terça-feira, 21 de abril de 2015

REENCONTRO DO AMOR












Walter Passos - Historiador
Skype: lindoebano
 Facebook: Walter Passos

Sexta-feira, outono, um dia fresco. Algumas folhas secas voam ao vento. Outras folhas farfalham revelando segredos. Outras renascem. O outono é o mês do renascimento e revivências.

No auditório de ar-condicionado, engenheiros, técnicos, jornalistas e interessados aguardam o início de um workshop sobre tecnologia digital que durará dois dias. A oficina promete.

Repentinamente ao olhar para as poltronas da fileira atrás, fulano fica surpreso e sem voz. Borboletas revoam em seu estômago. Um amigo da infância, que há décadas não sabia notícia, estava sentado e o olhando como estivesse vendo uma miragem.

Em uma peça pregada pelo destino os dois homens se encontram.

Haverá muito que prosear. Eles irão relembrar nestes dois dias de seminário, fatos que marcaram as vidas e acreditavam que nunca mais seriam comentadas.

Já havia passado trinta e oito anos. Nasceram no mesmo ano e no mesmo mês. Três dias de diferença.  São do signo de Peixes. Atualmente, possuem quarenta e nove anos de idade. Fora muito tempo sem notícias. De choros e tristezas pela separação forçada, da amizade violentamente proibida entre os dois meninos. 

Nasceram e foram criados em um bairro da chamada periferia, pobres e pretos. Vizinhos e colegas da mesma classe escolar. Torcedores do Leão da Barra (Vitória). Entristeciam-se quando o time do coração perdia. Parceiros em tudo. Mas, havia uma diferença que separava as famílias: a religião. Uma seguidora de uma igreja renovada (pentecostal) era totalmente contraria a bela amizade que aflorava dia a dia entre as crianças. A outra criança era de uma família de religião de matriz africana. Duas famílias pretas separadas pela convicção religiosa. Como diziam os meus antigos:  cada qual no seu cada qual.

Longe das repressões familiares, os amigos se encontravam e brincavam de bola de gude, pião, babá (futebol), arraia, picula, pega ladrão e outras brincadeiras de menino que raramente são conhecidas pelas crianças de hoje.

Júnior, de baixa estatura, gordinho, um dos nossos personagens era um menino introvertido. Falava pouco, meio caladão e desconfiado. Sentia-se a vontade quando chegava Carlão, o outro personagem, um menino precoce, de uma estatura considerável e forte por isso o superlativo: Carlão. Alegre e de boa conversa.

Quando os outros meninos chamavam Júnior de “Mariquinha” por ele se recusar a participar de certos tipos de brincadeiras, era o mesmo que procurar briga com Carlão.

Certo dia, no final de tarde,  Júnior e Carlão se tocaram, fato ocorrido, no esconderijo de uma casa abandonada no final do beco. Local onde se masturbavam olhando as revistas proibidas pelos adultos.
Caro ledor e ledora estão a se perguntar:

- O que tem de mais duas crianças amigas se tocarem?

Eu respondo:

- Não foi um toque simples, há mais coisas que terão que ser reveladas. Esse fato repercutiu violentamente entre as famílias.

Voltando à casa abandonada.

Era época de festas juninas e os meninos da rua resolveram realizar um casamento caipira. Era uma brincadeira de meninos. Foi sugerido que Carlão fosse o noivo e Júnior a noiva. Interessante é que eles gostarão da ideia e aceitaram participar da brincadeira, com padre e tudo. Tinham entre dez  ou onze anos de idade. O casório foi realizado e houve “lua de mel” entre os meninos. No dizer da meninada: o troca-troca.

Júnior foi duramente espancado pelo pai, um homem preto, obeso, crente renovado, que disse que o filho, estava com pomba-gira.  Coitado de Juninho. Apanhou de cinturão para se livrar do “encosto sodomita”, conforme o seu pai. A sua mãe chorava e orava para que o seu filho não entrasse no caminho da perdição.

Carlão, disse em casa que era mentira. O pai dele disse que não gostava de conversa fiada e fofoca de vizinhos e se o filho “comeu” ou “deu”, o problema era dele. E mandou todo mundo para aquele lugar. As pessoas diziam que ele era de macumba (nome dado erroneamente a praticante de religiões de matrizes africanas). A mãe de Carlão disse que tinha mais o que fazer.

Na outra semana, depois de ficar trancado em casa, a família de Júnior muda de residência e nenhum vizinho soube do paradeiro. Inclusive mudaram de igreja. Disseram que se mudaram para outra cidade.

Trinta e oito se passaram,  Carlão olha para trás e vê Júnior. O coração de Carlão dispara e o de Júnior acelera. Levantam e se abraçam lacrimejando.

- Há quanto tempo, Juninho! Por que nunca mais deu noticias?

- Eu fui proibido, Carlão!

E conversaram. Falaram da vida. Júnior estava casado e com filhos.  Riram porque gostavam de tecnologia digital. Júnior era oficial de uma grande igreja. Carlão tinha um cargo importante em sua religião de matriz africana. Continuava solteirão e disse:

- Ainda vivo de aventuras...

Resolveram se hospedar juntos no mesmo hotel para papearem, havia tanto tempo afastados.

À noite, no quarto, depois de muita conversa deixaram todos os conceitos e preconceitos de lado. Resolveram dormir de cochinha e se amaram.


sábado, 10 de janeiro de 2015

BRIGA DE MARIDO E MULHER ORIXÁ METE A COLHER.



Walter Passos - Historiador
Skype: lindoebano
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Salvador é a terra do preto doutô, das mais formosas  pretas faceiras, das belas praias, de Itapuã a Ribeira, do Pelourinho e de um povo bonito e festeiro. Dos terreiros e candomblés. Salvador é a terra do asè.

Salvador é uma terra contraditória, sendo extremamente machista e dominada pelo poder matriarcal nos mais importantes candomblés. Daqueles, inclusive, há alguns que ainda hoje é vedada aos homens a iniciação. Não há Yaô do sexo masculino para manifestar as energias da natureza.

Sendo uma população machista, a violência contra a mulher é manifestada pelos adeptos de todas as manifestações religiosas, inclusive entre os seguidores das religiões de matrizes africanas. Fatos esses que não deveriam ocorrer por causa dos ensinamentos de estabilidade e respeito entre os gêneros.

Contam os mais antigos que nessa bela cidade preta, viveu um ogã, mulherengo, não podia ver os rabos de saia que ia com o seu “bico doce” dá uma cantada.

Gabava-se de a sua companheira ser uma mulher delicada, serena, sensual, atenciosa, de um sorriso doce e eximia cozinheira, filha da Dona da Panela e das Águas Doces.
Oxossi é um orixá que gosta de festejos, o seu paó não é em segredo, é com festas, muita comilança e foguetório.

O nosso Ogã, sendo um devoto do Grande Caçador, soltava os mais potentes foguetes na festa de Odé. Era só sorrisos, vestido de branco. Só Alegrias e foguetes. Há anos ele fazia isso e sabia que o Orixá aprovava a sua homenagem.


Em uma das festas, o ogã queimava os foguetes e um deles explodiu em suas mãos. O grito de dor atravessou Salvador e o impacto da explosão fora tão forte...

As perguntas começaram:

- O que houve?

- O que a comunidade fez?

A respeitadíssima Iakekerê exclamou:

- Será que o meu pai não gostou da festa?
                                  
Enquanto as indagações continuaram, a festa reiniciou e foi dado socorro médico ao afamado ogã que teve os quatro dedos da mão amputados pela explosão do foguete.
Ninguém é bobo. Dias depois, consultaram no jogo de búzios o motivo da explosão do foguete nas mãos do Ogã mais considerado da roça.

A resposta de Oxossi foi direta e incisiva:

- Diga a “fulano de tal” que nunca mais ele levantará as mãos pra agredir mulher alguma, principalmente em sua esposa, a filha de Oxum.

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