domingo, 13 de abril de 2008

Martin Luther King, Jeremiah Wright e Barack Obama – Profecia e Esperança


Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com

No fundo, tanto a segregação nos Estados Unidos quanto o colonialismo na África foram baseados na mesma coisa: superioridade branca e desprezo pela vida.
Martin Luther King Jr.

Existe toda uma mídia contra os militantes pretos que falam a verdade, e agem com voz profética para dirimir as dúvidas do grande engodo mundial que estamos próximos a era do aquário, e todos viverão bem e o racismo já é uma falácia e caminhamos para uma grande superação. Barack Obama traz em muito de suas falas uma nova concepção de paz e crescimento dentro dos USA para todas as cores epiteliais, usando o exemplo de sua ancestralidade, filho de um preto africano do Quênia e de uma branca norte-americana criado com uma avó branca, e é casado com uma mulher preta. Na sua concepção o discurso antigo não deve ser repetido como se entrássemos em uma área de aquários. Obama referindo à comunidade branca disse:
-“Na comunidade branca, o caminho para uma união mais perfeita significa reconhecer que os problemas da comunidade negra não existem apenas na cabeça dos negros; que o legado da discriminação --e incidentes atuais de discriminação, embora menos escancarados do que no passado-- existe e precisa ser corrigido. E não apenas com palavras, mas por meio de fatos --investimento em nossas escolas e comunidades, defesa dos direitos civis e de julgamento justo nos tribunais criminais...”
Seu pastor Jeremiah Wrigth em discursos proféticos alertou que os ataques terroristas de 11 de novembro foram às conseqüências das práticas genocidas da América contra os palestinos, na África do Sul sendo vítima do seu próprio terrorismo. Defensor e praticante da Teologia Negra de Libertação, o reverendo mostrou que nem tudo que reluz é ouro e em dezenas de sermões alertou a realidade de uma América racista. A grande censura ao Reverendo Jeremiah é porque ele é um afrocentrado, um defensor da família preta e não um eurocêntrico.
A mídia atacou Obama por ser membro de uma igreja afrocentrada e ter por pastor um militante preto. E foi um momento impar para atacar as igrejas pretas nos USA e a Teologia Negra. Obama teve que retrucar, mas, ele sabe que o seu pastor não mentiu e sabemos nós que caso ele seja escolhido e venha a ganhar a presidência os USA continuarão com a sua política imperialista no mundo através dele. Qualquer presidente dos USA representará os interesses de dominação mundial, independente de cor epitelial.
O sermão não agradou aos brancos e nem os pretos que acham que os problemas foram superados, não somente nos USA; também no Brasil. Os que concordaram com o reverendo são considerados radicais, anticristãos e procurando problemas onde não existe. O racismo acabou! Dizem eles, ou está em fase de superação. Por que colocar sal e vinagre nas feridas que já estão fechadas? Nos dizeres de Barack Obama:
- “Mas asseverei minha forme convicção --enraizada em minha fé em Deus e no povo dos Estados Unidos-- de que trabalhando juntos seremos capazes de curar algumas de nossas velhas feridas raciais, e que de fato não nos resta escolha se desejamos continuar no caminho de uma união mais perfeita”.
Novamente a vítima se torna algoz e nós, povo preto, fazemos o impossível “Racismo ao contrário”. Nós somos os culpados da escravidão. Nós somos os culpados da pobreza. Nós somos os culpados da violência. Nós, e somente nós, somos os culpados de nossas mazelas. Nós que escolhemos viver uma vida subumana nas periferias e guetos. Nós e nós. Nada eles fizeram. Nós fizemos tudo e hoje teríamos que sorrir e viver felizes agradecendo aos descendentes dos que seqüestraram os nossos ancestrais as migalhas atiradas ao chão. Nós que não queremos aprovar o “Estatuto de Igualdade Racial”. “Nós” que votamos em partidos como o DEM que quer acabar com a migalha das cotas e do Prouni. Nós e Nós somos mal agradecidos porque recusamos a esquecer o passado de violência e o presente de exclusão.
A grande questão é que o Afrocentrismo tem demonstrado o bem civilizatório das populações pretas no planeta, a amorosidade, a criação de todas as tecnologias e ciências. Não foram os povos pretos que jogaram bombas atômicas e invadiram territórios equilibrados para escravizar e se apropriar de riquezas de outrem; e as nações caucasianas e aliadas tentam destruir o planeta com a destruição da biodiversidade como se daqui não fizessem parte.
Há 40 anos ocorreu o assassinato de Martin Luther King Jr, um dos maiores líderes pretos contemporâneos. Ainda hoje, suas frases são repetidamente citadas por membros de diversas religiões, cores epiteliais e filosofias distintas. Na campanha presidencial nos USA é um referencial aos candidatos democratas, especialmente Barack Obama.
Dentro da história e militância preta há aqueles que admiram o método integracionista e pacifista usado por ele, outros discordaram. Independente dos posicionamentos, Martin Luther King Jr incomodou a América Branca e se tornou exemplo de dedicação e luta para o povo preto em todo o mundo.

No Brasil, as Igrejas pouco falam e se omitem sobre a vida de King. Posso afirmar, pois, cresci em igreja protestante e nunca ouvi em sermões dos pastores pretos e brancos nada sobre a luta deste pastor nos USA, nem de colegas de seminário. Na verdade, os pastores pretos foram bem domesticados por missionários dos USA e por pastores brancos brasileiros que não aceitam a realidade de discriminação racial na sociedade brasileira. A conseqüência é não desejarem conhecer a vida de King para o não comprometimento com a questão racial que assola ao Brasil. Omitir e não comentar nas igrejas é não se envolver com a luta da justiça entre todos os homens e mulheres. No dia 04 de abril li diversos jornais online de denominações protestantes e nada encontrei. Por que será que os grandes meios de comunicação protestante brasileiro omitem Martin Luther King? Por que as faculdades de teologia e seminários não organizaram semanas para discutir o seu legado? Por que os Colégios protestantes não fizeram gincanas de solidariedade inspirados sobre a sua vida? Por que a juventude preta de todas as igrejas o ignora?
- Omissão e descompromisso com a realidade de 15 milhões de pretas e pretos no Brasil, covardia dos pastores pretos e pretas protestantes em lutar contra o racismo nesse país e a denunciar dentro de suas igrejas e estruturas denominacionais a situação de prisão mental que vive a comunidade preta.
- Repetidores e repetidoras de teologias dogmáticas escravizadoras, anunciadores de céu e inferno, descompromissados com o bem comum do seu povo tornando-se embaixadores e embaixatrizes dos mais estranhos interesses de teologias caucasianas
Para a meditação de Bispos, Bispas, pastores, pastoras, presbíteros, presbíteras, diáconos, diaconisas, missionários, missionárias, obreiros e obreiras deixo-vos duas frases de Martin Luther King Jr:
- Não há nada mais trágico neste mundo do que saber o que é certo e não fazê-lo. Não posso ficar no meio de todas essas maldades sem tomar uma atitude.
- Por mais que eu deteste a violência, existe uma mal pior do que a violência: a covardia.
Na sua época Martin Luther King Jr. foi um radical e após 40 anos de sua morte ele é um símbolo da paz e fratrernidade para brancos e negros. Grande inspiração para Obama. Mas, esse simbolismo de paz na concepção de muitos brancos é que a população preta aceite passivamente as poucas reformas que o poder branco oferece, isso faz com que o sonho de Martin Luther King tenha se transformado um pesadelo, discorro sobre esse sonho-pesadelo no livro que lançarei ainda este mês: Afro-Reflexões.
Na campanha presidencial dos USA a mídia caucasiana ataca veementemente o Reverendo Jeremiah Wrigth porque afirmou que as feridas feitas pela escravidão, pelas racistas leis do Jim Crow e da atual exclusão da população preta estavam abertas. Palavras verdadeiras incomodam e ele seguidor de Yeshua que não se conformou com a situação de exploração do poder romano e da covardia dos sacerdotes, os chama de “raça de víboras e sepulcros caiados”.
E nas palavras de Barack Obama:
-“Não posso renegá-lo porque não posso renegar a comunidade negra”
Refletindo o anseio maior dentro da comunidade preta: as palavras do Reverendo Jeremiah Wright. O discurso não podia ser diferente como líder religioso experiente e comprometido com a população preta, ele tinha duas opções: omitir-se, esquecer os ensinamentos africanos de Yeshua e renegar seu povo ou alertar a sua igreja sobre as grandes mentiras preparadas para a comunidade preta nos USA, fazê-la enxergar a situação atual de 25% da sua população atrás das grades, dos problemas do Furucão Katrina, que para muitos pretos americanos foi um atentado, pela segregação racial ainda vigente, pela pobreza , drogas, Aids e todos os males que afetam os pretos e pretas. Ele tinha que ser um profeta ou um sacerdote. Ele optou para ser um profeta e denunciar as mazelas da sociedade racista da America. O profeta é aquele que está acima da instiutição religiosa e se preocupa em denunciar a verdade e isso o Reverendo Jeremiah fez e com muita praticidade; amigo de Farrankhan e com sua concepção panafricanista consegue superar as diferenças religiosas em prol do desenvolvimento e da verdadeira liberdade; colocou o poder americano em cheque-mate e podemos concluir que todos os questionamentos do reverendo Jeremiah demonstra que após 40 anos da morte de King; os brancos não permitem que as crianças dêem as mãos e subam fraternalmente as montanhas da Georgia.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

A GRANDE NANNY QUILOMBOLA - A MÃE DA JAMAICA

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com


Introdução
Ministrando aulas aos estudantes sempre reitero as mentiras dos livros didáticos, ratificando que todo o cuidado é pouco com a história oficial escrita, pois foi organizada para atender as elites brancas desse país. Alguns desses aspectos são interessantes: a omissão da resistência do povo preto ao lado da negação da formação civilizatória africana com todas as suas conseqüências e a fixação de explicar toda a história somente através das lutas de classes onde o povo preto é colocado como mais um entre os explorados aonde a concepção classista torna-se reducionista negando a problemática racial.
Infelizmente a maioria de educadores e educadoras de colorações epiteliais cheias de melanina é descompromissada com a descoberta da verdade, meros repetidores dos ensinamentos eurocêntricos e de professores oriundos da classe dominante que ridicularizam as resistências africanas e na diáspora. Cabe a nós, povo preto, o dever de desmitificar a história e suas linguagens que servem para escravizar e manter os afro-diásporicos com sentimentos de inferioridade. Cabe a você irmão e irmã a responsabilidade também da procura das verdades escondidas e perfazer o legado roubado do povo preto no mundo.
A reconstrução desse legado tem nas mulheres pretas grandes exemplos, senão os maiores, estas que são as mais belas do planeta e foram os ícones e representações de deidades nos primórdios civilizatórios em todos os anais da história mundial. Necessário é ressaltar que ao nos defrontarmos com os estudos afrocentrado, notamos que não é mera mudança semântica ou simplesmente a criação de mais um ismo, no devir histórico o Afrocentrismo, mas, a verdade que se revela por si mesma e nestas revelações afrocêntricas a cada dia a presença da mulher preta no desenvolvimento da humanidade, na quebra de paradigmas veiculados pelo eurocêntrismo baseadas na meia-verdade e na divulgação de machismos e achismos, na construção de uma história machista e branca onde a mulher é colocada como coadjuvante e simples ventre reprodutor, as recentes descobertas de escavações em todo o planeta de civilizações pretas comprovam poderosas civilizações matrilineares e matriarcais. Não se pode falar em Afrocentrismo e Panafricanismo sem resgatar a participação das nossas ancestrais como grandes líderes em terras afro-asiáticas e nas lutas de libertação na escravidão, na formação de identidades étnico-culturais e de novas nacionalidades na diáspora. Continuo afirmando que a concepção da não participação das mulheres nas decisões são concepções ocidentais e machistas. Ainda hoje o poder matriarcal é exercido em cultos de origem africana em muitos locais da diáspora representando através do simbolismo diferenças profundas do poder patriarcal ocidental e branco, onde as mulheres não passam de simples auxiliadoras.


A Grande Nanny
A Jamaica um país que é pouco conhecido no Brasil especialmente pela sua localização geográfica - terceira ilha em extensão no Caribe, menor do que Cuba e Hispanhola - e também da diferença lingüística. A maioria da população brasileira quando se fala em Jamaica entende como se fosse somente terra do reggae e de Bob Marley, desconhecendo a história da resistência dos pretos e das pretas jamaicanas.
A história da resistência dos pretos jamaicanos inicia com os primeiros seqüestrados do continente africano que fugiram dos navios em 1512 e se embrenharam nas florestas jamaicanas, iniciando o movimento de resistência “maroon”, em língua portuguesa é conhecido como mocambo, quilombo ou cafundó. A população jamaicana tem na pessoa da Grande Nanny, mulher preta e guerreira, seu maior ícone nacional, maior do que Zumbi dos Palmares no Brasil, ao passo que este fora incluído como herói nacional do povo preto somente nas últimas décadas por lutas do Movimento Negro, não sendo ainda consensual para as elites brancas brasileiras a sua inclusão, assim elas o fazem para não modificar a sua história embranquecida, omitindo a resistência do povo preto e a desqualificando, incorrendo no meu protesto e desabafo nos artigos escritos neste blogger: BRANCOS QUILOMBOLAS EM PALMARES: ROMANTISMO E MENTIRAS! e É NECESSÁRIO RESPEITAR NOSSAS MEMÓRIAS - QUILOMBOS E CRISTÃOS-NOVOS NO BRASIL NUNCA FORAM ALIADOS.
Fatos estes não ocorridos com Nanny: A Rainha Preta da Jamaica. Esta guerreira africana provavelmente nasceu entre os povos ashanti e veio de uma família nobre de guerreiras africanas, no nosso blogger discorremos sobre outra guerreira ashanti que convocou os homens para a guerra contra o invasor europeu, após os mesmos terem se acovardado: YAA ASANTEWAA: A RAINHA GUERREIRA ASHANTI e AS GUERRREIRAS DO DAOMÉ- A RESISTÊNCIA DA MULHER AFRICANA CONTRA O INVASOR FRANCÊS
Os documentos históricos sobre Nanny relatam a sua presença, conforme Deborah Gabriel, somente quatro vezes e de formas depreciativas, evidente que os documentos foram escritos pelos escravizadores britânicos. O seu nascimento ocorreu provavelmente em 1680 no povo Ashanti e a sua morte data de 1730, foi casada com Adou e não teve filhos. Em alguns relatos históricos Nanny não aceitou a escravização e quando desembarcou liderou a fuga e com mais cinco irmãos foram para as montanhas azuis e fundou a Nanny Town, liderando a guerra contra os britânicos por quase 50 anos.
A opressão dos escravizados na Jamaica na plantação da cana-de–açúcar transformou essa ilha como um dos maiores exportadores.

As revoltas dos quilombolas jamaicanos (marrons) foram intensas de 1655 até 1830, com um suporte religioso considerável de práticas africanas ancestrais, de respeito a memórias dos antepassados, perfazendo um grau elevadíssimo de auto-estima em ser africano em uma diáspora forçada. Os escravizados africanos na Jamaica são considerados por alguns historiadores como grandes revoltosos.
A luta de Nanny e sua liderança dos marrons foram de enfrentamento ao exército britânico baseada em confrontos de estratégia de guerrilhas, facilitadas por causa das cidades marrons situadas nos altos de montanhas como o caso de Nanny Town. Nanny era uma líder espiritual, uma zeladora do Obeah, religião de matriz africana praticada na Jamaica. O Obeah é também praticado em Suriname, Jamaica, Ilhas Virgens, Trinidad e Tobago, Guiana, Belize, Bahamas, St. Vicente e Granada, Barbados e em muitos outros países do Caribe. A religião dava forças nas lutas dos marrons contra representantes de uma religião européia deformada que escravizava e tirava a dignidade da liberdade. Nanny foi uma conhecedora das ervas e uma líder nata que dava aos guerreiros e guerreiras confiança que poderiam viver livres e vencer o inimigo.
No ano de 1994 o estado jamaicano homenageia Nanny com uma nota de 500 dólares jamaicanos. No Brasil o grande líder Zumbi nunca foi homenageado em nenhuma cédula nacional, porque para as elites e sua historiografia ele foi simplesmente um escravizado revoltoso e não é interessante o estado corroborar histórias de pretos e pretas que lutaram pela liberdade. Inclusive é espantoso que na cidade de Salvador o dia 20 de novembro ainda não seja feriado municipal, e é o momento político que nas próximas eleições municipais tenhamos Olívia Santana e Luís Alberto para candidatos a prefeito da cidade mais preta desse país.

A grande Nanny é um dos exemplos de resistência que devemos ensinar para as nossas crianças e para nossa militância. A rainha Nanny não é um exemplo somente para a Jamaica e sim de toda a Afro-América e continua através da oralidade mantendo viva a chama da liberdade.

sábado, 5 de abril de 2008

DIFERENÇAS DE EVANGÉLICO PARA PROTESTANTE


Osvaldo Freitas de Oliveira Júnior, Bacharel em Teologia e Pós-graduando em Teologia e Cultura pela Faculdade Batista Brasileira.

INTRODUÇÃO
Hoje é comum se ver discursos e associação do termo protestante ao termo evangélico, o qual historicamente não seria de todos errado, se não fosse pelo fato da maioria esmagadora das igrejas intituladas evangélicas atualmente terem abandonado e até mesmo estarem se opondo aos princípios das primeiras igrejas assim intituladas.
As primeiras igrejas que estavam associadas ao titulo Evangélico foram as igrejas surgidas com a Reforma e que tinha como pilares os seguintes dizeres: Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Soli Deo Gloria, Solus Christus.
Esses princípios da Reforma foram esquecidos e distorcidos pelos movimentos e igrejas modernas que se tornaram espécies de “fast-foods” para alma, como suas “orações de Jabez” e “fortes”, promessas, “correntes”, campanhas -algumas que chegam a propor “desafios a Deus”; e objetos milagrosos, bem como o resgate do xamanismo e animismo.
Não estou querendo defender um anacronismo e um padrão frio e contrário a presença da emoção, alegria ou prazer na celebração, missa ou como quer queiram chamar o culto, mas sim, um resgate aos princípios esquecidos que caracterizaram a Reforma e o Protestantismo.
Para tanto se faz necessário explicar e comentar os pilares mencionados anteriormente, para que vejamos o quão distante das primeiras igrejas da Reforma, a maioria das igrejas atuais, se encontra a ponto de podermos considerar a titulação evangélica como algo diferente e não sinônimo de protestante.

Sola Scriptura
Somente a escritura – pilar que afirmava que a Bíblia era a fonte de Revelação suprema para as comunidades cristãs, que não deveria ser permitido à Igreja fazer doutrinas fora dela, ainda que baseadas em supostas revelações pneumáticas.
Diferente de alguns que são cessacionistas – que crêem no cessar dos dons ou carismas espirituais; não iremos “decretar” o fim dos mesmos, mas que toda e qualquer experiência de um cristão deve ser submetida e julgada a luz da Bíblia e não aceitas apenas por considerá-las como experiências tidas como a relação com o poder e ou próprio Deus. Mas, hoje na prática o que acontece é que tudo o que se é pneumaticamente revelado, ainda que contrário e ou não fundamentado na Bíblia, é aceito e tomado como verdade dentro das igrejas. Não se faz mais uma análise do que foi dito ou supostamente revelado como no exemplo bíblico que temos da igreja de Tessalônica, que analisava a luz das Escrituras tudo o que buscavam ensiná-los, nem dos fenômenos atribuídos ao Espírito Santo.
Pois isso é comum vermos hoje a busca e a retomada da figura do profeta nas igrejas, mas diferentes dos da Bíblia não pelo seu lado denunciador dos erros da igreja e da sociedade religiosa, mas pelo lado da vidência, tornado os que são tidos como profetas em verdadeiros guias e gurus espirituais, dentro das comunidades cristãs.

Sola Gratia
Somente a Graça, afirmava e baseava-se nos ensinamentos de Paulo que a salvação é resultado da ação da graça de Deus. E é neste ponto hoje que vemos discussões e retomada de idéias que iam contra a dos reformadores que tinham nesse tocante ao principio monergístico da regeneração.
Faz-se necessário então explicarmos e falarmos um pouco mais sobre essa forma de entendimento da regeneração do homem, que se baseia na totalidade da salvação creditada e promovida unicamente por Deus através da ação do Espírito Santo, sem interferência ou merecimento humano, que não possui inclinação ao bem ou santidade até ser regenerado, portanto não podendo ser cooperador do processo de regeneração e salvação. Tendo-se, portanto, um processo e visão teocêntricos da salvação.
Atualmente no meio evangélico tornou-se difundida a idéia contraria a esse princípio, predominando as idéias de regeneração sinergística, na qual o homem é cooperador de Deus no processo de salvação, considerando que o homem contém algo aproveitável e bom mesmo após a queda que lhe possibilita alcançar e ou ser merecedor da salvação. Então diferente do primeiro, o processo sinergístico apresenta um processo e visão antropocêntrica da salvação.

Sola Fide
Somente a fé, principio que está intrinsecamente ligado aos princípios monergísticos. A fé é fruto da ação da graça de Deus no homem que vai anular o pecado da incredulidade e proporcionar então a salvação, assim se harmonizando com os dizeres de Paulo, que a salvação vem por meio da fé e não por obras humanas, para que nós humanos venhamos nos gloriar pela obtenção da mesma. Assim, podemos afirmar que para os reformadores e Paulo, não existia nada que o homem pudesse fazer que lhe permitisse a apropriação da salvação.
É comum nos discursos atuais a disseminação da idéia de que o homem pode rejeitar a graça de Deus, e, por conseguinte a salvação, ou que a recebe como prêmio de suas obras, idéias essas que são contrarias as proposições dos reformadores.
Alguns evangélicos baseados na epístola de Tiago alegam que o mesmo coloca as obras como instrumento de salvação, desconsiderando o contexto maior do escrito que faz crítica aos que dizem seguir o Cristianismo e não apresentava atitudes cristãs, assim, agindo de modo hipócrita e negando a validade da fé proclamada.
Vemos, portanto, que o texto de Tiago ensina a ter uma fé evidenciada na prática, não abstrata, nem apenas em discurso; Por isso ele escreve severamente que “a fé sem obras é morta”. Ora, a fé verdadeira implica em regeneração e não em continuidade dos erros cometidos sem a ação de Deus. Assim a epístola de Tiago não pode ser tomada como base para a afirmação da apropriação ou merecimento da fé ou salvação através das obras.

Solus Christus
Somente Cristo, que através da própria vida santa, morte sacrifical na cruz e ressurreição, é responsável por nossa salvação, assim como somente Ele é o detentor de toda autoridade, inclusa a espiritual, aliado aos dizeres escrituristícos de que Ele era o único homem capaz de mediar a Deus. Os reformadores que se intitulavam evangélicos, não procuravam negar a deidade de Jesus ou anular a crença Trinitária, adotando uma visão unicista,[1] mas afirmavam tal crença, justamente para reforçar a figura de Jesus-Homem, que se ofereceu em substituição aos outros homens e mulheres, promovendo assim a salvação. Afirmando então que são os feitos de Jesus, e não os nosso, que nos permite e proporciona a salvação.
Ao longo da História do Cristianismo alguns elevaram da posição de intercessor a mediador membros da “Igreja Triunfante”, atitude criticada na Reforma. Hoje vemos alguns tomarem tais atitudes em relação a tais membros da Igreja Militante. Tornou-se comum ver pessoas irem atrás de um determinador pregador por considerarem ele como “homem de Deus”, detentor de um “ministério abençoado” que vai conseguir convencer e converter alguém que ainda não crê, ou realizar algum feito sobrenatural que vai confirmar tal poderio e autoridade para estes seguidores. Resgatando as idéias combatidas pela Reforma da concentração da autoridade e sacerdócio exclusivista dos lideres religiosos instituídos pela Igreja Católica Apostólica Romana; bem como a sujeição incondicional do apóstolo representada na figura do papa e seus subordinados componentes do clero. Vemos, então, o resgate dessas idéias nas igrejas evangélicas com os seus “apóstolos” e movimentos que produzem um sistema piramidal nicolaísta, semelhante ao criticado promovido por Roma antes da Reforma.
O Evangelicalismo, então, descarta não apenas o Solus Christus como também as postulações acerca do “sacerdócio universal dos crentes”, transformando seus lideres em gurus e guias incontestáveis, passando a serem vistos como pessoas que teriam alcançado um estado de nirvana, iluminação ou santificação transcendente aos outros que são apenas membros da igreja. Pelo menos é o que podemos observar na prática a visão que se faz acerca desses lideres que se intitulam como “apóstolos” modernos, principalmente com os que não se contentam apenas com a tradição do Cristianismo, antes, rejeitam e adotam posturas judaizantes.

Soli Deo Gloria
Somente a Deus seja a Glória, algo que já não mais acontece na pratica como podemos observar, pois a gloria e o credito de conversão ou qualquer outra coisa proveniente de Deus é dividida com os homens. Hoje as pregações são centradas no “eu” e como este pode manipular a Deus, para que este venha realizar e tornar real os desejos e ambições do “eu” (homem). Desafia-se, determina-se e faz o que se quer para conseguir que Deus faça as coisas os papeis se inverteram Deus deixou de ser o Kurios (Senhor Absoluto) e passou a ser o servo.
E a idéia de um Deus “que faz tudo conforme o conselho da Sua vontade" (Dn. 4; Ef 1:11) e para o seu próprio louvor, vai sendo deixado de lado.

Conclusão
Portanto feita essa diferenciação entre os evangélicos atuais e os da Reforma Protestante, não há mais como ainda se utilizar tais termos como sinônimos.
Os princípios dos evangélicos atuais já não são mais os mesmos dos reformados, estes aos quais se aplica corretamente a classificação protestantes. Os princípios e idéias que pudemos notar são fruto de princípios oriundos do movimento dos fundamentaisnorte americano, que é posterior a Reforma, que resignificou e buscou se afastar de qualquer coisa que remeta a Tradição, assim negando até mesmo as idéias herdadas da Reforma e abraçando outras que foram condenadas pelos reformadores e veio originar um conjunto teológico e doutrinário classificado como Evangelicalismo.

REFERÊNCIAS
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo pentecostal. Tradução de João Ferreira de Almeida. CPAD, 2005. 2030 p
CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2006
CALVINO, João. As Pastorais. São Paulo: Edições Paracleto, 1998.
Monergismo. [S.l.]: [s.n.], 2006. Disponível em: <http://www.monergismo.com/monergismo.htm>. Acesso em: 01 dez. 2006.
[1] Que acredita na unitariedade da pessoa divina, sendo Pai, Filho e Espirito Santo não apenas o memso Deus como a mesma pessoa que se apresenat de maneiras diferentes.
[2] Grupo dos crentes que não se encontram mais vivos conoscos, mas vivos com Cristo, portanto triunfando com este sobre a morte.
[3] Grupos dos crentes que se encontram conoscos e militam pela implantação do reino de Deus.
[4] Movimento que originou o termo fundamentalismo.

A LAVAGEM DO BONFIM E A CANTATA DE NATAL

Por Vera Nathália, Mestra em História pela Universidade Federal da Bahia
Hoje Salvador se veste de branco. É dia de subir a ladeira da Colina Sagrada e tomar banho de água de cheiro. É dia da Lavagem do Bonfim. Observando as imagens que mostravam fiéis das mais diferentes origens, cores e idades percorrendo os 8 quilômetros entre a igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia e a Igreja do Bonfim, comentei com um irmão sobre o esvaziamento das festas populares na Bahia. Para quem não sabe, entre os dias 8 de dezembro e o final do carnaval, Salvador se sacode ao longo de diversas manifestações populares, muitas em homenagens a santos católicos com, é claro, a mistura com a religiosidade afro-brasileira típica dessa cidade. Nos últimos anos, temos percebido um certo esvaziamento da maioria dessas festas, até por conta do desenvolvimento da cidade que não mais comporta tantos feriados e festividades numa rotina voltada para as atividades empresariais. É preciso fazer dinheiro na terra dos orixás.
Pois bem, comentei que é provável que daqui há alguns anos, talvez uma década, a Lavagem do Bonfim talvez seja a única a sobreviver. Bem, talvez não a única já que a festa de Yemanjá no dia 02 de fevereiro também é muito popular, mas acredito que a festa que pára parte da Cidade Baixa na terceira quinta-feira de janeiro é a mais provável candidata a continuar por muito tempo no calendário das festas populares de Salvador, cada vez mais minguado. Em resposta ouvi de meu irmão pentecostal: “Tomara que acabe.” Traduzindo: à medida que as pessoas se tornarem cristãs evangélicas (e uso a palavra já tão desgastada para designar os cristãos em geral), festas desses tipo deixarão de existir.
Fiquei pensando no que ele disse enquanto continuava assistindo às imagens da festa e fui fazer minha salada. Enquanto cortava o tomate, comecei a refletir sobre o significado do que ele havia dito e me lembrei de uma cantata de Natal que assisti numa igreja batista ao final de 2007. Muito bem ensaiada, a cantata era formada por pessoas de idades variadas, todas vestida elegantemente de preto, bem penteadas, que se colocaram organizadamente em frente à congregação. A música não era ao vivo, mas um playback sobre o qual as vozes se elevavam. Bem afinadas, com um narrador de voz grave a pontuar a narrativa, a cantata falava de Jesus e seu nascimento.
Uma pergunta não parava de rodar na minha cabeça enquanto eu picava o coentro, uma pergunta aliás que rondou na minha cabeça inclusive na hora de cantata: cadê meu Brasil na igreja evangélica? Cadê a alegria, o calor humano e a simpatia da minha Bahia na hora de cantarmos a Cristo? Cadê a musicalidade da minha origem étnica no louvor ao meu Senhor? Por que essa musicalidade norte-americana, essas histórias de “Jim” e “Betty” e esse povo todo de preto em pleno verão baiano? Por que tanta formalidade importada de anglo-saxões de sangue gelado numa igreja de gente que vive num mundo onde, com todas as dificuldades possíveis, nós ainda conversamos com nossos vizinhos, com o estranho no ônibus, com a faxineira do shopping. É, a Bahia ainda é assim. A Bahia é a Lavagem do Bonfim. É gente que gosta de louvar a Deus rindo, dançando, com suas roupas imaculadamente brancas, seus cabelos trançados, rastafáris, de teterê, seus batuques e suas danças, gente branca, preta, misturada de todos os matizes de pele, gente que tem PhD, gente que mal sabe escrever, gente que vai de Mitsubishi, gente que vai com o dinheirinho contado.
Tem coisa melhor do que saber que somos Filhos do Deus altíssimo? Que Ele nos ama incondicionalmente? Ou Deus só quer quem está no padrão? Claro, tem um padrão, mas espiritual. E as manifestações da fé? Broadway sim, Pelourinho não?
Jesus dançava? Eu gosto de ficar pensando em certas coisas a respeito de Cristo para as qual sei que não terei resposta, mas que não consigo deixar de pensar. Imaginem: Palestina, mistura de culturas, latinos, árabes, judeus. Muita cor, temperos, muito sol. Será que Jesus nunca se balançou ao som dos ritmos que ecoavam pelas ruas? Será que Ele nunca parou para ver e ouvir aqueles grupos que tocam nas ruas espontaneamente? Nem quando era menino e sumia de casa para brincar nas ruas? Eu espero que sim.
Eu não nasci na América. Eu nasci na Bahia, Brasil. Eu quero uma igreja que me dê a liberdade de saudar a Cristo com a alegria que eu aprendi na minha cultura e com minha gente. Que coisa mais linda é a Lavagem do Bonfim com sua espiritualidade viva, alegre e feliz. Que possamos ver essa mesma alegria direcionada a Cristo, que nossos queridos irmãos e irmãs que hoje subiram a colina não precisem abdicar de sua espontaneidade quando se entregarem a Jesus. Jesus é alegria, felicidade e certeza de um amor imenso. Que Cristo esteja cada vez mais presente nessa terra de tantas crenças e que Ele aceite nossa adoração e louvor assim como somos, do jeito que ele nos fez. Que a igreja na qual meu cabelo trançado não incomode, que meu balançar na hora do louvor não seja proibido, que os hinos que eu cantar sejam de gente que ama e conhece essa terra, que fala do que nós somos, sentimos e que nos levem a adorar a Deus com a riqueza cultural dessa minha Bahia tão querida.

terça-feira, 1 de abril de 2008

AS GUERRREIRAS DO DAOMÉ- A RESISTÊNCIA DA MULHER AFRICANA CONTRA O INVASOR FRANCÊS

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com
É deveras emocionante discorrer sobre os nossos ancestrais e suas resistências na África e na diáspora. Os estudos históricos propositadamente maculam os fatos de que milhões de vidas foram ceifadas quando o europeu com a sua ganância invadiu o território africano, após se apropriar dos conhecimentos filosóficos, científicos e religiosos e os transformaram para o mal. Quando pronunciamos a palavra EUROPA, note o EU, a idéia egocêntrica, etnocêntrica e violenta, sempre o EU, e nesse EU os outros estão fora.
Entre as inúmeras resistências ao invasor caucasiano a mulher africana teve papel fundamental na manutenção de territórios livres, esses fatos não são contados nos livros de histórias, porque não interessam que nossas crianças e militantes tenham conhecimento. Recordo-me que conversando este ano no curso pré-vestibular Quilombo do Urubu em Cajazeiras- Salvador-Bahia sobre o tema: Escravidão e Resistência, uma estudante disse que as minhas palavras eram novas, porque sempre ouviu em sala de aula a não resistência ao invasor europeu em território africano. Através da omissão histórica e do uso político, as elites objetivam continuar a dominação mental do nosso povo.
O antigo Daomé atualmente é o Benin, uma dos países que teve uma parcela da sua população seqüestrada e escravizada para as Américas, trazendo o culto dos Vodunsis no Brasil, República Dominicana, Porto Rico, Cuba, Estados Unidos e no Haiti tornando-se um dos símbolos nacionais: o culto Vodu.
A importância do Daomé para o povo brasileiro tem sido bastante estudada não só pelo fator religioso, também na questão de um grupo que retornou do Brasil e mantém sobrenomes brasileiros como os Paraíso, os Silva e os Rego usados por cristãos e muçulmanos e com tradições africanas do Brasil, “Os retornados” ou ‘repatriados” descendentes do maior traficante de escravizados, o baiano Francisco de Souza são respeitados e mantenedores de um importante legado existente hoje do outro lado do Atlântico.
AS GUERREIRAS DO REINO DE DAOMÉ
A fundação do reino de Daomé data do século XVIII e durou até o século XIX quando foi atacado por tropas senegalesas e francesas tornado-se parte do Império Colonial Francês.
A capital era a cidade de Abomei, atualmente um dos patrimônios mundiais, escolhidos pela UNESCO em 1985. A influência maléfica dos europeus fez com que o reino de Daomé mudasse a sua economia e tornar-se escravizador de comunidades vizinhas para servir aos interesses de traficantes de escravizados. No reinado de Agadjá a tropa de Daomé conquistara a cidade de Aladá e possuíam um grande rival no tráfico de escravizados que era o reino de Oió, sendo estes fatos explicativos também para entendermos a recente presença dos jejes e do que chamam iorubas em terras brasileiras, sendo o maior número de descendentes de africanos no Brasil oriundos das regiões do Congo e Angola. Os chamados jejes e iorubas foram escravizados após a derrota dos seus reinos pelos antigos corruptores e aliados de tráfico: os caucasianos.
O que nos chama a atenção é a formação de um corpo militar de mulheres daomeanas que eram selecionadas na mais tenra idade e treinadas para a guerra, servindo como uma tropa de elite e guarda pessoal do rei, sendo uma das mais conhecidas a poderosa líder Seh-Dong-Hong-Beh que significa : "Deus fala a verdade". Liderou o exército de 6.000 mulheres contra os guerreiros Egba da fortaleza de Abeokuta.

Seh-Dong-Hong-Beh, desenhada por Frederick Forbes, 1851

O treinamento dessas guerreiras era árduo, tornando-as preparadas a extinguir o medo, aptas a enfrentar a dor, não temendo a morte e sendo extremamente leais . Viviam proibidas de contrair matrimônio, exceto daquelas designadas para serem esposas do rei, usavam contraceptivos a base de ervas.
Manejavam diversas armas, especialmente espadas, cutelos e fuzis, e conforme alguns historiadores a prova principal para ser aceita como membro do corpo de elite era a decapitação de um homem e beber o seu sangue.
Quando ocorreu o ataque das tropas senegalesas e francesas objetivando a destruição do reino de Daomé, as guerreiras foram as mais preparadas para a defesa do povo daomeano. Em 18 de agosto de 1892 tropas do Coronel Dodd sobem o curso do rio Oumé para atacar o rei Gbehanzìn e sem esperar são atacados ao amanhacer do dia 19 pelas valorosas guerreiras daomenas, as quais confundem os invasores, pela valentia e intrepidez na arte da guerra, enfrentando fuzis, baionetas e canhões e lutando bravamente corpo a corpo.
Há relatos históricos que muitas dessas guerreiras cortaram um dos seios e jogaram nos rostos dos adversários, demonstrando a garra e destemor, mas, nada disso impediu a derrota do exército daomeno em frente a superioridade armamentista do Império Colonial Francês, o qual deportou o rei Gbehanzìn para a Martinica e anexou o reino de Daomé.

Lista dos Reis do Daomé:
Ganiehéssu ~1620
Dako-Donu 1620-1645
Hwegbajà 1645-1685
Akabá 1685-1708
Agadjá 1708-1732
Tegbessu 1732-1774
Kpenglá 1774-1789
Agonglô 1789-1797
Adandozan 1797-1818
Guezô 1818-1858
Glelê 1858-1889
Gbehanzìn 1889-1894
Agoli-Agbô 1894-1900
Por causa dos enfrentamentos das guerreiras e guerreiros africanos que resistiram bravamente ao invasor e colonizador europeu torno-se freqüente á exposição de pessoas como animais em diversas capitais européias e nos Estados Unidos, nos chamados ZOO HUMANS, em plena demonstração de ódio e inveja dos caucasianos aos grandes feitos dos primeiros habitantes do planeta: povos africanos.
Clique aqui e Leia mais sobre o ZOO HUMANS

Na foto acima, os africanos estão com penas, para se parecerem com animais.
Não se contentaram em somente invadir, seqüestrar, escravizar, colonizar e apropriar das riquezas africanas, mas, através de exposições tentaram levar ao ridículo os povos originais abençoados com a melanina. O nosso povo resiste e resistirá segundo os desígnios do seu Criador conhecidos por diversos nomes em diversas culturas

Que a Paz de Javé, Olorum, Nzambi estejam com todos nós amantes da Justiça!

ELEITA NOVA DIRETORIA DO CNNC/BA

A DIRETORIA 2008 DO CNNC/BA ESTÁ ELEITA E EMPOSSADA:
PRESIDENTE - ULISSES PASSOS
Acadêmico de Direito e Panafricanista


VICE-PRESIDENTE – CARLOS PITA
Panafricanista e Afrocentrista


SECRETÁRIO-GERAL – ADEMARIO BRITO
Professor de Português e Inglês. Pós graduado em Estudos Africanos


1ª SECRETARIA – EDILENE SANTANA DOS SANTOS SILVA
Acadêmica de Ciências Sociais


TESOURARIA – VANESSA PASSOS
Acadêmica de Teologia , Panafricanista e Afrocentrista


SECRETARIO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS- DELMAR CRUZ BOMFIM
Professor de Português, Inglês, Francês e Espanhol. Doutorando em Teoria da Literatura e Literatura Comparada









SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO – ITALA HERTA
Acadêmica de Relações Públicas e Panafricanista


SECRETARIA DE EVENTOS- LIVIA MAGALHÃES DE BRITO
Acadêmica de Relações Públicas e Panafricanista



SECRETARIA DAS MULHERES - SUELI CASAES
Acadêmica de Teologia, Panafricanista e Afrocentrista

quarta-feira, 26 de março de 2008

FARRAKHAN E A NAÇÃO DO ISLÃ


Por Vanessa Passos, Acadêmica de Teologia da Faculdade Richard Shaull.
Tesoureira do CNNCBA. Psedônimo: Aidan Foluke. E-mail: vanessasoares13@hotmail.com


A Nação do Islã surgiu da década de 30 do século passado dirigida pelo Profeta Wallace Fard Muhammad (W.D.Fard), que seguidores da Nação informam ter vindo da Arábia, com o objetivo de unir os norte-americanos pretos. Eles acreditam que o Profeta W.D.Fard foi divinamente escolhido e divinamente inspirado, este, entretanto, desapareceu misteriosamente. Com isto, Elias Poole assumiu a Nação do Islã em 1934.
Elias Poole nasceu em 07 de outubro de 1897 e faleceu em 25 de fevereiro de 1975, adotou o nome de Elijah Muhammad. Proclamava que a sua missão era transmitir aos norte-americanos pretos conhecimentos de si próprio, do seu inimigo (a raça caucasiana e a cristandade), da verdadeira religião (islã) e de Deus (Alá).
Fora preso por defender que os membros da Nação não prestassem o serviço militar e por perseguição de brancos racistas, cumprindo pena de quatro anos em uma prisão federal. Conclamava ao Nacionalismo Preto, Independência Econômica e religiosa e que os pretos poderiam obter sucesso através da disciplina, do orgulho racial, do conhecimento de Deus e da separação física da sociedade branca. Compraram grandes áreas de terra no Deep Sul, investidos em projetos empresariais e possuía a sua própria força paramilitar. Os membros também foram instruídos a abster-se completamente de todas as drogas e respeitar as mulheres pretas e livrá-las dos ataques dos homens brancos e serem respeitosos pais.
Ensinou que os caucasianos apareceram através da reprodução humana.

YAKUB

Segundo a Nação do Islã, Yakub foi um cientista perverso que criou a raça branca (raça de demônios) conforme os seus ensinamentos, através de experiências genéticas de genes de pessoas pretas, este ensinamento foi revelado inicialmente por Wallace Fard Muhammad e desenvolvido posteriormente por Elias Muhammad. Yakub é uma variante de Jacó, filho de Isaque, filho de Abrão. Atualmente o ensinamento de Yakub é uma parábola para explicar a evolução da população branca que se originou dos homens originais, os pretos africanos.
Leia mais sobre Yakub:
http://www.thenationofislam.org/yakubabraham.html

http://en.wikipedia.org/wiki/Yakub


UM DOS GRANDES LÍDERES DA NAÇÃO DO ISLÃ: MALCOLM X
Malcolm Little, mais conhecido como Malcolm X (19 de maio de 1925, Omaha, Nebraska — assassinado em 21 de fevereiro de 1965, Nova Iorque), foi um dos maiores defensores dos direitos dos pretos nos Estados Unidos. Fundou a Organização para a Unidade Afro-Americana, de inspiração socialista.
Teve o pai, um pastor, assassinado pela Ku Klux Klan e sua mãe internada por insanidade. Viveu a adolescência nas ruas e enquanto esteve preso descobriu o islã. Malcolm faz sua conversão religiosa como um discípulo messiânico de Elijah Mohammed. Converteu-se ao islã, mudando o nome para El-Hajj Malik Al-Shabazz.
Martin Luther King e Malcolm X divergiam em pensamentos, King defendia uma "resistência pacífica" pelos pretos e Malcolm defendia a separação das raças, independência econômica e um Estado autônomo.
Malcolm foi assassinado em 21 de fevereiro de 1965 durante seu discurso no Harlem. O processo da morte de Malcolm foi arquivado por falta de provas.

Leia mais: http://pt.wikipedia.org/wiki/Malcolm_Little

LOUIS FARRAKHAN
Louis Eugene Walcott conhecido atualmente como Louis Farrakhan, ou simplesmente Farrakhan, nasceu em 11 de maio de 1933 em Bronx- Nova York . Filho de Sarah Mae Manning e Percival Clarke um jamaicano que trabalhava em Nova York como taxista. Foi educado por sua mãe e bem cedo aprendeu a tocar violino. Chegando a ganhar varias competições em sua adolescência.
Farrakhan estudou em boas escolas como a Boston Latin School – Escola Latina de Boston – sendo um dos melhores alunos. Em 1950 juntou-se a Nação do Islã, porém só em 1955 foi apresentado a Elias Muhammad. Após sua entrada na Nação ele trocou seu nome para Louis X, sendo essa uma norma e uma maneira de protesto a qual a Nação do Islã pratica para indicar que a própria identidade e cultura foram roubadas durante a escravidão.
Com sua enorme dedicação e alto potencial, Farrakhan despertou o interesse de Elias Muhammad e após a morte de Malcolm X, tornou-se seu porta-voz oficial. Até os dias atuais Louis Farrakhan é um dos homens pretos mais respeitados dos Estados Unidos.
Organizou em 1995 a Grande marcha sobre Washington D.C que reuniu 1 milhão de homens pretos, foi o maior protesto de não violência depois do realizado por Martin Luther king Jr que reuniu brancos e pretos em um total estimado de 250 mil pessoas de ambos os sexos, inclusive crianças.


Alguns trechos da mensagem de Farrakhan:
- Em nome de Deus, o Beneficente, o Misericordioso. Agradecemos a Deus pelos seus profetas, e as escrituras que eles trouxeram. Queremos agradecer-lhe por Moisés e o Torah. Queremos agradecer-lhe por Jesus e o Evangelho. Queremos agradecer-lhe por Maomé e o Corão. Que a paz esteja convosco dignos servos de Deus.
- Abraham Lincoln viu no seu dia, o Presidente Clinton vê neste dia. Ele viu o grande fosso entre negros e brancos. Bill Clinton vê o que a Comissão Kerner viu há 30 anos, quando disse que esta nação estava movendo em direção a duas Américas - uma negra, uma branca, separada e desigual. E as conclusões da Comissão Kerner revisitada 25 anos mais tarde e vi que a América era pior hoje do que era na época de Martin Luther King, Jr. Há ainda duas Américas, um negra, uma branca, separada e desigual.
Farrakhan tem apoiado publicamente Obama na candidatura ao partido democrata, sempre tem se colocado do lado de seus irmãos pretos nos USA, apesar de quando questionado Obama disse que não concorda com as idéias de Farrakhan. Há alguns anos defendeu o reverendo Jesse Jackson quando este teve um problema com a comunidade judaica.

A MULHER NA NAÇÃO DO ISLÃ
Oriunda da fé metodista Ava Muhammad é a mais expressiva mulher da Nação do islã, formada em Direito pela Georgetown University Law Center, 1975, conselheira de Farrakhan e a primeira mulher a ser ordenada ministra religiosa da Nação.
Frases da irmã Ava Muhammad:
“É minha fervorosa oração que eu conseguisse a minha missão, a fim de ajudar o ministro em seu esforço para destruir o mito de que as mulheres são seres inferiores, que não pode pregar a Palavra ou ser pastora do rebanho".
"A minha resposta foi sempre que o papel das mulheres na Nação do Islã é realmente não é diferente do que em qualquer outra religião. Cristianismo, o judaísmo e o islamismo -, que são todas necessárias para a iluminação da humanidade - todos sofrem da mesma angústia de ser demasiado masculino-dominante, mesmo na interpretação das Escrituras. À medida que o mundo torna-se mais consciente e, a Internet e outras coisas que o nível de igualdade de conhecimento, que vai continuar a mudar”.

A Nação do Islã ainda mantém leis, como a proibição de namoro inter-racial, regras de vestimentas para as mulheres (incluindo coberturas na cabeça e proibição de maquiagem ou roupas apertadas) e um enfoque no tradicional papel no seio da família. Embora muitas vezes as mulheres trabalhem fora de casa, elas geralmente são esperados para assumir o papel principal na execução das famílias e elevar as crianças.
Publicada no grupo negros_conscientes

PEDIDA PRISÃO DE PASTOR QUE INCITA PERSEGUIÇÕES
O vereador Átila Nunes Neto e o deputado Átila Nunes pediram a prisão preventiva do ' pastor’ Adão José dos Santos, fundador da Igreja Pentecostal dos Milagres, pelas suas declarações à Imprensa, onde classificou a Umbanda e o Candomblé como "religiões do mal", estimulando a discriminação religiosa ao dar cobertura àqueles que estão mandando fechar terreiros. "O fato do pastor conviver com traficantes não é problema nosso, e sim, de natureza policial. Não podemos é ficar de braços cruzados diante de uma campanha explícita que violenta a legislação e até mesmo a Constituição Federal" – dia Átila Nunes.
Para ele, o pastor oferece risco à sociedade porque estimula a violência contra os seguidores dos cultos afro-brasileiros, incentivando o fechamento de terreiros. "Este cidadão tem que ser preso e responder a vários processos, já que viola os princípios da Constituição, que estabelece no capítulo dos direitos e garantias fundamentais no artigo 5º, que "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros. ..a inviolabilidade do direito...à liberdade, à igualdade, à segurança". Átila Nunes Neto lembra ainda que a Constituição garante a inviolabilidade da liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias, sendo que ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política"
Outras violações legais vem sendo cometidas pelo `pastor' Adão José dos Santos, fundador da Igreja Pentecostal dos Milagres, segundo Átila Nunes Neto, que chama atenção para o crime contra o sentimento religioso estabelecido no artigo 208 do Código Penal: "escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso. A punição ao ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato religioso é também previsto na Constituição. A pena é detenção, de um mês a um ano, ou multa. Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente à violência. Além disso – diz Átila Nunes Neto - , a lei estadual de 1814 de 1991 estabelece sanções a qualquer tipo de discriminação, inclusive a em razão de crença religiosa.
A lei considera discriminação impedir ou dificultar, por qualquer meio ou forma, a convivência social, praticar, induzir ou incitar o preconceito em razão de crença religiosa. Ele destaca o artigo 20 da Lei n.º 7.716/89, modificada pela Lei 9.459/97: "praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de religião", sendo se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza, a reclusão é de dois a cinco anos. O vereador Átila Nunes Neto e o deputado Átila Nunes, ao encaminharem a denúncia ao MP, baseiam-se no artigo 3º desta lei, que diz que o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência, recolher imediatamente e mandar fazer busca e apreensão de propaganda e mandando cessar programas de rádio e televisivos que incitem a discriminação.
Saiba quem é o líder evangélico Marcos Pereira da Silva e como ele virou o guia espiritual dos bandidos mais afamados do Rio
Posted by: AntenA Cristà @ 02/18 2008, 03:27
PASTOR DE OVELHAS NEGRAS
SAIBA QUEM É O LÍDER EVANGÉLICO MARCOS PEREIRA DA SILVA E COMO ELE VIROU O GUIA ESPIRITUAL DOS BANDIDOS MAIS AFAMADOS DO RIO
Karla Monteiro - O Globo
RIO - Aconteceu numa noite de quarta-feira, dia 23 de janeiro, numa das favelas mais violentas do Rio. Na pracinha da comunidade, crianças, casais e traficantes armados dividem o mesmo carrinho de churrasco. O dono da boca-de-fumo, paramentado com um fuzil ornado com detalhes em prata, recebe cheio de honra a comitiva do pastor Marcos Pereira da Silva, fundador da Assembléia de Deus dos Últimos Dias.
O bandido de 29 anos e olhos assustados, que exibe com orgulho um pesado cordão de ouro com um pingente onde se lê "Jesus", dá as boas-vindas ao "homem de Deus". O pastor não perde a deixa. Diz ao seu anfitrião, em tom de brincadeira e intimidade, que o nome sagrado não combina com armas nem com os cinco anelões espalhafatosos que decoram a mão direita do chefe do morro.
Conversa vai, conversa vem, o traficante revela que seus soldados haviam capturado um suspeito de estupro na favela. O pastor, então, começa a sua ladainha. Sempre em nome de Jesus. Em pouco tempo, ele consegue convencer o chefe a entregar o refém, então condenado à morte pelas leis do tráfico. Meia hora depois, um carro vinho estaciona, alguns garotos abrem o porta-malas e arrancam de lá um rapaz com a cabeça coberta de sangue.
O pastor enfia o suposto estuprador no seu carro e convoca toda a bandidagem para uma oração. Sem depor o armamento de guerra, a rapaziada faz uma roda e, de mãos dadas com o exército de evangélicos, grita um convincente "Glória a Deus!".
- Para mim, não importa a facção. Todos os traficantes do Rio me respeitam. Eu não defendo o Evangelho, eu defendo o ser humano. Aos poucos, estou conseguindo acabar com a pena de morte nas favelas - orgulha-se o pastor Marcos, como é chamado. - Já tirei muita gente da morte e também já recuperei muito bandido. Há quase 20 anos visito presídios, vou a bocas-de-fumo e levo a "Palavra" para esses meninos. Quando resgato um condenado pelas leis do tráfico, eu o levo para a minha igreja.
Veja fotos do trabalho do pastor
Ouça trechos de entrevistas com o religioso
Engolindo todos os plurais, evocando passagens bíblicas para justificar cada ato e esbanjando bom humor, o polêmico pastor Marcos virou o guia espiritual dos bandidos mais afamados do estado. Marcinho VP, preso em Catanduva, no Paraná, é uma de suas ovelhas. Segundo a irmã dele, Silvana dos Santos Silva, que largou o crime para engrossar as fileiras da Assembléia de Deus dos Últimos Dias, Marcinho abaixa a cabeça para ouvir sermões do líder e leu a Bíblia duas vezes. O traficante Uê morreu convertido pelo pastor, em 2001, em Bangu I. Outro que se diz "resgatado" é Washington Rimas, o Feijão de Acari, preso em 2006, na Bahia. A primeira visita que recebeu na cadeia foi do pastor. Quando deixou a prisão, começou a arquitetar a retomada do seu posto, mas recebeu uma nova visita do evangélico e desistiu. Passou três meses sob o teto da igreja e hoje trabalha no Afroreggae. Entre outras coisas, dá palestras para crianças de favelas contando as agruras da vida do crime.
- Conheci o pastor Marcos em 2000. Ele aparecia de madrugada na boca para evangelizar. Eu botava o fuzil nas costas e corria. Quando saí da cadeia, ele me chamou para morar na casa dele. Lá conheci o Júnior, coordenador do Afroreggae - conta. - A aproximação dele é com respeito e sinceridade. Nunca pede e nem aceita um tostão de traficantes.
O pastor conta que sustenta a sua igreja com dízimos e CDs. Juntos, os três cantores da congregação já venderam cerca de 500 mil cópias. Respeitado e temido pelos chefes - e ex-chefes - das favelas do Rio, o pastor de ovelhas negras é visto com desconfiança pela polícia, que há tempos investiga a sua suposta conivência com o crime organizado. Segundo ele, é comum aparecer na igreja um agente do Bope disfarçado de evangélico. O pastor é citado num dossiê da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sobre o movimento de dinheiro da principal facção criminosa do Rio.
Em meados da década de 90, ele ficou na mira da polícia por quase dois anos. A então inspetora e hoje deputada federal Marina Maggessi (PPS-RJ) é quem conta essa história. Segundo ela, a polícia estava na cola de Marcinho VP. Como o pastor já era próximo do traficante e tinha arrebanhado a sua irmã, foi pedida uma ampla investigação, com direito a escuta telefônica e detetives seguindo fiéis da igreja.
De acordo com Marina, nada ficou comprovado. Em 2004, ela assumiu a Polinter, desativada em 2006, onde 1.800 presos ocupavam um espaço para 400 pessoas. No primeiro dia, a nova diretora resolveu reunir os presos e ouvir suas reivindicações. Eles pediram três coisas: água limpa para beber, ventiladores e a presença semanal do pastor Marcos.
- Foi inédito: presos das diferentes facções sentaram-se juntos no pátio da cadeia e choraram copiosamente no primeiro culto. Passei a permitir a entrada do pastor toda semana. Consegui segurar a Polinter sem rebeliões por um ano e dois meses graças a ele - reconhece Marina. - Foi a única opção que vi nos presídios nos meus 18 anos de polícia.
A maior façanha do pastor aconteceu em 31 de maio de 2004. Naquele dia, ele saiu de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, onde nasceu e mantém o seu QG, de helicóptero. O então secretário de Segurança Anthony Garotinho - também evangélico - mandou buscá-lo para intermediar uma das maiores rebeliões já vividas no estado.
A Casa de Custódia de Benfica estava nas mãos dos presos havia três dias, e 34 pessoas estavam mortas. Segundo o coronel Roberto Penteado, comandante do policiamento da Baixada Fluminense desde então, a situação se encaminhava para a invasão do Bope. Ele reconhece que "a contribuição do pastor ajudou a resolver a crise". O evangélico entrou na Casa de Custódia por volta das 17h. Antes das 22h, os presos se renderam.
O pastor não se cansa de falar do seu dia de glória:
- Quando chegamos, várias pessoas estavam amarradas em botijões de gás ou com facas no pescoço. Já fui gritando: "Vamos acabar com essa palhaçada. Vocês não querem morrer, então também não vão matar mais ninguém." Quando conseguimos recolher as armas, botei todo mundo sentado no pátio para louvar a Deus.
Fonte: O Globo
Leia: http://antenacrista.iblog.com/category/224674/242960

quarta-feira, 19 de março de 2008

SEXTA FEIRA SANTA A CELEBRAÇÃO FAMILIAR NA BAHIA – O "ACARAJÉ DE JESUS" E O "ACARAJÉ DO DEMÔNIO"

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com

A princípio, recebo diversos e-mails de militantes negros (as) questionando o porquê do uso da palavra preto e não negro, recomendo a leitura do artigo da minha autoria:
Clique Aqui --> NEGRO OU PRETO: COMO SE DECLARAR O AFRICANO NO BRASIL
Na minha infância fui membro da Igreja Presbiteriana de Queimados-RJ e na adolescência e início da juventude da Igreja Presbiteriana do bairro da Piedade na cidade do RJ. Nas sextas-feira-santa a minha família agia diferentemente de todas as famílias presbiterianas, sendo meus pais baianos, esse dia apresentava uma sacralidade diferente da visão reformada calvinista, porque a minha mãe, também presbiteriana, mantinha a tradição dos antepassados como se fosse um ritual a preparação de comidas baianas: moqueca de peixe com bastante leite de coco, caruru, vatapá, feijão com leite de coco, arroz com leite de coco, muita pimenta, etc. um cheiro forte de azeite de dendê pela casa, quiabos sendo cortados, cocos ralados, e aquele trabalhão de ver minha mãe mexendo o vatapá, no sentido horário pra não embolar e só uma pessoa mexendo, tudo um respeito simbólico pela data. Durante minha infância não se ligava o rádio, não se falava alto, não podia falar palavrão e nem apanhar, isso pra mim era uma felicidade, comer bastantes comidas gostosas e não tomar uns catilipapos de minha mãe, porque sempre eu estava aprontando e recebendo as “admoestações necessárias”, mas, no sábado de aleluia, dia da malhação de Judas, eu não podia vacilar. Só não gostava do silêncio imposto dentro da casa, mas passávamos o dia todo ouvindo de minha mãe histórias sobre a Paixão de Cristo, do seu sofrimento e das lágrimas e dor de Maria, porque no linguajar simples e sábio dela:
- “Maria sofreu muito ao ver o filho que saiu de suas entranhas ser crucificado”.
Minha mãe era muito religiosa, sempre orava diversas vezes ao dia e sempre pedia a Deus que me livrasse do mal. Um dia ela me contou que Deus também tinha o nome de Nzambi e meu pai, ao ouvir, disse que ELE também se chamava Olorum e até hoje respeito esses nomes africanos de Deus. Hoje eu entendo essas diferenças lingüísticas e o motivo dos dois ensinamentos.
Nesse ínterim de todos os anos, apesar de viver no Rio de Janeiro, conheci grande variedades de comidas baianas, porque todas eram feitas dentro da minha casa, seja o abará, acarajé, bolinho de estudante, peixe assado na bananeira, efó, acaçá e outros. Verdadeiros rituais alimentares, essa preocupação da minha mãe de viver fora da Bahia e manter a tradição ancestral, foi de suma importância na minha concepção africana hoje, de continuar a tradição familiar na "sexta-feira santa", vivendo na Bahia de reunir-me com a minha família e saborearmos as deliciosas comidas cheias de dendê, leite de coco, gengibre, camarão, amendoim, castanha, pimenta, etc.
E milhares de famílias de pretos evangélicos estão deixando a tradição alimentar ancestral de reuniões familiares na diáspora na sexta-feira chamada santa, por discordarem do catolicismo e das alimentações de origem africana.
"Sexta-feira santa" sem vatapá, caruru, moqueca de peixe com leite de coco, moqueca de ovos com leite de coco e outras iguarias vindas dos nossos ancestrais pretos, não é "sexta-feira santa". Eu vou continuar mantendo a tradição da reunião familiar e comer o gostoso vatapá feito pela minha filha Aidan.
O "ACARAJÉ DE JESUS" E O "ACARAJÉ DO DEMÔNIO"

Sempre quando há reunião do CNNC /BA no final os jovens gostam de comer acarajé pertinho aqui de casa, e comem o acarajé de Jesus, porque a pessoa que vende se converteu a pouco em uma igreja evangélica, anteriormente antes da conversão eles comiam do mesmo acarajé. Na verdade pelo que eu sei os jovens do CNNC/BA comem qualquer um, como dizem:
- O gostoso é comer acarajé, preferivelmente de irmãs pretas, para que o dinheiro circule na nossa comunidade.
Há acarajé conforme muitos membros pretos de igrejas evangélicas que é o “acarajé do diabo”, quer dizer de pessoas que freqüentam o candomblé. Eu como qualquer acarajé, não quero saber a origem a religiosa, sendo assim, como saber se a padaria é de Jesus? O mercado é de Jesus? O açougue é de Jesus? O remédio é de Jesus? Por que ninguém recusa a vender para quem não é de Jesus? Quando vamos ao médico perguntamos a religião do médico (a) antes da consulta médica? Ou quando pegamos um táxi? Ou compramos um carro? Você se retira da faculdade porque o professor é evangélico ou de candomblé? Deixa de considerar os seus pais, avós, irmãos, filhos e filhas porque seguem religiões diferentes? Pura hipocrisia de pessoas que tentam se tornar donas e donos das divindades. Yeshua não deve ser citado nesses atos discriminatórios. Vejo ai uma maneira muito direta de atacar as origens ancestrais alimentares do povo preto.
A tradição africana na Bahia tem uma nova adaptação para aumento de renda de irmãs e irmãos pretos evangélicos, o que foi considerado por algumas baianas de acarajé até mesmo uma luta econômica bem articulada para a quebradeira das baianas. Há igrejas da Assembléia de Deus que existem vendedoras de “acarajé de Jesus” em frente aos templos, fato este também encontrado em frente da Igreja Universal na Liberdade-Salvador-Bahia, e na chamada Catedral da Fé da Universal do Reino de Deus em Salvador-Ba, que tem cinco andares e reúne milhares de membros em diversas reuniões.
Diariamente a venda do “acarajé de Jesus” foi pesquisada por Roberto Kaz com o tema: Relatos de uma guerra Baianas no candomblé insistem que Jesus não comia acarajé
"Em frente à Catedral da Fé, ninguém acha que o quitute feito por Tânia tenha parte com o demo. Um dia, durante uma pregação, um bispo da Universal anunciou que nunca tinha comido acarajé, e que ficaria feliz se algum fiel o presenteasse com um bolinho. Foi a senha para que o acarajé saísse do index proibitorum e caísse definitivamente nas graças do mundo evangélico.
“E no largo da Amaralina, o ponto de acarajé mais antigo de Salvador, uma evangélica chamada Josélice — que só aceita dar entrevista mediante pagamento — trabalha com a Bíblia aberta sobre o tabuleiro.”
Miraci é uma baiana que nunca esteve na ilegalidade. Trabalha há quinze anos no Pelourinho, último reduto do acarajé tradicional: “Se nós entramos com a nossa roupa e esses colares num templo evangélico, eles nos expulsam. Então, também não deixamos baiana evangélica entrar no Pelourinho. Quando vejo um tabuleiro com letreiro escrito ‘acarajé de Jesus’, pergunto à baiana se ela por acaso já viu Jesus comer acarajé. Quem é que já leu na Bíblia que em tal ano Jesus comeu acarajé? Jesus come é pão. Não sou contra Jesus — Ele é o Todo-Poderoso —, mas se os evangélicos dizem que o acarajé deles está com Jesus, é porque, na lógica, o nosso só pode estar com o demônio”.
“Ao meio-dia, termina o segundo culto. Homens, mulheres e crianças, que vieram de longe com suas melhores roupas, fazem fila diante do tabuleiro de Tânia. Rosany Amorim de Araújo é uma delas. Formada em antropologia pela Universidade Federal da Bahia, veste um uniforme em que se lê: “Exército de Cristo em Ação — Grupo de Evangelização”. Ela só come acarajé de Jesus, e usa seus conhecimentos antropológicos para reconhecer uma baiana evangélica: “Procuro sempre pelos adesivos de Cristo no tabuleiro”. Ângela Maria Santos Silva é outra freguesa. Diz que não come acarajé de fora “porque pode estar amaldiçoado”. Explica: “Tem acarajé pro mal e pro bem. O gosto não muda, mas o fato de Deus faz diferença”. “E pode fazer mesmo. Euflazio Bispodos Santos é um senhor de bengala. Está convencido de que passa mal da barriga quando come acarajé de rua. Quando come o de Deus, não. Já tendo certa idade, prefere ser cauteloso. Só come acarajé de Jesus. E dane-se se for ilegal”

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http://www.revistapiaui.com.br/artigo.aspx?id=354&anterior=102006&unica=1&anteriores=1
Raul Lody e Elizabeth de Castro Mendonça foram os antropólogos que realizaram a pesquisa que consistiu na realização de entrevistas; levantamento bibliográfico; registros audiovisuais e, dentre outras coisas, visita a pontos característicos de baianas do acarajé na cidade de Salvador tais como Bonfim, Pelourinho, Barra, Ondina, Rio Vermelho e Piatã. Brotas também foi um dos bairros visitados devido à presença de um “baiano de tabuleiro”, evangélico.
As baianas sofrem, cada vez mais, com a concorrência da venda do acarajé no comércio de bares, supermercados e restaurantes baseados, inclusive, no marketing do bolinho de acarajé como fast food. Essa apropriação do acarajé contraria o seu universo cultural original e a sua venda como “bolinho de Jesus” pelos adeptos de religiões evangélicas – que postam Bíblias em seus tabuleiros - tem causado polêmica.
“Se você tem uma religião que é contrária ao candomblé, por que vender acarajé e não qualquer outro quitute?” indaga Dona Dica diante do seu tabuleiro no Largo Quincas Berro D’Água, no Pelourinho, ressaltando que o acarajé, para a maioria das baianas de tabuleiro, filhas-de-santo, é indissociável do candomblé. Essa indistinção não deixa de ser, também, uma estratégia de diferenciação de seus produtos, num contexto de concorrência cada mais acirrada que é Salvador, uma cidade que atrai muitos turistas por ser considerada como o locus de africanismos no Brasil, a partir dos quais uma inegável comercialização da cultura negra tem se constituído.
As baianas do acarajé
Carolina Cantarino

http://www.revista.iphan.gov.br/materia.php?id=65
"Cinismo e cabotinismo dessa gente que sem nenhum pudor se apropria da cultura dos outros, desqualificando-a, para ganhar dinheiro de “forma limpa”. O fundamentalismo cristão de certas vertentes evangélicas prega a discriminação, a intolerância e o ódio, sentimentos que se opõem à própria concepção de cristianismo, no marketing de seu purismo, de sua verdade e validade absolutas. Recusei-me a comer o “acarajé de cristão” por considerá-lo ridículo e acintoso, e mesmo que tenha o mesmo gosto – o que não parece ser possível! – certamente provocaria uma tremenda indigestão cultural, moral e ética. No mundo da competição desenfreada, da perda de valores e do cinismo como legitimador de condutas, o “acarajé de cristão” pode até ter algum espaço no mercado gastronômico, mas só as pessoas de alma pequena, ou sem alma alguma, comerão esse “bolo” que é vendido como se fosse sagrado por ser feito por “mãos limpas” de cristão. A competição religiosa atinge níveis intoleráveis. Tratada como um negócio no mercado dos bens simbólicos e de salvação, as religiões de mercado se debatem, cada qual com seu estilo, para atrair clientes, consumidores de fé e de devoção. De padres e pastores espetaculosos, anunciadores de milagres, arrebatam gigantescas fortunas que são reinvestidas em meios de comunicação e conchas acústicas para a ressonância de seus discursos. Sobre a angústia e o desespero dos brasileiros, as religiões de mercado executam uma performance econômica sem igual nos demais ramos produtivos. Da privatização do Céu à do acarajé, e sempre em nome de Jesus, para ganhar dinheiro e, com isso conquistar o poder, em todos os campos. O “acarajé cristão” é uma bomba de efeito retardado. É a transfiguração cultural e religiosa de um bem, material e simbólico, de uma tradição cultural, a afro-brasileira, transformando-o numa coisa sem significado, destituído de sua essência. Gradativa e celeremente o vetor da religiosidade fundamentalista penetra pelas brechas que a miséria, a ignorância e a alienação abrem na sociedade civilizada e ocupam espaços enormes com a intolerância religiosa, cultural e social". Gey Espinheira – sociólogo, professor de sociologia da FFCH/UFBa., ensaísta e ficcionista.
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http://www.forum.clickgratis.com.br/tjlivres/t-592.html


Salvador (BA) - A baiana Anelita Conceição Viana, vendedora de acarajé.
1 de Fevereiro de 2008 (01/02/2008)
Rodrigues Pozzebom
http://commons.wikimedia.org/wiki/Image:Baiana-acaraj%C3%A9-Salvador.jpg
CONCLUSÃO
Quem ganha dinheiro com as culturas africanas na Bahia não é a comunidade preta, e todos sabem disso. Os milhões arrecadados anualmente com as manifestações culturais não retornam para os guetos de Salvador. Esse discurso é infantil e falta seriedade, não podemos guerrear contra nós mesmos.
Não há diferenças no "acarajé de Jesus" e nos outros acarajés, todos são feitos por mulheres pretas que aprenderam com as suas ancestrais, tanto assim que relatei que a minha mãe fazia há mais de 40 anos ralando o feijão fradinho na pedra, objetivando que seus filhos e filha conhecessem a tradição, isso lá no quintal de nossa casa em Queimados-RJ.
São todas mulheres pretas que fazem, sendo elas de candomblé, católicas, espíritas, agnósticas ou evangélicas as quais mantêm o sustento de famílias pretas. O que há são formas de manutenção da tradição ancestral africana, porque os degustadores(as) do acarajé são evangélicos pretos e pretas baianas que consumiam o “acarajé do demônio”, escondidos de seus pastores, e hoje muitos deles continuam a saborear a mesma iguaria feita por mulheres que se tornaram evangélicas e denominaram de “acarajé de Jesus”.
Discordo dessa denominação: “acarajé do demônio” por estar imbuída de preconceitos religiosos e anti-africanos feito por seguidores de teologias eurocêntricas. Todo alimento de origem africana é abençoado por Javé, porque de lá surgiram os primeiros hábitos alimentares de toda a humanidade. Somos o povo original.
As nossas heranças culturais tornaram-se alvos prediletos de se atacar todo um povo na diáspora, de minar o crescimento do Panafricanismo, de impedir a união do povo preto. Qual o seguidor de candomblé na Bahia que não tem dentro de sua família um membro da igreja católica ou evangélica? Existem famílias na Bahia em sua totalidade de praticantes de uma só concepção religiosa? Essas táticas são de bispos e pastores que odeiam as culturas africanas e o povo preto e demonizam alguns hábitos alimentares de origem africana, com objetivo de afetar a estrutura psíquica do povo preto evangélico. Dizem:
“O que você aprendeu a comer foi o diabo que ensinou”
E respondo a eles:
- O Diabo não existe nas culturas africanas que vieram seqüestradas para o Brasil e a Bíblia cita que o Diabo é o Pai da Mentira, é o que eles fazem é difundir mentiras contra o nosso povo.

Agora, permita-me comer um delicioso acarajé!
Acarajé - da Bahia

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