sábado, 8 de março de 2008

MARIA W. STEWART – A PRIMEIRA MULHER PRETA JORNALISTA E FEMINISTA

Por: Ulisses Passos. Acadêmico de Direito, Pan-Africanista e Presidente do CNNC/BA. Pseudônimo: Aswad Simba Foluke. E-mail: ulisses_soares@hotmail.com


O CNNC/BA parabeniza todas as rainhas guerreiras pretas pelo dia Internacional das Mulheres!

"Por quanto tempo as filhas da África serão forçadas a enterrar as suas mentes e talentos abaixo de uma carga de potes de ferro e caldeiras?"
Maria W. Stewart

INTRODUÇÃO
Em Connecticut, hoje uma das cinqüenta unidades federativas dos USA, as atrocidades do regime de escravidão dizimaram a população nativa e os poucos grupos que resistiram foram exterminados nas guerras de 1600s. Com o crescimento do comércio dos navios tumbeiros e a necessidade de mão-de-obra, os escravizadores de Connecticut introduziram a escravização e seqüestros dos pretos africanos, embora não houvesse uma coesão de todos os brancos acerca desse comércio. Entretanto com o aumento da população preta e as beneficies econômicas geradas pelos escravizados africanos aos caucasianos escravizadores, as divergências entre eles foram sanadas pela ganância e pelo ódio aos homens originais.


Prisão em Connecticut em 1800s.

A influência dos Protestantes foi fundamental para a escravidão em Connecticut, usavam a Bíblia para legitimá-la, legitimar o racismo e a submissão das mulheres. Os Puritanos modificaram o regime de escravidão em Connecticut, fazendo perpetua, já que antes mais se aproximara da servidão.
Uma série de leis promulgadas 1690 e 1730 firmou o Código Negro, que disciplinava as relações escravocratas naquele estado. Apesar de diferenciar bastantes dos Códigos dos Estados do Sul, ao considerar os pretos pessoas com personalidade jurídica, a jurisprudência, dos trâmites da lei, apenas interpretava como pessoa de Direitos e Deveres os caucasianos:
“Na lei de 1642 que determinava que fosse proibido roubar o “homem ou a humanidade”, foi interpretado o significado apenas a humanidade caucasiana.” (New Haven Teachers Institute of Yale).
Com o crescimento exorbitante da população preta em Connecticut e as diversas revoltas e insurreições comandadas por pretos os legisladores decidiram proibir o tráfico de africanos. Também essa foi uma política para o branqueamento desse estado.
Neste contexto nasce Maria Miller.

Maria W. Stewart - A Primeira Mulher Preta Jornalista e Feminista.
Maria Miller nasceu em Hartford, Connecticut em 1803. Aos cinco anos de idade, ela se tornou um órfã. Foi enviada para trabalhar como ajudante de um clérigo da família até os seus quinze anos, sendo privada de educação e submissa. Logo após freqüentou a Escola Sabatina (Sabbatah School) e para se sustentar trabalhava de empregada doméstica.
Em 10 de agosto de 1826, ela casou-se com James W. Stewart, sob a benção do Reverendo Paul Thomas, na Igreja do Encontro Africano (African Meeting House), também conhecida como A Primeira Igreja Batista Africana, construída apenas pelo trabalho de pretos e pretas, tornou-se um local de celebrações e de reuniões antiescravistas.
James Stewart era empresário independente de pesca que conseguiu relativo sucesso nos negócios, permitindo que ele e sua esposa levassem uma vida de classe média em Boston.
Após três anos de casamento, James Stewart morre, e a herança é apropriada de Maria por empresários brancos que a deixaram sem residência e renda. Então começa a palestrar sobre os direitos das mulheres pretas, para sustentar-se. Sendo influenciada por David Walker, um militante preto, mais conhecido por seu panfleto Walker's Appeal, aonde defendia o orgulho negro, exigia a imediata libertação dos escravizados pretos, e a resistência violenta como um meio para conseguir a liberdade, sendo morto em 1830.
Maria Stewart publica uma coleção de diversas meditações religiosas e manteve-se discursando e palestrando sobre os direitos das mulheres pretas e contra a escravidão por apenas três anos, contudo suficientes para fazer dela o ícone da luta das mulheres pretas em todo o mundo. Foi provavelmente a primeira mulher preta jornalista e escrevia o que a sociedade escravocrata branca não queria ouvir, alguns dos seus artigos foram publicados no jornal abolicionista “O Libertador”.
Stewart defendia que todas as mulheres tinham o direito de expressão e Deus fez o homem e as mulheres iguais, combateu a tirania, a escravidão, a opressão econômica e política do povo preto. Protestou contra a proposta de enviar pretos para a África após séculos de exploração dentro dos Estados Unidos da América, iriam enviar a uma terra estranha, sem direitos e ficariam com os cofres cheios dos trabalhos dos escravizados, sendo necessário que os pretos e pretas desfrutassem do fruto das suas lágrimas e do seu sangue, exigindo reparação dos atos cometidos pelos brancos.
Foi uma cristã ativa, membro da Igreja Batista e usou a Bíblia como base de seus argumentos que a escravidão era errada e violava a vontade divina.
Nas suas palestras religiosas citava trechos dos livros de Lamentações, Juízes, Ester, Mateus e Apocalipse e reiterava que as rebeliões e as destruições eram da vontade de Deus para punir os escravizadores.
Refutava os escritos do apóstolo Paulo que dizem que a mulher deve ser submissa aos homens e o seu apoio a escravidão e, afirmava que se Paulo conhecesse a realidade das mulheres e da escravidão não seria contestado publicamente por ela.
Em seus discursos, assaz religiosa falava com altivez em uma concepção pan-africanista:
Rezo que as cadeias da vitimização, discriminação e opressão jamais impeça-nos de estarmos unidos como um na luta na nossa luta pela justiça social.
Ascendia a esperança no povo preto de um Deus Libertador e Igualitário, citando o livro de Isaías 55:1:
Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite.
E repreendia os escravocratas citando o texto de Provérbios 14:34:
A justiça exalta os povos, mas o pecado é a vergonha das nações.
Nos seus discursos conclamava a união do povo preto para a construção de suas próprias escolas, centros comerciais, etc., e censurava os gastos desnecessários que não contribuíam para a união e crescimento do povo preto. Afirmava que todo o trabalho sujo na América era feito pela população preta e deveriam começar a fazer trabalhos limpos para ajudar a si mesmos. Clamava pelo crescimento da auto-estima da população e na fé e confiança no Eterno para ajudar a vencer as dificuldades, mas tinham que agir.
Ela pronunciou-se contra o comportamento autodestrutivo, como o alcoolismo no seio da comunidade preta, porque era prejudicial para atingir a igualdade de direitos, demonstrava a sabedoria das mulheres pretas com a sua censura, pois em toda a escravidão o álcool foi um planejamento dos caucasianos para fazer parte da dieta dos escravizados, o qual infelizmente tem dizimado grande parte da população preta.
Defendia a emancipação das mulheres pretas que deveriam estudar e terem uma vida ativa fora das obrigações impostas pela sociedade de viverem presas ao lar. Incentivando as mulheres a não serem dependentes de homens e, para iniciar seu próprio negócio e confiar apenas nelas mesmas para tomar as suas decisões na sociedade.
Em 1833 foi forçada a deixar a cidade de Boston devido a fortes reações, inclusive de homens pretos e vai residir em Nova York deixando a vida pública de palestras e dedicando-se a militância em atividade antiescravista, na alfabetização das mulheres pretas e em diversas organizações.
Lembrar de Maria W. Stewart nas lutas do povo preto especialmente no antiescravismo, abolicionismo e feminismo é de suma importância, especialmente pela sua coragem e determinação, de levantar a sua voz dentro de da América escravista há 176 anos. Mulher corajosa que serve de exemplo para os homens e mulheres pretas.

Maria Stewart morreu em 17 de Dezembro de 1879 nos deixando um legado incomensurável.

6 comentários:

Anônimo disse...

Belo artigo. Meus parabéns

Unknown disse...

Gostei muito da biografia de Maria Stewart. Vou utilizar este texto em minhas aulas , pois na comunidade onde trabalho há uma alta porcentagem de negros e que se negam pertencer a raça. Creio que será de muita valia para que sintam orgulhosos de ter correndo em suas veias sangue africano.

Unknown disse...

Acho que com a amnezia as pessoas negras não se interensam saber do verdadeiro passado Africano tanto o Homem tanto as mulheres que na piramide da sociedade estão em ultimo lugar não gostam nem de lembra que fazem parte desta historia dos negros por aquino brasil , e isso so dificulta a situação por que assim nunca vamos ter um presidente negro neste pais ,isto mostra que pelo menos no EUA,os negros são muitos mais unidos do que aqui ,e pra mim isso e UMA VERGONHA

Anônimo disse...

Fantástico! Já a conhecia de trabalhos desenvolvidos pelo escritor maranhense José Nascimento Moraes Filho, quando ressuscitou a primeira Romancista, Poetisa, Abolicionista do Brasil e a 1ª Jornalista maranhense "Maria Firmina dos Reis".(criou inúmeros estilos literários no decorrer de 92 anos).
Se estabelecermos um paralelo entre as duas, diríamos que foram quase contemporâneas em seus respectivos continentes. Com o diferencial característico e evolutivo dos EUA comparando-o ao Brasil que demorou crescer nos itens artísticos, sociais econômicos, etc. A colonização brasileira tem praticamente o mesmo tempo dos Estados Unidos da América.
Maria Sterwart tinha 22 anos quando Maria Firmina nasceu.
Maria Firmina contava com 54 anos quando Maria Stewart faleceu.
Nossa...que maravilha!!
Maria Firmina dos Reis (1825 – 1917) nasceu em São Luís, no dia 11 de outubro de 1825 sob duas condições que por si só já seriam capazes de exaurir qualquer futuro de uma mulher num país escravocrata. Era mulata e bastarda. Apesar disso, Maria Firmina rompeu com o sistema vigente e estudou até se “formar” professora. Aos 22 anos venceu o concurso público para a “Cadeira de Instrução Primária”, na cidade de Guimarães. Durante grande parte de sua vida, dividiu-se em duas pessoas: uma a professora e a outra, a escritora, sendo esta última a que mais se destacou. Maria Firmina escreveu e publicou por muito tempo, crônicas, poesias, ficção e até charadas. Mulher inteligente e culta teve participação relevante no cenário cultural nacional, atuando também como folclorista e compositora, tendo sido, inclusive, responsável pelo hino da Abolição da Escravatura.
Como romancista teve três grandes publicações: Gupeva, de temática indianista, publicado em 1861 e Úrsula, publicado em 1859, A Escrava 1887. “Úrsula” configura-se como o primeiro romance abolicionista da literatura brasileira. Nele, a autora aborda a escravidão a partir do ponto de vista do negro. Para fugir da repressão que era comum na época, Maria Firmina assinou a publicação com o pseudônimo “Uma Maranhense”. Se já é difícil publicar um livro nos dias atuais, imagine esse cenário em pleno século 19, ainda mais para uma mulher, negra e nordestina. As dificuldades eram imensuráveis. Até por isso e por outros motivos, o livro Úrsula só veio a público em 1975, através dos estudos de Horácio de Almeida e de Nascimento Morais Filho, grande pesquisador das obras da romancista.
Maria Firmina foi uma mulher à frente de seu tempo que rompeu a barreira do preconceito, fundamentado no racismo e no machismo, e mostrou para o mundo a importância da literatura maranhense. Ao contrário do que era vigente na época, quando os homens, brancos e ricos iam para a Europa, estudar nas melhores faculdades, Maria Firmina provou que a busca pelo conhecimento não tem fronteiras físicas e deu ao mundo um romance recheado de denúncia de injustiças arraigadas na sociedade patriarcal brasileira e que tinham no escravo e na mulher suas principais vítimas.
Morreu em 1917, aos 92 anos sem ver sua principal obra reconhecida pelos intelectuais da época.
(Fonte): Nascimento Morais Filho/Maria Firmina dos Reis, Fragmentos de uma Vida/Ed.Sioge-MA/1975.
...Que sonho se estas duas "Marias" tivessem a felicidade de se conhecerem! O mundo estaria bem melhor, sem dúvidas.
Parabéns pela oportunidade que nos deu com informação tão imprtante sobre Maria W. Wtewart)
Atenciosamente.

Marilyn Richardson disse...

The information is from the book: "Maria W. Stewart, America's First Black Woman Political Writer." by Marilyn Richardson (Indiana University Press).

Unknown disse...

Olá, sou Alessandra da cidade de Imperatriz-MA, estou fazendo uma pesquisa sobre a Escritora Maranhense Maria Firmina dos Reis pesquisando na internet encontrei o blog CNNC/BA com uma matéria sobre essa maravilhosa escritora, achei muito interessante e gostaria de saber como posso encontrar o livro mencionado no texto: (REIS, in, MORAIS FILHO, José Nascimento.Maria Firmina dos Reis - fragmentos de uma vida. São Luis: Governo do Estado do Maranhão, 1975).

Espero contar com sua ajuda.
Desde já, agradeço.

Alessandra C. Rodrigues
alessandra.c.r@hotmail.com

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