Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com
Denmark Vesey era um pastor da igreja Metodista, um “preto bem sucedido”, com uma boa família, vivendo em uma confortável residência, dono do seu próprio negócio, contudo não compactuou com o sistema racista e escravista caucasiano, organizando uma das maiores insurreições pretas da história norte-americana. Nesse Novembro iremos homenageá-lo.
Denmark Vesey, originalmente chamado de Telemaque, nasceu por volta de 1767, na África ocidental, onde foi capturado e deportado para ilha de Santo Domingo. Em 1781, Telemaque, foi adquirido pelo capitão Joseph VESEY, na Ilha do Caribe, levado para Charleston, Carolina do Sul, onde Joseph o transportou juntamente com 390 escravizados para seu latifúndio de cana-de-açúcar, entretanto foi surpreendido por uma crise de epilepsia, então Joseph o pôs como escravizado doméstico, por mais de vinte anos.
Em 9 de novembro de 1799, Vesey ganhou US$ 1500 na loteria, comprou sua liberdade e abriu uma loja de carpintaria, onde era bastante habilidoso. Tornando-se assim um considerável empresário e conseguindo um patamar social bastante diferente dos demais pretos. Onde construiu uma confortável residência, com família bem estruturada e com negócios bastante promissores.
Embora anteriormente Presbiteriano, em 1816, Denmark juntamente com outros pretos livres fundou uma filial da Igreja Episcopal Metodista Africana, a qual foi incansavelmente perseguida por escravizadores brancos, chegando a ser fechada duas vezes no ano seguinte. Em 1820 a Igreja já contava com 3000 membros pretos, fazendo de Denmark um membro muito respeitado e rico na Comunidade.
Apesar da possibilidade de viver conforme o sistema racista e escravista branco, Denmark jamais abandonou seu povo. Sabia dos acontecimentos no Haiti e da Grande Insurreição de escravizados em 1791 que criou a primeira República Negra nas Américas e o segundo país livre no continente americano. O pastor Denmark viu este acontecimento no Haiti como exemplo a ser expandido na Carolina do Sul e a possibilidade de se fazer uma revolta objetivando a liberdade da escravidão dos pretos e de todo o Sul dos Estados Unidos, então começou nas suas pregações através do púlpito a citar versículos bíblicos encorajando os membros para lutarem pela emancipação, realizando missões nas plantações e nas ruas.
Muito Inteligentemente lia panfletos antiescravistas escritos por homens brancos à população preta. E com estes brancos discutia sobre a abolição trazendo a admiração da comunidade preta que o considerava um libertador.
A Igreja Metodista Episcopal Africana foi proibida e fechada quatros anos após sua fundação por escravizadores brancos, proibindo assim, o local de reunião e louvor da comunidade preta de Charleston que seguiam a fé metodista. O pastor Denmark Vesey visitou os membros das Igrejas e outros pretos convocando-os para a rebelião. Notando ele que era um momento oportuno para o grande levante na cidade de Charleston.
Em 1822, com um plano minuciosamente organizado, nomeou quatro tenentes: Ned e Rolla Bennett, escravizados do Governador da Carolina do Sul: Peter Poyas Bennett; um carpinteiro do navio; e Gullah Jack. Interessante se faz abrir um parêntese para perceber a origem do nome do Instituto Metodista Bennett no Rio de Janeiro, sobrenome do Governador Bennett, branco escravista que reprimiu com inúmeras mortes a liberdade de milhares de pretos e pretas.
Com um arsenal de armas, obtidas com os pretos Haitianos, Denmark e seus quatros tenentes reuniram cerca de 9000 homens pretos para a rebelião projetada para o dia 14 de julho, um domingo, dia fora do alcance de quaisquer suspeitas dos escravizadores brancos. Denmark não permitiu que os planos da insurreição fossem repartidos entre os escravizados domésticos, porque sabia que estes poderiam ser leais aos seus senhores. Entretanto o plano envolveu tantas pessoas pretas que alguns escravizados domésticos souberam dele, e o denunciaram antes de tê-lo posto em prática. Denmark tentou alterar o dia do levante mais não conseguiu, autoridades brancas já haviam tomado todas as áreas estratégicas do levante. Quando Denmark percebeu que o levante havia sido frustrado, queimou a lista dos participantes e os mandou retornar as suas casas. Contudo muitos sabiam da sua liderança e todos os líderes foram aprisionados. Embora o número de cerca de 9000 pretos revoltosos, apenas uma centena foi julgada, mesmo assim, configurou-se em um julgamento recorde.
Quando em juízo Denmark foi questionado porque mesmo sendo um preto livre, com ótimas condições financeiras, arriscou-se em uma revolta, ele respondeu não compactuar com o regime racista da escravidão, libertar seus irmãos e irmãs, pretos e pretas, ainda sob o julgo da escravidão, e libertar seus próprios filhos do titulo da escravidão.
Denmark e mais trinta e cinco pretos foram condenados à morte. No dia da sua execução, dia dois de julho, um enorme contingente de tropas federais foi chamado para conter uma grande manifestação de pretos e pretas contra o enforcamento do grande pastor Denmark Vesey.
O efeito imediato do enforcamento de Denmark foi a edição de leis pelos legisladores brancos que pioraram a condição da vida da população preta, restringindo a reunião de pessoas pretas e seu acesso aos portos.
O exemplo desse homem de Deus, um pastor metodista, nos leva a tê-lo como um expoente nas lutas libertárias. Não existe situação financeira estável e nem sucesso financeiro, enquanto o povo preto na diáspora estiver nesse sistema racista mundial. O pastor Denmark Vesey usou todos os recursos necessários e não esquecendo a sua origem africana e foi verdadeiramente compromissado, não se deixando enganar pelo sistema escravista. Não existe liberdade e nem riqueza enquanto todos os pretos e pretas não forem livres verdadeiramente.
Um comentário:
ol� interessante o site como um todo, n�o conhecia. Gostaria de agradecer pelos artigos que possuem um excelente conte�do hist�rico al�m de outras dimens�es do saber humano. Contudo, gostaria de ter averiguada a informa�o sobre o instituto metodista Bennett, o qual estudo teologia, sendo inclusive metodista. Associar o sobrenome Bennett, muito comum nos USA a este senhor espec�fico que se beneficiava diretamente das vendas de escravos n�o me parece coerente. Sem mais, abra�os a todos.
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