sábado, 15 de dezembro de 2007

KWANZA: CELEBRAÇÃO AFRICANA

Por: Ulisses Passos. Acadêmico de Direito, Pan-Africanista e Presidente do CNNC/BA. Pseudônimo: Aswad Simba Foluke
Kwanza é uma celebração dos pretos e pretas norte-americanos, com enfoque sobre os valores Africanos da família preta, da responsabilidade comunitária, o comércio, e a auto-gestão. Kwanza não é um feriado político, ou religioso, mas um momento a celebração do povo preto, dos nossos antepassados e da nossa cultura.
A palavra Kwanza é derivada da frase em Kiswahili ‘Kwanza do Ya Matunda’, que significa ‘Primeiros Frutos da Terra’, fazendo menção aos primeiros frutos em África.
A princípio, a Kwanza era uma festa comemorada no continente africano, na tradição dos povos africanos de reservar determinada época para festejar a fartura da colheita, e juntos cantar, dançar, comer e beber e comemorar a colheita das primeiras frutas e vegetais. Traria os primeiros alimentos que cresceram ou iguarias que faziam destes para a festa.
Seu fundador é Ron Karenga, conhecido também com Ron “Maulana” Everett, Maulana significa o professor Mestre, em Kiswahili. Karenga foi o primeiro preto a estudar na Universidade da Califórnia, onde aconteceu realização da primeira Kwanza no ano de 1966.
A festa do Kwanza é comemorada durante sete dias, a partir do dia 26 de Dezembro até o dia 01 de janeiro, ligada pela luta dos direitos civis nos U.S. A nos anos de 1960. Foi estabelecido com o objetivo de reconectar os africanos em diáspora com suas características ancestrais e culturais, embasado nas tradicionais festas africanas. Karenga também afirma que a festa do Kwanza não é uma substituição a feriados religiosos e sim uma festa em que os pretos e pretas possam comemorar a semelhança de como faziam nossos ancestrais antes de serem seqüestrados pelos Europeus Caucasianos.
O Kinara é o centro do parâmetro da Kwanza e representa o estado original pelo qual viemos: nossos ancestrais. Também está dividido em sete princípios do Kwanza, conhecidos também como Nguzo Saba. O Kwanza se tornou a manifestação cuja filosofia é à recuperação das tradições e razões dos nossos ancestrais perdidas, com ênfase na união comunitária entre os pretos do mundo, movimento político hoje conhecido como PanAfricanismo.
Os sete princípios do Kwanza, cada um deles comemorados em um dia dos sete da festa, são:
UMOJA – Significa unidade, e representa manutenção da unidade na família, na comunidade, na nação e na raça.

KUJICHAGULIA – Significa Autodeterminação, representa os valores de determinação que o povo preto deve apresentar para resolver as questões que nos afligem.

UJIMA – Significa Trabalho Coletivo e Responsabilidade, Construção conjunta e manutenção da nossa comunidade unida para fazer nossos problemas da irmã e dos irmãos nossos problemas e para resolvê-los junto.

UJAMAA – Significa Economia cooperativa, para construir e manter nossas próprias lojas, supermercados e outros negócios e para comercializar junto com nossos irmãos e irmãs pretas.

NIA – Significa Finalidade, almeja a construção do coletivo e tornar-se de nossa comunidade a fim restaurar nossos povos a sua grandeza outrora tradicional.

KUUMBA – Significa Criatividade, tem por objetivo fazer sempre quanto nós pensemos ser necessário, a nossa maneira, a fim deixar nossa comunidade mais bela e benéfica do que quando nós a herdamos, sempre buscando a melhoria do povo preto.

IMANI – Significa Fé, para acreditar com nossos corações em nosso povo preto, nossos pais, nossos professores, nossos líderes e a vitória de nosso esforço.
Esta citação é feita no início da celebração da Kwanza:
‘Para nossa Terra-Mãe, África, berço da civilização.
Para os antepassados e seus indomáveis espíritos
Para os idosos a partir dos quais podemos aprender muito.
Para os nossos jovens, que representam a promessa do amanhã.
Para o nosso povo, as pessoas originais.
Para a nossa luta e na lembrança daqueles que têm lutado em nosso nome.
Para Umoja, o princípio da unidade, que deve nortear tudo o que fazemos.
Para o criador, que fornece todas as coisas grandes e pequenas’
Sendo este um momento propício para reflexão e inserção do Kwanza em nosso calendário comemorativo, tendo em vista que nenhuma festividade será comparada à Kwanza, em que realmente podemos refletir sobre a situação do nosso povo preto.
Por isso que o CNNC/BA (Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos/BA), vai realizar sua primeira Kwanza no CDCN ( Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra), localizado na rua do Paço, às 17 h do dia 25 de dezembro.
E que jamais possamos esquecer esses sete princípios que configuram o ideal da Kwanza, que sejam enraizados nas nossas mentes e principalmente em nossas ações.

sábado, 8 de dezembro de 2007

O BOM VELHINHO BRANCO E O MAU VELHINHO PRETO









Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com


Recordo-me dos diversos natais da minha infância na Igreja Presbiteriana, e sempre via lamentos e lacrimejos de meninas pretas por não poderem representar nas peças natalinas: os anjinhos. Criança adora participar e ser anjinho no natal, pois aumenta a auto-estima e a insere no vivenciar místico da religiosidade cristã, onde os anjos têm um papel fundamental como mensageiros de Deus, e muitos fiéis erradamente acreditam que um dia se transformarão em anjos na Glória Celestial.
Quando criança participei de diversos funerais de “anjinhos” pretos em caixões brancos, sendo apenas considerados anjinhos as crianças pretas após a morte. Eu acreditava piamente que se tornaram anjinhos, mas, nunca presenciei anjinhos pretos e vivos na igreja.
O tempo passa e a festa natalina continua nas igrejas como sendo a mais pomposa do ano, festejando o nascimento de Jesus Cristo, com seus presépios e dezenas de cânticos:
-Pinheirinho que alegria..
- Nasce Jesus...

E por ai vai, sendo mais alegres as crianças, que vivem sonhos e os transformam em fantasias. Mas quais os sonhos e fantasias repassadas e ensinadas para as crianças pretas?
Este ano já comecei a receber felicitação natalina e evidente que não vou responder. Vejo sempre no Orkut, pretos que mudam as suas fotos e colocam a de Papai Noel, o bom velhinho. Ficam até engraçados, por assim não se dizer ridículos, pretos de Papai Noel e Papai Noel Pretos, já começam a aparecer em alguns shoppings, tudo pelo consumismo para atrair o 13º salário da população, mas, felizmente, são poucos pretos de Papai Noel e abaixo vocês entenderão o por quê.
Todo estudante da História da Igreja sabe que a festa de Natal é uma adaptação da Igreja Romana, no século IV d.C, aos cultos ancestrais europeus que referenciavam o deus Sol, que era comemorado no dia 25 de dezembro, e nada tem haver com o Cristianismo de Matriz Africana. Contudo, tudo que vem do Norte é considerado sagrado, até os demônios natalinos também. Não podemos esquecer que o mal vem do Norte.
A palavra Natal vem do termo latino “Nativitas”, o mesmo que Nascimento, sendo o dia 25 de dezembro uma data referente a comemoração ao solstício de inverno e não tem nada haver com a data de nascimento de Jesus Cristo, e Papai Noel uma invenção européia reforçada na Contra-Reforma Católica, do bom velhinho que distribuía presentes no dia 25 de dezembro.
As crianças no início de sua formação são atingidas pelos meios de comunicação, religião, família e especialmente a escola e fortemente influenciadas por toda a existência.
Os autores brasileiros estereotiparam as personagens pretas como "Bertoleza", de Aluísio Azevedo e as diversas gerações foram influenciadas com Monteiro Lobato escritor de personagens como a de tia Nastácia, uma idosa preta, solteira, cozinheira, medrosa, analfabeta e abobalhada que servia de chacota para as crianças e adultos:
- Deus me livre de entrar num quarto onde há garrafa de saci dentro! Credo! Nem sei como dona Benta consente semelhante coisa em sua casa. Não parece ato de cristão…
(LOBATO, Monteiro. O Saci in Obra infanto-juvenil de Monteiro Lobato, v. 2)
Bestializada ao invés de lábios, beiços grandes, sempre assustada e medrosa, quituteira e em alguns casos "vilã", quando o assunto é o porco Rabicó
- salvo da panela por Narizinho..
Supersticiosa, a tudo esconjura com um "cruz-credo". Ou, como resumiu Emília, num raro elogio:
-Tia Nastácia é uma danada!
- "A boa negra deu uma risada gostosa, com a beiçaria inteira"
Por outro lado a Dona Benta de formação cultural eurocentrada demonstrava conhecimentos e bondades nunca existidos nas mulheres brancas em relação ao povo preto na real história brasileira.
E também o tio Barnabé, um preto idoso de mais de 80 anos, que contava histórias e não passava de um preto bobo.
Na tradição de muitos contos brasileiros os idosos e idosas pretas são considerados violentos e assustadores. Na minha infância, eu tive medo do velhinho do Saco que seqüestrava as crianças, retira o fígado e comia. Isso me dava medo de idosos brancos porque eu sabia que os idosos pretos não assustavam, eu os chamava carinhosamente de vovô ou de vovó. Recordo-me da vovó, uma senhora que era zeladora de umbanda, assim diziam, mas, todos e todas pediam a benção e eu fazia o mesmo, ela era carinhosa e bondosa. Nunca tive medo de idosos pretos e pretas, mas tinha medo dos idosos brancos, hoje sei que eles deveriam ter medo das crianças pretas, sempre me olhavam assustados e temerosos.
Como citado, à população preta é sempre estereotipada, podemos ver no poema racista, relacionado ao mulatismo e a mulher preta, em “Sobre Mulatas Orgulhosas e Crioulos Atrevidos”: conflitos raciais, gênero e nação nas canções populares (Sudeste do Brasil, 1890-1920):
A branquinha é prata fina
Mulata – cordão de ouro
Cabocla – cesto de flores
A negra – surrão de couro
A branca come galinha
Mulata come peru
Cabocla come perdiz
A negra come urubu
Dentro desse modelo racista, inclusive os Idosos Pretos também foram atingidos. O Idoso do Surrão, ou Negro do Surrão, é citado dentro do Clássico de Gilberto Freyre Casa-Grande & Senzala (pág. 458 da 9.ª edição brasileira), como um estereótipo do Idoso Preto, que maltrata as crianças, matava, esquartejava e as comia. Conforme descrita em canção popular:
Canta, canta
Meu surrão
Que eu te dou
Com este bordão.
É mister, desmascarar o que tem sido ensinado de geração em geração, onde o Idoso e Idosa Pretas são àqueles do qual as crianças pretas devem temer, enquanto, o bom velhinho, Papai Noel, branco e gordo, é aquela do qual devem esperar presentes e fazer pedidos no Natal.
À crença no Papai Noel, idoso branco, bondoso, carinhoso, justo, presenteador, em contraste com o Idoso do Surrão, preto, sujo, mal, seqüestrador e assassino, faz com que as crianças percam o respeito à ancestralidade, o carinho, pelos idosos e idosas pretas e as crianças brancas aprendem o preconceito e a falta de respeito pelo povo preto.
Devemos empretecer e abandonar os conceitos racistas que os brancos introduziram na nossa comunidade, perfazendo novas leituras e interpretações das lendas e mitos construídos e/ou introduzidos na comunidade Preta em território brasileiro, baseados em pensamentos racistas, em outras palavras, mitos discriminatórios planejados dentro e pós-regime escravagista.
O Velho do Saco, na verdade é o Idoso do Surrão o qual trabalhei em meu livro infantil: O Boi Mandingueiro e o Saci.
Fiz no meu livro uma desconstrução de personagens pretas como o Saci que tem duas pernas, não sendo mutilado e nem viciado em tabaco, uma criança amiga de todos na floresta.
O Idoso do Surrão, um griot guardador das tradições e protetor de todas as criancinhas, que traz no saco frutas e remédios da floresta.
“Esse Idoso era amoroso, cheio de netinhos e netinhas... Era um médico ancestralista africano, que conhecia as ervas a terra, a água e todas as forças da natureza. Amava todas as pessoas e só fazia o bem. No surrão levava frutas e doces para as criancinhas assenzaladas, e receitas da floresta para curar as doenças de todas as pessoas”. [extraído do livro O Boi Mandingueiro e o Saci, de Walter Passos].
A nossa história ancestral é detentora de tradições africanas de respeito aos idosos e idosas em todas as culturas. Nós, pretas e pretos cristãos, devemos nos assenhorear da história, falarmos para as nossas crianças pretas, que Papai Noel nada tem a haver com o Yeshua, que Papai Noel é uma invenção branca e demoníaca, e serviu e serve para o capitalismo norte-americano, foi o chamariz das grandes vendas de coca-cola em 1930.

O grande fator interessante é a perseguição a tudo que é de origem africana: as nossas culturas ancestrais; as reelaborações de cultos de matriz africana; as línguas dos nossos antepassados, mas, a manutenção dos demonismos do norte é mantida e não contestados dentro das igrejas cristãs, e infelizmente perpetuados por lideranças pretas de diversas religiões. O CNNC/Ba não festeja o Natal e desde o ano passado adotamos a Kwanza como celebração e lembrança das nossas origens africanas.
Recordemos que a nossa ancestralidade é de respeito aos idosos e idosas e que sejamos verdadeiros griots para as nossas crianças.



Que Yeshua nos abençoe e tenhamos um belo Kwanza a partir do dia 26 de dezembro !

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

SEM IGUALDADE NÃO HÁ DEMOCRACIA RACIAL


Valdir C. Estrela. Coordenador de Assuntos Educacionais da União de Negros pela Igualdade/BA (UNEGRO), Sociólogo, Professor de História e de Filosofia.
Recentemente lançado no mercado pela Editora Nova fronteira, o livro Não Somos Racistas, de Ali Kamel, diretor executivo de jornalismo da Rede Globo, levanta a seguinte tese principal: As ações afirmativas são uma resposta irracional para um problema fictício – o racismo institucional brasileiro.
O autor vê o Estatuto da Igualdade Racial como um exercício de discriminação racial chancelado pelo Estado sob a pressão de um determinado movimento social. Considera a proposta de cotas como falácia e diz que os seus defensores negam a miscigenação como dado central da sociedade brasileira.
Kamel classifica de excludentes essas propostas, pois deixam de fora 19 milhões de brancos pobres, e questiona até a situação dos mulatos de pele clara nesse processo.
Para ele, o Estatuto da Igualdade Racial é uma receita para que os cidadãos brasileiros recebam tratamento desigual por parte do Estado.
Afirma que a pobreza não discrimina: atinge brancos, negros, mulatos. Em seguida, se contradiz ao reconhecer que “Negros e pardos são maioria entre os pobres porque o nosso modelo econômico foi sempre concentrador de renda: quem foi pobre (e os escravos, por definição, não tinham posses) sempre esteve fadado a continuar pobre”.
No final, é ele quem se arvora a dar a receita: políticas universais inclusivas, especialmente investimentos consistentes em educação.
Mas a sua grande pérola é a afirmação de que a idéia de um Brasil racista foi inventada a partir dos anos 1950 por cientistas sociais como Florestan Fernandes e Fernando Henrique Cardoso. Foi em consonância com sua obra Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional que o próprio FHC, quando presidente, implementou as primeiras políticas de “ação afirmativa” no funcionalismo público.
Ao comentar o livro, a revista Veja, edição 1969, com base nos argumentos de Ali Kamel, exige dos parlamentares que comporão a próxima legislatura do Congresso Nacional que “coloquem um ponto final nessa escalada, recusando o Estatuto da Igualdade Racial”, e ainda recomenda como salutar a todos a leitura de Não Somos Racistas. A quem interessar possa, a brochura em questão está à venda nas melhores casas do ramo.
O autor, que me parece, é de origem judia, – e ainda que não seja – que eu saiba, nunca escreveu nada questionando a reparação reivindicada e deferida a favor dos judeus massacrados durante a barbárie nazista, que durou menos de 20 anos. O extermínio negro na África e na diáspora durou quase 500 anos. Mas isso não faz a menor diferença. Ou faz, Sr. Kamel?

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

ROSA PARKS: A MULHER QUE TRANSFORMOU UMA NAÇÃO E AJUDOU A ACABAR COM JIM CROW




Por: Ulisses Passos. Acadêmico de Direito, Pan-Africanista e Presidente do CNNC/BA. Pseudônimo: Aswad Simba Foluke. E-mail: ulisses_soares@hotmail.com

No mês de novembro no Blogger do CNNC/BA foram homenageados algumas personalidades que combateram pela liberdade do povo preto em diversas do planeta. Nossa última homenageada foi uma grande mulher que mudou a vida dos africanos na diáspora nos Estados Unidos da América.

Rosa Louise McCauley nasceu no dia 4 de fevereiro de 1913 em Tuskegee no Alabama – Usa, filha do carpinteiro James McCauley e da professora Leona McCaule, os seus pais se separaram e aos dois anos de idade foi residir com a sua mãe na casa da avó materna em Pinel Level no Alabama, com uma saúde frágil sofrendo de amigdalite e de baixa estatura, aos 11 anos de idade foi matriculada em uma escola industrial para meninas (Miss White's School Girls) onde aprendeu a profissão de costureira, não tendo condições de ir para Alabama State Teachers College's High School realizar o ensino secundário, forçada a abandonar os estudos para cuidar da mãe que adoecera e seu irmão menor Sylvester foi trabalhar para ajudar no sustento da família.
Na Infância foi vítima de ataques da Ku Klux Klan(KKK), organização racista formada por brancos protestantes que queimavam as casas de bairros pretos e praticavam linchamentos, e viu a sua avó com uma espingarda na mão guardando a entrada da sua residência. Houve um período que negros eram linchados sem julgamento nos Estados Unidos e as fotos são de extrema crueldade, a qual não postarei nesta página, por serem de extrema violência e as denomino exemplos do holocausto preto.
Conhecedora e vítima diariamente da segregação racial, presenciou a escola industrial em que estudava queimada duas vezes por incendiários racistas e as professoras pretas constantemente humilhadas, a menina Rosa Louise sabia que teria de enfrentar o racismo e suas seqüelas.
Em 1932 casou-se com o barbeiro Raymond Parks, um jovem de pouca educação formal por causa da segregação racial, e sua mãe Gery Parks o orientou corretamente para a sobrevivência como preto no sistema racista americano. Rosa Parks foi importante no sustento da família, vendendo a sua força de trabalho como empregada doméstica e até como ajudante em hospital, o seu marido insistiu em que terminasse os estudos e ela concluiu o ensino secundário em 1933. Raymond foi um ativista da National Association for the Advancement of Colored People (NAACP), organização fundada em 12 de fevereiro de 1909 por diversas pessoas entre eles o panafricanista Du Bois e brancos anti-racistas para atuar contra a discriminação racial dentro dos Estados Unidos da América, neste ano de 2007 a NAACP decretou estado de emergência pelo aumento da violência contra a juventude preta.
Na década de 30, Rosa foi uma das primeiras ativista a protestar contra a acusação injusta imposta a nove jovens pretos acusados de estuprarem duas jovens brancas, caso conhecido nos Estados Unidos como Scottsboro Boys.
Rosa Parks atuou na NACCP a partir de 1943, trabalhando de secretaria até 1957 e participando de diversas atividades pelos direitos civis.
Foi membro ativa da Igreja Metodista Episcopal Africana fundada em 1790 e antes da guerra de Secessão já possuía 20000 mil membros nos estados do norte, e enviou missionários para os estados do sul sendo a que mais combateu a segregação nos Estados Unidos antes e depois da guerra da secessão. Um dos salmos preferidos pela irmã Rosa Parks foi o salmo 23 que diz:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará. Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranqüilas. Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça por amor de seu nome.
Ainda que eu andasse pelo vale das sombras da morte, não temerei mal algum, porque Tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.
Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.
Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida e habitarei na casa do Senhor por longos dias."
Para que possamos compreendera a segregação na qual foi vítima é necessário conhecer um conjunto de leis conhecidas como Jim Crow nos estados sulistas e fronteiras dos Estados Unidos, executadas entre 1865 a 1965, que separava brancos e negros nas escolas, locais públicos, hospitais, transportes, etc.
Jim Crow foi mais do que leis, tornando-se uma maneira de vida branca americana, regras e costumes, foi à legitimação do racismo anti-preto, tendo diversos tentáculos, especialmente nos meios de comunicação em massa. O termo Jim Crow surge de uma canção feita por um ator branco Thomas Dartmouth (TD) "Daddy" Rice imitando um negro, o qual dizia ser um idoso escravizado que andava com dificuldade ou um jovem preto estereotipado. Ele foi um menestrel que ridicularizava os pretos norte-americanos no século XIX e pintava o seu rosto de preto. Leia mais: http://www.ferris.edu/jimcrow/who.htm
A contribuição de muitas igrejas brancas foi fundamental nas elaborações dessas leis e muitos teólogos e pastores brancos ensinavam nas igrejas que os negros foram amaldiçoados por Deus e estas leis eram da vontade divina, baseadas na má interpretação da maldição de Cam.
Havia toda uma regra de condutas para serem obedecidas pela comunidade africana nos USA, entre elas, exemplificamos: Relações sexuais entre brancos e pretos destruiriam a América Branca; se um homem preto estendesse a sua mão para ajudar uma mulher branca poderia ser acusado de estupro; e em hipótese alguma o preto poderia dizer que um branco estava mentindo; nunca falar que era mais inteligente que um branco,e proibido de mostrar afetividade em público,um beijo entre um casal de pretos era considerado violação da lei, etc..
Algumas dessas leis proibiam o casamento inter-racial de uma pessoa branca com uma preta até a oitava geração; se um homem preto estivesse com uma mulher branca na mesma sala à noite no trabalho, ou um homem branco com uma mulher preta, seriam presos e condenados até 12 meses de prisão; escolas para crianças brancas e pretas eram separadas, lanchonetes, restaurantes, cinemas, banheiros, bebedouros, etc. Leia mais exemplo em: http://en.wikipedia.org/wiki/Jim_Crow_laws
Em 01 de dezembro de 1955 Rosa Parks recusou-se a ordem do motorista James Blake a ceder lugar a um homem branco dentro de um ônibus, este ato de “desobediência civil” a levou a ser presa e fichada criminalmente pela polícia, acusada de violação do capitulo 6, seção 11 do Código de Segregação racial de Montgomery e condenada a pagamento de multas e prisão domiciliar . Em quatro de dezembro de 1955 as igrejas pretas começaram a organizar o boicote o qual foi referendado no dia nove de dezembro quando líderes pretos se reuniram na Igreja Metodista de Zion e o Rev. Ralph David Abernathy sugeriu o nome "Montgomery Improvement Association" (MIA). Os membros foram eleitos e como presidente, um jovem ministro desconhecido da Dexter Avenue Baptist Church, Dr. Martin Luther King, Jr. As Igrejas Pretas lideraram a luta pelos Direitos Civis nos Estados Unidos.
Não foi o primeiro fato ocorrido, outras pessoas já haviam sido presas por se recusarem a se levantar para cederem lugares em transportes públicos aos brancos, mas esse ato teve conseqüências que mudaram a vida dos descendentes de africanos nos Estados Unidos. O incidente resultou no boicote aos ônibus em Montgomery que perdurou durante 382 dias e Rosa Parks disse em uma de muitas das suas entrevistas:
-Nós não temos quaisquer direitos civis. Era apenas uma questão de sobrevivência, de existência de um dia para o outro. Eu me lembro, quando ia dormir, de uma garotinha ouvindo a “Ku Klux Klan” rondando à noite, e ouvindo um linchamento, e com medo de que a casa viesse abaixo pelo fogo.
Na mesma entrevista, ela citou sua longa convivência com o medo como a razão de sua intrepidez em decidir apelar para suas convicções, durante o boicote aos ônibus.
-“Eu não tinha qualquer espécie de medo e foi um alívio saber que eu não estava só.
Racistas retaliaram o boicote aos ônibus com o terrorismo. Igrejas Pretas foram queimadas ou dinamitadas. A casa de Martin Luther King's foi bombardeada na madrugada do dia 30 de janeiro de 1956. No entanto, a comunidade preta organizou com o boicote, um dos maiores e mais bem sucedidos movimentos populares contra a segregação racial realizado por africanos na diáspora nos USA, que originou outros protestos, e que colocou King como um dos líderes à frente do Movimento dos Direitos Civis. O Pastor Martin Luther King Jr liderou Montgomery Improvement Association, resultando em lutas que forçaram o termino da segregação racial nos transportes públicos e no fim das leis Jim Crow, se tornando um dos principais nomes nos Estados Unidos na luta contra a segregação, árduo defensor do integracionismo na sociedade branca americana sendo os seus métodos e sonhos questionados por diversos militantes, como Malcolm X, Fred Hampton, Stokely Carmichael e muitos outros panafricanistas, mas, nunca retirado os méritos de suas ações em prol da liberdade do nosso povo.
Rosa Parks desempenhou um papel importante na internacionalização da sensibilização para a situação dos pretos e pretas americanos nas lutas pelos direitos civis. O boicote aos ônibus de Montgomery também foi a inspiração para boicote na cidade de Alexandria, Eastern Cape da África do Sul, que foi um dos principais eventos na radicalização da maioria preta daquele país, sob a liderança do Congresso Nacional Africano.
Após o boicote Rosa Parks foi perseguida perdendo o emprego e seu marido também tendo que ficar desempregado.
Teve uma vida de lutas e militância pelo povo preto, tendo o seu trabalho reconhecido e homenageada por diversas autoridades, ganhando a medalha do governo americano e faleceu no dia 24 de outubro aos 92 anos, cercada de amigos e deixando pelo seu exemplo a chama acessa para o povo preto.

CULTO AFRO CELEBRA A IDENTIDADE ÉTNICA-RACIAL

Semana da Consciência Negra - 2007
Por: Helciane Angélica(Jornalista - 1102 MTE/AL)

A Pastoral da Negritude da Igreja do Pinheiro realizou durante todo o dia 25 de novembro (domingo), um culto afro para celebrar o Dia Nacional da Consciência Negra. A atividade integra o calendário anual da Igreja, encontra-se na terceira edição e busca promover o intercâmbio étnico-cultural entre os fiéis e convidados de outras crenças.Sob o comando do Pastor Welligton Santos, o culto matinal foi marcado pela descontração e as palavras de auto-estima, que exaltavam a identidade étnica-racial e refletia sobre a conjuntura do povo afro-descendente. Acadêmicos africanos da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) oriundos de Moçambique, Guiné Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe - foram recebidos com entusiasmo pelos presentes, que prestigiaram o desfile de trajes típicos e a demonstração das danças características de cada país.O culto afro já é uma das mais importantes ações da igreja que tem visão progressista. O coordenador da Pastoral da Negritude, Benedito Jorge da Silva Filho, destacou a importância de trabalhar a auto-estima dos afros-descendentes e o discurso inter-religioso. " Diante dessa intolerância religiosa existente nas igrejas evangélicas como um todo, é muito importante que uma igreja como a nossa trabalhe a temática afro. Respeitando as demais religiões independente da ideologia e ajudar na construção de um novo paradigma, ressaltando os momentos de reflexão e os encontros inter-religiosos. É preciso aprendermos a trabalhar o pluralismo, só assim o ser humano irá evoluir ", afirmou o coordenador.Para dar prosseguimento as atividades, os participantes retornaram às 18h para assistir ao documentário "Vista minha pele" e para a segunda etapa do culto afro, com os testemunhos dos membros da Pastoral da Negritude. O documentário tem duração de 24 min, foi produzido pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert) de São Paulo sob a direção de Joel Zito Araújo em 2006. Desenvolve uma sátira sobre a democracia racial no Brasil, além de fazer um convite à reflexão sobre a discriminação racial e o papel de cada indivíduo neste contexto.A Pastoral da Negritude da Igreja do Pinheiro foi criada no dia 15 de novembro de 2005, e atualmente possui uma coordenação composta por oito membros. Ao longo da sua trajetória vem participando da Escola Dominical abordando a temática negra; nas atividades do Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos (CNNN); e ações do movimento negro alagoano. Tem como missão trabalhar a releitura da bíblia partindo da ótica étnica-racial, além de lutar contra todo tipo de preconceito referente à raça, credo, gênero e idade.

Para mais informações sobre a Pastoral da Negritude:
Endereço: Rua Miguel Palmeira, 1300, Pinheiro. Cep:57055-330 Maceió-AL
Fones: (82) 9119-5730 /(82) 8857-0786 /(82) 8814-6084 / (82) 3241-9402 / (82) 3032-5505
E-mails: bjorgefilho@bol.com.br/ gilvaneide2001@ig.com.br

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Fred Hampton Jr. lança em conferência campanha antiterrorista

Juliana Dias,estudante de Jornalismo da Faculdade Jorge Amadojuliana.csd@gmail.com
“Nós entendemos que nem todos são revolucionários, mas entendam que é preciso uma revolução”
Fred Hampton Jr.

O Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos (CNNC) promoveu na noite do dia 13 de novembro, na Biblioteca Pública do Estado da Bahia a “Conferência Internacional Fred Hampton Jr. CNNC: Tecendo as redes do Panafricanismo”, tendo como palestrante Fred Hampton Jr., filho do líder do Partido Panteras Negras, discutindo o legado e a história de seu pai, além da criação de uma conexão entre os Estados Unidos e o Brasil, através de uma campanha antiterrorista.
O CNNC juntamente com o Comitê de Consciência de Prisioneiros Comunitários nos Estados Unidos (POCC, sigla em inglês) possibilitaram a vinda do ativista americano ao Brasil para estreitar as relações do Brasil com o EUA. Para o presidente do POCC a sua vinda ao Brasil é importante para o fortalecimento da união da população negra mundial, “esse contato que terei com meus irmãos brasileiros é essencial para o reconhecimento da identidade negra”, completou.
Na conferência, que contou com a presença de representantes do movimento negro baiano, o ativista norte-americano falou sobre o legado deixado por seu pai e sobre o lançamento de uma campanha contra o terrorismo estatal e os extermínios praticadoscontra a comunidade negra, correlacionando a realidade dos EUA e do Brasil. Ao ser interrogado sobre o contexto em que se desenvolveria a campanha, Fred Hampton Jr. disse que “O manifesto antiterrorista não deve observar nenhuma fronteira colonial, precisamos combater todas as formas de terrorismo que nos são impostas: o crack, a falta de políticas públicas, a AIDS e o ataque policial. O povo negro é a vítima preferencial”.
O lançamento da campanha do POCC no Brasil visa criar conexões e relações, a partir das lideranças brasileiras, com objetivos e ações pela vitória, “observando-se que essa vitória deve resultar de um planejamento tático e lógico, de acordo com o nível de consciência local, construindo dessa maneira uma declaração política de ação, em outras palavras uma auto-defesa”, completou Fred Hampton Jr.
A população negra constantemente tem sofrido ataques sangrentos do imperialismo, “o furação Katrina ,que aconteceu em Nova Orleans, para nós do POCC aquilo se tratou de uma armação, colocaram bombas nas represas para que a população negra fosse exterminada. É importante que comecemos a trabalhar o nosso nível de consciência e passemos do assalto para rebelião e de crime para libertação”, afirmou Hampton.
Segundo ainda Fred Hampton, a forma como o governo trata a população negra no Brasil não difere da forma como o governo norte-americano trata o povo negro nos EUA. As realidades criadas em torno da situação da comunidade negra acontecem em todo o mundo, as visões são deturpadas, como, por exemplo, a de que no Brasil, existe uma democracia racial.
A conferência terminou com a seguinte analogia: “Para nós do POCC cada dia é como se fosse 11 de setembro, porque o que os brancos sofreram com o ataque terrorista, nós negros sofremos todos os dias”.
Pai – Nascido em 1948, Fred Hampton era aos 20 anos uma importante liderança do Partido Panteras Negras e membro da comunidade negra de Chicago – EUA. Em dezembro de 1969, foi brutalmente assassinado pela polícia enquanto dormia em seu apartamento ao lado de sua namorada grávida, Akua Njeri. Fred Hampton Jr. nasceu três semanas após a morte de seu pai.
Fonte: Jornal Ìrohìn Online NOTÍCIA
16/11/2007 - 10:14:05
Fred Hampton Jr. lança em conferência campanha antiterrorista

sábado, 24 de novembro de 2007

A REVOLTA DE ZAMBA BOUKMAN: O OGAN QUILOMBOLA

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com

A Revolução Francesa de 1789 tornou-se marco para a divisão Histórica eurocêntrica e início da História Contemporânea, assim dividida pelos brancos europeus. Obrigatoriamente é ensinada nas escolas brasileiras com os seus ideais simbólicos: Liberdade, Fraternidade e igualdade, sendo a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1793), base fundamental das Constituições Ocidentais, que tem como princípio basilar o seu artigo III: “Todos os homens são iguais por natureza e diante da lei”.
Incrível que pareça, alguns intelectuais pretos gostam de citar a França, suas revoluções, ideais e seus teóricos como demonstração de intelectualidade, mas, caso seja perguntado o nome do bisavô e da bisavó poucos irão responder, apesar de serem doutores e doutoras nos conhecimentos brancos. Estes tentam usar tais conceitos para entender os africanos na África e na diáspora, dificilmente acreditam no panafricanismo e comumente são meros repetidores dos discursos com citações dos antropólogos e sociólogos franceses. Eu os considero doutores da Academia eurocêntrica.
Entre os acadêmicos franceses cito como exemplo: Émile Durkheim (1858-1917), pai da sociologia branca, cujos livros são obrigatoriamente usados em todas as Universidades: Da divisão social do trabalho (1893); Regras do método sociológico (1895); O suicídio (1897); As formas elementares de vida religiosa (1912), entre outros. Também Pierre Bourdieu(1930-2002), teórico que difundiu no mundo atual, dentro da Antropologia e Sociologia, o pensamento branco francês nas diversas áres como educação, cultura, literatura, arte, mídia, lingüística e política. Suas obras mais conhecida são: Poder Simbolico e Contrafogos entre outras. Outro academico francês bastante citado é Michel Foucault(1926-1984) que discute as relações de poder de acordo com o pensamento branco, tendo suas principais obras: Vigiar e Punir (1975) e A História da Sexualidade (1976). Além de outros academicos que se tornaram obrigatórios para os estudos das chamadas Ciências Humanas.
Primaz é detalhar que a França foi um país colonialista-imperialista que invandiu diversas partes do planeta, dominou extensos territórios na Ásia, África, América e Oceania, ainda mantendo “protetorados" em algumas regiões do mundo e atualmente discrimina os africanos no território francês.
Abaixo segue uma lista dos Países Africanos que lutaram contra a dominação francesa e conseguiram a liberdade:
1. Marrocos (2 de Março de 1956)
2. Tunísia (20 de Março de 1956)
3. Guiné (2 de Outubro de 1958)
4. Camarões (1 de Janeiro de 1960)
5. Togo (27 de Abril de 1960)
6. Senegal (20 de Junho de 1960)
7. Madagáscar (26 de Junho de 1960)
8. Benin (1 de Agosto de 1960)
9. Níger (3 de Agosto de 1960)
10. Burkina Faso (5 de Agosto de 1960)
11. Costa do Marfim (7 de Agosto de 1960)
12. Chade (11 de Agosto de 1960)
13. Congo (15 de Agosto de 1960)
14. Gabão (17 de Agosto 1960)
15. Mali (22 de Setembro de 1960)
16. Mauritânia (28 de Novembro de 1960)
17. Argélia (5 de julho de 1962)
18. Comores (6 de Julho de 1975)
19. Djibouti (27 de Junho de 1977)
A Liberdade, Igualdade e Fraternidade foram destinadas a burguesia francesa, necessário se faz lembrar que enquanto promovida era a Revolução Francesa, com seus ideais e a Declaração do Direito dos Homens e do Cidadão, a França oprimia o Haiti com a escravidão, sendo que tais benefices não foram estendidas aos pretos escravizados que tiveram que lutar durante muito tempo para se livrar do escravagismo francês.
A dominação européia tornou-se tão opressiva na Ilha de São Domingo ou Hispanhola, resultando na divisão territorial e política em dois países: um foi Colônia Francesa (Haiti) e outro Colônia Espanhola (Républica Dominicana). Interessante é notar que esta divisão também ocorreu dentro da população preta na ilha. Quando estive na Cidade de Cólon no Panamá, no ano de 1988, discutindo Teologia Negra, em meio a conversas com uma Dominicana, esta negou minha pretitude, dizendo que ela e eu não eramos pretos, e sim ‘Tigrenhos’, e preto era o haitiano presente no encontro. Também saliento da maioria populacional dos dois países serem descendentes de africanos, o racismo atingiu a mentalidade dos dominicanos de tamanha forma que os haitianos são discriminados racialmente e inferiorizados na Républica Dominicana, por lei não se registram crianças nascidas naquele país, porque são consideradas pretas.
E nesse sentido, deixando a influencia histórica eurocêntrica, seus defensores e combatendo essa ideologia racista, vamos nesse Novembro Negro homenagear um africano escravizado pelos francesaes no Haiti: Zampa Boukman, de origem Bantu.
Boukman foi precedido por outros como: Padrejean em 1676 e François Mackandal em 1757. Padrejean liderou uma rebelião em Port de Paix, ao norte de São Domingo, matando o branco que o escravizara, reunindo cerca de 30 escravizados nessa insurreição. Sendo perseguido por Piratas e morto juntamente com os demais quilombolas. No caso de Mackandal, assim como milhares de outros, foi levado para São Domingo oriundo da África Ocidental. Ele organizou e planejou durante 12 anos a maior revolta haitiana até então, envenenando os brancos , contudo, após torturarem uma escravizada, foi descoberto e morto. Muitos acreditam que ele não morreu e que até hoje continua habitando em alma a ilha.
Embora Boukman não fosse o primeiro a conduzir uma revolta na Ilha de São Domingo, ele emitiu a faísca que ajudou a inflamar a Revolução Haitiana.
No dia 18 de novembro celebra-se a grande vitória de um dos maiores líderes africanos na diáspora: Dutty Boukman ou Zamba Boukman, nascido na Jamaica e ogan do culto vodu, no Haiti tornou-se um quilombola. Foi um homem de grande estatura, descrito por diversos historiadores como uma escultura africana.
Em 14 de agosto de 1791 ele liderou uma cerimônia religiosa africana de origem bantu onde os escravizados organizaram um grande encontro, no meio da floresta de Bois Caiman. Nesse cerimonial religioso compromissos formam assumidos objetivando colocar em prática um plano definitivo contra o regime escravista. Chovia torrencialmente naquela noite, com relâmpagos cortando os céus. Da platéia surge uma sacerdotisa, enquanto ela realiza o cerimonial, os outros cantavam em coro com seus rostos prostrados ao chão. Boukman e outros guerreiros quilombolas: Georges Biassou, Jeannot Bullet e Jean François Papillon pronunciaram as seguintes palavras:




Bon Dje ki fè la tè. Ki fè soley ki klere nou enro.
Bon Dje ki soulve lanmè.
Ki fè gronde loray.
Bon Dje nou ki gen zorey pou tande.
Ou ki kache nan niaj.
Kap gade nou kote ou ye la.
Ou we tout sa blan fè nou sibi.
Dje blan yo mande krim.
Bon Dje ki nan nou an vle byen fè.
Bon Dje nou an ki si bon, ki si jis, li ordone vanjans.
Se li kap kondui branou pou nou ranpote la viktwa.
Se li kap ba nou asistans.
Nou tout fet pou nou jete potre dje Blan yo ki swaf dlo lan zye.
Koute vwa la libète kap chante lan kè nou.

O bom Deus
que fez o sol
que nos ilumina lá do alto,
que agita o mar
que faz rugir a tempestade,
escutem-me vocês!
O bom Deus está oculto entre as nuvens!
De lá, Ele nos contempla
e vê tudo o que os brancos nos fazem.
O deus dos brancos ordena o crime:
o nosso, ao contrário, solicita boas ações.
Mas nosso Deus, que é tão bom,
nos ordena a vingança.
Ele vai conduzir nossos braços
e nos dará sua assistência.
Destruamos o deus dos brancos
que tem sede de nossas lágrimas!
Escutemos em nós mesmos o chamado da liberdade!

Também nessa cerimônia Boukman previu que Georges Biassou, Jeannot Bullet e Jean François Papillon seriam líderes da revolução. Após o cerimonial todos juraram com a seguinte frase: “Vidas livres ou à morte!”
A cerimônia dirigida por Boukman foi basilar para a organização nas mentes do povo e para posicionar - se como o primeiro fruto de uma revolta que durou vários anos, e, posteriormente, seria realizada em grande parte por Toussaint Louverture. Poucos dias depois, em 21 de agosto, escravizados do Norte iriam matar escravizadores e destruir lavouras.
Em 1794 fora abolida a escravatura em colônias francesas, mas em 1802, Napoleão Bonaparte, impulsionada pelo desejo de restabelecer o império colonial na América, decidiu enviar tropas à ilha recuperar e restaurar escravidão, Toussaint Louverture foi feito prisioneiro, onde morreu alguns meses depois. Apesar dos reforços enviados para a guerra, a França não foi capaz de recuperar a posse da ilha. Dos 70.000 soldados que Napoleão enviou 55.000 morrem de febre amarela e no enfrentamento contra os bravos africanos no Haiti. A independência do Haiti foi proclamada em 1 de Janeiro de 1804.




A religião foi um verdadeiro catalisador para a revolta dos escravizados em São Domingo. A união religiosa do povo preto correspondeu para o sucesso de suas lutas. Seguindo o exemplo dos haitianos devemos nos unir quanto pessoas pretas cristãs para combater o racismo, sua ideologia, seus pensamentos que tanto oprimem nossos irmãos e irmãs pretas nas igrejas ou em qualquer lugar onde estejam.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

BRANCOS QUILOMBOLAS EM PALMARES: ROMANTISMO E MENTIRAS!

Por Walter Passos,Teólogo, Historiador, Poeta, Pan-africanista e  Afrocentrista Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br
Há 27 anos concluindo a graduação em História, subi a serra do Barriga, em Alagoas, emocionado pude sentir a energia dos quilombolas palmarinos. Viajei sem dinheiro, aceitando o convite do meu professor de História: Mario Maestri Filho, o qual anteriormente havia me apresentado e pude acompanhar conversas com Décio Freitas, Clóvis Moura, Joel Rufino e outros historiadores. Vi e participei das discordâncias dos historiadores, tanto em Maceió no - I Simpósio sobre o Quilombo dos Palmares - em 1981 e  relativas às propostas do filme: QUILOMBO, produzido por Cacá Diegues, o qual  apesar de ser orientado historicamente, produziu um filme bastante polêmico e questionado, como todo branco, inseriu entre os personagens uma mulher branca, que orientava o grande guerreiro Ganga-Zumba.

Já conversando com Cid Teixeira, há mais de 20 anos na Bahia, o mesmo me informou de ter acesso a farta documentação escrita pelos holandeses em holandês arcaico que poderiam ser trazidas e pesquisadas por mim. Na época não era o meu interesse. E hoje não sei se temos todos os documentos escritos sobre Palmares em terras portuguesas, espanholas e holandesas.
Algumas informações sobre Palmares nunca me convenceram e ainda carecem de explicações convincentes com provas documentais. Em especial, sobre a presença de brancos nos quilombos palmarinos. Até hoje, desconheço um nome sequer de pessoas brancas que tenha sido citado por historiadores que tenha vivido em Palmares. Se algum leitor (a) conhecer e puder citar a documentação será mui interessante. Creio que seja mais uma invenção de pessoas mal intencionadas que apoiam a falsa democracia racial ou tentam desfigurar as lutas libertárias do povo preto, criando um falso multiculturalismo nas lutas pretas.
Eu desafio historiadores brancos e militantes pretos que continuam defendendo essa proposta que citem documentos com nomes de brancos que habitavam nos quilombos palmarinos. A Confederação dos Palmares foi organizada por pretos e para os pretos. Inventar que havia brancos convivendo em Palmares é embranquecer e criar uma simpatia para com os algozes. Isso não quer dizer que não houvesse no modo de produção escravista colonial, brancos pobres, nem desmentir que alguns viveram de acoitamento a escravizados fugitivos explorando a sua mão-de-obra, como no caso do Quilombo do Oitizeiro na Bahia, contido no meu livro Bahia: Terra de Quilombos.
Mas sim afirmar que se torna necessário entender melhor a escravidão e ver que os escravizados eram considerados mercadorias, dinheiro vivo.
È contestado por diversos historiadores a presença branca dentro dos quilombos dos Palmares: "a presença de brancos em palmares ainda é motivo de discussão, mas sabe-se que isso ocorreu depois em quilombos de outras regiões". Reinaldo Lopes.
Não podemos permitir que mais uma farsa continue sendo divulgada. A Confederação dos Palmares foi criada para pretos e por pretos, nela não havia brancos. Os brancos sempre a desejaram destruir e assim o fizeram. O que houve em Palmares foi à troca de excedentes agrícolas palmarinos com armas e munições com mascates e lavradores brancos, uma relação comercial cheia de desconfianças, mas, necessária para que Palmares sobrevivesse guerreando contra o sistema colonial por volta de 100 anos e pudesse manter constante uma população sempre crescente de escravizados fugitivos, até provavelmente cerca de 20 mil habitantes.
A presença de mulheres de civilizações nativas (indígenas) está também sendo discutida através dos trabalhos iniciais de arqueologia em Palmares. Presença de cerâmica contemporânea a existência dos quilombos, anteriormente dada como indígena, pode ser resultado de trocas comerciais com comunidades circunvizinhas, ou deve ter sido produzida pelos próprios palmarinos, porque estes já detinham o conhecimento de diversas técnicas, oriundas dos reinos situados na região de Angola e do Congo, como o trabalho em ferro, marfim, cerâmica, etc.
Outro fator importante é a Yorobofolia feita por brancos na história dos pretos no Brasil que tem sido desmascarada a todo o momento. Estes colocam Zumbi como yoruba, cultuando Orixás, fato este impossível porque nenhum membro dos quilombos dos Palmares ouvira falar. Dizem até que Zumbi era filho do Orixá Ogum. Zumbi não conheceu Ogum ou qualquer outro Orixá, porque ele era de origem Bantu. Não havia nenhum quilombola palmarino oriundo da atual Nigéria ou região. Pode-se afirmar que Zumbi conhecia a religião Católica, forças da natureza e ancestrais ligados ao povo Bantu. Tentam fazer afirmações no Brasil sem documentação e sem oralidade, objetivando confundir e destruir a história do nosso povo preto.
Falemos um pouco sobre Zumbi:
Segundo Décio Freitas, Zumbi nasceu em Palmares e foi seqüestrado por escravizadores brancos após ataque a comunidades quilombolas e ainda recém-nascido foi entregue ao Padre português Antônio Melo, da vila de Porto Calvo no atual estado de Alagoas, sendo batizado e recebido o nome de Francisco, aprendeu a falar o português e o latim, tornando-se coroinha aos 10 anos de idade, única referência encontrada da prática religiosa de Zumbi. Aos 15 anos de idade em 1670 fugiu para Palmares e voltou algumas vezes para visitar o Padre Antônio e trazer-lhe presentes porque o mesmo vivia em extrema miséria, segundo correspondências escritas pelo próprio Padre a um amigo da Vila de Porto Calvo. Fatos estes escrito unicamente por Décio e nenhum documento comprobatório.
"Ele teria sido vendido ao padre Antônio Melo, que o teria criado para ser coroinha. Aos 15 anos, no entanto, Zumbi teria fugido. "Essa é uma versão fantasiosa, mas não impossível", diz Flávio Gomes. "Décio jamais mostrou o documento em que apoiava essa biografia de Zumbi. E, além disso, ele ficou conhecido por romancear sistematicamente sua produção", diz Maestri".Reinaldo Lopes - Matéria publicada originalmente em História 27, novembro 2005.
Palmares iniciou-se no final do século XVI com um pequeno aglomerado de pretos escravizados fugitivos das fazendas de cana-de-açúcar e se internalizaram no interior do atual estado de Alagoas.
“Tudo indica que africanos do complexo angolano (região que englobava, além de Angola, uma parte do atual Congo) teriam tido um papel determinante em Palmares”, afirma Mário Maestri, do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Há, por exemplo, a tradição de que eles chamavam seu reduto de Angola Janga, ou "Angola Pequena". Se essa idéia estiver correta, o povo original de Palmares era composto, em grande parte, por gente do grupo lingüístico banto - um dos primeiros na África a desenvolver a agricultura, a criação de animais e o uso do ferro, tendo se expandido por boa parte de seu continente.
A Confederação dos Palmares foi formada por diversos quilombos e alguns dirigidos por mulheres guerreiras.
Palmares enfrentou guerras contra três nações europeias: portugueses, espanhóis e holandeses. Os palmarinos enfrentarem o poder da Igreja Católica e o poder dos protestantes reformados. Para explorar e destruir os palmarinos os brancos católicos e os brancos protestantes tinham a mesma opinião. Os protestantes pretos devem saber que os reformados holandeses negavam-se a batizar escravizados pretos que nada perderam com isso. Interessante se faz demonstrar o racismo calvinista imperante na Companhia das Índias Ocidentais dos holandeses, que após, daria forma ao apartheid na África do Sul e mantém até hoje a formação da Klux Klux Klan dentro dos USA.
A saga de Zumbi serve para entender que a liberdade deve ser conquistada a qualquer preço. Não foi nenhum branco que deu a liberdade aos pretos escravizados que formaram os quilombos e nenhum branco lutou para que Palmares continuasse livre. Zumbi e seus quilombolas servem como exemplo na diáspora e no pan-africanismo e o nosso povo nunca se abaixou para o colonizador e colonialista europeu. Reitero que nenhum historiador ou pseudo-historiador possa comprovar que na Pequena Angola houvesse a participação de brancos, sempre tentarão menosprezar a luta do povo preto na África e na diáspora. 
O exemplo dos palmarinos e milhares de quilombos destruídos nas Américas e milhares que ainda resistem no Brasil, o qual sou testemunha por ter feito o primeiro mapeamento no estado da Bahia, nos dão a certeza que a liberdade do povo preto é conquistada pelo povo preto e chega de influências eurocêntricas na nossa história.
Salve a memória de Zumbi, Ganga-Zumba, Ganga-Muiça, Ganga-Zona, Dandara, Acotirene, Aqualtune, Acaiúba, Toculo, Amaro, Andalaquituche, Dambrabanga, Subupira, Banga e tantas outras pretas e pretos quilombolas dos Palmares.

Consciência Negra sejam 365 dias ao ano!

sábado, 17 de novembro de 2007

DENMARK VESEY: Pastor Preto líder da Revolta em Charleston-USA em 1822.



Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com


Denmark Vesey era um pastor da igreja Metodista, um “preto bem sucedido”, com uma boa família, vivendo em uma confortável residência, dono do seu próprio negócio, contudo não compactuou com o sistema racista e escravista caucasiano, organizando uma das maiores insurreições pretas da história norte-americana. Nesse Novembro iremos homenageá-lo.
Denmark Vesey, originalmente chamado de Telemaque, nasceu por volta de 1767, na África ocidental, onde foi capturado e deportado para ilha de Santo Domingo. Em 1781, Telemaque, foi adquirido pelo capitão Joseph VESEY, na Ilha do Caribe, levado para Charleston, Carolina do Sul, onde Joseph o transportou juntamente com 390 escravizados para seu latifúndio de cana-de-açúcar, entretanto foi surpreendido por uma crise de epilepsia, então Joseph o pôs como escravizado doméstico, por mais de vinte anos.
Em 9 de novembro de 1799, Vesey ganhou US$ 1500 na loteria, comprou sua liberdade e abriu uma loja de carpintaria, onde era bastante habilidoso. Tornando-se assim um considerável empresário e conseguindo um patamar social bastante diferente dos demais pretos. Onde construiu uma confortável residência, com família bem estruturada e com negócios bastante promissores.
Embora anteriormente Presbiteriano, em 1816, Denmark juntamente com outros pretos livres fundou uma filial da Igreja Episcopal Metodista Africana, a qual foi incansavelmente perseguida por escravizadores brancos, chegando a ser fechada duas vezes no ano seguinte. Em 1820 a Igreja já contava com 3000 membros pretos, fazendo de Denmark um membro muito respeitado e rico na Comunidade.
Apesar da possibilidade de viver conforme o sistema racista e escravista branco, Denmark jamais abandonou seu povo. Sabia dos acontecimentos no Haiti e da Grande Insurreição de escravizados em 1791 que criou a primeira República Negra nas Américas e o segundo país livre no continente americano. O pastor Denmark viu este acontecimento no Haiti como exemplo a ser expandido na Carolina do Sul e a possibilidade de se fazer uma revolta objetivando a liberdade da escravidão dos pretos e de todo o Sul dos Estados Unidos, então começou nas suas pregações através do púlpito a citar versículos bíblicos encorajando os membros para lutarem pela emancipação, realizando missões nas plantações e nas ruas.
Muito Inteligentemente lia panfletos antiescravistas escritos por homens brancos à população preta. E com estes brancos discutia sobre a abolição trazendo a admiração da comunidade preta que o considerava um libertador.
A Igreja Metodista Episcopal Africana foi proibida e fechada quatros anos após sua fundação por escravizadores brancos, proibindo assim, o local de reunião e louvor da comunidade preta de Charleston que seguiam a fé metodista. O pastor Denmark Vesey visitou os membros das Igrejas e outros pretos convocando-os para a rebelião. Notando ele que era um momento oportuno para o grande levante na cidade de Charleston.


Em 1822, com um plano minuciosamente organizado, nomeou quatro tenentes: Ned e Rolla Bennett, escravizados do Governador da Carolina do Sul: Peter Poyas Bennett; um carpinteiro do navio; e Gullah Jack. Interessante se faz abrir um parêntese para perceber a origem do nome do Instituto Metodista Bennett no Rio de Janeiro, sobrenome do Governador Bennett, branco escravista que reprimiu com inúmeras mortes a liberdade de milhares de pretos e pretas.
Com um arsenal de armas, obtidas com os pretos Haitianos, Denmark e seus quatros tenentes reuniram cerca de 9000 homens pretos para a rebelião projetada para o dia 14 de julho, um domingo, dia fora do alcance de quaisquer suspeitas dos escravizadores brancos. Denmark não permitiu que os planos da insurreição fossem repartidos entre os escravizados domésticos, porque sabia que estes poderiam ser leais aos seus senhores. Entretanto o plano envolveu tantas pessoas pretas que alguns escravizados domésticos souberam dele, e o denunciaram antes de tê-lo posto em prática. Denmark tentou alterar o dia do levante mais não conseguiu, autoridades brancas já haviam tomado todas as áreas estratégicas do levante. Quando Denmark percebeu que o levante havia sido frustrado, queimou a lista dos participantes e os mandou retornar as suas casas. Contudo muitos sabiam da sua liderança e todos os líderes foram aprisionados. Embora o número de cerca de 9000 pretos revoltosos, apenas uma centena foi julgada, mesmo assim, configurou-se em um julgamento recorde.
Quando em juízo Denmark foi questionado porque mesmo sendo um preto livre, com ótimas condições financeiras, arriscou-se em uma revolta, ele respondeu não compactuar com o regime racista da escravidão, libertar seus irmãos e irmãs, pretos e pretas, ainda sob o julgo da escravidão, e libertar seus próprios filhos do titulo da escravidão.
Denmark e mais trinta e cinco pretos foram condenados à morte. No dia da sua execução, dia dois de julho, um enorme contingente de tropas federais foi chamado para conter uma grande manifestação de pretos e pretas contra o enforcamento do grande pastor Denmark Vesey.
O efeito imediato do enforcamento de Denmark foi a edição de leis pelos legisladores brancos que pioraram a condição da vida da população preta, restringindo a reunião de pessoas pretas e seu acesso aos portos.
O pastor Denmark Vesey como um verdadeiro militante pan-africanista tinha o apoio e a participação da sua família preta nas lutas, após o enforcamento a sua esposa Susan foi para a Liberia, o seu filho Sandy Vesey foi deportado para Cuba e o outro filho Robert Vesey conseguiu sobreviver e reconstruiu a Igreja Metodista Episcopal Africana em 1865.
O exemplo desse homem de Deus, um pastor metodista, nos leva a tê-lo como um expoente nas lutas libertárias. Não existe situação financeira estável e nem sucesso financeiro, enquanto o povo preto na diáspora estiver nesse sistema racista mundial. O pastor Denmark Vesey usou todos os recursos necessários e não esquecendo a sua origem africana e foi verdadeiramente compromissado, não se deixando enganar pelo sistema escravista. Não existe liberdade e nem riqueza enquanto todos os pretos e pretas não forem livres verdadeiramente.

PRETAS POESIAS

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