sexta-feira, 26 de agosto de 2016

A BONECA ABAYOMI - INVENÇÃO OU VERDADE HISTÓRICA?







Por Walter Passos, 
Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Poeta





Há certos relatos históricos não possuidores de comprovação documental e oralidade, consequência de infelizes hábitos de se criarem mitos da escravidão. A história preta tem sido uma ciência vilipendiada, forjada de mentiras e apropriada pelos eurocêntricos.
As pessoas estão acostumadas a “diagnosticar” estórias. Compreensível no mudo virtual em comunidades onde as pessoas escrevem ao bel querer sem responsabilidade para um grupo desinformado-desinteressado ou desconhecedor das metodologias da história. A Prova é: eu acho e acabou... As comprovações documentais não são consideradas.
Na história brasileira há uma tentativa de se fazer engolir uma pseudo supremacia nagô (Yoruba) em detrimento aos bantus. Mais uma artimanha de pesquisadores brancos como Pierre Verger e outros que criaram o mito da superioridade Yoruba. Os brancos tentam nos ensinar sobre a nossa história e religiosidade. Eles são engraçados! Felizmente, a população preta tem questionado essa tática caucasiana de criar celeumas entre o nosso povo e estamos aprendendo a respeitar as diversas influências africanas nas nossas vidas.
Na década de 80 do século passado se criou uma história irreal sobre as bonecas que vi na minha infância, as quais minha mãe e minha tia aprenderam das mais antigas e confeccionavam para as meninas brincarem de mamães ou fazerem teatrinhos. Nunca ouvi o nome dados atualmente: abayomi (A palavra Abayomi significa: encontro feliz, ou encontro precioso, aquele que traz felicidade e alegria).


“Quando os negros vieram da África para o Brasil como escravos, atravessaram o Oceano Atlântico numa viagem muito difícil”. As crianças choravam assustadas, porque viam a dor e o desespero dos adultos. As mães negras, então, para acalentar suas crianças, rasgavam tiras de pano de suas saias e faziam bonecas com elas para as crianças brincarem. Essas bonecas são chamadas de Abayomi”.
Não nego a importância do trabalho de Waldilena Martins e muito menos a influência dessas confecções na releitura das novas bonecas de pano na autoestima do nosso povo.. Questiono o nome ABAYOMI. “As crianças choravam assustadas, porque viam a dor e o desespero dos adultos”. As mães negras, então, para acalentar suas crianças, rasgavam tiras de pano de suas saias e faziam bonecas com elas para as crianças brincarem. Essas bonecas são chamadas de Abayomi.
Bonecas foram brincadeiras de crianças em Kemet (Antigo Egito) em Mohenjo daro, Harappa e em todas as civilizações.
Algumas questões precisam ser discutidas:
1- Os interesses dos traficantes em África.
2- A quantidade de homens e mulheres e crianças (gênero)
3- O transporte dos prisioneiros de guerras (alimentação, vestimentas, doenças, como ficavam aprisionados, etc..).
3.1 Como eram alocados, homens mulheres e crianças.
4- Qual era a taxa de sobrevivência
5- Quando começou o sequestro dos povos da Costa de Benin em direção ao Brasil
Outras questões poderiam ser ventiladas para uma discussão mais aprofundada. Não sendo necessário. O mito de que foram mulheres Yoruba que rasgavam as saias dos vestidos em navios do desespero não pode ser comprovado e não existe esse nome para bonecas pretas em nenhuma tradição africana nas Américas. Foi um mito criado na década de 80 do século passado no Brasil.
Evidente que as primeiras bonecas de pano a serem criadas no Brasil foram de tradição bantu. Isso é inquestionável. Os nomes dados? Perderam-se na história.
A confecção de bonecas de panos foi um fato corriqueiro para brincadeiras das meninas em toda América Africana.
Inclusive no Sul dos USA na época da escravidão as mulheres pretas confeccionam bonecas de duas cabeças (topsy-turvy doll) (boneca de pernas para o ar) em vez de pernas, outra cabeça que poderia ser escondido sob a saia da boneca. Uma cabeça e um conjunto de braços seriam brancos; os outros seriam pretos, os senhores de escravizados não queriam que as crianças pretas tivessem bonecas porque davam uma ideia de empoderamento.
"Quando o senhor de escravizados ia embora, as crianças tinham o lado preto, mas, quando o senhor de escravizados estava por perto, elas tinham o lado branco”.


O nome dado as bonecas na década de 80 do século passado, nós a chamávamos de “boneca de pano”, inclusive em Salvador/Bahia, antigamente havia bonecas de panos brancos nas mãos de meninas pretas.
O que não podemos conceber é o Nagocentrismo ou Yorobofolia. Quando vou à roça de candomblé, é uma casa ketu (nagô), mas, a verdade histórica está acima das tradições familiares e escolhas pessoais.


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