Por Jose Raimundo dos S. Silva. Pan-africanista
Pseudônimo: Thembi Sekou Okwui.
Concluinte de Direito e membro do CNNC – SP
"Existe algo calamitoso que tenho visto de baixo do sol, como quando há um engano que se propaga por causa de quem está em poder."
Eclesiastes 10:5
"Existe algo calamitoso que tenho visto de baixo do sol, como quando há um engano que se propaga por causa de quem está em poder."
Eclesiastes 10:5
Não é tarefa fácil falar do pan-africanismo enquanto movimento histórico. Como também não é tarefa fácil falar do cristianismo enquanto tal. Mais complexo ainda é tentar fazer uma análise conjunta dos dois movimentos. No entanto, num determinado momento da história, ambos se entrelaçaram porque conseguiram encontrar suas raízes comuns na história do mundo antigo, sobretudo, na história da África.
Como a intenção é fazer uma co-relação específica entre pan-africanismo e cristianismo, muitos fatos importantes relativos à história pan-africana aqui vão ser omitidos. Não que não seja necessário serem abordados. Mas sim porque falar neles exigiria uma demanda de tempo maior.
Outro motivo para não serem abordados refere-se à própria exigência do momento, qual seja: especificidade entre pan-africanismo e cristianismo.
Bem, antes de adentrar no tema em si, cabe fazer duas provocações. A primeira é que, para compreendermos mais aprofundadamente a co-relação entre pan-africanismo e cristianismo, é necessário voltarmos ao passado e compreendermos a história da África sem os conceitos tradicionais históricos de civilização, reproduzidos pelos meios de comunicação, pelo processo educacional e pelas instituições sociais (por exemplo, igreja).
Faz-se necessário que nós deixemos de lado as idéias pré-concebidas, acintosamente racistas, de uma África pagã, bárbara, incrédula, primitiva, anti-civilizatória e habitada por homens e mulheres que viviam seminus em meio de animais selvagens. É preciso deixar de lado a idéia de que não existia organização social e política no continente africano. É preciso deixar de lado a idéia de que todos os seus povos eram iguais cultural e religiosamente, que lá não existia nenhum tipo de diversidade humana e geográfica.
Faz-se necessário articularmos novos raciocínios sobre a história da África, imaginando diferente do raciocínio habitual. É preciso deixar de olharmos para nossa história, assim como para nós mesmos, com o olhar do outro. Daqueles que nos dominou. É preciso que nós, negros, deixemos de nos olhar, e olhar para nossa história, com o olhar que os brancos nos ensinaram olhar.
Assim, para ratificar o dito, e o que possivelmente poderia ser dito, cabe trazer à tona um pensamento, adaptado, do arcebispo da África do Sul, Desmond Tutu: Ao aceitarmos a opressão e a exploração, nós negros sofremos uma lavagem cerebral. Passamos a acreditar no que as outras raças pensam sobre nós. Enchemo-nos de desprezo, de desrespeito e ódio por nós mesmos. Aceitamos uma auto-imagem negativa de nós mesmos de tal maneira, que aceitamos a idéia de que apenas a raça branca realmente importa, que ela é que devem ditar nossos padrões de comportamento e fornecer os exemplos que devemos seguir. Precisamos de enormes graças para exorcizarmos esses demônios do ódio por nós mesmo.
Bem, antes de adentrar no tema em si, cabe fazer duas provocações. A primeira é que, para compreendermos mais aprofundadamente a co-relação entre pan-africanismo e cristianismo, é necessário voltarmos ao passado e compreendermos a história da África sem os conceitos tradicionais históricos de civilização, reproduzidos pelos meios de comunicação, pelo processo educacional e pelas instituições sociais (por exemplo, igreja).
Faz-se necessário que nós deixemos de lado as idéias pré-concebidas, acintosamente racistas, de uma África pagã, bárbara, incrédula, primitiva, anti-civilizatória e habitada por homens e mulheres que viviam seminus em meio de animais selvagens. É preciso deixar de lado a idéia de que não existia organização social e política no continente africano. É preciso deixar de lado a idéia de que todos os seus povos eram iguais cultural e religiosamente, que lá não existia nenhum tipo de diversidade humana e geográfica.
Faz-se necessário articularmos novos raciocínios sobre a história da África, imaginando diferente do raciocínio habitual. É preciso deixar de olharmos para nossa história, assim como para nós mesmos, com o olhar do outro. Daqueles que nos dominou. É preciso que nós, negros, deixemos de nos olhar, e olhar para nossa história, com o olhar que os brancos nos ensinaram olhar.
Assim, para ratificar o dito, e o que possivelmente poderia ser dito, cabe trazer à tona um pensamento, adaptado, do arcebispo da África do Sul, Desmond Tutu: Ao aceitarmos a opressão e a exploração, nós negros sofremos uma lavagem cerebral. Passamos a acreditar no que as outras raças pensam sobre nós. Enchemo-nos de desprezo, de desrespeito e ódio por nós mesmos. Aceitamos uma auto-imagem negativa de nós mesmos de tal maneira, que aceitamos a idéia de que apenas a raça branca realmente importa, que ela é que devem ditar nossos padrões de comportamento e fornecer os exemplos que devemos seguir. Precisamos de enormes graças para exorcizarmos esses demônios do ódio por nós mesmo.
Desmond Tutu
Este então é a primeira provocação feita para que possa haver uma compreensão da co-relação entre pan-africanismo e cristianismo.
A segunda provocação refere-se à necessidade de rompermos com a ideologia cristão-ocidental que se fundamenta numa concepção européia (branca) de religiosidade e concepção de mundo.
No entanto, é importante frisar a diferença entre religião cristã e fé cristã. A religião cristã pode ser encarada como uma instituição. Quando encarada como tal, veremos que ela foi passível de manipulação ao tornar-se instrumento para alienação de pessoas. Diferente é a fé cristã, que não depende, necessariamente, da instituição religiosa cristã. A fé cristã está ligada ao relacionamento espiritual de um determinado grupo, ou indivíduo, com Jesus Cristo. A fé cristã é a capacidade incondicional de se acreditar no poder de Cristo como eterno Salvador.
Feita esta diferenciação, direciono então esta minha provocação contra o cristianismo enquanto instituição religiosa, que há muito tempo tem servido de instrumento de dominação de povos e supressão de identidades. Sendo assim, é necessário resgatarmos alguns fatos históricos entre cristianismo e o povo negro.
Por cerca de 350 anos, mais de 100 milhões de africanos foram retirados brutalmente da África e trazidos desumanamente para as Américas, Norte, Sul e Central. Este acontecimento tornou-se a maior catástrofe humana que o mundo já conheceu: o genocídio e escravização dos povos de origem africana.
Infelizmente, um dos vários instrumentos utilizados pelos europeus para dominar, escravizar e até mesmo exterminar os africanos foi o cristianismo (cristianismo enquanto instituição religiosa). Através do cristianismo, os brancos diziam que eram predestinados por Deus para levar a bendita civilização aos povos não-brancos. Eles prepararam o cenário com o cristianismo e marcaram com rótulo de “pagãos” e “idólatras” as culturas e civilizações africanas. Logo depois, lançaram sobre eles suas armas de dominação e destruição.
Feita esta diferenciação, direciono então esta minha provocação contra o cristianismo enquanto instituição religiosa, que há muito tempo tem servido de instrumento de dominação de povos e supressão de identidades. Sendo assim, é necessário resgatarmos alguns fatos históricos entre cristianismo e o povo negro.
Por cerca de 350 anos, mais de 100 milhões de africanos foram retirados brutalmente da África e trazidos desumanamente para as Américas, Norte, Sul e Central. Este acontecimento tornou-se a maior catástrofe humana que o mundo já conheceu: o genocídio e escravização dos povos de origem africana.
Infelizmente, um dos vários instrumentos utilizados pelos europeus para dominar, escravizar e até mesmo exterminar os africanos foi o cristianismo (cristianismo enquanto instituição religiosa). Através do cristianismo, os brancos diziam que eram predestinados por Deus para levar a bendita civilização aos povos não-brancos. Eles prepararam o cenário com o cristianismo e marcaram com rótulo de “pagãos” e “idólatras” as culturas e civilizações africanas. Logo depois, lançaram sobre eles suas armas de dominação e destruição.
O cristianismo, através da interpretação bíblica feita pelos brancos, virou uma arma ideológica para assegurar a suposta supremacia racial branca. Foi uma poderosa arma utilizada para lavagem cerebral dos nossos antepassados, fazendo com que eles perdessem inteiramente o senso de identidade e contato com eles mesmos.
Enquanto instituição religiosa, o cristianismo estava intimamente ligado a determinados traços culturais de uma determinada sociedade, no caso em tela, a européia. O que tornou, em certo sentido, parte integrante dos padrões de comportamento desses indivíduos. Assim, devido a essa forte identificação, as pessoas não-brancas que com ela tiveram contato foram cerceadas pelos limites dos seus ensinamentos. Ensinamentos esses que sobrevivem até hoje.
Com a imposição e difusão do cristianismo, nós negros tivemos que odiar a nossa origem, a nossa história e a nossa cultura. Tivemos que jogar fora nossas roupas, hábitos e crenças porque eram todos considerados “pagãos” pelos brancos.
São estas, portanto, as duas provocações iniciais que gostaria de fazer a vocês. Isto porque a análise conjuntural do pan-africanismo e cristianismo exige, para este momento, a fixação de determinados acontecimentos históricos que viabilizem a compreensão da necessidade de transformação social e política dos negros que esses movimentos proporcionaram.
Enquanto instituição religiosa, o cristianismo estava intimamente ligado a determinados traços culturais de uma determinada sociedade, no caso em tela, a européia. O que tornou, em certo sentido, parte integrante dos padrões de comportamento desses indivíduos. Assim, devido a essa forte identificação, as pessoas não-brancas que com ela tiveram contato foram cerceadas pelos limites dos seus ensinamentos. Ensinamentos esses que sobrevivem até hoje.
Com a imposição e difusão do cristianismo, nós negros tivemos que odiar a nossa origem, a nossa história e a nossa cultura. Tivemos que jogar fora nossas roupas, hábitos e crenças porque eram todos considerados “pagãos” pelos brancos.
São estas, portanto, as duas provocações iniciais que gostaria de fazer a vocês. Isto porque a análise conjuntural do pan-africanismo e cristianismo exige, para este momento, a fixação de determinados acontecimentos históricos que viabilizem a compreensão da necessidade de transformação social e política dos negros que esses movimentos proporcionaram.
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