segunda-feira, 24 de novembro de 2008

IGREJA PRETA - A RECONSTRUÇÃO ESPIRITUAL DOS AFRICANOS E AFRICANAS NA DIÁSPORA

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrado e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: walterpassos@gmail.com


Após dois anos de imensos debates internos e tentativas de aproximação com pastores e igrejas protestantes, possuidoras de “programas” contra a discriminação racial, o CNNC (Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos) percebeu a impossibilidade de manutenção e permanência da maioria de seus membros nessas comunidades. Não excluímos totalmente o diálogo com essas igrejas e suas lideranças brancas, as quais mantêm dentro de suas instituições milhões de descendentes de africanos aprisionados mentalmente, sendo esse o motivo de continuarmos com essa tentativa, com a nossa voz profética, com obrigação de alertá-las sobre o pecado do racismo contra as filhas e filhos de Yavé.
Sabemos que certas igrejas possuem pastorais ou estão iniciando discussões, aonde ordenam pretas e pretos as representem em reuniões dos Movimentos Sociais, evitando o confronto dos verdadeiros representantes dessas igrejas - os brancos - que possuem as decisões. Estes não comparecem, são os reais detentores do poder eclesiástico, estes não desejam mudanças na opressão racial e acumulam experiências de dominação, usam estas pastorais, evitando também discutir internamente a discriminação contra o povo preto nas suas igrejas, concílios e na sociedade, outrossim, as pretas e pretos servem muito bem para escamotear o que eles deveriam urgentemente discutir e tentar resolver em conjunto.
O Movimento Negro sabe e confirma que o CNNC é a única organização cristã preta livre, adjetivada pelas igrejas brancas e seus representantes descendentes de africanos de “negros rebeldes”, “negros desobedientes”, “negros hereges”, “negros divisionários”, “negros pecadores”, “negros endemoniados”. Consideram-nos pregadores de uma Teologia Negra e da saída do povo preto dessas instituições, o que não deixa de ser verdade em última análise. O CNNC não deseja e nem pede que as igrejas brancas peçam perdão ao povo preto pela escravidão. Não acreditamos na seriedade moral e espiritual desta petição. Inclusive a maioria delas não atendeu ao pedido de perdão sugerido por membros de algumas organizações cristãs que ilusoriamente acreditam nas igrejas brancas. Pedimos sim, a Yavé que perdoe essas igrejas que usando indevidamente o seu Santo Nome participaram da invasão da África - Continente Abençoado, do tráfico de mulheres, crianças e homens originais, da exploração dos nossos ancestrais e são culpadas pela omissão da escravidão e racismo, e muitas delas da participaram da morte de milhões de africanos e descendentes, e além do perdão, que Yavé proceda com a devida justiça atingindo todos aqueles que até hoje se utilizam do racismo e das inúmeras mentiras para construção dos seus Impérios religiosos anti-pretos.
O CNNC entende o medo das igrejas brancas e as causas da preocupação da manutenção de milhões de pretas e pretos passivos, em seus quadros religiosos. Abaixo, analisaremos os motivos principais que levam ao desespero dessas estruturas eclesiásticas:

CRISTIANISMO DE MATRIZ AFRICANA

O CNNC foi a primeira organização no Brasil a divulgar que a origem do cristianismo é africano, através de profundos estudos da história do cristianismo, da história das civilizações do Vale do Nilo, da região conhecida por Magreb e especialmente pelos estudos das Sagradas Escrituras Africanas (Bíblia). Os livros do Primeiro Testamento tiveram como espaço geográfico a África antes de ser separada pelo congloremerado anglo-francês que construiu o canal de Suez. África e Ásia são na verdade uma só extensão territorial e os fatos históricos bíblicos tiveram como atores e atrizes mulheres e homens pretos.
As primeiras comunidades cristãs se formaram na África e ainda existem como provas vivas das revelações de Yavé para as civilizações originais, assim, ainda temos a Igreja Copta no Egito e a Igreja na Etiópia, formadas bem antes da Igreja Branca Católica Apostólica Romana e das Igrejas Brancas surgidas na Reforma Protestante do séc. XVI. Por isso a COPTAZION se espelha em uma tradição africana, numa reelaboração de fé dos ancestrais africanos, denunciando que o cristianismo que ai está seja católico ou protestante, omite a verdade histórica e das primeiras comunidades africanas cristãs. Yeshua, nunca foi a Europa, foi um homem africano com uma família africana e com mensagens de reconciliação, de libertação e paz para os africanos e seus descendentes. A COPTAZION é a única igreja no Brasil que reconhece e propaga o Cristianismo de Matriz Africana como um dos seus principais alicerces doutrinários.
Leia mais sobre Cristianismo de Matriz Africana em:
AXUM - AS IGREJAS ESCULPIDAS EM ROCHAS NA ETIÓPIA
O MEDO DE JESUS CRISTO PRETO

QUESTÃO ECONÔMICA

Censos realizados há alguns anos, demonstram que há cerca de 15 milhões de descendentes de africanos membros de diversas igrejas evangélicas ou protestantes. A amada leitora e o amado leitor se forem membro de igreja, sabe que a manutenção das instituições perpassa com a contribuição direta dos fiéis, sendo assim, podemos enumerar algumas: dízimos, ofertas, campanhas beneficentes, etc., para manutenção de escolas, hospitais, templos, gráficas, seminários, missões, salários pastorais, entre outros.
Desde a infância aprendi a contribuir com os trabalhos das igrejas, em muitos momentos eu guardava o pouco dinheiro para a merenda escolar com a finalidade de ofertar na escola dominical. Deixei de comprar os meus doces, mas aprendi a responsabilidade da contribuição de se manter a instituição religiosa. Apenas me arrependo de ter deixado de saborear os doces e ter contribuído para manutenção do racismo. Nenhuma organização sobrevive sem a participação econômica de seus membros e na igreja esse aprendizado começa na infância.
Vamos brincar um pouco de economia, não sendo a minha área poderei incorrer em erros, mas baseado em experiências e relatos, analisaremos as contribuições de 15 milhões de descendentes de africanos para as diversas organizações protestantes. É bom ressaltar, o dízimo significa para muitas igrejas, dez por cento do salário. Há membros de diversas classes sociais , e a maioria recebe o um salário mínimo; dez por cento do salário mínimo são R$ 415,00 reais; se você ganha um salário mínimo e se for um crente fiel; dez por cento, isto é, 41 reais pertencem à instituição. Se você ganha 2000 reais, 200 são da instituição. Além das ofertas, campanhas, etc... Suponhamos na média que 15 milhões de pretos contribuam na média 50 reais ao mês, evidente que essa média deve subir, pela aquisição de diversos CDs, shows do grande mercado gospel, da compra de Bíblias, literatura, cartões, roupas, e diversos outros objetos diariamente adquiridos pelo povo preto evangélico.
Por baixo façamos a multiplicação:
15.000.000,00 X 50,00 = 750 milhões de reais, em um ano serão nove bilhões de reais utilizados para a manutenção do racismo protestante.
Pode-se chegar tranquilamente também a média de 100 reais pela venda de material evangelístico e poderosas campanhas de manutenção de programas de rádios e televisivos. Então façamos uma média de R$100,00 mensais, isso sem integrar as Testemunhas de Jeová e os pretos na Igreja Católica que não fazem parte nesses cálculos, porque teríamos um valor impossível neste momento de supor.
Na média de R$100,00 X 15.000.000,00 = 1 bilhão e 500 milhões de reais investidos pelos descendentes de africanos evangélicos nas igrejas que negam a discriminação racial no Brasil.
Pasmem! Setecentos e 50 milhões de reais ou um bilhão e 500 milhões de reais são disponibilizados ao mês, nove bilhões de reais ou 15 bilhões de reais anualmente para a manutenção de estruturas que negam o racismo e esse montante não são voltados para a comunidade negra.
Minha irmã e meu irmão preto é o momento de se fazer reflexões.
- O que você tem feito pelo seu povo preto?
- O suor de seu trabalho tem servido para a manutenção do racismo nas igrejas evangélicas?
- O dízimo e oferta garantem que seus filhos e filhas estudem nos colégios dessas denominações?
- Não já passou o momento de você reverter esse processo?

QUESTÃO HISTÓRICA
A negação do racismo na igreja protestante é de tentar escamotear o passado dos escravizadores norte-americanos que trouxeram a fé evangélica para o Brasil, e com eles o racismo protestante de missões o qual já encontrou uma sociedade racista baseada no catolicismo escravizador.
Foram formadas igrejas baseadas no simbolismo branco-puritano-racista, que delinearam e marcaram todas as igrejas históricas e a posteriori as denominações pentecostais e neopentecostais.
A historia do protestantismo Brasileiro é baseada no liberalismo, na idéias do Darwinismo Social, da Predestinação (que criou o Apartheid na África do Sul e as Leis Jim Crow) e em teologias anti-preto. O interesse dos primeiros protestantes foi de converter brancos e não descendentes de africanos, ocorrendo uma inversão de alvo, tornando-se necessário um entendimento mais acurado da presença maciça de pretos e pretas nas denominações protestantes históricas, especialmente a fé batista. Nas outras igrejas históricas há também comunidades exclusivamente pretas, e a grande presença de comunidades evangélicas em quilombos, fato este, não comentado por historiadores, sociólogos e antropólogos. As igrejas pentecostais e neopentecostais são majoritariamente negras, como o caso especifica das Assembléias de Deus e de outras.
A história do protestantismo no Brasil é pautada na discriminação racial e no alijamento da parcela preta dos processos decisórios, tanto assim, que a Igreja Metodista, ainda se recusa de aceitar como um dos heróis da fé, o crente metodista marinheiro João Cândido.
A história do protestantismo no Brasil é a negação do ser africano, são concepções eurocentradas e norte-americanas, que através de seus programas educativos se apropriaram do discurso da inferiorização dos descendentes de africanos. Aliás, muito bem planejado, afetando as relações de convivência da família, do povo preto, criando um desejo intenso de branqueamento das poucas lideranças masculinas e o desejo intrínseco de “melhoria” racial; um péssimo exemplo para as crianças e jovens. Achei um vídeo na internet o qual retrata a visão distorcida das relações entre negros em uma igreja protestante.

A QUESTÃO TEOLÓGICA
Um dos recortes fundamentais da manutenção da escravidão mental dos descendentes de africanos no protestantismo e a Teologia.
Quando usamos a conceituação de teologia branca é para explicitar diretamente que os conceitos do cristianismo protestante são europeus e norte-americanos. Não vou citar as diversas escolas teológicas, mas todos os pensadores são brancos, a teologia tem postulados brancos ocidentais, inclusive pretos e pretos se tornam doutores e doutoras nesses pensamentos, nada entendem de afrocentricidade, mas são mais brancos do que os próprios brancos e se voltam violentamente contra o modo de pensar africano e afro-diaspórico. O Povo preto é o mais espiritual da terra porque possui a essência do sopro divino, resultante de ser a primeira criação de Yavé, os seres originais. Um povo repleto de alegria e espiritualidade. O povo escolhido de Yavé para povoar o planeta, sendo a sua imagem e semelhança, não estou excluindo as outras cores epiteliais que sofreram mutações genéticas temporais. Apenas afirmo que o povo preto é originariamente o POVO de DEUS, conforme escrito nas Sagradas Escrituras Africanas e em todas as antigas tradições do mundo. As Sagradas Escrituras Africanas relatam erros e acertos de povos africanos e suas relações com o Deus PRETO.
As igrejas protestantes ensinam uma teologia branca excludente, anti-histórica e anti-Bíblica que mantém milhões de descendentes de africanos aprisionados, imaginando um Deus europeu, escravizador e terrorista, que não ama o povo preto. Incrível, como a teologia foi transformada, apropriada e deformada para a manutenção de inverdades que favoreceram o império branco romano e foi novamente transformada na reforma protestante branca européia do sec. XVI. Os diversos pensamentos teológicos da Igreja Branca Romana e da Reforma Branca Protestante foram direcionados aos povos brancos e serviram de exclusão do Povo Preto.
Por isso, o CNNC, não aceita e nem compreende que teólogos brancos no Brasil queiram produzir uma Teologia Negra – melhor seria Teologia Preta - isso é impossível, é vergonhoso, como também e questionável que pretos e pretas que ainda estão dominados e subservientes nas igrejas brancas em suas pastorais e concílios, tentem fazer um Teologia Negra sendo orientados por esses pastores. Isso é brincadeira!!! Somente pretos livres e independentes em suas comunidades pretas tem a possibilidade de viver e escrever uma Teologia Negra, porque é a sua vivência espiritual com Yavé, podem entender, sem a interferência espiritual dos líderes brancos e suas teologias excludentes a vontade de Yavé para o seu povo preto. Junte-se a nós nessa caminhada.
QUESTÃO DAS MULHERES E CRIANÇAS
As igrejas no Brasil servem de exclusão das crianças e das mulheres mantendo o foco da patriarcalidade, de uma teologia patriarcal, sexista e machista. As crianças alvo do amor de Yeshua são desconsideradas, especialmente as crianças descendentes de africanos, alvos incontestes de uma educação discriminatória que afeta a sua auto-estima desde o ventre materno, formadas em escolas dominicais que afetam a sua formação como africanos em diáspora.
Leia mais:
O RACISMO NA ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL
As mulheres pretas, as grandes baluartes da ancestralidade africana, da família, da fé, são esquecidas nestas igrejas protestantes, milhões de mulheres pretas não tem o reconhecimento da sua beleza e inteligência como obra-prima do criador na África, e essas igrejas machistas a negam a ordenação pastoral, colocoado-as como serviçais de templos e organizações. Por isso torna-se necessário a imediata libertação espiritual dessas mulheres e crianças para que se redescubram na africanidade e possam cumprir verdadeiramente a missão de unificação do seu povo nas igrejas evangélicas e nas sociedades afro-diaspóricas.
Conclusão: Estes são alguns fatores de pretas e pretos de diversas denominações em Salvador-Bahia, resolveram atender o chamado de Yavé para se organizarem além do CNNC, na primeira Igreja Preta do Brasil - COPATZION (Comunidade Pan-Africanista de Tzion). Apesar de no Brasil existir igrejas que se autodenominam de Negras, possuem apenas cultos alegres e avivados, como é natural, pois sua maioria é de descendentes de africanos que abundam a alegria e a Graça de Yavé e onde está o povo preto reunido está à presença do Eterno, abençoando ao seu povo original. Infelizmente estas igrejas possuem uma teologia branca em comunidades pretas. A COPTAZION é uma igreja preta com uma teologia preta, ai está à diferença.
Os desafios já surgiram e ataques já se iniciaram contra a COPATZION, as lideranças brancas e membros pretos afetados por estas estão desesperados pela aceitação da COPATZION pela comunidade preta. Estamos recebendo dezenas de e-mails de todo o Brasil e do exterior com pedidos de inauguração da COPATZION.
Irmãs e irmãos pretos, você pode agora LIVREMENTE LOUVAR A YESHUA, o AFRICANO, cantar e tocar os tambores sagrados, participar de confraternização como um só povo: O POVO DE YAVÉ, e no próximo dia 30 estaremos fazendo a nossa primeira celebração com a ordenação do nosso pastor, cânticos, poemas, danças e confraternização da Igreja Preta.
Contribua com essa idéia. Precisamos implementar ações de missões e construção do nosso templo. Tenha a COPTZAION nas suas orações e nas suas ofertas. Precisamos enviar missionários (as), queremos chegar a sua cidade com as nossas missões de libertação. Seja corajoso e corajosa. Aceite o desafio de fé. Só com a sua ajuda, irmã e irmão preto, poderemos enfrentar esses impérios religiosos consumistas e racistas que você ajuda a construir e manter, por falta de opção, porque sempre acreditou no amor de Yeshua. Agora chegou o momento de você construir pelo seu povo preto.
Entre em contato com os cristaosnegros@yahoo.com.br e com copatzion@gmail.com e vamos mudar esse jugo desigual.

sábado, 15 de novembro de 2008

RELAÇÕES INTER-RACIAIS - A FALSA DEMOCRACIA RACIAL

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrado e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br

Por Jose Raimundo. Pan-africanista, Afrocentrado. Membro da Igreja Pan-Africanista Tzion. Pseudônimo: Thembi Sekou Okwui. E-mail: soulafrica@hotmail.com


As relações inter-raciais são constantemente discutidas e rediscutidas nos países de formação escravacrota, sendo motivos de grandes polêmicas e embates. Já fizeram parte de dispositivos de leis em diversos países escravizadores, como a Inglaterra, e até há pouco tempo nos USA, como o sistema legislativo Jim Crow, que proibia a união inter-racial prevendo o julgamento dos infratores e sua condenação.
Clique aqui e leia mais sobre as leis do Jim Crow
Até mesmo em âmbito religioso as proibições foram bem explicitas como orientações de igrejas brancas, como no caso dos adventistas, quando Ellen G. White escreveu: “Mas há uma objeção ao casamento da raça branca com a preta. Todos devem considerar que não têm o direito de trazer à sua prole aquilo que a coloca em desvantagem; não têm o direito de lhe dar como patrimônio hereditário uma condição que os sujeitariam a uma vida de humilhação. Os filhos desses casamentos mistos têm um sentimento de amargura para com os pais que lhes deram essa herança para toda a vida.”(Ellen Gould White, Mensagens Escolhidas - vol.2; Editora Casa Publicadora, Sto. André - SP; 1985 - pág. 343 e 344).
Ellen White continua: "Em resposta a indagações quanto à conveniência de casamento entre jovens cristãos de raças branca e preta, direi que nos princípios de minha obra esta pergunta me foi apresentada, e o esclarecimento que me foi dado da parte do Senhor foi que esse passo não deveria ser dado...Nenhuma animação deve ser dada a casamentos dessa espécie entre nosso povo..." (Ellen Gould White op.cit.).
Se por um lado, em diversas sociedades e organizações religiosas houve proibições nas relações inter-raciais, em outras, como a arquitetura racial do Brasil, isso foi bem difundida e elaborada como sistema de dominação e manipulação.
Gilberto Freire no seu livro Casa Grande e Senzala e Sobrados Mocambos demonstra com uma sagacidade perversa a falsa formação do Brasil baseados em relações de senhores brancos com escravizadas pretas, o qual ainda hoje tem servido como parâmetros e defesas de um país miscigenado, reforçado também pelos escritos de Darcy Ribeiro, no seu socialismo moreno.
No Orkut, site de relacionamento de maior acesso no Brasil, encontramos dezenas de comunidades exaltando os relacionamentos inter-raciais e citamos algumas:
O Amor Não Tem Cor
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=15109546
Amor Interacial
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=11849495
Relacionamento Interracial
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=2389862
No entanto, a miscigenação no Brasil não dever ser vista sob a ótica pacífica e amorosa de uma pura e simples integração racial, construída pelos pensadores acima referidos e difundida pelas escolas, universidades, igrejas, mídia e outros intelectuais brancos. Na verdade, a miscigenação tem que ser vista sob a ótica da exploração sexual de homens e mulheres negras, para atender o desejo da elite branca de fazer deste país uma nação “quase” européia.

No Livro Rediscutindo a mestiçagem no Brasil – Identidade nacional versus Identidade negra, Kabengele Munanga explica como a mestiçagem serviu como mecanismo de aniquilação da identidade negra, servindo ao propósito do racismo para desmobilizar, criar falácias de igualdade racial e inserir na mente da população negra o desejo de branqueamento.
Acreditamos que a mestiçagem foi um plano elaborado para enfraquecimento e dominação dos africanos no Brasil, pois com a existência de mestiços, há uma população em crise, sem identidade definida, que opta em se manter ao lado do projeto de sociedade do opressor, trazendo conseqüências psicológicas danosas a sua existência, como aborda a grande pensadora negra Neusa Santos em seu livro “Torna-se Negro”, pag. 7,:
“Os esforços para curar a “ferida” vão então suceder-se numa escalada patética e dolorosamente inútil. Primeiro tenta-se metamorfosear o corpo presente, atual, de modo penoso e caricato. São os “pregadores de roupa” destinados a afilar o nariz ou os produtos químicos usados para alisar o “cabelo ruim”. Em seguida, vêm as tentativas de aniquilar, no futuro, o corpo rebelde à mutação, no presente. São as uniões sexuais com o branco e a procriação do filho mulato. O filho mulato e o neto talvez branco representam uma louca vingança, suicida e homicida, contra um corpo e uma “raça” que, obstinadamente, recusam o ideal branco assumido pelo negro. “
O sociólogo Roquildes Ogunbá, militante do movimento negro, assevera na comunidade do orkut MULHER NEGRA & HOMEM NEGRO:
"A miscigenação está na ordem do dia: brancas com negros e brancos com negras. A idéia de mistura tem sido manipulada pela mídia, imprensa, tv, rádio etc, como uma prova de que não existe racismo e nem discriminação racial. Muitos negros e negras têm pego carona em tal discurso e afirmam que quando rola o amor é o que vale. Sendo assim, temos assistido a cada dia um número "privilegiado" de casais que têm se unido para "clarear" as futuras gerações. Este fato tem contribuído para desaparecimento da família negra e modificado certos valores entre negras e negros."
Ultimamente a juventude preta militante tem discutido em alguns fóruns sobre relacionamentos, e recusado participar destas relações inter-raciais como forma de afirmação e prática de vida africana. Exemplo disso na Bahia o Grupo Mídia Étnica criou o dia: Beije sua preta ou seu preto.

- Quase duas décadas depois, o Instituto de Mídia Étnica está reativando essa campanha, denunciando o estereotipo de casais negros nos meios de comunicação, criticando a nossa invisibilidade nas propagandas e criando elementos para elevação da auto-estima de homens e mulheres pret@.
Participe de nosso “beijaço”: dia 12 de junho às 17h30 no Passeio Público.

Os jovens do CNNC/BA e da Igreja Preta (COPTAZION) se orgulham pelas suas namoradas e namorados pretos.
Kefing Foluke no livro Afro-Reflexões, também discorreu sobre a temática:
“O homem e a mulher negra precisam se reencontrar fora da senzala e reconstruir no útero do ser negro um novo relacionamento de respeito e amorosidade, lembrando sempre que somos frutos de um amor depreciativo formulado nas senzalas da escravidão. Não estamos mais abandonados e jogados na fétida senzala de amores depreciativos, por isso não devemos ter medo de amar. O amor deve ter início na auto-afirmação do ser negro, assim redescobriremos à vontade de sentir profundamente a intensidade de um beijo bem gostoso entre uma negra e um negro.”
Segundo o membro da Igreja Preta - COPATZION-(Comunidade Pan-africanista de Tzion) José Raimundo, ativista pan-africanista, ratificando o posicionamento do CNNC, acrescenta que essa falsa democracia racial no Brasil é tão forte que influenciou as relações afetivas no próprio movimento negro; exemplo disso é que um dos maiores expoentes do Movimento Negro, o nonagenário Abdias do Nascimento, apesar de tentado desconstruir o mito da democracia racial, possuí em sua prática afetiva um relacionamento com uma mulher branca, sendo um dos grandes vacilos que marcará a sua trajetória.Pois num país que tem como sistema de dominação uma política intensa de mistura entre raças, a ação mais enérgica e reacionária que um militante do movimento negro pode ter é manter relacionamentos com pessoas de sua própria espécie, ou seja, pretas. Isso, aliás, não é só reacionário, num país como o Brasil, isso chega ser uma arma revolucionária contra a dominação racial.
Por fim, que nós pretas e pretos saíamos da escravidão mental que nos aprisiona, abandonemos a contemplação daqueles que descendem dos escravizadores, não nos permitamos vivenciar a “Síndrome de Estocolmo” e busquemos o amor entre as pessoas africanas: o amor preto. Pois, para preservação da nossa história, cultura, valores e legados é necessário preservarmos a integridade do nosso povo através da reconstituição / reconstrução de famílias pretas. É necessário dizermos não a miscigenação racial.

Richie Stephens - where is the love

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

NOVO MOVIMENTO NEGRO

Por Jose Raimundo. Pan-africanista, Afrocentrado. Membro da Igreja Pan-Africanista Tzion. Pseudônimo: Thembi Sekou Okwui. E-mail: soulafrica@hotmail.com

Há quem afirme que nenhum acontecimento do passado se perde no tempo, mas sim, transforma-se. Pelo visto, a transformação, dando origem a algo novo, é um processo natural da existência das coisas. E por ser um processo natural, a transformação é inevitável. Existindo ou não uma força contrária, ela sempre irá acontecer, mesmo que parcialmente, para o benefício da continuidade da existência.
Hoje, acontece algo de crucial importância para sobrevivência do movimento negro, e porque não dizer da comunidade negra, no Brasil, qual seja, a existência de análises e avaliações aprofundadas das ações e políticas do movimento negro nos últimos tempos e seus possíveis avanços. O fruto destas análises e avaliações é o advento da necessidade de renovação do movimento negro contemporâneo, seja pela mudança estrutural e ideológica do que concebemos tradicionalmente, no Brasil, como movimento negro (o movimento social negro), seja pelo surgimento de um novo segmento do movimento negro de caráter libertário, que seguirá seu caminho próprio e natural.
No entanto, a meu entender, só uma mudança estrutural e ideológica do tradicional movimento social negro no Brasil não significa necessariamente um avanço se a finalidade do mesmo ainda for à mesma: a busca incessante por integração racial e aceitação do desumano projeto de relações humanas que esta ai posto. Acredito que o avanço essencial compreende, para além da necessária mudança estrutural e ideológica, uma mudança da própria finalidade do movimento negro e do rumo por ele a ser tomado. Apesar do momento histórico “não ser favorável à existência de um movimento negro de caráter libertário”, pois as relações raciais entre negros e brancos, e a dominação (política, social e, sobretudo, econômica) deste último se dar, no Brasil e no mundo, sob o discurso da “democracia”, dos “diretos humanos universais” e da “igualdade entre os povos”, nos permitindo ter a falsa impressão de que “estamos chegando lá”, acredito que é necessário transcendermos a esta realidade ideológica e analisar as relações raciais sob a luz do fato de que nós estamos, na essência da verdade, em todas as partes do mundo, por nossa própria conta em risco e que os brancos não estão afim de viverem junto com os negros numa sociedade igualitária, justa e solidária.
Mais do que em tempos passados, quando tínhamos que reagir contra o inimigo certo e visível, e não tínhamos esta falsa sensação de liberdade, e deste falso tributo ideológico a igualdade, presentes como velcro da dominação branca, precisamos ser a força reacionário e subversiva que vai possibilitar o surgimento de um novo contexto histórico de luta para o nosso povo. E é justamente a percepção desta necessidade de forçar a mudança do contexto histórico que nos envolve que surge, como efeito colateral, a necessidade de mudança da finalidade do movimento negro, adquirindo este uma percepção de luta de caráter libertário, com vistas a autodeterminação do povo preto-africano.
No entanto, é de se perceber que a necessidade do surgimento de um novo movimento negro, ou de um novo segmento do movimento negro, de caráter libertário, deve emergir antes da desconfortável realidade de subjugação e dominação que se abate sobre a população negra do que do contexto histórico que nos faz pensar o mundo. Apesar de ser compreensível que o contexto histórico é um fator determinante para a constituição e significação das ações e percepções humanas, não é menos verdade que a realidade vivenciada por um determinado grupo também determina, ou pelo menos deveria determinar, suas ações e percepções. Por exemplo, quando afirmam que o pan-africanismo não tem mais razão para existir porque o contexto histórico que permitiu seu nascimento desapareceu, nada mais estão fazendo os observadores limitados do que condicionar as ações e percepções de luta de um povo ao contexto histórico controlado pelo opressor.
Daí, na contramão desta afirmativa errônea, surge uma outra afirmativa, a de que: a existência da ideologia pan-africanista é necessária antes porque a realidade do povo preto ainda é de subjugação, de humilhação em suas condições, de desesperanças, de falta de autonomia para realizar o básico por si, sem o real poder de interferir no seu destino (O Poder Negro), de falta de identidade e sentimentos coletivos, etc., do que do fato de o contexto histórico atual permitir ou não, ou ser favorável ou não, a existência do mesmo. O pan-africanismo encontra razão para existir porque ainda somos um povo escravizado, sendo que, enquanto estivermos subjugados pelos dogmas do racismo, que é a continuação da escravidão numa perspectiva moderna, deve existir a necessidade da ideologia libertária pan-africana.
O pan-africanismo é a única saída para o povo negro do mundo encontrar-se consigo mesmo num futuro de paz e liberdade O pan-africanismo é a mais eficaz ferramenta de unificação dos povos africanos do mundo, nos possibilitando pensar num real projeto de libertação negra, para além das fronteiras e identidades nacionais que limitam o nosso pensamento, nos dando um sentido para vivermos enquanto uma nação negra. Seja lá qual for os rumos e as finalidades dos movimentos negros no Brasil, pois sua complexidade e pluralidade é visível, o que mais deve deixar a comunidade negra tranqüila é o fato de existir dentro do movimento negro um segmento transformador, revolucionário e libertário, que soube, e esta sabendo, transcender na análise do contexto histórico controlado e imposto pelo opressor e buscar uma real e verdadeira saída para libertação do povo preto, sem acreditar que somente a vivência conjunta com os brancos é a única solução para os nossos problemas.
Um novo movimento negro não significa, necessariamente, a mudança dos quadros dos militantes e das ideologias políticas integracionistas que norteiam as ações e pensamentos do movimento negro social. Até porque sempre existirão os “Pai Tomas” que estarão atrelados à estrutura de Poder Branca e fazendo o jogo do opressor. Um novo movimento negro significa o surgimento de uma militância negra alternativa, liberta da cosmovisão européia de mundo, que está preocupada em trabalhar para construção de uma nação africana, seja continentalista seja diaspórica, forte e auto-suficiente. O novo movimento negro (libertário) pode e vai co-existir paralelamente ao velho (integracionista). Mas o novo é preciso e já está nascendo. O novo movimento negro é aquele que acredita que a liberdade africana do passado é a mesma que deve ser reconquistada no futuro. Ou façamos por nós mesmos em vistas de nossa liberdade e dignidade, ou deixemos os outros fazerem aquilo que nós deveríamos fazer por nós mesmo e nos dominar eternamente. Nós, do CNNC, acreditamos nessa perspectiva.
BOB MARLEY - ONE LOVE

domingo, 2 de novembro de 2008

VIOLÊNCIA CONTRA O POVO PRETO

Por Vanessa Passos. Acadêmica de Teologia. Panafricanista, Afrocentrista, Tesoureira do CNNC/BA - Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos/BA e membro do Grupo Agar -Grupo de Mulheres Pretas Cristãs. Pseudônimo: Aidan Foluke. E-mail: vanessasoares13@hotmail.com





Por Sueli Casaes. Acadêmica de Teologia. Panafricanista, Afrocentrista. Diretora de Mulheres Pretas do CNNC/BA - Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos/BA e Presidente do Grupo Agar - Grupo de Mulheres Pretas Cristãs. Pseudônimo: Manana Foluke. E-mail: suelicasaes@yahoo.com.br

Por Jose Raimundo. Bacharel em Direito. Pan-africanista, Afrocentrista. Pseudônimo: Thembi Sekou Okwui. E-mail: panafricanista@hotmail.com

"Bem aventurados o que têm fome e sede de Justiça porque serão fartos."
Mateus 5:6.

Nós declaramos total repúdio às ações praticadas por membros da polícia baiana contra a irmã preta Dara Foluke, diretora de Comunicação do Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos/BA.
As ações policiais, em regra violentas e constrangedores contra o povo preto, devem ser desconstruídas do seio da nossa sociedade, sendo a juventude a maior vítima em um país onde somos a maioria da população. E somente nós, povo preto, podemos mudar tal realidade, denunciando que o povo preto não é sinônimo de ladrão, pensamento esse advindo da escravidão, ainda que muitos teorizem, afirmem e desejem.
As incursões racistas devem ser destruídas, não apenas nas ações, mas principalmente na escravidão mental que está assolando o nosso povo, ideologicamente afetado por concepções de uma falsa democracia racial e na inércia dos detentores do poder, tanto aqueles que sofrem as ações excessivas da polícia, aqueles que dirigem os táxis e principalmente aqueles que integram a própria força coercitiva do Estado.

Sim, vivemos em uma Sociedade Racista, e nossa luta é contra esta Sociedade.
Repudiamos a ação racista do Taxista César Augusto, repudiamos a todo excesso racista coercitivo da polícia, repúdiamos ao racismo em si, repúdiamos a violência contra o povo preto!
Nós sempre pregamos o Amor ao Povo Preto, porque o amor nos une, nos liberta e nos trará a Salvação. amor integral, como um único corpo e hoje estamos feridos, porém cada vez mais fortes.
"Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vosdsa vocação; há um só Deus, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos nós, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos." Efésios 4:4-6.

Por Vanessa Passos, Ulisses Passos, Sueli Casaes e José Raimundo.
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Amada irmã Dara Foluke (Ítala Herta) nós da Família Foluke sentimos muito com o ocorrido. O que aconteceu com você nos afeta diretamente, pois somos um corpo e quando uma parte desse corpo sofre algum problema todo ele fica debilitado. E apenas se recupera por total quando essa parte comprometida volta a está 100 % outra vez. Estamos orando por ti, clamando para o Santo Espírito restaurar sua ferida e a nossa também. A Santa Escritura Africana nos diz que os exaltados serão humilhados, mas que os humilhados serão exaltados. (Lucas 18:14)
O sermão do monte em no seu versículo 6 do capitulo 5 de do evangelho de Mateus, também acalma nossos corações quando YESHUA nos diz: Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. Nossa amada irmãzinha lembre-se que não nossa luta não é carnal, mas sim espiritual. Pois muitas serão aqueles que desejam destruir, abalar a espiritualidade do povo escolhido, dos verdadeiros filhos de Yavé. Mas no livro de Zacarias, o próprio Yavé nos diz: ai daquele que tocar na menina dos olhos DELE!
Estamos disponíveis para te ajudar no necessário. A sua dor é a nossa dor.
Yavé permanece contigo, Yeshua te abençoa e o Santo Espírito lhe restaura sempre!

Confira o depoimento da Diretora de Comunicação do CNNC/BA, Dara Foluke:

Por Ítala Herta. Acadêmica de Comunicação Social, Pan-africanista, Afrocentrista e Diretora de Comunicação do CNNC/BA – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Dara Foluke. E-mail: italaherta@hotmail.com

"Era 00h30min de sábado quando falei para Henrique e Saturnino – dois amigos que me acompanhavam em um evento que estava ocorrendo no Centro Histórico de Salvador (Pelourinho) – que queria ir embora, pois estava cansada... Fomos! Destino? O Bairro da Boca do Rio. Nós três moramos perto uns dos outros, e dividirmos um táxi ‘amenizaria os riscos de sermos confundidos ou assaltados’ – pensamos. Ainda na saída do ‘Pelô’, encontrei minha tia (Nelma Suely), meu tio (Wilson Freitas) e meu primo (Rafael Melo), e recusei o convite de ir com eles para o ensaio do Ilê Ayê, no bairro da Liberdade, reforçando a afirmação anterior de querer ir logo para casa. Nos cumprimentamos, eles entraram no carro e eu e meus dois amigos continuamos andando em direção à Praça da Sé, onde solicitamos o serviço de táxi do Sr. Cezar Augusto da Silva Purificação. Ainda no meio do caminho, o carro do meu tio acompanhava o táxi e nos cumprimentamos de longe. Tudo parecia muito tranqüilo dentro do carro: conversávamos apenas sobre o final daquela noite, sobre o evento, sobre o lugar por onde passávamos...Chegando ao início da ladeira da Fonte Nova, o taxista parou o carro e alegou que uma das portas se encontrava aberta. Abri e fechei minha porta e pedi aos outros que conferissem as outras portas. Todos disseram ‘Não tem nenhuma porta aberta!’, e eu complementei: ‘Por favor, taxista, leve o carro adiante, pois tenho medo de assalto.’ Olhando pelo retrovisor, ele ligou a lanterna do seu carro, sinalizando algo. Nenhum dos três entendia o motivo d’ele ter parado naquele local, àquela hora... Nesse mesmo momento, ainda com o carro parado, Cezar Augusto começou a gritar e a se debater dentro do carro. De maneira muito rápida, travou as portas do veículo com os três dentro e saiu do carro gritando e afirmando que era um assalto, que eu e os meus dois amigos éramos assaltantes! Neste exato momento, uma viatura da polícia civil pela qual nós tínhamos passado sem perceber, antes da ladeira, atendeu aos sinais e acusações do taxista.Com armas em punho, os policiais gritavam e mandavam todos deitarem no chão. Eu e os meus amigos, desesperados com os gritos e as acusações do taxista diante da polícia, saímos pela única porta aberta do táxi. Nesse momento, eu caí de cara no chão... Os meninos já estavam rendidos. Eu levantei com a roupa toda ensangüentada e desesperada, pedindo para que os policiais não atirassem, porque nos éramos inocentes. Disse que a abordagem deles era ilegal e um dos policiais pegou no meu braço, me jogou no chão, e em voz alta e com sua arma apontada para minha cabeça, falou: ‘Cala a boca, sua puta! Ilegal o quê, sua vagabunda?’. Me viraram de costas. No chão e com a cara no asfalto, rendida, começaram a me revistar, levantaram minha blusa. Procurando a arma, abaixaram a roupa de Saturnino. Henrique, também rendido pelos os policiais, clamava para nenhuma daquelas armas disparar contra nós.Lembra do meu tio? Deus que o colocou no nosso caminho, atendendo ao pedido do meu primo, que reconheceu que o táxi parado era o meu. Eles pararam o carro a alguns metros de distância e subiram a ladeira correndo, gritando pelo meu nome, pedindo para não atirarem, pois eram pessoas inocentes que se encontravam no chão. Minha tia, já pensando o pior ao me ver no chão, ensangüentada.Ainda no chão, os três humilhados e rendidos, olhávamos para o taxista, que a essa altura já tinha se tocado da atrocidade que havia cometido. Porém, o acontecimento não acabou por aí. Nós fomos interrogados no local, e fomos encaminhados – e não, acompanhados – à delegacia, o que significava que as vítimas não eram Ítala, Saturnino e Henrique, mas sim o taxista!Levei cinco pontos no queixo e ainda estou com hematomas no meu corpo. Na delegacia, fizeram meus amigos mostrarem se realmente tinham dinheiro para pagar o serviço de táxi.

É foda! tornar público é amenizar a dor desta humilhação!!

Inha e Jack estamos juntos e fortes sempre!!

PRETAS POESIAS

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