sábado, 10 de dezembro de 2011

JEZABEL SEDUTORA E PECADORA – ESTEREÓTIPOS DA MULHER PRETA ESCRAVIZADA



Por Walter Passos

Historiador 
E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br
Msn: kefingfoluke1@hotmail.com

Skype: lindoebano

Facebook: Walter Passos

Os cristãos evangélicos sempre citam o exemplo de Jezabel quando censuram as mulheres. Quem foi Jezabel? Uma mulher da história dos hebreus, princesa fenícia, filha do rei Etbaal, e esposa do rei Acabe de Israel cerca de 870-853 a.C. (1Rs 16.29-31; 18.19). Jezabel era alta sacerdotisa da deusa Astarte, esposa do deus Baal. Conhecida pela prática de diversos pecados conforme as leis dos israelitas. O Torá proíbe o casamento de hebreus com pessoas estrangeiras e Acabe desobedeceu a lei. Na tradição cristã, uma comparação com Jezabel indica uma pessoa pagã, apóstata, que usa a manipulação e a sedução para enganar os santos de Deus (homens cristãos) em pecados de imoralidade, idolatria e sexualidade, associada na escravidão as mulheres pretas pelos escravizadores cristãos.



A idéia dos europeus de que a mulher preta é lascívia antecede a escravidão. Nos contatos com civilizações africanas não compreenderam alguns aspectos culturais, como a prática da poligamia em algumas sociedades, alguns rituais e danças de mulheres seminuas foram interpretadas como decadência moral e lascividade, sob os olhares daqueles que se consideravam superiores racialmente. As mulheres africanas são relatadas por eles como de fogo e quentes, que criam estratégias para conseguir amantes. William Bosman descreveu as mulheres pretas na Costa da Guiné como "fogo" e "quente" e "muito mais quente do que os homens."

Na dominação do território africano por potências européias as mulheres africanas foram estigmatizadas de tentadoras e aceitavam felizes as relações afetivas e estereotipadas como lascivas. Mentira dos escritores europeus.


O encontro das culturas européias com as africanas foi de não integração, crises e censuras, demonização e uso sexual forçado do corpo da mulher africana, gerando tanto na áfrica como nas América, descendentes do estupro: os mulatos.

A mulher preta nos USA no período escravocrata teve uma concepção de luxuria e promiscuidade, o que continuou após a escravidão. No Brasil, o epíteto de Jezabel não entrou em voga por causa da colonização católica, apesar da concepção de luxuria e promiscuidade tenha se atribuído as mulheres escravizadas. Gilberto Freire as acusa de prostituição doméstica, feitiçaria e magia sexual e Jorge Amado as descreve em seus romances como possuidoras de ardentes desejos sexuais. No geral a mulher preta sempre foi adjetivada de uma série de estereótipos negativos, como sendo lasciva, volúvel, mulher à toa, prostituta.

Jezabel é a menina má, a preta sedutora que atrai os homens brancos para a cama, desestruturando as boas famílias puritanas. Para os escravizadores: Jezabel "é a fêmea promíscua com um apetite sexual insaciável."

Em contraponto a imagem da mulher branca é: mansidão, auto-respeito, autocontrole, modéstia e pureza sexual. Isso criou em muitos países que tiveram a escravidão o desejo do homem preto de se relacionar com a mulher pura, a mulher branca.

Muitos relatos da escravidão, as mulheres puras usavam os corpos das mulheres consideradas impuras para a prostituição, inclusive casos aberrantes de freiras que viviam do dinheiro da venda da carne preta no mercado do sexo. A ganância de Jezabel e sua promiscuidade na era das mulheres escravizadas. Vítima de seguidos estupros a africana no mundo escravizado era um objeto de uso descartável e procriadora de crianças, já no ventre escravizadas.

É de mister importância ressaltar que a Jezabel também foi retratada como a mulata nos USA, a mulher misturada tendo alguns traços europeus, descendente das relações do homem branco com a escravizada. No Brasil, o ideário da mulata nas musicas e no samba incentivam a idéia, da preta gostosa e detentora de encantos sexuais inigualáveis. Temos que atentar que em toda a América escravagista a mulher preta, denominada de diversos epítetos foi e é considerada a tentadora e pecadora. A destruidora de lares na visão das mulheres brancas.

No documentário abaixo, relata-se o trabalho de profissionais da dança, mas, o título reporta a tal famosa sensualidade das mulatas.

TRAILER DO DOCUMENTÁRIO "MULATAS! UM TUFÃO NOS QUADRIS"



NEY MATOGROSSO - DA COR DO PECADO



Conforme o Dr. David Pilgrim, a mulher preta possuidora de dotes sexuais irresistíveis, foi também estigmatizada nos USA como feia, aberração, viciada em bebidas alcoólicas, mas sempre indicando que esta pronta e desejosa para atos de libertinagem. Uma mulher digna de pena dos homens brancos e bons cristãos.

As meninas pretas não ficaram livres do ideário de sexualidade do escravizador, em toda a América, casos hoje que seriam considerados atos de pedofolia foram praticados. No Brasil, diversas meninas serviram de iniciação a prática sexual de senhores e seus filhos. Nos USA a propaganda da precoce sexualidade das meninas pretas foi divulgada, vede a caricatura: o olhar, o sorriso e a barriga, sugerem uma gravidez.
Outras caricaturas foram feitas das mulheres pretas de Jezabel encontradas no Museu Jim Crown:

Na imagem abaixo notamos que cinzeiros foram produzidos para demonstrar a sensualidade exagerada das mulheres pretas. No Brasil, o hábito de “disputar a nega” em jogos de dominó, dado, baralho e outros, relembram que as mulheres pretas serviram como satisfação sexual desenfreada dos senhores de escravizados.

O estereotipo de Jezabel para as mulheres escravizadas e a continuidade no período pós-abolição demonstra a grande falácia de uma sociedade hipócrita e racista, que violentou as culturas africanas, dividiu as famílias, se apropriou da mão -de- obra, demonizou os conceitos filosóficos e religiosos. A sociedade escravocrata na América foi a incorporação de Jezabel pelos seus pecados e falta de respeito a vida.



O grupo religioso Israel United in Christ postou um vídeo recentemente sobre a idéia que eles possuem de Jezabel na atualidade, postado abaixo como curiosidade.

THE CHARACTERISTICS OF A JEZEBEL




Notamos que a prostituição atribuída às mulheres pretas na África e nas Américas foi uma imposição hipócrita branca e masculina. As mulheres pretas vêem e interpretam a história de outras formas, são outras histórias, e sabem que os homens brancos escravizadores usaram os corpos das mulheres nas mais horrendas violações da história humana. As mulheres pretas devem reescrever a história da África e da escravidão com o olhar feminino.

Os homens pretos repetem a falácia do invasor e escravizador europeu quando interpretam a história com olhares e conceitos de poder masculino e este olhar interpretativo está ocorrendo na África e nas Américas. Nos USA, as músicas do rap retratam as mulheres pretas como vadias, e algumas delas compartilham dessa ideologia, como se vê no clipe musical abaixo.

50 CENT - DISCO INFERNO



É uma continuidade dentro da comunidade de falta de respeito e do ideário de Jezabel criada pelo escravizador.

No Brasil, não apenas alguns cantores de rap, mas grupos de pagode e funk reforçam a criação do invasor europeu na África, a continuidade do senhor de escravizados e atualmente a sociedade racista de falta de respeito, as nossas avós, mães, tias, irmãs, filhas e companheiras.

Na Bahia, a deputada Maria Maia (PT/BA) propôs um projeto de lei (PL 9.203/2011) que trata da “proibição do uso de recursos públicos para contratação de artistas que em suas músicas, danças ou coreografias desvalorizem, incentivem a violência ou exponham as mulheres a situação de constrangimento.” O referido projeto está em discussão na Comissão de Constituição e Justiça da Assembléia Legislativa e já recebeu o apoio de outras deputadas. Ocorre que grupos de pagode estão descrentes na aprovação da lei, tendo em vista que, segundo eles, se trata da “cultura popular”, tal cultura se conceitua como o desrespeito e a prostituição - chamada de putaria – das mulheres pretas. Abaixo, confira a resposta de dois famosos grupos de pagado da Bahia ao mencionado projeto de lei.

O TROCO-BLACK STYLE FIEL A PUTARIA [NOVA]




Os homens pretos precisam refletir sobre essa repetição ideológica. A mulher como objeto, como carne que pode ser violada, desrespeitada está proporcionando a violência não só ideológica, mas espiritual e física. Um número incontável de mulheres são agredidas e assassinadas por homens pretos a todo o momento. Jezabel foi uma mulher de extremo poder e de manipulação, poder este que nunca passou pela mulher na escravidão e pós-abolição, porque o poder da mulher e do homem preto aflorava quando resistia e mantinha as suas tradições. Atualmente, feministas vêem Jezabel como uma feminista que lutou contra o poder masculino em Israel. A mulher preta foi o maior suporte de resistência do nosso povo. A mulher preta deve continuar reagindo às ideologias que não só as afetam, mas a todo o povo preto.
Shalom!

sábado, 26 de novembro de 2011

UMOJA KARAMU- RESIGNIFICAÇÃO AFRICANA



Por Malachiyah Ben Ysrayl.

Historiador e Hebreu-Israelita
E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br
Msn: kefingfoluke1@hotmail.com

Skype: lindoebano

Facebook: Walter Passos


Hoje em dia, há diversos festejos afro-americanos, notadamente após a invasão empreendidada pelos colonizadores europeus na África. Os descendentes dos prisoneiros de guerra e outrora escravizados nas Américas elaboraram novas formas de afirmação, posturas, de resignificação e pertencimento às culturas ancestrais.

É bom ressaltar que não são festejos dos hebreu-israelitas: estes não comemoram as festas do cristianismo e do judaismo, mas, já que o nosso blogger tem como uma das metas a informação, vamos comentar sobre a festividade realizada pela Trinity United Church of Christ's localizada em Chicago - USA, que teve como um dos mais proeminentes pastores o Rev. Jeremiah Wright Alvesta, Jr. Ele, na eleição de Barack Obama por ter sido seu pastor e amigo, foi alvo de censura nos meios de comunicação em vista de seus sermões serem considerados radicais e racistas pelos moderados pretos , assim como a população branca dos USA.


A Trinity United Church of Christ's tem mais de 8.500 membros, e é dirigida, atualmente, pelo Pastor Otis Moss III e Mrs. Monica Brown Moss, conforme o boletim enviado para o e-mail do nosso blogger, apesar de nunca termos entrado em contato com essa denominação cristã.


Umoja Karamu que significa "festa da unidade" em Kiswahili, é celebrada no quarto domingo de novembro e foi iniciada pelo Dr. Edward Sims, Jr. Data estabelecida pelo Templo do Messias Negro, em Washington, DC. É uma festividade de solidariedade nas famílias pretas, retratando as suas lutas e relembrando unidade. Muitos pretos nos USA a festejam como alternativa ao feriado nacional do dia de ações de graça. Esta escolha teve início com os nacionalistas pretos que lutaram pelos direitos civis nas décadas de 1960 e 1970. Posteriormente, os historiadores da afrocentricidade passaram a defender a idéia de que o povo preto buscasse as festividades africanas e as resignificassem na diáspora. Umoja Karamu é uma festividade diferente da kwanzaa, tendo enorme repercussão nas igrejas cristãs pretas. O cerimonial é composto de narrativas, musicas e alimentos referentes a cada período da história preta.

O simbolismo da festividade abrange cinco períodos da história do povo preto, representados por cinco cores:
Antes da Escravidão cor Preta - as famílias na África, antes de escravidão na América.
Na Escravidão – cor Branca- a dispersão das famílias escravizadas na América.
Após a Emancipação cor Vermelha- as famílias libertas da escravidão.
Luta de Libertação cor Verde- as famílias lutando pela verdadeira libertação, a luta pelos direitos civis e direito a igualdade.

Olhando paro o futurocor laranja ou Ouro – as família antecipando um profícuo futuro.
Nestes dias a refeição começa com uma oração e libação (derramam uma bebida para homenagear os ancestrais) que é uma tradição Africana.

Os alimentos são importantes na alteridade e símbolos de pertencimento e representados em cinco cores :

Preta - feijão-fradinho, azeitonas pretas e feijão preto.
Branca- arroz, batata e mandioca.
Vermelha - suco de cereja, pimentões vermelhos e tomates.
Verde - verdes, aipo, alface.
Laranja ou Ouro - pão de milho, queijo e abóbora.

UMOJA KARAMU AND OTHER TRINITY UCC UPDATES



domingo, 20 de novembro de 2011

I AM SLAVE – EU SOU UMA ESCRAVA PARA VOCÊ

Por Ulisses Passos.
Bacharel em Direito (Estácio de Sá/FIB),
Acadêmico de Línguas Estrangeiras da UFBA,
Pan-Africanista.
Pesquisador das relações étnico-raciais e jurídicas.
Pseudônimo: Aswad Simba Foluke. E-mail: ulisses_soares@hotmail.com. Facebook: Ulisses Passos.

Um ótimo filme de produção inglesa para a televisão estreou no Channel 4, em 30 de agosto de 2010, é uma excepcional história de luta de uma mulher para a liberdade da escravidão moderna. Dirigido por Gabriel Ranger e escrito por Jeremy Block, estrelados pela linda atriz nigeriana de 25 anos de idade, radicada na Inglaterra, Oluwunmi Olapeju Mosaku. Deleita-nos com uma interpretação brilhante, onde Malia nos leva a uma reflexão aprofundada e visceral do problema que passou a personagem e sua luta de superação.

Malia nunca esqueceu quem ela é: uma jovem Nuba orgulhosa que teve uma infancia feliz com os seus pais amorosos e dedicados. O costa-marfinense, Isaach de Bankolé, que já participou de mais de 30 filmes, interpreta Bah, o pai de Malia, um guerreiro Nuba que amava a sua família. Outra personagem de destaque é a atriz belga de origem árabe, Lubna Azabal, que interpreta a senhora opressora.



O filme busca retratar, principalmente, a história de Mende Nazer, escritora e ativista dos direitos humanos e uma ex- escravizada no Sudão. Mende Nazer é uma princesa do povo Nuba, seqüestrada aos doze anos de idade e escravizada após ataque de milícias muçulmanas pós-governo a sua aldeia nas montanhas. Durante seis anos foi escravizada por uma família na cidade de Cartum, capital do Sudão, vítima de pressões psicológicas, forçada ao trabalho doméstico e abusada sexualmente. No ano de 2000, aos 18 anos de idade foi enviada como escravizada para o diplomata sudanês Abdel al Koronky na cidade de Londres, onde o seu martírio continuou. Conseguindo fugir da escravidão em 11 de setembro de 2000 com a ajuda de um compatriota do Sudão.

Empreendeu uma grande luta para conseguir asilo político na Inglaterra, tendo seu pedido negado, recebeu apoio de grupos importantes anti-escravidão moderna, e teve a autobiografia, intitulada: Slave – The True Story Of Girl’s Lost Childhood and Her Fight for Survival escrita por ela e Damien Lewis publicada na Alemanha, com o impacto do livro a Inglaterra lhe concedeu asilo permanente.

A imprensa britânica , após esse episodio, tem constatado a veracidade de milhares de fatos, recentemente o jornal Daily Telegraph publicou um artigo do jornalista Heidi Blake o qual entrevistas policiais que investigam e vítimas da escravidão. O Diretor-Superitendente de Polícia Richard Martin, relatou:

- "Algumas das experiências, as vítimas são literalmente acorrentadas a pia da cozinha, trabalhando 20 horas por dia, 7 dias por semana para ganhar pouco ou nada.

-"Há outras que só foram autorizadas a comer as migalhas da mesa da cozinha, deixadas pelas crianças no fim das refeições, para que eles não eram sequer alimentados corretamente. E em torno de tudo o que você tem pessoas sendo agredidas e abusadas pelas famílias que estão dentro. Tivemos mulheres que foram estupradas. "Ela acrescentou que um número de casos suspeitos em curso envolvidos com imunidade diplomática. Esta é uma criminalidade grave perpetrada pelos diplomatas estrangeiros, alguns dos quais estão envolvidos em um sistema de escravidão moderna. Os casos que foram relatados têm sido horríveis, de terror e brutalidade, enfrentada por aquelas presas pela escravidão doméstica em Londres e no Reino Unido."

- "Kalayaan, uma instituição de caridade com base no oeste de Londres, ajuda cerca de 350 trabalhadores migrantes que foram forçadas à escravidão a cada ano. Cerca de 20 por cento deles relatam ter sido agredidas fisicamente por seus empregadores."
A escravidão moderna de homens e mulheres pretas africanos, infelizmente, ainda é uma realidade em países europeus, asiáticos e africanos. Supõem que na Inglaterra existam 5.00 mil escravizadas e no Sudão 20.00 mil. Famílias inglesas trazem 15.00 trabalhadores domésticos a cada ano e centenas empreendem fuga


Um bom filme para toda a família, ótimo para se fazer uma reflexão sobre a situação de africanos que ainda sofrem o descaso nos seus países e servem como mão-de-obra escravizada nos países europeus, outrora escravizadores.

Assista o filme no Youtube, clicando aqui


Trailer: I AM SLAVE


















ACESSE PRETAS POESIAS:

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A REBELIÃO DOS MAJI-MAJI - O MAIOR GENOCIDIO ALEMÃO NA ÁFRICA - RELIGIÃO ANCESTRAL AFRICANA VERSUS CRISTIANISMO –- RESISTÊNCIA AFRICANA







Por Walter Passos
, Historiador,Panafricanista,
Afrocentrista e Teólogo.
Pseudônimo: Kefing Foluke.
E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br

Msn: kefingfoluke1@hotmail.com

Skype: lindoebano

Facebook: Walter Passos



O colonialismo europeu na África foi baseado na apropriação das materias primas, exploração da mão-de-obra, brutalidade e racismo. Após a Conferencia de Berlim a Alemanha dominou diversas regiões e estes territórios usurpados foram denominados de África Alemã (em azul); o sudoeste Africano Alemão (alemão: Deutsch-Südwestafrika, DSWA). No mapa, em vermelho, vemos a África Oriental Alemã (em alemão Deutsch-Ostafrika) territórios posteriormente conhecidos como Tanganica (a porção continental do que é hoje a Tanzânia, Burundi e Ruanda) e parte de Moçambique, alem do Togo e Camarões, Sua área foi 994,996 km2, quase três vezes o tamanho da Alemanha de hoje.



BANDEIRA DAS COLONIAS ALEMÃS NA ÁFRICA

Os alemães, de 1884 até 1916, marcaram a África com sangue e ódio, baseados na idéia do Herrenvolk (raça supeior). Período em que as idéias da eugenia estavam no mundo cientifico europeu. Não podemos dissassociar os invasores alemães e os missionarios cristãos. As regiões invadidas por tropas alemãs concomitantemente chegavam com missionarios, ambos acreditavam de que os povos nativos eram estúpidos e primitivos e precisavam ser resgatados das garras de Satã, a idéia do Herrenvolk se concretizava nas mentes invasoras, e se sentiam com o “direito divino” de governar e explorar.



A farsa do cristianismo se mostra em toda a história colonial africana, tanto assim que os nativos eram obrigados a chamar todos os invasores e também os missionarios alemães do título: "Bwana" que significa "Senhor". A raça constituia uma identidade de grupo e determinava o status nas regiões invadidas, sendo necessário a crueldade para manter uma pretensa supremacia racial, tendo como a finalidade a subtração das riquezas das populações autctones. E o cristianismo. mais uma vez, cumpriu bem o se papel de exclusão e discriminação racial, como tem feito através da história.



Entre os alemães que exerceram influências que marcaram a África Colonial Alemã Oriental estava Karl Peters, conhecido pelos africanos com o nome "Milkono wa Damu", (homem com sangue nas mãos). Peters fora defensor do darwnismo social e um dos mais violentos em contatos com os populações nativas. Na foto abaixo, ele está com um "servo", mostrando a sua empáfia e poder. Tão cruel foi a sua rerlação com os africanos e os seus escritos defedendo a superioridade racial alemã que Adolf Hitler em 1941, usou a sua vida como propaganda nazista, patrocinando um filme ideologico, intitulado Karl Peters, dirigido por Herbert Selpin e estrelado por Hans Albers. As colonias na África foram o solo fertil de formação ideologica para a futura elite do nazismo.

Gustav Adolf von Gotzen (a foto acima à direita) foi o primeiro europeu a visitar o Lago Kivu. Governou a Deutsch-Ostafrika de 1901-1906 e usou de extrema violência na repressão as populações nativas.

O outro foi o governador Albrecht von Rechenberg (Georg Albrecht Julius Heinrich Friedrich Carl Ferdinand Maria Freiherr von Rechenberg) assumiu a responsabilidade por 6.000 alemães e quase oito milhões de habitantes. Fez um governo de exploração e foi acusado de homoafetividade com os nativos.

Governador da colônia de setembro de 1906 a outubro de 1912, foi acusado de ter mantido relações sexuais com um dos seus servos do sexo masculino. Os juízes fizeram o possível para conter o escândalo e a propagação de rumores decorrentes da acusação de uma série de processos judiciais sob a acusação de difamação, falso testemunho, a homossexualidade, e nativos atraentes para fazer declarações sobre a supostos encontros homossexuais entre o governador Rechenberg, de alta funcionários do governo, e outros europeus uns com os outros e com os não-europeus.

Os alemães defendiam a pureza racial e os casamentos inter-raciais eram proibidos na colonia, por causa da chamada degeneração racial, e estes casos de relações homoafetivas afetavam a família alemã e o mito do “gentleman” e o seu peso moral de manter a ideologia de superioriodade da raça branca e a masculinidade.

A exploração se tornou insuportavel quando o governador conde Adolf von Gotzen obrigou as populações dominadas a plantarem algodão e sisal para a exportação, o trabalho extenuante juntamente com o imposto criado por cabeça para a população adulta masculina, fazendo com que as mulheres assumissem funções masculinas na sociedade para ao sustento da família, porque os homens foram retirados para o trabalho fora das áreas de suas residências. Este fato gera um conflito na sociedade. Já explorados na construção de ferrovias, estradas, portos e outras obras. Alteraram a vida cotodiana e os missionários se encarregaram de combater as crenças nativas, destruindo as mahokas, cabanas sagradas, locais de veneração dos espiritos ancestrais, sendo os rituais religiosos, as danças e cerimonias ridicularizadas e demonizadas.

As populações da Tanganyca sofreram esteriotipos raciais, desprezo aos milenares conceitos ancestrais, sendo impostos a exploração psicologica e do seus bens materias. Tentaram quebrar a auto-estima para dominar e a opressão se tornou insuportavel, se criou o momento para a reação contra os colonizadores alemães.

Em julho de 1905, a rebelião eclodiu na zona sul de Dar es Salaam (Tanzânia), contra o recrutamento recém-instituído do trabalho obrigatório para a Alemanha da plantação de algodão e de sisal. Conhecida como a guerra Maji Maji liderada pelo povo Ngonis, combatida sem piedade, e foi a mais sangrenta na história da Tanganyika. E relembrada pelo habitantes da Tanzania como um das datas mais importantes de sua história.





LÍDERES DA RESISTÊNCIA AO IMPERIALISMO ALEMÃO


DEUTSCHE KOLONIEN (2) - 3/5 - AFRIKA BRENNT


Observamos que a influência religiosa-mágica teve um papel fundamental na organização da resistência. A religião do invasor branco: o cristianismo , experiente em invasões territorias, torturas e genocidios, não interessavam aos nativos, e foi através da fé tradicional ancestral que o sacerdote Kinjikitile "Bokero" Ngwale, seguidor e afirmando ser possuído pelo deus Cobra HONGO, afirmou de que a guerra era ordenada por Deus e os antepassados retornariam parta ajudá-los, o ordenara liderar a rebelião contra o Império Colonial Alemão e encorajou os seus seguidores a ignorar as diferenças etnicas e unir-se contra os alemães, e a unidade e a liberdade de todos os africanos era um principio fundamental. Edificou um altar para as celebrações religiosas, o qual chamou da “Casa de Deus”. Disse ter um poder mágico, a água especial das montanhas Uluguru (maji: suaíli para "água"), uma água misturada com oleo de mamona e sementes de milho que protegeria os guerreiros contra as balas alemãs, e seriam transformadas em água. Os africanos estvam armados com pistolas rudimentares, lanças e flechas e usando talos de milho em volta das cabeças. Alaidos ao povo Matumbi, estavam o Mbunga, Kichi, Ngoni, Ngindo e Pogoro, uma base de vinte nações . A guerra durou de julho de 1905 a agosto de 1907. Foi o primeiro movimento em massa da África, o levante durou dois anos e envolveu pessoas em mais de 10.000 quilômetros quadrados. Embora em menor número, as forças alemãs e os nativos aliados tinham um poder de fogo superior e milhares de guerreiros foram trucidados pelos tiros das metralhadoras e canhões.
Guerreiros aprisionados

MAJI MAJI REBELLION REENACTMENT

Em julho de 1905, Kinjikitile foi capturado e enforcado em 04 de agosto de 1905, condenado por traição ao Império Alemão. Seu irmão continuou a guerra até 1907. Obtiveram sucessos iniciais e depois a repressão alemã foi de extrema violência, destruíram aldeias e plantações. Como resultado da rebelião mal sucedida, o grande chefe Mputa, chefe Songea, e outros líderes Njelu foram executados, enquanto outros fugiram. Alguns líderes continuaram uma guerra de guerrilha, até que também eles foram feitos prisioneiros e executados em julho de 1908.


PRISONEIROS ANTES DA EXECUÇÃO


PRISIONEROS ENFORCADOS

Sofreram grandes perdas nas batalhas em campos abertos e mudaram a estratégia de combate, começaram a se esconder nas florestas e usando a tática da guerrilha, atacando as tropas alemãs em emboscada, e este fato novo, teve uma resposta cruel. A vingança alemã foi terrível, estima-se que entre 250 mil a 300 mil pessoas foram dizimadas, entre elas, crianças, mulheres e idosos pela fome. A Alemanha usou a tática genocida, a política da terra queimada em aldeias e plantações, destruição de poços de água e outras fontes de alimentos. Em 1905, um dos líderes das tropas alemãs, o capitão Wangenheim, escreveu a von Gotzen, "Só a fome pode trazer uma solução final. As ações militares serão mais ou menos uma gota no oceano"

"Em minha opinião, a fome e a angústia levaram a uma submissão final e completa. Ações militares, mais ou menos, continuar a ser uma propaganda"(de acordo com Gotzen 1909: 149).. Gotzen governador concordou com esta opinião e justifica as ações tomadas pelos alemães como se segue: "Como em todas as guerras contra os povos não civilizados (...) também no caso em apreço, era indispensável para implicar bem planejada danos a bens e haveres da população hostil. A destruição de valores econômicos, como o incêndio de assentamentos e de alimentos, pode parecer bárbara para o estrangeiro. Se percebe, no entanto, por um lado, a rapidez com que as habitações dos negro são construídas de novo e como o crescimento exuberante da natureza tropical produz culturas novo campo e, por outro lado, que na maioria dos casos, o que foi confirmado por este levante também, a subjugação dos povos hostis só foi possível por tais procedimentos. Em conseqüência, uma virá para uma visão mais branda sobre este assunto (como dirá necessitas)."

As conseqüências da destruição foram enormes, todo o sul da África Oriental Alemã foi completamente devastada e o poder político e a estrutura econômica do povo Ngoni totalmente aniquilada.

INACREDITÁVEL:


Liwale é um dos seis distritos da Região Lindi da Tanzânia, e a Igreja Católica Apostólica Romana conseguiu uma grande vitória, perfazendo a incongruência da história: muitos descendentes dos grupos étnicos massacrados pelos alemães, hoje cristãos, peregrinam considerando os religiosos alemães mortos na Guerra dos Maji-Maji como mártires.

Durante a Revolta de Maji-Maji, em 1905, foram assassinados, no caminho para Peramiho, o Bispo Cassian Spiss com dois Irmãos Beneditinos, e nossas Irmãs Felicitas Hiltner e Cordula Ebert.

No centenário do assassinato houve uma peregrinação e solene celebração naquele lugar.

Na página das BENEDITINAS MISSIONÁRIAS DE TUTZING, encontramos: No dia 29 de agosto de 1905, perto de Nyangao, faleceu a nossa Irmã Walburga Diepolder, vitimada pelos guerreiros da Guerra de Maji-Maji.

“Inaugurou Fotos da bela peregrinação por ocasião do Centenário do assassinato do Bispo Cassian Spiss, dos dois Irmãos e das duas Irmãs, em Liwale, em agosto de 2005. Foi celebrada a Bênção da Pedra comemorativa”.


O genocídio cometido pelo Império Alemão no oeste africano nos traz reflexões de como o mito de superioridade racial, filosófico e religioso, baseado na intolerância trouxe conseqüências destrutivas porque depois do massacre e da fome os povos ficaram marcados por toda uma existência, tendo os seus modos produtivos transformados, experiências religiosas destruídas e grupos étnicos com histórias milenares abalados.

A experiência desta guerra serviu como inspiração para as grandes batalhas panafricanistas do século XX. Não devemos esquecer que o sangue derramado de 300 mil crianças, mulheres, idosos e guerreiros germinaram a semente da África para os africanos.

VILAS QUEIMADAS - 1907


Este genocídio foi quatro vezes maior do que o genocídio feito contra os povos Herero e Nama, que aconteceu no mesmo período, onde a Alemanha havia arrasado as nações Herero e Nama na Namíbia, matando de fome quase 75 mil pessoas. Vede: O GENOCÍDIO ESQUECIDO – A REVOLTA DOS HEREROS E NAMA NA NAMÍBIA



sábado, 5 de novembro de 2011

HISTÓRIAS CRUZADAS - EMPREGADAS PRETAS E AS CASAS BRANCAS


Por Ulisses Passos.

Bacharel em Direito (Estácio de Sá/FIB),
Acadêmico de Línguas Estrangeiras da UFBA,
Pan-Africanista.
Pesquisador das relações étnico-raciais e jurídicas.
Pseudônimo: Aswad Simba Foluke.
E-mail: ulisses_soares@hotmail.com.
Facebook: Ulisses Passos.






O objetivo desse artigo é indicar ao publico do blogger BAYAH o filme Histórias Cruzadas (The Help, USA. 2011), destacando seus principais elementos e introduzindo reflexões acerca do papel da afro-americana empregada domestica no Sul dos Estados Unidos em meados da década de 60.

O Filme

The Help, romance escrito pela estadunidense Kathryn Stockett, foi adaptado ao cinema com nome homônimo (Histórias Cruzadas, no Brasil) pela Dreamworks e lançado no dia 12 de agosto deste ano.

O filme, a exemplo do livro, busca retratar a relação racialista entre as empregadas domésticas afro-americanas e as brancas para as quais elas trabalhavam, em Jackson no Mississipi, durante os anos 60.

O enredo se desenvolve através da perspectivas de duas empregas domésticas (Aibileen e Minny) e de Skeete, uma jovem branca recém-graduada que sonha em ser escritora. Ao perseguir seus objetivos, ela perde Demetrie, a empregada negra que foi seu porto seguro em uma infância fraturada pelas separações e ausências dos pais, após uma atitude arbitraria de sua mãe.

Motivada por esse fato, Skeete decide pesquisar e entrevistar mulheres pretas que servem e cuidam das “boas famílias cristãs do sul” dos Estados Unidos. Apesar das proibições legais, das ameaças e da vigilância da sociedade racista em Jackson, Skeeter consegue o apoio de Aibileen (Viola Davis), governanta de um amigo, que por sua vez conquista a confiança de outras mulheres que têm muito que contar. No entanto, relações são forjadas e irmandades surgem em meio à necessidade que muitos têm a dizer antes da mudança dos tempos atingirem a todos.





Análise da Obra

O filme busca retratar através do olhar das empregadas afro-americanas a sociedade racialista do sul dos Estados Unidos e da paixão fervorosa de uma jovem branca americana em ser escritora.

A estrutura social onde se desenvolve a obra é marcada pela desigualdade formal, através de um conjunto de leis chamados Jim Crow, e material, através do racialismo segregacional e ideológico intenso. Para entender com profundidade as relações apresentadas pelo filme, é necessário compreender o complexo sistema racial estadunidense, antes e depois da luta pelos Direitos Civis.



Para entender mais sobre o Jim Crow, clique aqui.

O filme, em si, consegue retratar a opressão vivenciada pelas domésticas afro-americanas, através de recortes bem elaborados do ponto de vista social e psicológico, destacando sutilmente a violência gratuita dos homens negros, não retratados na história, e a continuidade da posição socialmente estigmatizada de geração em geração daquelas mulheres.

Antes de concluir, todavia, destaco a crítica realizada pela Associação de Mulheres Pretas Historiadoras (tradução livre de The Association of Black Women Historians - ABWH) que em comunicado oficial ressaltou que "Apesar dos esforços para comercialização do livro e do filme e seu objetivo em contar um progressivo triunfo sobre a injustiça racial, The Help distorce, ignora, e banaliza as experiências das pretas empregadas domésticas”.

A crítica acima se baseia nos estudos realizados pela ABWH, cujo filme apresenta um retrato quase uniforme dos homens negros, como cruéis ou ausentes, além de velar os constantes assédios sexuais dos patrões brancos sofridos pelas empregadas afro-americanas.

Por fim, entendo proceder à crítica realizada pela ABWH, mas ressalto que nem o livro, nem o filme se propõem a discutir profundamente os recortes dados pelo ABWH, mas retratar a visão de Kathryn Stockett, uma branca norte-americana, acerca das relações étnico-raciais, utilizando para isso as histórias de mulheres pretas, mantidas no anonimato.

Assim, o blogger BAYAH deseja a todos e todas boas reflexões e um ótimo filme.




quinta-feira, 2 de junho de 2011

OS CONFLITOS DE BETA ISRAEL COM OS CRISTÃOS ETÍOPES – PERSEGUIÇÃO MILENAR AOS HEBREUS NA ETIÓPIA – IIª PARTE


Por Walter Passos
, Historiador,Panafricanista,
Afrocentrista e Teólogo.
Pseudônimo: Kefing Foluke.
E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br

Msn: kefingfoluke1@hotmail.com

Skype: lindoebano
Facebook: Walter Passos.











"Eu sou preta, e formosa, ó
filhas de Jerusalém, como
as tendas de Quedar, como as
cortinas de Salomão ". Cantares de Salomão 1:5.



A modelo Esti Mamo nasceu em 1983 em Chilga, no noroeste da Etiópia. Ela é membro da comunidade Beta Israel.




Dando continuidade ao artigo anterior sobre a Beth Israel (Casa de Israel) notamos que há um desconhecimento de alguns irmãos e irmãs de como a tradição oral e a história documental interpretam o surgimento dos hebreus na Etiópia. Sabemos que os melhores historiadores sobre Beta Israel são os membros daquela comunidade, porque mantém tradições vivas comprovadas através da oralidade e um pertencimento milenar oriundo da tradição mosaica que não deixa dúvidas da sua originalidade, apesar de historiadores brancos tentarem colocar em dúvida uma das mais antigas comunidades hebréias existentes no mundo. Dúvida esta desfeita pelos próprios rabinos do judaísmo (askenazis e sefarditas) os quais sem saída tiveram discussões em exaustivas reuniões e chegaram à conclusão: A Casa de Israel é composta de verdadeiros hebreus.

Entre algumas hipóteses que criaram sobre Beta Israel, uma tenta colocar em dúvida a sua origem hebraica, as outras três informam a sua provável origem, sendo a nº 1 aceita pela oralidade da comunidade, a saber:

(1) O Beta Israel são descendentes da tribo israelita de Dan.
(2) São descendentes de Menelik I, filho do rei Salomão e da rainha de Sabá.
(3) São descendentes dos cristãos etíopes e de “pagãos” que se converteram ao judaísmo séculos atrás.
(4) São descendentes de hebreus que fugiram de Israel para o Egito depois da destruição do Primeiro Templo em 586 a.C, e acabaram por se instalar na Etiópia.

As hipóteses um, dois e quatro se completam na própria explicação da comunidade, corrobora o histórico de suas migrações de Israel. A tradição oral, preservada pelos sacerdotes da comunidade, explica que houve uma migração dos filhos de Israel para o exílio no Egito, após a destruição do Primeiro Templo pelos assírios no ano de 586 a.C. e também no exílio babilônico. Estes hebreus permaneceram por centenas de anos no Egito até o reinado de Cleópatra que a auxiliaram na guerra contra Cesar Augustus, sendo derrotados na guerra, eles fugiram para a Arábia do Sul, posteriormente foram para o Yemen; outros se dirigiram para o Sudão até chegarem à Etiópia.

Alguns membros da comunidade de Beta Israel afirmam que as suas origens são Danitas contemporânea a Moisés, quando alguns Danitas partiram após o Êxodo e mudaram-se para sul, até a Etiópia. Eldad, o Danita, realmente descreve ao menos três ondas de imigração israelita para a esta região, criando outras tribos israelitas e reinos, incluindo as primeiras levas que se instalaram em um remoto reino da "tribo de Moisés": este foi o mais forte e mais seguro reino hebreu de todos, com aldeias agrícolas, cidades e grande riqueza. É importante ressaltar que houve diversos reinos israelitas na África os quais não são citados porque são provas incontestes da cor dos descendentes de Avraham (o pai de muitas nações pretas).

Os hebreus na Etiópia mantiveram os seus costumes da época mosaica sem influência do judaísmo (não existe esta palavra nos escritos sagrados) e seus talmudes (interpretações da lei criada pelos askenazis). As tradições de Beta Israel estão baseadas no Torá que está escrito em pergaminhos e outros livros considerados sagrados como o de Enoque, seus costumes são bem antigos e muitos deles somente praticados pela comunidade e eram desconhecidos pelos chamados judeus (origem européia) atuais.

Beta Israel viveu no Norte e Noroeste da Etiópia, em mais de 500 vilarejos espalhados por um vasto território, entre populações muçulmanas e populações cristãs. A maioria se concentrava na área em torno do lago Tana e ao norte no Tigre, Gonder Wello e regiões, e entre os Semien, Wolgait, Dembia, Segelt, Lasta, Quara, Belesa, e um pequeno número viveu nas cidades de Gonder e Adis Abeba.

Os hebreus da Etiópia sempre foram considerados estrangeiros, pessoas estranhas a região, por manterem vivos os costumes ancestres do mosaismo, foram discriminados e perseguidos, tendo resistidio por milhares de anos. Tanto assim que o termo falasha significa estrangeiros.

O Kebra Nagast, relato escrito em Ge'ez das origens da linha salomônica dos Imperadores da Etiópia, é legitimamente questionado pela casa de Beth Israel. O objetivo do livro é proclamar a Glória dos Reis. Não a glória dos reis hebreus, mas a glória dos reis cristãos, escrito, em sua maioria, provavelmente no século XIV para deslegitimar a dinastia Zagwe, e proclamar a dinastia salomônica que é uma dinastia cristã reverenciada como legitima na Etiópia e pelos grupos rastafáris nas Américas, considerada pelo Beth Israel como uma dinastia usurpadora do trono hebreu e transformadora das tradições ancestrais. O Kebra Nagast é considerado uma falácia pelos verdadeiros hebreus.

A resistência dos hebreus após a conversão de Ezana ao cristianismo (religião branca européia) realizado por Frumêncio foi ativa, onde se recusaram a adotar o cristianismo e ocorreu uma guerra civil entre os hebreus e os cristãos, os hebreus migraram para a serra de Siemen e fundaram o Reino de Siemen (Reino dos Gideões) na parte oeste-norte da Etiópia, cujo primeiro rei foi Fineas.

As guerras foram constantes por causa das perseguições do império cristão etíope. No século nono, durante uma batalha, o rei hebreu foi morto, assumindo o reinado a sua filha que se tornou a imperatriz hebréia Judith que aliada ao povo de Agaw investiu contra o império axumita no ano de 960. As tropas da confederação das tribos de Israel e Agaw, lideradas pela Rainha Judith, invadiram a capital de Axum conquistando-a e destruindo-a, queimaram inúmeras igrejas e impuseram o Estado hebreu sobre Axum. Além disso, o trono Axumita foi arrancado e as forças da Rainha Judith saquearam e incendiaram o mosteiro de Debre Damo, que a época era um tesouro e uma prisão para os parentes do sexo masculino do imperador da Etiópia, matando todos os herdeiros potenciais do imperador. A rainha hebréia Judith governou por 40 anos, tendo os seus sucessores governados por mais de 400 anos toda a Etiópia.


"CAMPO DE JUDITH": uma área repleta de ruínas de prédios destruídos, que segundo a tradição foram arruinadas pelas forças da Rainha Judith.


A Idade de Ouro do reino de Beta Israel ocorreu, de acordo com a tradição etíope, entre os anos 858-1270, na qual o reino hebreu floresceu. Durante esse período, os israelitas espalhados pelo mundo ouviram falar pela primeira vez as histórias de Eldad ha-Dani que aparentemente visitou o reino. Marco Polo e Benjamin de Tudela também mencionaram um reino israelita independente na Etiópia nos escritos desse período. Este período termina com a ascensão da dinastia cristã salomônica.


No ano de 1270, os cristãos assumem de novo o poder e longas guerras começam, e no reinado do imperador cristão Yeshaq (1414-1429) o reino hebreu é invadido e dividido em três províncias, sendo forçada a conversão de muitos israelitas ao cristianismo, sob a ameaça de que ou se convertiam ou perdiam as terras. Yeshaq decretou: "Aquele que é batizado na religião cristã pode herdar a terra de seu pai, caso contrário, deixá-lo ser um Falāsī". Isso pode ter sido a origem do termo "Falasha" (falāšā, "andarilho", ou "pessoa sem-terra"). Neste período os hebreus foram considerados pessoas de segunda categoria, inferiores aos cristãos.

Os israelitas não se curvaram as humilhações e a apropriação de suas terras pelos cristãos e em 1450 após reativarem o exército invadiram o império cristão etíope, mas foram derrotados, resultando no massacre durante sete anos de milhares de hebreus.

Quando os muçulmanos invadem a Etiópia na sua guerra de expansão pelo território africano, os hebreus fazem um pacto de paz e auxiliam os exércitos cristãos contra o inimigo do Islã, sendo derrotados pelos muçulmanos e sofrendo mais uma vez um violento massacre das tropas otomanas e do sultanato de Adal. Como apoio do império cristão axumita e de seus aliados portugueses e das ordens dos jesuítas conseguem expulsar os muçulmanos, mas, com o auxílio das forças de Portugal e da Ordem dos Jesuítas, o império etíope, sob o domínio do imperador Gelawdewos, invadiu o reino hebreu e executou o rei Jorão. A conseqüência dessa traição dos cristãos foi que o reino hebreu se tornou restrito a região das Montanhas Semien.

Com a morte de Jorão, o rei Radi assume o trono hebreu e faz guerra contras o imperador cristão Menos, conseguindo reforçar as suas defesas das montanhas Semien. No governo do imperador cristão Sarsa Denge, o reino hebreu é novamente invadido e o rei hebreu Gósen e muitos de seus soldados foram executados. O desespero dos hebreus levou a muitos membros do reino a cometer o suicídio. Em 1627, o imperador Susenyos invade o reino hebreu e após derrotá-lo, anexa-o ao império etíope.

"Os homens e mulheres Falasha lutaram até a morte das alturas escarpadas da sua fortaleza... lançaram-se sobre o precipício ou cortaram a gargantas uns dos outros ao invés de serem presos, era um Masada Falasha. [Os líderes rebeldes] queimaram toda a história escrita dos Falasha e todos os seus livros religiosos, era uma tentativa de erradicar para sempre a memória hebraica da Etiópia” "(Righteous Judeus, AAEJ Imprensa, 1981).

Os hebreus foram capturados e vendidos como escravos, forçados ao batismo cristão, e tiveram negado o direito à própria terra. A independência de Beta Israel foi retirada, assim como ocorreu com seus irmãos israelitas em Massada, séculos antes em Israel.


Alpha Blonde - Massada


Continua no próximo artigo.

Shalom!



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