quinta-feira, 29 de novembro de 2007

ROSA PARKS: A MULHER QUE TRANSFORMOU UMA NAÇÃO E AJUDOU A ACABAR COM JIM CROW




Por: Ulisses Passos. Acadêmico de Direito, Pan-Africanista e Presidente do CNNC/BA. Pseudônimo: Aswad Simba Foluke. E-mail: ulisses_soares@hotmail.com

No mês de novembro no Blogger do CNNC/BA foram homenageados algumas personalidades que combateram pela liberdade do povo preto em diversas do planeta. Nossa última homenageada foi uma grande mulher que mudou a vida dos africanos na diáspora nos Estados Unidos da América.

Rosa Louise McCauley nasceu no dia 4 de fevereiro de 1913 em Tuskegee no Alabama – Usa, filha do carpinteiro James McCauley e da professora Leona McCaule, os seus pais se separaram e aos dois anos de idade foi residir com a sua mãe na casa da avó materna em Pinel Level no Alabama, com uma saúde frágil sofrendo de amigdalite e de baixa estatura, aos 11 anos de idade foi matriculada em uma escola industrial para meninas (Miss White's School Girls) onde aprendeu a profissão de costureira, não tendo condições de ir para Alabama State Teachers College's High School realizar o ensino secundário, forçada a abandonar os estudos para cuidar da mãe que adoecera e seu irmão menor Sylvester foi trabalhar para ajudar no sustento da família.
Na Infância foi vítima de ataques da Ku Klux Klan(KKK), organização racista formada por brancos protestantes que queimavam as casas de bairros pretos e praticavam linchamentos, e viu a sua avó com uma espingarda na mão guardando a entrada da sua residência. Houve um período que negros eram linchados sem julgamento nos Estados Unidos e as fotos são de extrema crueldade, a qual não postarei nesta página, por serem de extrema violência e as denomino exemplos do holocausto preto.
Conhecedora e vítima diariamente da segregação racial, presenciou a escola industrial em que estudava queimada duas vezes por incendiários racistas e as professoras pretas constantemente humilhadas, a menina Rosa Louise sabia que teria de enfrentar o racismo e suas seqüelas.
Em 1932 casou-se com o barbeiro Raymond Parks, um jovem de pouca educação formal por causa da segregação racial, e sua mãe Gery Parks o orientou corretamente para a sobrevivência como preto no sistema racista americano. Rosa Parks foi importante no sustento da família, vendendo a sua força de trabalho como empregada doméstica e até como ajudante em hospital, o seu marido insistiu em que terminasse os estudos e ela concluiu o ensino secundário em 1933. Raymond foi um ativista da National Association for the Advancement of Colored People (NAACP), organização fundada em 12 de fevereiro de 1909 por diversas pessoas entre eles o panafricanista Du Bois e brancos anti-racistas para atuar contra a discriminação racial dentro dos Estados Unidos da América, neste ano de 2007 a NAACP decretou estado de emergência pelo aumento da violência contra a juventude preta.
Na década de 30, Rosa foi uma das primeiras ativista a protestar contra a acusação injusta imposta a nove jovens pretos acusados de estuprarem duas jovens brancas, caso conhecido nos Estados Unidos como Scottsboro Boys.
Rosa Parks atuou na NACCP a partir de 1943, trabalhando de secretaria até 1957 e participando de diversas atividades pelos direitos civis.
Foi membro ativa da Igreja Metodista Episcopal Africana fundada em 1790 e antes da guerra de Secessão já possuía 20000 mil membros nos estados do norte, e enviou missionários para os estados do sul sendo a que mais combateu a segregação nos Estados Unidos antes e depois da guerra da secessão. Um dos salmos preferidos pela irmã Rosa Parks foi o salmo 23 que diz:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará. Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranqüilas. Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça por amor de seu nome.
Ainda que eu andasse pelo vale das sombras da morte, não temerei mal algum, porque Tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.
Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.
Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida e habitarei na casa do Senhor por longos dias."
Para que possamos compreendera a segregação na qual foi vítima é necessário conhecer um conjunto de leis conhecidas como Jim Crow nos estados sulistas e fronteiras dos Estados Unidos, executadas entre 1865 a 1965, que separava brancos e negros nas escolas, locais públicos, hospitais, transportes, etc.
Jim Crow foi mais do que leis, tornando-se uma maneira de vida branca americana, regras e costumes, foi à legitimação do racismo anti-preto, tendo diversos tentáculos, especialmente nos meios de comunicação em massa. O termo Jim Crow surge de uma canção feita por um ator branco Thomas Dartmouth (TD) "Daddy" Rice imitando um negro, o qual dizia ser um idoso escravizado que andava com dificuldade ou um jovem preto estereotipado. Ele foi um menestrel que ridicularizava os pretos norte-americanos no século XIX e pintava o seu rosto de preto. Leia mais: http://www.ferris.edu/jimcrow/who.htm
A contribuição de muitas igrejas brancas foi fundamental nas elaborações dessas leis e muitos teólogos e pastores brancos ensinavam nas igrejas que os negros foram amaldiçoados por Deus e estas leis eram da vontade divina, baseadas na má interpretação da maldição de Cam.
Havia toda uma regra de condutas para serem obedecidas pela comunidade africana nos USA, entre elas, exemplificamos: Relações sexuais entre brancos e pretos destruiriam a América Branca; se um homem preto estendesse a sua mão para ajudar uma mulher branca poderia ser acusado de estupro; e em hipótese alguma o preto poderia dizer que um branco estava mentindo; nunca falar que era mais inteligente que um branco,e proibido de mostrar afetividade em público,um beijo entre um casal de pretos era considerado violação da lei, etc..
Algumas dessas leis proibiam o casamento inter-racial de uma pessoa branca com uma preta até a oitava geração; se um homem preto estivesse com uma mulher branca na mesma sala à noite no trabalho, ou um homem branco com uma mulher preta, seriam presos e condenados até 12 meses de prisão; escolas para crianças brancas e pretas eram separadas, lanchonetes, restaurantes, cinemas, banheiros, bebedouros, etc. Leia mais exemplo em: http://en.wikipedia.org/wiki/Jim_Crow_laws
Em 01 de dezembro de 1955 Rosa Parks recusou-se a ordem do motorista James Blake a ceder lugar a um homem branco dentro de um ônibus, este ato de “desobediência civil” a levou a ser presa e fichada criminalmente pela polícia, acusada de violação do capitulo 6, seção 11 do Código de Segregação racial de Montgomery e condenada a pagamento de multas e prisão domiciliar . Em quatro de dezembro de 1955 as igrejas pretas começaram a organizar o boicote o qual foi referendado no dia nove de dezembro quando líderes pretos se reuniram na Igreja Metodista de Zion e o Rev. Ralph David Abernathy sugeriu o nome "Montgomery Improvement Association" (MIA). Os membros foram eleitos e como presidente, um jovem ministro desconhecido da Dexter Avenue Baptist Church, Dr. Martin Luther King, Jr. As Igrejas Pretas lideraram a luta pelos Direitos Civis nos Estados Unidos.
Não foi o primeiro fato ocorrido, outras pessoas já haviam sido presas por se recusarem a se levantar para cederem lugares em transportes públicos aos brancos, mas esse ato teve conseqüências que mudaram a vida dos descendentes de africanos nos Estados Unidos. O incidente resultou no boicote aos ônibus em Montgomery que perdurou durante 382 dias e Rosa Parks disse em uma de muitas das suas entrevistas:
-Nós não temos quaisquer direitos civis. Era apenas uma questão de sobrevivência, de existência de um dia para o outro. Eu me lembro, quando ia dormir, de uma garotinha ouvindo a “Ku Klux Klan” rondando à noite, e ouvindo um linchamento, e com medo de que a casa viesse abaixo pelo fogo.
Na mesma entrevista, ela citou sua longa convivência com o medo como a razão de sua intrepidez em decidir apelar para suas convicções, durante o boicote aos ônibus.
-“Eu não tinha qualquer espécie de medo e foi um alívio saber que eu não estava só.
Racistas retaliaram o boicote aos ônibus com o terrorismo. Igrejas Pretas foram queimadas ou dinamitadas. A casa de Martin Luther King's foi bombardeada na madrugada do dia 30 de janeiro de 1956. No entanto, a comunidade preta organizou com o boicote, um dos maiores e mais bem sucedidos movimentos populares contra a segregação racial realizado por africanos na diáspora nos USA, que originou outros protestos, e que colocou King como um dos líderes à frente do Movimento dos Direitos Civis. O Pastor Martin Luther King Jr liderou Montgomery Improvement Association, resultando em lutas que forçaram o termino da segregação racial nos transportes públicos e no fim das leis Jim Crow, se tornando um dos principais nomes nos Estados Unidos na luta contra a segregação, árduo defensor do integracionismo na sociedade branca americana sendo os seus métodos e sonhos questionados por diversos militantes, como Malcolm X, Fred Hampton, Stokely Carmichael e muitos outros panafricanistas, mas, nunca retirado os méritos de suas ações em prol da liberdade do nosso povo.
Rosa Parks desempenhou um papel importante na internacionalização da sensibilização para a situação dos pretos e pretas americanos nas lutas pelos direitos civis. O boicote aos ônibus de Montgomery também foi a inspiração para boicote na cidade de Alexandria, Eastern Cape da África do Sul, que foi um dos principais eventos na radicalização da maioria preta daquele país, sob a liderança do Congresso Nacional Africano.
Após o boicote Rosa Parks foi perseguida perdendo o emprego e seu marido também tendo que ficar desempregado.
Teve uma vida de lutas e militância pelo povo preto, tendo o seu trabalho reconhecido e homenageada por diversas autoridades, ganhando a medalha do governo americano e faleceu no dia 24 de outubro aos 92 anos, cercada de amigos e deixando pelo seu exemplo a chama acessa para o povo preto.

CULTO AFRO CELEBRA A IDENTIDADE ÉTNICA-RACIAL

Semana da Consciência Negra - 2007
Por: Helciane Angélica(Jornalista - 1102 MTE/AL)

A Pastoral da Negritude da Igreja do Pinheiro realizou durante todo o dia 25 de novembro (domingo), um culto afro para celebrar o Dia Nacional da Consciência Negra. A atividade integra o calendário anual da Igreja, encontra-se na terceira edição e busca promover o intercâmbio étnico-cultural entre os fiéis e convidados de outras crenças.Sob o comando do Pastor Welligton Santos, o culto matinal foi marcado pela descontração e as palavras de auto-estima, que exaltavam a identidade étnica-racial e refletia sobre a conjuntura do povo afro-descendente. Acadêmicos africanos da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) oriundos de Moçambique, Guiné Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe - foram recebidos com entusiasmo pelos presentes, que prestigiaram o desfile de trajes típicos e a demonstração das danças características de cada país.O culto afro já é uma das mais importantes ações da igreja que tem visão progressista. O coordenador da Pastoral da Negritude, Benedito Jorge da Silva Filho, destacou a importância de trabalhar a auto-estima dos afros-descendentes e o discurso inter-religioso. " Diante dessa intolerância religiosa existente nas igrejas evangélicas como um todo, é muito importante que uma igreja como a nossa trabalhe a temática afro. Respeitando as demais religiões independente da ideologia e ajudar na construção de um novo paradigma, ressaltando os momentos de reflexão e os encontros inter-religiosos. É preciso aprendermos a trabalhar o pluralismo, só assim o ser humano irá evoluir ", afirmou o coordenador.Para dar prosseguimento as atividades, os participantes retornaram às 18h para assistir ao documentário "Vista minha pele" e para a segunda etapa do culto afro, com os testemunhos dos membros da Pastoral da Negritude. O documentário tem duração de 24 min, foi produzido pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert) de São Paulo sob a direção de Joel Zito Araújo em 2006. Desenvolve uma sátira sobre a democracia racial no Brasil, além de fazer um convite à reflexão sobre a discriminação racial e o papel de cada indivíduo neste contexto.A Pastoral da Negritude da Igreja do Pinheiro foi criada no dia 15 de novembro de 2005, e atualmente possui uma coordenação composta por oito membros. Ao longo da sua trajetória vem participando da Escola Dominical abordando a temática negra; nas atividades do Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos (CNNN); e ações do movimento negro alagoano. Tem como missão trabalhar a releitura da bíblia partindo da ótica étnica-racial, além de lutar contra todo tipo de preconceito referente à raça, credo, gênero e idade.

Para mais informações sobre a Pastoral da Negritude:
Endereço: Rua Miguel Palmeira, 1300, Pinheiro. Cep:57055-330 Maceió-AL
Fones: (82) 9119-5730 /(82) 8857-0786 /(82) 8814-6084 / (82) 3241-9402 / (82) 3032-5505
E-mails: bjorgefilho@bol.com.br/ gilvaneide2001@ig.com.br

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Fred Hampton Jr. lança em conferência campanha antiterrorista

Juliana Dias,estudante de Jornalismo da Faculdade Jorge Amadojuliana.csd@gmail.com
“Nós entendemos que nem todos são revolucionários, mas entendam que é preciso uma revolução”
Fred Hampton Jr.

O Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos (CNNC) promoveu na noite do dia 13 de novembro, na Biblioteca Pública do Estado da Bahia a “Conferência Internacional Fred Hampton Jr. CNNC: Tecendo as redes do Panafricanismo”, tendo como palestrante Fred Hampton Jr., filho do líder do Partido Panteras Negras, discutindo o legado e a história de seu pai, além da criação de uma conexão entre os Estados Unidos e o Brasil, através de uma campanha antiterrorista.
O CNNC juntamente com o Comitê de Consciência de Prisioneiros Comunitários nos Estados Unidos (POCC, sigla em inglês) possibilitaram a vinda do ativista americano ao Brasil para estreitar as relações do Brasil com o EUA. Para o presidente do POCC a sua vinda ao Brasil é importante para o fortalecimento da união da população negra mundial, “esse contato que terei com meus irmãos brasileiros é essencial para o reconhecimento da identidade negra”, completou.
Na conferência, que contou com a presença de representantes do movimento negro baiano, o ativista norte-americano falou sobre o legado deixado por seu pai e sobre o lançamento de uma campanha contra o terrorismo estatal e os extermínios praticadoscontra a comunidade negra, correlacionando a realidade dos EUA e do Brasil. Ao ser interrogado sobre o contexto em que se desenvolveria a campanha, Fred Hampton Jr. disse que “O manifesto antiterrorista não deve observar nenhuma fronteira colonial, precisamos combater todas as formas de terrorismo que nos são impostas: o crack, a falta de políticas públicas, a AIDS e o ataque policial. O povo negro é a vítima preferencial”.
O lançamento da campanha do POCC no Brasil visa criar conexões e relações, a partir das lideranças brasileiras, com objetivos e ações pela vitória, “observando-se que essa vitória deve resultar de um planejamento tático e lógico, de acordo com o nível de consciência local, construindo dessa maneira uma declaração política de ação, em outras palavras uma auto-defesa”, completou Fred Hampton Jr.
A população negra constantemente tem sofrido ataques sangrentos do imperialismo, “o furação Katrina ,que aconteceu em Nova Orleans, para nós do POCC aquilo se tratou de uma armação, colocaram bombas nas represas para que a população negra fosse exterminada. É importante que comecemos a trabalhar o nosso nível de consciência e passemos do assalto para rebelião e de crime para libertação”, afirmou Hampton.
Segundo ainda Fred Hampton, a forma como o governo trata a população negra no Brasil não difere da forma como o governo norte-americano trata o povo negro nos EUA. As realidades criadas em torno da situação da comunidade negra acontecem em todo o mundo, as visões são deturpadas, como, por exemplo, a de que no Brasil, existe uma democracia racial.
A conferência terminou com a seguinte analogia: “Para nós do POCC cada dia é como se fosse 11 de setembro, porque o que os brancos sofreram com o ataque terrorista, nós negros sofremos todos os dias”.
Pai – Nascido em 1948, Fred Hampton era aos 20 anos uma importante liderança do Partido Panteras Negras e membro da comunidade negra de Chicago – EUA. Em dezembro de 1969, foi brutalmente assassinado pela polícia enquanto dormia em seu apartamento ao lado de sua namorada grávida, Akua Njeri. Fred Hampton Jr. nasceu três semanas após a morte de seu pai.
Fonte: Jornal Ìrohìn Online NOTÍCIA
16/11/2007 - 10:14:05
Fred Hampton Jr. lança em conferência campanha antiterrorista

sábado, 24 de novembro de 2007

A REVOLTA DE ZAMBA BOUKMAN: O OGAN QUILOMBOLA

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com

A Revolução Francesa de 1789 tornou-se marco para a divisão Histórica eurocêntrica e início da História Contemporânea, assim dividida pelos brancos europeus. Obrigatoriamente é ensinada nas escolas brasileiras com os seus ideais simbólicos: Liberdade, Fraternidade e igualdade, sendo a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1793), base fundamental das Constituições Ocidentais, que tem como princípio basilar o seu artigo III: “Todos os homens são iguais por natureza e diante da lei”.
Incrível que pareça, alguns intelectuais pretos gostam de citar a França, suas revoluções, ideais e seus teóricos como demonstração de intelectualidade, mas, caso seja perguntado o nome do bisavô e da bisavó poucos irão responder, apesar de serem doutores e doutoras nos conhecimentos brancos. Estes tentam usar tais conceitos para entender os africanos na África e na diáspora, dificilmente acreditam no panafricanismo e comumente são meros repetidores dos discursos com citações dos antropólogos e sociólogos franceses. Eu os considero doutores da Academia eurocêntrica.
Entre os acadêmicos franceses cito como exemplo: Émile Durkheim (1858-1917), pai da sociologia branca, cujos livros são obrigatoriamente usados em todas as Universidades: Da divisão social do trabalho (1893); Regras do método sociológico (1895); O suicídio (1897); As formas elementares de vida religiosa (1912), entre outros. Também Pierre Bourdieu(1930-2002), teórico que difundiu no mundo atual, dentro da Antropologia e Sociologia, o pensamento branco francês nas diversas áres como educação, cultura, literatura, arte, mídia, lingüística e política. Suas obras mais conhecida são: Poder Simbolico e Contrafogos entre outras. Outro academico francês bastante citado é Michel Foucault(1926-1984) que discute as relações de poder de acordo com o pensamento branco, tendo suas principais obras: Vigiar e Punir (1975) e A História da Sexualidade (1976). Além de outros academicos que se tornaram obrigatórios para os estudos das chamadas Ciências Humanas.
Primaz é detalhar que a França foi um país colonialista-imperialista que invandiu diversas partes do planeta, dominou extensos territórios na Ásia, África, América e Oceania, ainda mantendo “protetorados" em algumas regiões do mundo e atualmente discrimina os africanos no território francês.
Abaixo segue uma lista dos Países Africanos que lutaram contra a dominação francesa e conseguiram a liberdade:
1. Marrocos (2 de Março de 1956)
2. Tunísia (20 de Março de 1956)
3. Guiné (2 de Outubro de 1958)
4. Camarões (1 de Janeiro de 1960)
5. Togo (27 de Abril de 1960)
6. Senegal (20 de Junho de 1960)
7. Madagáscar (26 de Junho de 1960)
8. Benin (1 de Agosto de 1960)
9. Níger (3 de Agosto de 1960)
10. Burkina Faso (5 de Agosto de 1960)
11. Costa do Marfim (7 de Agosto de 1960)
12. Chade (11 de Agosto de 1960)
13. Congo (15 de Agosto de 1960)
14. Gabão (17 de Agosto 1960)
15. Mali (22 de Setembro de 1960)
16. Mauritânia (28 de Novembro de 1960)
17. Argélia (5 de julho de 1962)
18. Comores (6 de Julho de 1975)
19. Djibouti (27 de Junho de 1977)
A Liberdade, Igualdade e Fraternidade foram destinadas a burguesia francesa, necessário se faz lembrar que enquanto promovida era a Revolução Francesa, com seus ideais e a Declaração do Direito dos Homens e do Cidadão, a França oprimia o Haiti com a escravidão, sendo que tais benefices não foram estendidas aos pretos escravizados que tiveram que lutar durante muito tempo para se livrar do escravagismo francês.
A dominação européia tornou-se tão opressiva na Ilha de São Domingo ou Hispanhola, resultando na divisão territorial e política em dois países: um foi Colônia Francesa (Haiti) e outro Colônia Espanhola (Républica Dominicana). Interessante é notar que esta divisão também ocorreu dentro da população preta na ilha. Quando estive na Cidade de Cólon no Panamá, no ano de 1988, discutindo Teologia Negra, em meio a conversas com uma Dominicana, esta negou minha pretitude, dizendo que ela e eu não eramos pretos, e sim ‘Tigrenhos’, e preto era o haitiano presente no encontro. Também saliento da maioria populacional dos dois países serem descendentes de africanos, o racismo atingiu a mentalidade dos dominicanos de tamanha forma que os haitianos são discriminados racialmente e inferiorizados na Républica Dominicana, por lei não se registram crianças nascidas naquele país, porque são consideradas pretas.
E nesse sentido, deixando a influencia histórica eurocêntrica, seus defensores e combatendo essa ideologia racista, vamos nesse Novembro Negro homenagear um africano escravizado pelos francesaes no Haiti: Zampa Boukman, de origem Bantu.
Boukman foi precedido por outros como: Padrejean em 1676 e François Mackandal em 1757. Padrejean liderou uma rebelião em Port de Paix, ao norte de São Domingo, matando o branco que o escravizara, reunindo cerca de 30 escravizados nessa insurreição. Sendo perseguido por Piratas e morto juntamente com os demais quilombolas. No caso de Mackandal, assim como milhares de outros, foi levado para São Domingo oriundo da África Ocidental. Ele organizou e planejou durante 12 anos a maior revolta haitiana até então, envenenando os brancos , contudo, após torturarem uma escravizada, foi descoberto e morto. Muitos acreditam que ele não morreu e que até hoje continua habitando em alma a ilha.
Embora Boukman não fosse o primeiro a conduzir uma revolta na Ilha de São Domingo, ele emitiu a faísca que ajudou a inflamar a Revolução Haitiana.
No dia 18 de novembro celebra-se a grande vitória de um dos maiores líderes africanos na diáspora: Dutty Boukman ou Zamba Boukman, nascido na Jamaica e ogan do culto vodu, no Haiti tornou-se um quilombola. Foi um homem de grande estatura, descrito por diversos historiadores como uma escultura africana.
Em 14 de agosto de 1791 ele liderou uma cerimônia religiosa africana de origem bantu onde os escravizados organizaram um grande encontro, no meio da floresta de Bois Caiman. Nesse cerimonial religioso compromissos formam assumidos objetivando colocar em prática um plano definitivo contra o regime escravista. Chovia torrencialmente naquela noite, com relâmpagos cortando os céus. Da platéia surge uma sacerdotisa, enquanto ela realiza o cerimonial, os outros cantavam em coro com seus rostos prostrados ao chão. Boukman e outros guerreiros quilombolas: Georges Biassou, Jeannot Bullet e Jean François Papillon pronunciaram as seguintes palavras:




Bon Dje ki fè la tè. Ki fè soley ki klere nou enro.
Bon Dje ki soulve lanmè.
Ki fè gronde loray.
Bon Dje nou ki gen zorey pou tande.
Ou ki kache nan niaj.
Kap gade nou kote ou ye la.
Ou we tout sa blan fè nou sibi.
Dje blan yo mande krim.
Bon Dje ki nan nou an vle byen fè.
Bon Dje nou an ki si bon, ki si jis, li ordone vanjans.
Se li kap kondui branou pou nou ranpote la viktwa.
Se li kap ba nou asistans.
Nou tout fet pou nou jete potre dje Blan yo ki swaf dlo lan zye.
Koute vwa la libète kap chante lan kè nou.

O bom Deus
que fez o sol
que nos ilumina lá do alto,
que agita o mar
que faz rugir a tempestade,
escutem-me vocês!
O bom Deus está oculto entre as nuvens!
De lá, Ele nos contempla
e vê tudo o que os brancos nos fazem.
O deus dos brancos ordena o crime:
o nosso, ao contrário, solicita boas ações.
Mas nosso Deus, que é tão bom,
nos ordena a vingança.
Ele vai conduzir nossos braços
e nos dará sua assistência.
Destruamos o deus dos brancos
que tem sede de nossas lágrimas!
Escutemos em nós mesmos o chamado da liberdade!

Também nessa cerimônia Boukman previu que Georges Biassou, Jeannot Bullet e Jean François Papillon seriam líderes da revolução. Após o cerimonial todos juraram com a seguinte frase: “Vidas livres ou à morte!”
A cerimônia dirigida por Boukman foi basilar para a organização nas mentes do povo e para posicionar - se como o primeiro fruto de uma revolta que durou vários anos, e, posteriormente, seria realizada em grande parte por Toussaint Louverture. Poucos dias depois, em 21 de agosto, escravizados do Norte iriam matar escravizadores e destruir lavouras.
Em 1794 fora abolida a escravatura em colônias francesas, mas em 1802, Napoleão Bonaparte, impulsionada pelo desejo de restabelecer o império colonial na América, decidiu enviar tropas à ilha recuperar e restaurar escravidão, Toussaint Louverture foi feito prisioneiro, onde morreu alguns meses depois. Apesar dos reforços enviados para a guerra, a França não foi capaz de recuperar a posse da ilha. Dos 70.000 soldados que Napoleão enviou 55.000 morrem de febre amarela e no enfrentamento contra os bravos africanos no Haiti. A independência do Haiti foi proclamada em 1 de Janeiro de 1804.




A religião foi um verdadeiro catalisador para a revolta dos escravizados em São Domingo. A união religiosa do povo preto correspondeu para o sucesso de suas lutas. Seguindo o exemplo dos haitianos devemos nos unir quanto pessoas pretas cristãs para combater o racismo, sua ideologia, seus pensamentos que tanto oprimem nossos irmãos e irmãs pretas nas igrejas ou em qualquer lugar onde estejam.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

BRANCOS QUILOMBOLAS EM PALMARES: ROMANTISMO E MENTIRAS!

Por Walter Passos,Teólogo, Historiador, Poeta, Pan-africanista e  Afrocentrista Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br
Há 27 anos concluindo a graduação em História, subi a serra do Barriga, em Alagoas, emocionado pude sentir a energia dos quilombolas palmarinos. Viajei sem dinheiro, aceitando o convite do meu professor de História: Mario Maestri Filho, o qual anteriormente havia me apresentado e pude acompanhar conversas com Décio Freitas, Clóvis Moura, Joel Rufino e outros historiadores. Vi e participei das discordâncias dos historiadores, tanto em Maceió no - I Simpósio sobre o Quilombo dos Palmares - em 1981 e  relativas às propostas do filme: QUILOMBO, produzido por Cacá Diegues, o qual  apesar de ser orientado historicamente, produziu um filme bastante polêmico e questionado, como todo branco, inseriu entre os personagens uma mulher branca, que orientava o grande guerreiro Ganga-Zumba.

Já conversando com Cid Teixeira, há mais de 20 anos na Bahia, o mesmo me informou de ter acesso a farta documentação escrita pelos holandeses em holandês arcaico que poderiam ser trazidas e pesquisadas por mim. Na época não era o meu interesse. E hoje não sei se temos todos os documentos escritos sobre Palmares em terras portuguesas, espanholas e holandesas.
Algumas informações sobre Palmares nunca me convenceram e ainda carecem de explicações convincentes com provas documentais. Em especial, sobre a presença de brancos nos quilombos palmarinos. Até hoje, desconheço um nome sequer de pessoas brancas que tenha sido citado por historiadores que tenha vivido em Palmares. Se algum leitor (a) conhecer e puder citar a documentação será mui interessante. Creio que seja mais uma invenção de pessoas mal intencionadas que apoiam a falsa democracia racial ou tentam desfigurar as lutas libertárias do povo preto, criando um falso multiculturalismo nas lutas pretas.
Eu desafio historiadores brancos e militantes pretos que continuam defendendo essa proposta que citem documentos com nomes de brancos que habitavam nos quilombos palmarinos. A Confederação dos Palmares foi organizada por pretos e para os pretos. Inventar que havia brancos convivendo em Palmares é embranquecer e criar uma simpatia para com os algozes. Isso não quer dizer que não houvesse no modo de produção escravista colonial, brancos pobres, nem desmentir que alguns viveram de acoitamento a escravizados fugitivos explorando a sua mão-de-obra, como no caso do Quilombo do Oitizeiro na Bahia, contido no meu livro Bahia: Terra de Quilombos.
Mas sim afirmar que se torna necessário entender melhor a escravidão e ver que os escravizados eram considerados mercadorias, dinheiro vivo.
È contestado por diversos historiadores a presença branca dentro dos quilombos dos Palmares: "a presença de brancos em palmares ainda é motivo de discussão, mas sabe-se que isso ocorreu depois em quilombos de outras regiões". Reinaldo Lopes.
Não podemos permitir que mais uma farsa continue sendo divulgada. A Confederação dos Palmares foi criada para pretos e por pretos, nela não havia brancos. Os brancos sempre a desejaram destruir e assim o fizeram. O que houve em Palmares foi à troca de excedentes agrícolas palmarinos com armas e munições com mascates e lavradores brancos, uma relação comercial cheia de desconfianças, mas, necessária para que Palmares sobrevivesse guerreando contra o sistema colonial por volta de 100 anos e pudesse manter constante uma população sempre crescente de escravizados fugitivos, até provavelmente cerca de 20 mil habitantes.
A presença de mulheres de civilizações nativas (indígenas) está também sendo discutida através dos trabalhos iniciais de arqueologia em Palmares. Presença de cerâmica contemporânea a existência dos quilombos, anteriormente dada como indígena, pode ser resultado de trocas comerciais com comunidades circunvizinhas, ou deve ter sido produzida pelos próprios palmarinos, porque estes já detinham o conhecimento de diversas técnicas, oriundas dos reinos situados na região de Angola e do Congo, como o trabalho em ferro, marfim, cerâmica, etc.
Outro fator importante é a Yorobofolia feita por brancos na história dos pretos no Brasil que tem sido desmascarada a todo o momento. Estes colocam Zumbi como yoruba, cultuando Orixás, fato este impossível porque nenhum membro dos quilombos dos Palmares ouvira falar. Dizem até que Zumbi era filho do Orixá Ogum. Zumbi não conheceu Ogum ou qualquer outro Orixá, porque ele era de origem Bantu. Não havia nenhum quilombola palmarino oriundo da atual Nigéria ou região. Pode-se afirmar que Zumbi conhecia a religião Católica, forças da natureza e ancestrais ligados ao povo Bantu. Tentam fazer afirmações no Brasil sem documentação e sem oralidade, objetivando confundir e destruir a história do nosso povo preto.
Falemos um pouco sobre Zumbi:
Segundo Décio Freitas, Zumbi nasceu em Palmares e foi seqüestrado por escravizadores brancos após ataque a comunidades quilombolas e ainda recém-nascido foi entregue ao Padre português Antônio Melo, da vila de Porto Calvo no atual estado de Alagoas, sendo batizado e recebido o nome de Francisco, aprendeu a falar o português e o latim, tornando-se coroinha aos 10 anos de idade, única referência encontrada da prática religiosa de Zumbi. Aos 15 anos de idade em 1670 fugiu para Palmares e voltou algumas vezes para visitar o Padre Antônio e trazer-lhe presentes porque o mesmo vivia em extrema miséria, segundo correspondências escritas pelo próprio Padre a um amigo da Vila de Porto Calvo. Fatos estes escrito unicamente por Décio e nenhum documento comprobatório.
"Ele teria sido vendido ao padre Antônio Melo, que o teria criado para ser coroinha. Aos 15 anos, no entanto, Zumbi teria fugido. "Essa é uma versão fantasiosa, mas não impossível", diz Flávio Gomes. "Décio jamais mostrou o documento em que apoiava essa biografia de Zumbi. E, além disso, ele ficou conhecido por romancear sistematicamente sua produção", diz Maestri".Reinaldo Lopes - Matéria publicada originalmente em História 27, novembro 2005.
Palmares iniciou-se no final do século XVI com um pequeno aglomerado de pretos escravizados fugitivos das fazendas de cana-de-açúcar e se internalizaram no interior do atual estado de Alagoas.
“Tudo indica que africanos do complexo angolano (região que englobava, além de Angola, uma parte do atual Congo) teriam tido um papel determinante em Palmares”, afirma Mário Maestri, do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Há, por exemplo, a tradição de que eles chamavam seu reduto de Angola Janga, ou "Angola Pequena". Se essa idéia estiver correta, o povo original de Palmares era composto, em grande parte, por gente do grupo lingüístico banto - um dos primeiros na África a desenvolver a agricultura, a criação de animais e o uso do ferro, tendo se expandido por boa parte de seu continente.
A Confederação dos Palmares foi formada por diversos quilombos e alguns dirigidos por mulheres guerreiras.
Palmares enfrentou guerras contra três nações europeias: portugueses, espanhóis e holandeses. Os palmarinos enfrentarem o poder da Igreja Católica e o poder dos protestantes reformados. Para explorar e destruir os palmarinos os brancos católicos e os brancos protestantes tinham a mesma opinião. Os protestantes pretos devem saber que os reformados holandeses negavam-se a batizar escravizados pretos que nada perderam com isso. Interessante se faz demonstrar o racismo calvinista imperante na Companhia das Índias Ocidentais dos holandeses, que após, daria forma ao apartheid na África do Sul e mantém até hoje a formação da Klux Klux Klan dentro dos USA.
A saga de Zumbi serve para entender que a liberdade deve ser conquistada a qualquer preço. Não foi nenhum branco que deu a liberdade aos pretos escravizados que formaram os quilombos e nenhum branco lutou para que Palmares continuasse livre. Zumbi e seus quilombolas servem como exemplo na diáspora e no pan-africanismo e o nosso povo nunca se abaixou para o colonizador e colonialista europeu. Reitero que nenhum historiador ou pseudo-historiador possa comprovar que na Pequena Angola houvesse a participação de brancos, sempre tentarão menosprezar a luta do povo preto na África e na diáspora. 
O exemplo dos palmarinos e milhares de quilombos destruídos nas Américas e milhares que ainda resistem no Brasil, o qual sou testemunha por ter feito o primeiro mapeamento no estado da Bahia, nos dão a certeza que a liberdade do povo preto é conquistada pelo povo preto e chega de influências eurocêntricas na nossa história.
Salve a memória de Zumbi, Ganga-Zumba, Ganga-Muiça, Ganga-Zona, Dandara, Acotirene, Aqualtune, Acaiúba, Toculo, Amaro, Andalaquituche, Dambrabanga, Subupira, Banga e tantas outras pretas e pretos quilombolas dos Palmares.

Consciência Negra sejam 365 dias ao ano!

sábado, 17 de novembro de 2007

DENMARK VESEY: Pastor Preto líder da Revolta em Charleston-USA em 1822.



Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com


Denmark Vesey era um pastor da igreja Metodista, um “preto bem sucedido”, com uma boa família, vivendo em uma confortável residência, dono do seu próprio negócio, contudo não compactuou com o sistema racista e escravista caucasiano, organizando uma das maiores insurreições pretas da história norte-americana. Nesse Novembro iremos homenageá-lo.
Denmark Vesey, originalmente chamado de Telemaque, nasceu por volta de 1767, na África ocidental, onde foi capturado e deportado para ilha de Santo Domingo. Em 1781, Telemaque, foi adquirido pelo capitão Joseph VESEY, na Ilha do Caribe, levado para Charleston, Carolina do Sul, onde Joseph o transportou juntamente com 390 escravizados para seu latifúndio de cana-de-açúcar, entretanto foi surpreendido por uma crise de epilepsia, então Joseph o pôs como escravizado doméstico, por mais de vinte anos.
Em 9 de novembro de 1799, Vesey ganhou US$ 1500 na loteria, comprou sua liberdade e abriu uma loja de carpintaria, onde era bastante habilidoso. Tornando-se assim um considerável empresário e conseguindo um patamar social bastante diferente dos demais pretos. Onde construiu uma confortável residência, com família bem estruturada e com negócios bastante promissores.
Embora anteriormente Presbiteriano, em 1816, Denmark juntamente com outros pretos livres fundou uma filial da Igreja Episcopal Metodista Africana, a qual foi incansavelmente perseguida por escravizadores brancos, chegando a ser fechada duas vezes no ano seguinte. Em 1820 a Igreja já contava com 3000 membros pretos, fazendo de Denmark um membro muito respeitado e rico na Comunidade.
Apesar da possibilidade de viver conforme o sistema racista e escravista branco, Denmark jamais abandonou seu povo. Sabia dos acontecimentos no Haiti e da Grande Insurreição de escravizados em 1791 que criou a primeira República Negra nas Américas e o segundo país livre no continente americano. O pastor Denmark viu este acontecimento no Haiti como exemplo a ser expandido na Carolina do Sul e a possibilidade de se fazer uma revolta objetivando a liberdade da escravidão dos pretos e de todo o Sul dos Estados Unidos, então começou nas suas pregações através do púlpito a citar versículos bíblicos encorajando os membros para lutarem pela emancipação, realizando missões nas plantações e nas ruas.
Muito Inteligentemente lia panfletos antiescravistas escritos por homens brancos à população preta. E com estes brancos discutia sobre a abolição trazendo a admiração da comunidade preta que o considerava um libertador.
A Igreja Metodista Episcopal Africana foi proibida e fechada quatros anos após sua fundação por escravizadores brancos, proibindo assim, o local de reunião e louvor da comunidade preta de Charleston que seguiam a fé metodista. O pastor Denmark Vesey visitou os membros das Igrejas e outros pretos convocando-os para a rebelião. Notando ele que era um momento oportuno para o grande levante na cidade de Charleston.


Em 1822, com um plano minuciosamente organizado, nomeou quatro tenentes: Ned e Rolla Bennett, escravizados do Governador da Carolina do Sul: Peter Poyas Bennett; um carpinteiro do navio; e Gullah Jack. Interessante se faz abrir um parêntese para perceber a origem do nome do Instituto Metodista Bennett no Rio de Janeiro, sobrenome do Governador Bennett, branco escravista que reprimiu com inúmeras mortes a liberdade de milhares de pretos e pretas.
Com um arsenal de armas, obtidas com os pretos Haitianos, Denmark e seus quatros tenentes reuniram cerca de 9000 homens pretos para a rebelião projetada para o dia 14 de julho, um domingo, dia fora do alcance de quaisquer suspeitas dos escravizadores brancos. Denmark não permitiu que os planos da insurreição fossem repartidos entre os escravizados domésticos, porque sabia que estes poderiam ser leais aos seus senhores. Entretanto o plano envolveu tantas pessoas pretas que alguns escravizados domésticos souberam dele, e o denunciaram antes de tê-lo posto em prática. Denmark tentou alterar o dia do levante mais não conseguiu, autoridades brancas já haviam tomado todas as áreas estratégicas do levante. Quando Denmark percebeu que o levante havia sido frustrado, queimou a lista dos participantes e os mandou retornar as suas casas. Contudo muitos sabiam da sua liderança e todos os líderes foram aprisionados. Embora o número de cerca de 9000 pretos revoltosos, apenas uma centena foi julgada, mesmo assim, configurou-se em um julgamento recorde.
Quando em juízo Denmark foi questionado porque mesmo sendo um preto livre, com ótimas condições financeiras, arriscou-se em uma revolta, ele respondeu não compactuar com o regime racista da escravidão, libertar seus irmãos e irmãs, pretos e pretas, ainda sob o julgo da escravidão, e libertar seus próprios filhos do titulo da escravidão.
Denmark e mais trinta e cinco pretos foram condenados à morte. No dia da sua execução, dia dois de julho, um enorme contingente de tropas federais foi chamado para conter uma grande manifestação de pretos e pretas contra o enforcamento do grande pastor Denmark Vesey.
O efeito imediato do enforcamento de Denmark foi a edição de leis pelos legisladores brancos que pioraram a condição da vida da população preta, restringindo a reunião de pessoas pretas e seu acesso aos portos.
O pastor Denmark Vesey como um verdadeiro militante pan-africanista tinha o apoio e a participação da sua família preta nas lutas, após o enforcamento a sua esposa Susan foi para a Liberia, o seu filho Sandy Vesey foi deportado para Cuba e o outro filho Robert Vesey conseguiu sobreviver e reconstruiu a Igreja Metodista Episcopal Africana em 1865.
O exemplo desse homem de Deus, um pastor metodista, nos leva a tê-lo como um expoente nas lutas libertárias. Não existe situação financeira estável e nem sucesso financeiro, enquanto o povo preto na diáspora estiver nesse sistema racista mundial. O pastor Denmark Vesey usou todos os recursos necessários e não esquecendo a sua origem africana e foi verdadeiramente compromissado, não se deixando enganar pelo sistema escravista. Não existe liberdade e nem riqueza enquanto todos os pretos e pretas não forem livres verdadeiramente.

sábado, 10 de novembro de 2007

Yaa Asantewaa: A Rainha Guerreira Ashanti


Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista 
Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com
 Skype: lindoebano
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Nesse Novembro Negro, hoje iremos discorrer sobre uma das poderosas mulheres pretas da Historia da África recente que empreendeu guerra contra o dominador europeu. As mulheres africanas sempre estiveram na direção de grandes reinos e prontas para o comando de seu povo, muitas dessas civilizações possuíam o modo de produção matrilinear.
Uma dessas mulheres foi Yaa Asantewaa, líder da última resistência realizada no século passado em território africano, diretamente contra o colonialismo britânico feito pela civilização Ashanti, uma confederação de reinos que se desenvolveu no sul de Gana nos séculos XVIII e XIX, tendo a sua capital na cidade de Kumasi, com edifícios feitos de terra, madeira e palha, que hoje são considerados patrimônios da humanidade.
Esta civilização originou-se dos Akan que criaram o Sankofa. O Sankofa é uma metáfora usada em Gana para simbolizar a necessidade de voltar para trás, para recuperar as coisas perdidas, demonstrando que sempre podemos retificar nossos erros; aprender do passado e construir alicerces para o futuro. Sankofa é olhar para trás, manter os pés no chão e direcionar os ombros para frente, buscando a melhoria individual intrínseca na melhoria coletiva. Em Akan existem duas palavras que estão relacionadas à família. A palavra "abusua" é um grupo de descendência corporativa, enquanto que a palavra "fifo" (literalmente pessoas de casa) significagrupo residencial, construindo as bases do Sankofa.
Símbolo do Sankofa

As mulheres africanas Ashantis escolhiam os líderes das aldeias e da civilização com um todo. O poder matrilinear estava instituído dentro do Direito Ashanti, bastante organizado, com regras de condutas consuetudinárias que determinavam o comportamento das relações comerciais, políticas, bélicas, familiares e principalmente políticas.


Os Ashantis desenvolveram dentro de seu arcabouço tecnológicos uma comunicação bastante eficiente, com duzentos quilômetros de alcance, através dos tambores fazendo a transformação do próprio idioma, incluindo acentos, vírgulas e demais estruturas gramaticais para sons em tambores.
Além da estrutura bélica bastante organizada e matrilinear, outra característica fantástica do povo Ashanti é a forma de organização da comunidade através de normas de conduta, ou seja: o Direito Ashanti. Grande parte das normas Ashanti, apesar de não estarem delimitas em normas literais, ainda são utilizadas em Gana, trazendo grande influência a doutrina jurídica daquele país.
Os Ashantis são sete milhões de pessoas, cerca de 30% da população atual de Gana e não devemos confundir com o Império da Gana que perdurou até o ano 1.200 d.C. Há pormenores interessantes nessa civilização, um equilíbrio no poder no que tange a matrilinearidade.
O Império britânico manteve em guerra a civilização Ashantis durante o período de cem anos. No final do século XIX o império britânico após aprisionar o herdeiro do reino Ashanti o Asantehene Prempeh enviou a capital Kumasi o Lord Hodgson, e mandaram um ultimato as lideranças objetivando conseguir o cetro dourado, símbolo da união, poder e soberania Ashanti e houve uma reunião com todos os chefes e nenhum deles contestou a exigência feita, demonstrando covardia perante o branco invasor .Então repentinamente Yaa Asantewaa Rainha -Mãe de Ejisu(1850-1921) levantou-se e falou:
- “Agora eu vejo que alguns de vocês temem ir adiante para lutar pelo nosso rei. E se fosse nos dias heróicos de Osei Tutu, Okomfo Anokye e Opoku Ware que foram chefes e não se sentariam para ver o seu rei ser levado para longe sem disparar uma bala, nenhum homem branco temeu falar para o líder dos Ashantis do jeito que o governador falou para o chefe de vocês hoje de manhã. É verdade que a bravura dos Ashantis acabou? Eu não poso acreditar. Isto não pode ser. Eu tenho que falar isto: Se você é um homem Ashanti e não for adiante , então nós iremos. Nós as mulheres iremos. Eu chamarei as minhas companheiras. Nos lutaremos contra o homem branco. Lutaremos até que a última de nós caia em campo de batalha.
Esta intervenção recobrou os ânimos dos guerreiros Ashantis para combater os homens brancos até que eles libertassem o Asantehene Prempeh. Durante meses os Ashantis foram liderados por Yaa Asantewaa que pela sua coragem e determinação manteve os ingleses no Forte. O exército inglês enviou mais soldados e com melhores armamentos invadiram a cidade de Kumasi. Yaa Asantewaa e outros líderes foram capturados e enviados ao exílio.
Yaa Asantewaa fez a última guerra liderada por uma mulher dentro do território africano para defender o seu povo do domínio branco e morreu longe de sua terra no ano de 1921 com 71 anos de idade.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

JOÃO CÂNDIDO O METODISTA


Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com


"As vozes murmuram nos ouvidos como se ainda estivéssemos com medo nas senzalas e não falamos em sons altos iguais aos tambores africanos, e mais um aniversário da Revolta da Chibata se completará, e o povo preto evangélico desse país está calado. As pretas e pretos deve repudiar as senzalas, não acreditar nas mentiras da Casa Grande e tomar atitudes quilombolas em busca da própria dignidade. Os brancos metodistas tentam esconder que João Cândido foi membro dessa denominação."

É inaceitável como às lideranças brancas evangélicas brasileiras dominantes nas igrejas, direcionam e ensinam o que a população preta nas igrejas protestantes deve ter como referência na história brasileira, colocando os heróis e heroínas pretas no esquecimento, negando as suas participações na história da igreja, pensando que não temos consciência histórica, nos tratando como se fossemos desprovidos de inteligência. Na verdade ainda não dominamos como deveríamos as cátedras das faculdades de teologia, não escrevemos os artigos das grandes revistas evangélicas, não opinamos na educação bíblica dominical e os pretos que estão perto do poder recebem migalhas e se dizem satisfeitos e nada farão pela maioria da população preta. Não temos liderança preta evangélica ou de outras religões. Não conheço nenhum preto ou preta que possa convocar 10% da população preta para uma caminhada, como fez o líder muçulmano Louis Farrakan nos USA que convocou 1 milhão de homens negros para marchar sobre Washigthon, em 16 de outubro de 1995. Especialistas da Universidade de Boston afirmam que o número de pessoas na Marcha de 1 Milhão de Homens foi de 870 mil pessoas, com margem de erro de 25% (de 655 mil a 1,1 milhão). Sendo assim, ainda estamos muito longe de unificar o nosso povo preto e entendermos as nossas dificuldades e deixarmos a ilusão de sermos estrelas e lideranças sem povo.
Conforme o último censo somos 15 milhões de pretas e pretos evangélicos, então 1% são 150 mil pessoas pretas que podem participar de uma caminhada, infelizmente, ainda não temos essa mobilização e nenhuma religião tem de tal amplitude, os evangélicos pretos organizados tomarão essa dianteria. Somos milhões amordaçados e com os olhos vendados. Em igrejas que possuem uma concepção mais aberta para as questões sociais, como é o caso da Igreja Metodista do Brasil a qual possui um grande ícone da luta contra a discriminação racial como o reverendo Sant Anna, e referenciais como a pastora Maria da Fé – Fezinha -, a Pastora Laiza, a irmã Diná, o antropólogo Rolf, entre tantos outros. Têm pastorais para atuarem contra a discriminação racial, as lutas são de muitas dificuldades e conforme o prof. metodista José Carlos Barbosa: A Igreja Metodista é a única denominação protestante que tem uma Pastoral de Combate ao Racismo,que, por outro lado, não tem apoio nem recursos humanos e financeiros para o seu funcionamento. É só para inglês ver.
Há alguns anos tenho conversado com o Sant`Anna e insistido sobre o reconhecimento de um dos maiores heróis pretos da história que foi o marinheiro João Cândido, e ainda não sei se somente a luta do Reverendo Antonio Sant Anna dentro do metodismo fará os metodistas reconhecer seriamente a importância desse homem preto que lutou pela dignidade dos marinheiros pretos e no final de sua dura vida morreu como um metodista. Está na hora de escrevermos e-mails para os bispos e bispas brancas metodistas cobrando o reconhecimento de João Cândido. As vozes murmuram nos ouvidos como se ainda estivéssemos com medo nas senzalas e não falamos em sons altos iguais aos tambores africanos, e mais um aniversário da Revolta da Chibata se completará, e o povo preto evangélico desse país está calado. As pretas e pretos deve repudiar as senzalas, não acreditar nas mentiras da Casa Grande e tomar atitudes quilombolas em busca da própria dignidade. Os brancos metodistas tentam esconder que João Cândido foi membro dessa denominação.
Vamos conhecer um pouco dessa história:
João Cândido Felisberto nasceu no município de Rio Grande no estado do Rio Grande do Sul, filho de João Cândido Velho e dona Inácia Felisberto, sendo seus pais ex-escravizados. Entra aos 14 anos de idade na escola de aprendizes de marinheiros no Rio Grande do Sul, conduzido pelo poderoso Almirante Alexandrino de Alencar, também gaúcho. Em 1895, com 15 de anos de idade, tornou-se marujo e no Rio de Janeiro embarcou no Cruzador Andrada. É transferido para o encouraçado Riachuelo e conheceu Montevidéu, Buenos Aires, e no pequeno navio Jutay visitou Belém e Manaus, quando em direção ao Acre em 1909 esteve em New Castle, na Inglaterra, se aprimorando nos conhecimentos do navio Minas Gerais. Aos 30 anos de idade em 22/11/1910 liderou 2 mil homens pretos na maior revolta armada em poder do fogo da história brasileira. O Brasil na época era possuidor dos mais poderosos navios de guerra, comprados na Inglaterra. Os oficiais eram oriundos das camadas poderosas da sociedade brasileira, filhos de cafeicultores, profissionais liberais, políticos. Os marinheiros eram meninos pretos, presos pela polícia nas ruas de diversas cidades brasileiras, habitantes dos quilombos urbanos.
Vai se reproduzir dentro dos navios uma relação antagônica entre o descendente do senhor colonial X descendente do escravizado. Feridas que até hoje não foram cicatrizadas na sociedade brasileira e estavam muitas abertas. Havia passado somente 22 anos da abolição da escravatura. É provável que alguns marinheiros tenham sido escravizados.
Homem com pouca alfabetização, mas muita criatividade e vivacidade, não tinham uma falangeta do dedo indicador na mão direita em virtude de uma computação traumática ao carregar um canhão. Esse peso do canhão contribuiu para que sua letra fosse defeituosa. Foi o primeiro marinheiro do mundo a comandar uma esquadra, com uniforme branco de praça, apenas com distintivo, um lenço de seda vermelho ao pescoço, um apito e uma velha espada de abordagem. Após a revolta, João Cândido, foi preso, internado, julgado e libertado aos 32 anos de idade, tuberculoso, totalmente desprovido de qualquer bem, foi lutar para ganhar o pão de cada dia, tendo uma vida dura e nunca alheia aos movimentos que ocorriam no Brasil, teve 03 esposas e diversos filhos. João Cândido, depois de Zumbi dos Palmares foi um dos mais importantes pretos na história de resistência do nosso povo no Brasil. Foi um homem de extrema sensibilidade e fé, um servo de Yeshua o aceitando como Salvador pessoal na Igreja Metodista de Jardim América-RJ e por causa da doença e idade freqüentava a Igreja Metodista de São João de Meriti-RJ. Vindo a falecer no dia 06 de novembro de 1969 na cidade do Rio de Janeiro, com o ofício fúnebre sendo realizado pelo Reverendo Metodista Lucas Mazon.

sábado, 3 de novembro de 2007

Nat Turner o Profeta-Guerreiro: Líder da Insurreição Escrava na Virginia.


Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com



No mês de novembro através do nosso blogger, com média 51 visitas diárias, o CNNC/Ba (Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos da Bahia) homenageará diversos homens e mulheres que lutaram pela liberdade do povo negro. A nossa concepção panafricanista é que todos e todas que lutaram na África e na diáspora são exemplos de resistência na história do nosso povo independente onde estejamos. É o Novembro Negro onde os nossos leitores (as) conhecerão a biografia de eminentes defensores (as) do passado e do presente que dedicaram e dedicam a sua vida no combate ao racismo e procuram caminhos reais de liberdade.

O nosso primeiro homenageado será o profeta batista Nat, que teve o sobrenome do escravizador Benjamin Turner. Nat Turner nasceu em 02 de outubro de 1800 em Southampton County- Virginia –USA, Sua mãe e avó haviam sido seqüestradas da África e escravizadas, e possuíam um profundo ódio a escravidão.
Nat Turner era apenas um garoto quando as pessoas o ouviram descrever acontecimentos que haviam ocorrido antes do seu nascimento e foi considerado um profeta e tornou - se profundamente religioso. Nat aprendeu ler e escrever ainda na tenra idade, considerado extremamente inteligente, tendo recebido da sua mãe uma revelação sobre a sua função na comunidade, especialmente pelas marcas na cabeça e no peito que possuía. A sua mãe o ensinou a combater a escravidão, ai vemos a função da família negra como mentoras da liberdade. O exemplo da avó e mãe de Nat nos ensina que no processo educativo familiar primeiro é necessário liberta-se da escravidão mental a qual fomos submetidos. Em toda a escravidão tentaram programar e introjetar pela educação deformada e a religião sem libertação o medo, influenciando o subconsciente da população escravizada que não deveria resistir e hoje continuam com os meios de comunicação na diáspora, especialmente nos evangélicos brasileiros, mas, a cada dia irmãs e irmãos de diversas denominações e muitos pastores e pastoras já não aceitam mais o racismo e estão se organizando em todo o país.
Nat estava a todo o momento lendo histórias da Bíblia e era um fervoroso crente sempre orando e jejuando. Acreditava no batismo do Espírito Santo e que poderia ter um relacionamento direto com Deus e tinha o dom das visões, comum à comunidade preta na África e na diáspora, independente de credo religioso, realidade não entendida pelo racionalismo ocidental que tenta explicar o inexplicável e coloca Deus como inacessível a humanidade. Deus está e sempre esteve e estará presente direcionando os caminhos do povo preto.
Já na idade adulta tornou-se um pregador batista e acreditava que Deus o chamou para libertar o seu povo da escravidão. No seu relacionamento direto com Deus por meio de orações e jejuns compreendeu que deveria combater a opressão do seu povo a todo o custo e entendeu que a escravidão era obra do Satanás e os escravizadores não estavam a serviço do Eterno.
Nas suas pregações admoestou um branco chamado Etheldred T. Brantley que ficou doente e foi curado após nove dias pelas orações de Nat. Teve como auxiliares diretos 04 escravizados também batistas: Henry, Hark, Nelson e Sam.
Foram três visões que marcaram profundamente a sua vida. A primeira ocorreu em 1821 após fugir para a floresta e passar trinta dias; a segunda visão ocorreu em 1825 quando viu luzes no céu e gotas de sangue como orvalho caindo na plantação do milho e em 12 de maio de 1828 teve a terceira visão quando o Espírito Santo o mandou lutar contra Satanás que escravizava o seu povo e um sinal do céu seria dado para começar a rebelião. Em 1831, foi vendido a Joseph Travis e em fevereiro do mesmo ano um eclipse do Sol foi entendido por Turner como um sinal divino para que iniciasse a revolta e com mais 04 escravizados planejaram o ataque para 04 de julho dia da independência dos Usa, mas caiu doente e o ataque teve que ser adiado. Em 21 de agosto, ele e mais sete outros escravos mataram Joseph Travis e sua família e deram início a uma rebelião que resultou em 55 brancos mortos.
Porém, ao contrário da insurreição maciça de escravizados que esperava desencadear, somente 75 juntaram-se a ele. A resposta dos escravizadores brancos, no entanto, foi extrema: 3000 homens da guarda estadual foram enviados para abafar a insurreição, o que rapidamente conseguiram. Seguiu-se o massacre de quase 200 escravizados e até na Carolina do Norte bem distante da Virginia posteriormente houve execuções dos que não haviam participado da insurreição pela liberdade. A rebelião terminou quando as milícias começaram a perseguir Nat e os outros escravizados, sendo capturados quinze guerreiros e imediatamente enforcados. Nat escapou e escondeu-se por cerca de seis semanas até que foi preso em 05 de novembro e executado em 11 de novembro de 1831, sendo decapitado e esquartejado e alguns brancos que por sinal eram cristãos guardaram partes do seu corpo como recordação.
Livros e filmes foram feitos sobre Nat Turner: “As Confissões de Nat Turner”, um romance de William Styron ganhou o Prêmio Pulitzer de Ficção em 1968. Este livro teve grande aclamação crítica e popular, mas vários criticos da comunidade preta o considerou racista.
Nat Turner: A Troublesome Property, um filme de Charles Burnett, foi lançado em 2003.
Sua "confissão", ditada para Thomas R. Gray, foi tomada quando estava detido na prisão: http://www.melanet.com/nat/nat.html
Nat Turner deixou-nos uma lição de luta contra a escravidão e a sua vida de fé demonstrou que a oração e jejum lhe deram forças e coragem para enfrentar os escravizadores. Sabia através da leitura bíblica que Deus não aceita a discriminação e a opressão do homem pelo homem e no dia 11 de novembro contemos para as nossas crianças a história do homem de Deus, o pregador batista Nat Turner que como Zumbi dos Palmares lutou pela liberdade.

PRETAS POESIAS

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Poemas de amor ao povo preto: https://www.facebook.com/PretasPoesias