O Suriname encontra-se na parte norte da América do Sul, costa Atlântica a 2 ° -6 ° de latitude norte, 54 ° -58 ° de longitude Oeste (163.266 km²). Limita-se a leste com a Guiana Francesa, a oeste com a Guiana e ao sul com o Brasil. O interior está coberto de florestas e os rios convertem-se em um único acesso. O Suriname é extremamente diversificado etnicamente, linguisticamente, e religiosamente, os muçulmanos constituem 20% da população do Suriname, a percentagem mais elevada de muçulmanos em todos os países das Américas; a sua população estimada em cerca de 470.000 pessoas. “Consiste de aproximadamente 38 % de “Hindustanis” (descendentes de trabalhadores contratados que importou da Índia durante o final do século XIX), 31 % de “crioulos” (descendentes de escravizados africanos), 15 % de “javaneses” (descendentes dos indonésios importados como trabalhadores contratados no início do século XX), 10% de "quilombolas" (descendentes de escravizados africanos, que escaparam das plantações e formaram suas próprias comunidades no interior das florestas), e menor número de Portugueses judeus (sefardistas), chineses e libaneses. As primeiras populações do Suriname, cerca de 12.000 descendentes dos habitantes originais ameríndios ainda sobrevivem: Caribes e Arawaks na planície costeira; Trio, Wayana, Warrau, Wayarekule e algumas dezenas de Akurio no interior do país.
Quase toda a população vive ao longo da faixa costeira, a metade reside na capital, Paramaribo. Sendo o menor estado em território e população da América do Sul e tem como língua oficial o neerlandês, única no hemisfério ocidental e não faz parte dos Países Baixos.
A região havia sido observada pelos holandeses, mas a invasão das terras dessas populações pelos europeus foi em 1630, quando colonos Ingleses liderados pelo Capitão Marshall objetivaram fundar uma colônia. Tentaram desenvolver culturas de tabaco, mas o empreendimento fracassou financeiramente. Em 1650 Lord Willoughby governador de Barbados resolveu fundar uma colônia no Suriname.
Em 26 de fevereiro de 167O a região foi novamente invadida por sete navios holandeses liderados por Abraham Crijnssen e após três horas de lutas venceram e colocaram o nome da região de Forte Zelândia. Em 31 de julho de 1667, os Ingleses e os holandeses assinaram o Tratado de Breda, no qual, de momento, o status quo foi respeitado: os holandeses poderiam manter a ocupação britânica do Suriname e da ex-colônia holandesa New Amsterdam (moderna Nova York). A região invadida e nomeada pelos ingleses de Willoughbyland foi renomeada Guiana Holandesa. A França também ocupou a região a qual foi devolvida aos holandeses em 1816 após a derrota de Napoleão.
Em 1954, o Suriname adquire o autogoverno, e os Países Baixos mantiveram o controle da defesa e os negócios estrangeiros. Em 1973, o governo local, liderado pelo NPK (uma grande parte partido crioulo) iniciou negociações com o governo holandês sobre a independência, que foi concedida em 25 de novembro de 1975.
O CATIVEIRO E EXPLORAÇÃO DOS AFRICANOS
Os protestantes calvinistas holandeses traficaram 300.000 africanos, homens e mulheres da costa ocidental e de regiões centrais para as plantações de açúcar, café, cacau, algodão, extração de madeiras e diversos serviços de exploração. A apropriação da doutrina da predestinação dos verdadeiros hebreus foi dada nova ressignificação e simbolismos, sendo fundamental para os calvinistas holandeses e ingleses para a escravização e exploração e dos povos originais. Não somente entraram em guerra no Suriname, também na África do Sul onde criaram baseados na doutrina da predestinação o sistema do apartheid.
http://bibliodyssey.blogspot.com/2007/08/surinam-slave-trade.html
Poucos professores de história sentem-se preparados para discutir tão importante tema nas escolas e universidades. Recordo-me quando iniciei os estudos sobre as comunidades quilombolas no início da década de 80 do século passado no estado da Bahia e era censurado por militantes negros que não compreendiam a existência dessas comunidades, e hoje se arvoram em “doutores e doutoras de quilombos”, fui inúmeras vezes censurado por afirmar que milhares de quilombos ainda existiam em uma época que só se falava no quilombo de Palmares, e alguns historiadores pesquisavam resistência escravizada quilombola somente em arquivos. Tenho grandes agradecimentos ao Mario Maestri Filho, meu ex-professor de história, aos seus ensinamentos e compreensão ao ensinar-me que estudar história do Brasil sem entender escravidão não era possível, e ao pesquisador Guilherme que em 1981 me fez compreender que quilombos se estudam in loco, visitando as comunidades.
O estudo dos quilombolas ainda está em fase inicial, apesar de algumas regularizações de “terra de preto”, não há condições de estudos mais aprofundados no que tange a história, sobretudo iniciaram-se incipientes e recentes escavações arqueológicas em Palmares. Torna-se necessário a formação de arqueólogos pretos objetivando a pesquisa em comunidades quilombolas em toda a América-Africana. No geral poucos estudos lingüísticos estão sendo realizados nas comunidades em território brasileiro, as quais ainda sofrem um processo de discussões políticas e ataques da grande mídia, porque terra de pretos é um problema que afeta os interesses dos latifundiários.
Os pretos escravizados se rebelaram de diversas maneiras, e entre elas a formação de quilombos em toda a América-Africana, sendo este fato histórico essencial para a compreensão do escravismo e sua derrocada. Muitas designações foram dadas, no Suriname receberam o nome de “bush negroes” nas colônias inglesas, de “maroons”, cimarrons, em Cuba, de 'palenques'. Novos estudos são feitos dessas comunidades em diversos países, como na Jamaica, USA, Venezuela, Equador, Republica Dominicana, etc.
Na verdade, ainda a muito de se estudar este fenômeno em toda a América-Africana. No Brasil, estas comunidades eram chamadas de quilombos, mocambos, coitos, palmares, cafundós, terra de pretos, entre outras.
Uma das mais importantes comunidades de descendentes de escravizados fugidos é a dos Saramakas do Suriname que ainda hoje é atuante e ainda resiste, com uma identidade própria, um estado dentro do estado surinamês. Enfrentaram o estado em uma guerra violenta iniciada no ano de 1986, obrigando milhares de quilombolas a se refugiarem na Guina Francesa, e em pleno século 21 é considerado o maior quilombo sobrevivente da América-Africana.
Infelizmente pouco se fala dessa resistência do povo Saramaka nos meios populares e os militantes pretos a desconhecem em sua maioria, este é o assunto que compartilharei com as leitoras e leitores desse blogger, de antemão, será apenas um escurecimento das informações relegadas nos bancos de educação eurocentrados.
OS SARAMAKAS
Diversos grupos de escravizados fugidos do Suriname se organizaram em quilombos, e os ancestrais dos Saramaka foram africanos capturados e vendidos para a escravidão no final do século XVII e início do século XVII para trabalhar nas plantações de açúcar, madeira, e cafezais. Oriundos de vários povos Africanos e falando muitas línguas diferentes, fugiram para a densa floresta tropical, individualmente e em pequenos grupos e, por vezes em grandes grupos. Realizaram rebeliões por quase 100 anos lutando uma guerra de libertação. Um século antes da emancipação dos escravizados, o estado holandês foi obrigado a assinar um tratado com os saramakas e vivem como um estado dentro do Suriname.
A FAMÍLIA SARAMAKA
Acredito que a organização familiar é à base da manutenção da herança ancestral das pretas e dos pretos e os saramakas conseguiram manter a unidade familiar, apesar de terem se refugiado na floresta e convivido com os nativos, conseguiram preservar as suas tradições africanas. Evidente que as inferências ocorreram, mas não foram determinantes e não mudaram na continuidade da africanidade deste povo.
Entre eles os princípios da matrilinearidade são importantes e, pois determinam os bens materiais e espirituais, é importante entender que matrilinearidade não é matriarcalidade.
O casamento é precedido de permanentes agrados entre os homens e mulheres, apesar de que muitos homens tenham até sete esposas durante a vida com a prática da poligamia.
A fertilidade das mulheres celebrada, e a prática da amamentação das crianças se prolonga por um bom tempo, diferente dos padrões ocidentais.
As crianças têm uma educação matrilinear sendo orientados pela família materna e as jovens estão aptas ao casamento aos quinze anos de idade e os rapazes aos vinte anos.
Possuem uma economia baseada no extrativismo, na caça e na pesca, praticando também a agricultura com as culturas do arroz, mandioca, taro, quiabo, milho, plátanos, banana, cana de açúcar, e o amendoim. Cuidam também de plantas nativas como a fruta-pão, coco, laranja, mamão e abóbora. A caça e a pesca são partilhadas entre os parentes. Os homens constroem casas e canoas e esculpem uma vasta gama de objetos de madeira para uso doméstico, tais como cadeiras, pás, bandejas, utensílios para cozinhar, pentes e outros utensílios. As mulheres costuram e bordam as roupas e fazem panelas de cabaça e trabalham na cerâmica e na produção de cestas. Atualmente já lideram comunidades.
O trabalho assalariado fora das aldeias é de prática masculina como também as viagens para ganhar dinheiro no litoral do Suriname e da Guiana Francesa para fornecer as mercadorias ocidentais consideradas essenciais para a vida em suas casas e aldeias, tais como espingardas, pólvora, ferramentas, vasos, tecidos, espreguiçadeiras, sabão, querosene e rum. Durante a segunda metade do século XX, as pequenas lojas aparecerem em muitas aldeias, e peças de motores, rádios transistores, e gravadores . Hoje em dia, telefones celulares são onipresentes e a comunicação com Paramaribo, tanto por homens como por mulheres, tem aumentado bastante. E novas oportunidades econômicas na indústria de mineração do ouro - para os homens, a prostituição de mulheres - estão atualmente a ser explorada.
Pela importância deste fato histórico será dividido em duas partes, na segunda parte versaremos sobre as religiões e muitas formas de adivinhação para descobrir as causas das doenças ou infortúnio; rituais, incluindo a bela percussão e danças, a veneração dos ancestrais e a adoração do deus-serpente, os espíritos das florestas e rios; as crenças sobre várias almas; idéias sobre as maneiras que o conflito social pode causar a doença; os extensos ritos dos gêmeos; o culto secreto dos guerreiros, os funerais como o mais importante de todos os rituais.
A medicina africana atendia aos brancos e no século XVIII apesar da presença de oito médicos brancos na colônia, os escravizados desempenharam crucial papel com as suas ervas e curas, tanto entre os cristãos e os judeus. Também iremos escrever sobre a língua e a guerra dos Saramakas (OCORRIDA NO FINAL DA DÉCADA DE 80 DO SÉCULO PASSADO AOS ANOS 90).
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