a não poluição dos arianos. As crianças “mulatas” foram isoladas na sociedade, impedidas de entrarem nas universidades, sendo a maioria da população preta esterilizada, presa pela gestapo (polícia secreta alemã) e muitos desapareceram. Alguns foram submetidos a experiências médicas; outros foram acusados de traição e jogados como bois nos campos de concentração.
Adolf Hitler durante os Jogos Olímpicos de Berlim, em agosto de 1936 divulgava a Deutschland, Deutschland über Alles (Alemanha acima de todos), teve a sua idéia de superioridade ariana desmascarada com a conquista da medalha de ouro aos 21 anos, por John Woodruff,na prova dos 800 metros, a 4 de Agosto de 1936, nos jogos Olímpicos de Berlim perante o olhar de Hitler. Cornelius Johnson, um outro atleta preto, ganhou a medalha de ouro no salto em altura e James Cleveland("Jesse" Owens) quebrou quatro recordes mundiais em 45 minutos conquistando quatro medalhas de ouro nos 100 e 200 m rasos, no salto em comprimento e nos 4x100 m. Os EUA, que trataram seus atletas pretos como auxiliares, conseguiram vencer 10 provas de atletismo. Destas, 06 medalhas de ouro foram conseguidas com a participação de quatro pretos.

A artista de jazz Valaida Snow (2 de junho de 1904-30 de maio de 1956), em Chattanooga, Tennessee; foi encarcerada em campos de internamento para estrangeiros, quando presa na Dinamarca em 1941 pelos nazistas.



Muitos outros pretos foram vítimas do nazismo, entre eles podemos destacar Hilarius (Lari) Gilges, um dançarino de profissão, que fundou uma organização de artistas para combater Hitler, foi assassinado pela SS em 1933, a sua esposa mais tarde recebeu uma restituição de governo alemão por causa do seu assassinato pelos nazistas. O artista Josef Nassy, que vivem na Bélgica, foi preso como um inimigo estrangeiro por sete meses, no acampamento Beverloo na Bélgica ocupada. Ele foi posteriormente transferido para a Alemanha, onde passou o resto da guerra preso no acampamento Laufen e no sub-campo de Tittmoning na Alta Baviera.
Lionel Romney, um preto marinheiro da Marinha Mercante os EUA, foi preso no campo de concentração Mauthausen. Marcel Jean Nicolas, um haitiano, foi encarcerado na Buchenwald e Dora-Mittelbau, campos de concentração na Alemanha. Jean Vosté, congolês que viveu na Bélgica, foi detido no campo de concentração Dachau. Bayume Mohamed Hussein de Tanganica (hoje Tanzânia) morreu no acampamento Sachsenhausen, perto de Berlim.
Diversos prisioneiros de guerra foram encarcerados sofrendo violências dos nazistas, realizando trabalhos forçados e a maioria assassinada imediatamente pela Gestapo.


"Perigosa peste", segundo a propaganda nazista

Nesta propaganda nazista a foto retrata a amizade entre uma "Ariana" e uma mulher negra. A legenda afirma: "O resultado! Uma perda de orgulho racial"
Apesar de todas as atrocidades dos nazistas contra o povo preto, ainda hoje podemos encontrar defensores e amantes dessa ideologia caucasiana e desprezível.

PRETAS POESIAS

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Poemas de amor ao povo preto: https://www.facebook.com/PretasPoesias