Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com
No dia 31 de outubro as igrejas protestantes históricas relembram da Reforma Protestante ocorrida no Sec.XVI que tem como maiores referências: Martinho Lutero e João Calvino. A comemoração da Reforma é uma reflexão das chamadas Igrejas Históricas, a saber: Igreja Luterana, Igreja Anglicana ou Episcopal, Igreja Presbiteriana, Igreja Metodista e Igreja Batista, as quais se consideram guardiães do protestantismo, defendendo o pertencimento a estruturas eclesiásticas herdadas de quase 500 anos, e nesse ínterim temos uma parcela considerável de membros pretos nas Igrejas Históricas que se sentem parte dessa história e a defende como um dos maiores símbolos da sua vida. É bom ressaltar não ser importante para a maioria das Igrejas Pentecostais e Neopentecostais a lembrança do movimento reformista do Sec. XVI.
No caso específico das Igrejas Históricas a idéia de pertencimento a uma estrutura religiosa cria um vínculo de irmandade entre os seus membros através da conversão e práticas conjuntas que faz com que os membros descendentes de africanos deixem de identificar-se na sua comunidade étnica de origem e assimilem uma nova identidade eurocêntrica: Cristão Reformado. Esse novo preto seguidor da Reforma Protestante se auto-considera um predestinado, membro de uma família internacional intelectual que o faz se sentir diferenciado e superior aos outros pretos de outras vertentes do protestantismo por ser detentor de uma história, de freqüentar templos elitizados de membros de classe média e classe alta e no dizer de uma menina pobre preta:
-“Na minha igreja só tem gente culta. Lá só tem elite.”
Há igrejas reformadas nos bairros pobres que criam uma falsa imagem de poder e inserção social nos membros pretos por participarem de estruturas burguesas apesar de nada usufruírem em suas vidas do poder protestante histórico no Brasil.
A Reforma Protestante indubitavelmente mudou a história da Europa Ocidental e conseqüentemente influenciou na formação dos USA, tanto os principais países reformados como os USA não discutiram em seus postulados e Confissões que são formulados eurocentricos a África e os africanos que foram considerados inferiores, destarte, invadiram o continente e escravizaram os seus habitantes criando até os dias de hoje um afropessimismo, de terra de males e superstições e paradoxalmente de riquezas que deveriam ser exploradas para beneficiar os predestinados oriundos da reforma do século XVI.
A igreja Católica reage à Reforma Protestante no seu Concílio de Trento e cria órgãos repressivos especialmente com a inquisição e fortalecem organismos como as confrarias. As confrarias foram criadas por padres brancos objetivando acalmar a população escravizada e catequizar os nossos ancestrais para a não reação a escravidão, nenhuma confraria foi criada por iniciativa do escravizado. Tema que futuramente escreverei nesse blogger sobre as chamadas irmandades pretas que servem para manutenção da ordem católica.
Os reformados seqüestraram especialmente para os Estados Unidos milhões de africanos os quais foram convertidos as diversas igrejas protestantes. As mudanças religiosas surgiram com a praticidade política de diversos pregadores pretos como o batista Nat Turner, homem de oração e jejum, um guerreiro-pregador, líder da importante rebelião dos escravizados seguidores da fé batista em 21 de agosto de 1831 no estado da Virginia. Foi preso e julgado, sendo enforcado e decapitado e partes do seu corpo gurdadas pelos escravizadores como lembrança.
Richard Allen foi o fundador da Igreja Metodista Episcopal Africana de Bethel na Filadélfia em 1794 e em 1801 publicou o primeiro hinário concebido exclusivamente para o uso de uma congregação preta. Foram inserções sociais baseadas no sentimento de fé e comunidade, na mudança do eixo e perspectiva, de pertencimento a uma comunidade africana e desenvolvimento dos seus membros, que resultou em editoras, bancos, universidades, escolas, empresas, etc., em uma verdadeira prática panafricana de solidariedade a partir da fé tendo como alvo o desenvolvimento da comunidade preta. Os Estados Unidos possuem 3.300 universidades. Destas, 107 são universidades pretas, freqüentadas por mais de 90% de alunos descendentes de africanos.
Não podemos esquecer o Pastor Martin Luther King nas suas lutas pelos direitos civis e dos jovens panteras negras. No Brasil contamos os pastores(as) pretos que levantam as sua vozes para defender a nossa comunidade e contamos os pastores brancos(as) que são verdadeiramente solidários a uma igreja onde todos sejam iguais.
No Brasil apesar de um contingente imenso de pretas e pretos com mais de 15 milhões nas igrejas protestantes, a reforma do século XVI continua inalterada e voltada nas suas comemorações para o eurocentrismo e desenvolvimento de uma comunidade que não se preocupa com os descendentes de africanos. Será necessário que façamos uma reforma nas estruturas vigentes das igrejas? Teremos que criar instituições eclesiásticas que possam nos beneficiar? Ou continuaremos na inércia e sem questionar as instituições existentes que não demonstram interesses de mudanças?As organizações cristãs pretas no Brasil precisam se voltar mais para dentro das igrejas e falar com os membros, convidá-los para o desenvolvimento e engajamento em uma nova reforma que possa nos beneficiar. Se cada membro militante ou simpatizante do CNNC e de outras entidades cristãs pretas conversar com 10 membros em menos de um mês teremos mais de 100 mil militantes PRETOS dentro das igrejas e atuantes nas lutas contra a discriminação racial e seremos as vozes mais representativas do MOVIMENTO NEGRO BRASILEIRO. Aproveite esse momento e telefone para o seu irmão (a) preto, envie um e-mail ou passe um scrap convidando-o para mudar essa realidade. Você minha irmã e meu irmão comprometido com o Reino de Deus é o agente da verdadeira Reforma que urge em realizarmos nas nossas mentes. Ninguém falará por ti e nem por mim, falemos por nós mesmos. Eles nunca falarão por nós. Temos que interferir nestas estruturas e criarmos pertencimento a nossa comunidade preta. Tenha coragem e comece a reforma dentro de você e entre em contato agora com o seu irmão (a). É necessário coragem e fé e acertadamente disse Martin Luther King Jr:
-"A medida de um homem não se afirma em tempos de conforto e conveniência, mas repousa nos seus posicionamentos em tempos de desafios e controvérsias."
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