“ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele.” (Pv. 22:6).
A imagem da criança preta na história infantil e nos livros didáticos brasileiros sempre foi de estigmatização e preconceitos. Nos renomados literários brasileiros a criança preta é vítima das mais horrendas violências, já há algum tempo, contestadas por estudiosas (os) pretas (as), a exemplo de Ana Célia no livro: “A discriminação do negro no livro didático” e outras pesquisadoras (es) ligados a nossa comunidade. Necessário é afirmar que a resposta aos ataques e introjeções discriminatórias ao povo preto só pode ser dada corretamente pelo povo preto. As doenças provenientes da escravidão só nós, povo preto, temos a cura. Não podemos acreditar que os que fizeram nosso povo adoecer possam tê-la.
No que tange a educação religiosa protestante a situação é mais grave porque influencia o inconsciente e cria adultos traumatizados que perfazem um futuro de medo e culpabilidade por todo um processo de branquitude vivencial das igrejas protestantes brasileiras.
O trabalho contestatório ainda não surgiu de forma abrangente, nos faltam educadores (as) pretos que vivenciem a realidade eclesiástica e suas aberrações discriminatórias, sendo estes comprometidos na formação de uma pedagogia preta libertadora.
A luta do CNNC como a única organização cristã afrocentrista, panafricanista e defensora do cristianismo de matriz africana, tem ocorrido em diversas frentes, a priori contra a omissão do protestantismo e a propagação de ideologias que atingem diretamente as crianças pretas nas igrejas protestantes, uma das primeiras denúncias foi escrita pela irmã Aidan: O RACISMO NA ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL.
Na concepção protestante no Brasil, as representações bíblicas são baseadas na branquitude de uma forma tão sagaz que inclusive o leitor (a) neste momento pode refletir acerca do que vou pedir, respondendo as seguintes perguntas:
O que é um animal sem mancha? Qual era a cor de um animal para o sacrifício em Israel?
O que veio a sua mente? Obviamente pensou em um animal de cor branca. Porque tu estais dominado pela branquitude. A cor branca representando a pureza é ensinada para as nossas crianças. Ser branco é ser puro?
Um dos maiores grupos gospel no Brasil é o DIANTE DO TRONO, que já lançou 10 álbuns, tem mais de seis milhões de cópias vendidas, milhões de admiradores, chegando a ter no Orkut uma comunidade de mais de 300 mil pessoas, atualmente deletada.Já reuniu mais de 2.000.000 de pessoas em uma única apresentação, se apresentando por todo o Brasil, em Israel, Estados Unidos, Alemanha, Rússia, Inglaterra, Japão, etc. Com seu poder de comunicação encanta uma grande parcela da população preta protestante, não detentora da profundidade do discurso de racialização pregado por este grupo, ao afirmar em seus shows que as civilizações africanas e indígenas são demoníacas, e nós povo preto sofremos da maldição hereditária advinda dos nossos ancestrais, tema esse já postado nesse blogger: A MALDIÇÃO DE CAM – MENTIRAS PARA ESCRAVIZAR E EXPLORAR O POVO PRETO e BATALHA ESPIRITUAL – AS CRIANÇAS BRUXOS DO CONGO
Trabalhos realizados por este grupo tem se destacado especialmente voltado para as crianças no site: http://www.criancasdt.com.br/ e na comunidade do Orkut : “Crianças diante do trono”, com 54.445 membros, cujo apresentação é: “ dê produto cdt para os seus filhos, sobrinhos, alunos netos lembre-se quando ele for velho ele estará no caminho do senhor.semeie no coração das crianças.”

Crianças Diante Do Trono (54.545 membros)
Alvo mais que a neve,
Alvo mais que a neve!
Sim, nesse sangue lavado,
Mais alvo que a neve serei.
No site infantil do Diante do Trono é ensinado: “Jesus é como aquele cordeiro da Páscoa dos hebreus”. Menção expressa ao Cordeiro branco sem defeito, simbolizando que Jesus fora branco, logicamente ao ver deles, puro e sem defeito, modelo a ser seguido e aspiração a ser conquistada já e na vida futura. Reforçando também que todas as outras cores de pêlo dos animais são defeituosas e, por conseguinte todas as demais cores epiteliais dos seres humanos. Como fica a mente de uma criança preta que desde a infância aprende que a sua cor é defeituosa?
Aos olhos do Pai
O Clipe repete a idéia caucasiana de contos de fadas, com meninas-princesas e castelo. Deus como um Pai Amoroso planeja e pinta a sua obra prima com toque de amor, fazendo-a perfeita:
“A cor de sua pele.
Os seus cabelos desenhou!
Cada detalhe,
Num toque de amor.
Antes de você nascer
Deus sonhou com você!”
Neste Sonho de Deus a população preta não é contemplada. A prática caucasiana de distorções dos fatos históricos e geográficos são alarmantes, tudo para europeizar acontecimentos em terras afro-asiáticas.
A menina não branca que surge rapidamente no clipe é um reforço ideológico de construção da idéia de mestiçagem que tem o branco como referência, cabelos alisados, poucos traços africanos, vestimenta européia, o sonho caucasiano tropical.
Cento e noventa pessoas comentaram o clipe e somente cinco entraram na questão da discriminação racial:
“A música é linda realmente! No entanto o videoclipe nào mostra nenhuma criança negra ou de cabelos crespos, só crianças brancas, olhos claros, cabelos lisos. Hipocrisia!”
“É muito lindo o vídeo, mas senti falta de criança negras. Em nosso país a diversidade e grande, devemos retrata-la. Como será que se sente uma criança que não se vê retratada diante do pai? Parece vídeo de gringo! Só tem crianças arrumadinhas.”
“Essa música toca muito no meu coração, quando a escuto me emociono muito pois me faz lembrar minha linda sobrinha, ela é uma criança negra e por isso já sofreu muito preconceito e quando a vejo triste canto essa música pra ela na mesma hora seu semblante de tristeza muda para um semblante de alegria por saber que é tão amada por Deus.”
“Esta música é o máximo...Minha filha tinha complexo,pois moramos num lugar de alemães,e ela é morena,bem clara,mas perto das amiguinhas dá diferença...Não sabia mais o que dizer,qdo me deparei com esta música...Hj ela se aceita muito mais que antes!!!Glórias a Deus pelo autor desta música!!!!”
“Eu só falei a verdade, por isso que incomodou. Sou evangélica e isse que a música é linda. só acho que poderiam ter colocado crianças reais, que se identificassem com a música.”
A cada dia aumenta o poder da comunicação dos protestantes brancos no Brasil, os quais repassam a sua concepção de mundo, de santidade, de beleza, da prosperidade e da vida futura. Neste processo urge que o povo preto protestante acorde desse pesadelo e tenha coragem de romper com essas estruturas. Não acreditem que essas instituições poderosas permitirão mudanças estruturais. Não sonhem, porque para eles não estamos nem no sonho do Pai.
Hoje é extremamente necessário que o povo preto protestante, não se engane acerca das mentiras propaladas por essas lideranças brancas religiosas protestantes, não aceite a comparação com o cordeiro defeituoso, e muito menos permita que nossas crianças sejam excluídas, por eles, da criação de Deus.
A verdade histórica é que as crianças pretas estão no sonho e na realidade de Deus. Na sua sapiência e benevolência criou o ser humano perfeito a sua imagem e semelhança. A humanidade original é cheia de melanina como Deus. Nós, o povo preto, somos o Sonho e a Realidade de Deus.

Dessa forma, o Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos, denuncia a racialização do pecado propagada por tais lideranças brancas, hipócritas, que apenas reproduzem o ideal da brancura dentro da comunidade preta cristã, a exemplo do que fizeram nesse clipe, negando a verdadeira essência da criação de Deus, do evangelho do Reino, e da pessoa de Yeshua: a essência africana.
Nós, do CNNC, desenvolvemos projetos de comunicação criados para e pelo povo preto, acreditamos apenas dessa forma, sem interferências, podemos através de uma mídia realmente livre responder a altura e informar ao nosso povo.
Se você quer participar desse projeto libertário de comunicação e acredita no nosso poder de organização, o convidamos, irmã ou irmão preto que entre em contato conosco, única organização cristã panafricanista e afrocentrista que não sofre intervenções de lideranças e nem orientações de organizações, bispos e pastores brancos, para mudança dessa realidade racista que vivenciamos no protestantismo.