quinta-feira, 13 de março de 2008

A MALDIÇÃO DE CAM – MENTIRAS PARA ESCRAVIZAR E EXPLORAR O POVO PRETO

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com
Dezenas de irmãs e irmãos enviam e-mails relatando experiências de discriminação racial e com preocupações sobre a maldição de Cam que ainda é ensinada em suas igrejas. Uma irmã do sul do país escreveu:
"(...) QUERIA SABER PORQUE O POVO NEGRO SOFRE TANTO, QUESTIONEI A UM PASTOR QUE ME DISSE QUE O NEGRO ERA UM POVO AMALDIÇOADO POR DEUS, ATRAVÉS DA MARCA DE CAIM OU CANNÃ FILHO DE NOÉ, ME REVOLTEI E PROCUREI EXPLICAÇÕES, ALGUNS PASTORES DE SITES EVANGÉLICOS JÁ ME RESPONDERAM AO CONTRÁRIO QUE O POVO NEGRO É UM POVO ABENÇOADO POR DEUS (...)”
Também pessoas não vinculadas a grupos religiosos escrevem pedindo informações sobre tal tema, dessa forma resolvi escrever sobre este assunto que ainda prejudica espiritualmente e serve de mistificação racial na sociedade.
A pretensa maldição de Cam trouxe lucros tanto para a igreja católica como para a protestante, grande exemplo é a ordem dos jesuítas que enriqueceu com os “amaldiçoados”, e dentro do protestantismo serviu para manutenção da escravidão. Hoje, é usada ainda para preterir os descendentes de africanos do bem-comum, e por incrível que pareça tem recebido outras designações que afetam diretamente o povo preto no mundo.
Escrevemos sobre as conseqüências dessa ideologia, cujo ataque atual se destinou dentro do continente africano, especificamente no Congo, afetando crianças, confira no nosso blogger:
A maldição de Cam é usada diretamente para alimentar a intolerância religiosa e como base de ataques as religiões de matriz africana e motivos dentro do cristianismo para introjetar o desamor e a baixa estima aos pretos nas igrejas evangélicas.

ENTENDENDO A MALDIÇÃO DE CAM
A maldição é usada especialmente em dois momentos no livro de Gênesis, os quais usam para referir erradamente à cor preta, primeiramente para os descendentes de Caim:
“O SENHOR, porém, disse-lhe: Portanto qualquer que matar a Caim, sete vezes será castigado. E pôs o SENHOR um sinal em Caim, para que o não ferisse qualquer que o achasse.” (Gênesis 4:15)
E em relação à Canaã, o filho de Cam:
“E começou Noé a cultivar a terra e plantou uma vinha.
Bebeu do vinho, e embriagou-se; e achava-se nu dentro da sua tenda.
E Cão, pai de Canaã, viu a nudez de seu pai, e o contou a seus dois irmãos que estavam fora.
Então tomaram Sem e Jafé uma capa, e puseram-na sobre os seus ombros, e andando virados para trás, cobriram a nudez de seu pai, tendo os rostos virados, de maneira que não viram a nudez de seu pai.
Despertado que foi Noé do seu vinho, soube o que seu filho mais moço lhe fizera; e disse: Maldito seja Canaã; servo dos servos será de seus irmãos.
Disse mais: Bendito seja o Senhor, o Deus de Sem; e seja-lhe Canaã por servo.
Alargue Deus a Jafé, e habite Jafé nas tendas de Sem; e seja-lhe Canaã por servo.”
(Gênesis 9:20-27)
Esses textos, especialmente o segundo, serviram para corroborar a escravidão de africanos, numa mutilação e deturpação dos escritos bíblicos. Tenho afirmado constantemente que os atores e atrizes do Primeiro Testamento e também os espaços geográficos dos eventos citados ocorreram em terras afro-asiáticas, sendo impossível a presença de civilizações brancas participantes de tais fatos. Dessa maneira, o assevero que historicamente e arqueologicamente a marca de cor preta como maldição é deveras impossível, sendo mais uma mentira dos caucasianos. E continuo desafiando teólogos e historiadores que me comprovem se houve a presença de populações européias no cenário inicial dos fatos escritos no livro de Gênesis.
Há questionamentos sobre a nudez de Noé e da sua embriaguez, alguns estudiosos afirmam que houve um ato de homossexualidade entre ele e seu filho Cam. “Viu a nudez de seu pai” alguns interpretam como sendo de ordem homossexual, segundo Jean-Philippe Omotunde, estes fatos são duvidosos:
"Presta bem atenção pois é longe de ser uma brincadeira. Alguns dizem "ele viu seu pai nu", tem que entender que ele cometeu um ato de homosexualidade com ele, de onde a maldição de Cam (ver alguém nu é igual a uma sodomia na cultura judia, eis o porque desta menção no "Middrash"). Autros dizem que Cam copulou com animais na arca e é por esta razão que ele ficou preto e maldito. É dito também que Deus, tendo dito que amaldiçoaria mais seus filhos, só lhe restavam os netos para amaldiçoar. Para a Biblia de Chouraqui, Cam viu o sexo do seu pai e "o Deus dos abençoados Israel abominava a falta de pudor acima de tudo". Robert Graves e Raphaël Pataï (ref. "Les mythes hébreux (= Os mitos hebreus)", Fayard, 1987, P. 129-134) acrescentam que de fato Canaã emasculou seu avô com uma corda debaixo da tenda e Cam vendo isto riu. Mas eles lembram que também existe uma versão que diz que é o Cam mesmo que procedeu a esta emasculação. O dicionario enciclopedico do judaismo revela que Cam teria estuprado sua mãe e concebido assim Canaã. Isto não é tudo. Para o Rabino Rachi, é o Canaã que viu primeiro seu pai nu (ref. "Le commentaire de Rachi sur le pentateuque (= O comentario de Rachi sobre o "pentateuque")", livro de Keren Hasefer). Está vendo, nadamos em um mar de baixarias."
http://br.msnusers.com/AfrodescendentesnasIgrejasEvangelicas/general.msnw?action=get_message&mview=0&ID_Message=588&LastModified=4675448933753675230
Há muitas versões dos textos de Gênesis e com certeza já comprovada manipulações de traduções. Onde estão os textos originais? Quem manipulou e modificou os textos copiados? Quais foram e são os interesses de exegeses forçadas e hermenêuticas anti-preto? Nós sabemos que as primeiras civilizações apareceram no continente africano e nós os pretos e pretas somos a essência divina, os seres originais criados a imagem e semelhança de Deus que planejou e executou a criação da humanidade de cor de ébano para surgir na África, o qual é comprovada por todos e todas pesquisadoras e cientistas, entendemos que a falsa maldição se torna inveja e ódio ao povo preto. A maldição de Cam é uma mentira inventada pelo eurocentrismo para roubar as riquezas do continente abençoado e tentar destruir os seres originais.
Uma pergunta paira no ar: Noé teve 03 filhos de colorações epiteliais diferentes? Mas, Noé, foi um homem preto. Como se explicar esse fato? A tal maldição foi parar em Canaã, o seu neto, porque os hebreus iriam invadir aquele território. Afirmar que os semitas não eram pretos ofende a minha inteligência. E sobre Jafé? Era um homem branco? Os historiadores não podem caminhar por essas designações; a primeira civilização caucasiana conhecida foi a helênica que surgiu entre 1800.Ac a 2000 A.C. As localizações dos descendentes de Jafé que embranqueceram posteriormente é correta nas regiões do Cáucaso, sendo conhecidos no Primeiro Testamento como pagãos.
Tenho afirmado categoricamente que os antigos hebreus foram pretos, nesse sentido não há maldição racial, historicamente, essa afirmação é uma falácia. Confira o artigo do blogger do CNNC:
Clique Aqui - OS HEBREUS PRETOS

A IGREJA CATÓLICA E A MALDIÇÃO DE CAM
A igreja Católica Apostólica Romana vai corroborar a maldição de Cam em acordos políticos, bulas papais, práticas escravocratas como o tráfico, catequese, na beatificação de pessoas que tiveram visões imbuídas de racismo.
O site sobre a Doutrina Católica explica a concepção assumida pela igreja na época da escravidão do povo africano.
Missionário capuchinho queima casa de ídolos na África Centro-Ocidental, década de 1740. Fonte: Paola Collo and Silvia Benso (eds.), Sogno: Bamba, Pemba, Ovando e altre contrade dei regni di Congo, Angola e adjacenti (Milan: published privately by Franco Maria Ricci, 1986), p. 163.
"A alma do negro africano regenerada pelo batismo não estava mais cativa, ela se libertava do poder do diabo que governa as religiões em África, o escravo no Brasil devia preservar essa liberdade da alma, para não cair sob o domínio dos poderes malignos do seu continente de origem.
O que se deu na verdade, segundo o entendimento da época, foi o predomínio da idéia de que era preferível a esses grupos humanos viveram como escravos numa cultura cristã, a viverem na barbárie do estado tribal, praticando o animismo, a idolatria e o politeísmo, com a observância de práticas de sacrifícios humanos, com guerras tribais sangrentas e , principalmente , com a escravidão vigorando entre os próprios nativos da África e também pelas mãos dos comerciantes muçulmanos !
É uma ilusão pensar que os povos da África gozavam de um estado de liberdade e de bem-estar em suas regiões de origem ou que eram governados de forma justa e que viviam sob princípios humanitários e éticos naturais, reverenciando um conjunto de crenças que portassem valores éticos próximos aos do cristianismo".
http://br.geocities.com/worth_2001/Escravidao.html

O papa Nicolau V, no dia 8 de janeiro de 1455, promulgou a Bula Romanus Pontifex, que, entre outras aberrações, afirma que: “Nós (...) concedemos livre e ampla licença ao rei Afonso para invadir, perseguir, capturar, derrotar e submeter todos os sarracenos e quaisquer pagãos e outros inimigos de Cristo onde quer que estejam seus reinos (...) e propriedade, e reduzi-los à escravidão perpétua e tomar para si seus sucessores seus reinos (...) e propriedades”.
Na apresentação do combonianos, o padre Isaías Rocha incorre na idéia de maldição:
"A Missão
A missão de Comboni foi teologal, onde o primado da fé teve vantagem. Dela disse a missionária que ele mais estimava, Teresa Grigolini: «exteriormente não parecia homem de recolhimento, mas ao olhar para ele ficava-me a sensação de que estava sempre na presença de Deus». Homem do deserto, contemplativo do Coração do Bom Pastor, não falhava na oração e dela sentia o impulso para «abraçar os cem milhões de africanos ainda considerados sob a maldição de Cam."
Pe. Isaías Rocha Pereira, MCCJ
http://www.agencia.ecclesia.pt/noticia_all.asp?noticiaid=3417&seccaoid=8&tipoid=171
PADRE VIEIRA
O Padre Antônio Vieira em seus Sermões (XI e XXVII), afirma que :
-"A África é o inferno de onde Deus se digna retirar os condenados para, pelo purgatório da escravidão nas Américas, finalmente alcançarem o paraíso".
"É melhor ser escravo no Brasil e salvar sua alma do que viver livre na África e perdê-la? "
Pe. Antonio Vieira .
O RACISMO DE ANNE CATHERINE EMMERICH
A religiosa agostiniana, Anne Catherine Emmerich estigmática e extática nasceu em 8 de setembro de 1774 em Flamsche, perto de Coesfeld na Diocese de Munster, em Westphalia, Alemanha, e morreu em 9 de fevereiro de 1824 em Dulmen. Suas visões estão descritas nos livros “A Dolorosa Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo de acordo com as Meditações de Anne Catherine Emmerich”, “A Vida da Santíssima Virgem Maria” e “A Vida de Nosso Senhor”.
As visões de Anne são contestadas de veracidade por alguns católicos e combatidas por causa do racismo contra pretos e também pelo anti-semitismo. No que tange a população preta ela diz em suas visões que o povo preto tem a marca da maldição oriunda de Caim e somos um povo degradado, almadiçoado e nas suas visões também vê o diabo de cor preta e odioso. Visões estas que ela diz ter recebido do próprio Senhor Jesus Cristo e os católicos a beatificaram. O Filme “A Paixão de Cristo de Mel Gibson”, foi inspirado nas visões dessa beata e muitos evangélicos pretos assistiram e ficaram felizes, alguns passaram mal e teve até mortes por emoção. Um filme baseado em visões de uma pessoa que não respeitou a população preta no planeta. Leia sobre as visões de Anne em inglês:
http://www.all-jesus.com/scriptures/bible1-4.htm
“O filme de Gibson na verdade não passa de uma interpretação cinematográfica católica das últimas horas de Cristo o qual os Evangelhos nunca relataram. A conhecida e venerada Anne, a freira que é considerada visionária, profetiza e que esteve com o místico sinal do estigma nas mãos foi a principal fonte de Mel Gibson em sua inspiração para relatar o filme, ele próprio confirma tal fato em vários setores da comunicação. No entanto, ele diz que: "O Espírito Santo estava trabalhando através de mim neste filme." Mas em outro lugar diz: "Ela me passou dados que eu nunca teria pensado." (The New Yorker, 09/15/03). Em suas visões ela viu os protestantes sofrendo mais que os católicos no purgatório porque ninguém oferece missas ou rezas para eles. Nos últimos 12 anos da vida de Anne é alegado que ela se alimentou somente da hóstia... O livro de Anne em que relata a vida de Cristo em imagens e situações, apontando o papel de Maria como co-redentora junto com Cristo, é evidenciado no filme de Gibson. Gibson foi também influenciado por Mary de Agreda (1602-1665), uma freira católica e mística visionária. Ela foi sempre tomada em transes, o que a levou a ensinar pessoas em línguas estranhas. Em seu livro Mistica Cidade de Deus, Agreda oferece muitos detalhes sobre Maria e a paixão de Cristo que não estão na Bíblia... “
http://www.eternojesus.com/noticias/televisao/estudos.htm
A invenção da maldição de Cam tem sido contestada até no blogger dos ateus e os mesmos acusam Deus por culpa dos racistas:
"É bom lembrar que a maldição de Canaã também foi utilizada para justificar a escravidão. Muitos líderes religiosos, como os clérigos Robert Jamieson, A. R. Fausset e David Brown, em seus comentários bíblicos asseveram:
“Maldito seja Canaã, (
Gênesis 9:25) esta maldição se tem cumprido na (…) escravização dos africanos, os descendentes de Cão.” — Comentário, Crítico e Explicativo, de Toda a Bíblia.
Afirmava-se que não só a escravização dos negros cumpria tal maldição bíblica, mas que sua cor preta também. Assim, muitos brancos foram levados a presumir que os negros são inferiores, e que Deus propôs que fossem servos dos brancos. Até mesmo há uns cem anos atrás a Igreja Católica detinha o conceito de que os negros foram amaldiçoados por Deus. Maxwell explica que este conceito “aparentemente sobreviveu até 1873, quando o Papa Pio IX associou uma indulgência à oração em favor dos “desgraçados etíopes da África Central, para que o Deus Todo-poderoso remova inteiramente a maldição de Cam de seus corações””.
Todavia, a mais de 1.500 anos antes de Cristo, os rabinos judeus já ensinavam uma estória sobre a origem da pele negra. Afirma a Encyclopædia Judaica que “Cus (nome estranho), o descendente de Cam, tem pele negra como castigo por Cam ter tido relações sexuais na arca”. “Estórias” similares foram propagadas nos tempos modernos. Os defensores da escravidão, tais como John Fletcher, de Luisiana - EUA, por exemplo, ensinavam que o pecado que motivou a maldição de Noé fora o casamento inter-racial. Afirmava que Caim fora assolado com a pele negra por matar seu irmão, Abel, e que Cam pecara por se casar com alguém da raça de Caim. É digno de nota também que Nathan Lord, presidente da Faculdade Dartmouth no último século, atribuiu também a maldição de Noé sobre Canaã parcialmente ao “casamento misto proibido de Cam com a raça previamente iníqua e amaldiçoada de Caim”. Hoje em dia ainda há igrejas que defendem estas interpretações, embora não defendam mais a escravidão.
Bem, é isso aí. De um simples porre, como muitos por aí tomam todos os dias, surgiu uma contenda eterna entre dois povos e se justificou séculos de submissão de uma etnia. Coisas da fé. Coisas de Deus".
Autor: Abmael Ribeiro
http://ateusdobrasil.com.br/artigos/comportamentos/bebedeira_noe.php

A MALDIÇÃO DE CAM NO PROTESTANTISMO
A Historiadora Elizete da Silva em - Visões Protestantes Sobre a Escravidão - escreveu:
“O fundamentalismo das denominações protestantes dos EUA se transformou em terreno fértil para justificativas da escravidão, que buscavam embasamento doutrinário para apaziguar a consciência dos escravocratas do sul. Citando a história de Noé, identificavam a maldição de Cam, por ter surpreendido o patriarca nu e embriagado, como a maldição dos negros. “Os Teólogos racistas acrescentaram que os negros descendem de Cam e, portanto estão condenados à servidão e à escravidão permanentes. Juan Bautista Casas, sacerdote espanhol alegava em 1869 que a raça negra sofre da maldição narrada no Pentateuco e que a sua inferioridade se perpetuava através de séculos.”
http://209.85.165.104/search?q=cache:IcVg7VuLl_8J:www.pucsp.br/rever/rv1_2003/p_silva.pdf+A+MALDI%C3%87%C3%83O+DE+CAM+NO+PROTESTANTISMO&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=1&gl=br
As Igrejas Protestantes através da história foram às grandes defensoras da idéia da maldição de Cam, e ainda hoje, a continuidade desses ensinos se adaptou e tornaram pontos doutrinários, assunto sobre as maldições foram trabalhados no nosso blogger:
Clique Aqui - ESCRAVIDÃO E RACISMO TEOLÓGICO
Clique Aqui - OS MÓRMONS E OS NEGROS
Hernani Francisco da Silva escreveu:
“Não foram só os Anglicanos coniventes com a escravidão negra no Brasil. Outras igrejas históricas também participaram dela. Os primeiros colonos batistas eram favoráveis e foram proprietários de escravos. Em Santa Bárbara D’Oeste, primeiro núcleo batista, o trabalho escravo existiu como mão-de-obra usada na agricultura e em tarefas domésticas. Os colonos batistas eram senhores de escravos, a exemplo da Senhora Ellis, dona de um sítio e que providenciara hospedagem nos primeiros meses ao casal de missionários W. Bagby, fundador da Primeira Igreja Batista do Brasil. Os metodistas, defensores dos direitos humanos e da abolição do escravismo na Inglaterra e nos EUA, ao chegarem no Brasil acomodaram-se ao ambiente escravista e quase nada fizeram com repercussão pública, em favor dos escravos. Conforme um estudo sobre o metodismo brasileiro durante o período que antecedeu, ou mesmo depois da "libertação dos escravos," a Igreja Metodista jamais chegou a defender oficialmente sua posição em relação à escravidão no Brasil. Os primeiros Presbiterianos, também sulistas, conservaram-se por muito tempo fiéis à lembrança de sua causa nacional, um destes missionários presbiteriano sulista se havia conservado tão firme em suas convicções que, quando em 1886 o presbiteriano Eduardo Carlos Pereira publicou uma brochura em favor da abolição da escravatura, ele escreveu um verdadeiro tratado anti-abolicionista. Dos luteranos sabemos que os primeiros escravos negros da Colônia Alemã Protestante de Três Forquilhas entraram por volta de 1846, por iniciativa do pastor Carlos Leopoldo Voges. Outros colonos protestantes copiaram seu exemplo (Mittmann, Hoffmann, König, Grassmann, Kellermann, Jacoby, Schmitt e outros).”
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=20880

CONCLUSÃO
A ingenuidade, a colonização mental e espiritual, os livros didáticos, o desconhecimento do afrocentrismo, os seminários e teologias mal formuladas aliadas aos interesses econômicos, sociais e políticos fazem com que a população preta acredite em pastores e padres mal informados ou mal intencionados. Torna- se- á necessário desmitificar essas mentiras que pairam nas mentes da população preta. O nosso povo nunca foi amaldiçoado. Basta de mentiras! Foi todo um processo planejado nas catedrais, nos concílios, no desejo de poder das igrejas católicas e protestantes e suas alianças com potências caucasianas, nas invasões através do mercantilismo, da escravidão, do colonialismo, do neocolonialismo, no capitalismo para roubar o continente africano e escravizar os seus filhos e filhas, atualmente tentando mantê-los desinformados e alheios da real liberdade com estigmas de amaldiçoados.
A população preta civilizou o planeta, criou todas as ciências e grandes religiões, por isso o ódio e a inveja dos africanos e seus descendentes, tentam fazer da criação de Deus, uma caricatura pela mentira. Temos que reagir, não se pode aceitar a distorção histórica e bíblica, é necessário perfazer os ensinamentos maldosos e distorcidos.
O texto que pode ser pesquisado pelo amado leitor e a amada leitora sobre os primeiros habitantes do planeta, está no nosso blogger:
Clique Aqui - EVA PRETA
O povo preto é abençoado e nele não paira nenhuma maldição. Quando Javé terminou a sua obra na África e fez o homem da lama preta disse:
Gênesis 1:27 - “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.”
Gênesis 1:31 - “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia.”


Muito bom ter criado a humanidade preta, assim foi à palavra de Javé. Muito bom a humanidade surgir no continente abençoado. Muito bom sermos o povo original, feito a semelhança e imagem de Deus.

sábado, 8 de março de 2008

MARIA W. STEWART – A PRIMEIRA MULHER PRETA JORNALISTA E FEMINISTA

Por: Ulisses Passos. Acadêmico de Direito, Pan-Africanista e Presidente do CNNC/BA. Pseudônimo: Aswad Simba Foluke. E-mail: ulisses_soares@hotmail.com


O CNNC/BA parabeniza todas as rainhas guerreiras pretas pelo dia Internacional das Mulheres!

"Por quanto tempo as filhas da África serão forçadas a enterrar as suas mentes e talentos abaixo de uma carga de potes de ferro e caldeiras?"
Maria W. Stewart

INTRODUÇÃO
Em Connecticut, hoje uma das cinqüenta unidades federativas dos USA, as atrocidades do regime de escravidão dizimaram a população nativa e os poucos grupos que resistiram foram exterminados nas guerras de 1600s. Com o crescimento do comércio dos navios tumbeiros e a necessidade de mão-de-obra, os escravizadores de Connecticut introduziram a escravização e seqüestros dos pretos africanos, embora não houvesse uma coesão de todos os brancos acerca desse comércio. Entretanto com o aumento da população preta e as beneficies econômicas geradas pelos escravizados africanos aos caucasianos escravizadores, as divergências entre eles foram sanadas pela ganância e pelo ódio aos homens originais.


Prisão em Connecticut em 1800s.

A influência dos Protestantes foi fundamental para a escravidão em Connecticut, usavam a Bíblia para legitimá-la, legitimar o racismo e a submissão das mulheres. Os Puritanos modificaram o regime de escravidão em Connecticut, fazendo perpetua, já que antes mais se aproximara da servidão.
Uma série de leis promulgadas 1690 e 1730 firmou o Código Negro, que disciplinava as relações escravocratas naquele estado. Apesar de diferenciar bastantes dos Códigos dos Estados do Sul, ao considerar os pretos pessoas com personalidade jurídica, a jurisprudência, dos trâmites da lei, apenas interpretava como pessoa de Direitos e Deveres os caucasianos:
“Na lei de 1642 que determinava que fosse proibido roubar o “homem ou a humanidade”, foi interpretado o significado apenas a humanidade caucasiana.” (New Haven Teachers Institute of Yale).
Com o crescimento exorbitante da população preta em Connecticut e as diversas revoltas e insurreições comandadas por pretos os legisladores decidiram proibir o tráfico de africanos. Também essa foi uma política para o branqueamento desse estado.
Neste contexto nasce Maria Miller.

Maria W. Stewart - A Primeira Mulher Preta Jornalista e Feminista.
Maria Miller nasceu em Hartford, Connecticut em 1803. Aos cinco anos de idade, ela se tornou um órfã. Foi enviada para trabalhar como ajudante de um clérigo da família até os seus quinze anos, sendo privada de educação e submissa. Logo após freqüentou a Escola Sabatina (Sabbatah School) e para se sustentar trabalhava de empregada doméstica.
Em 10 de agosto de 1826, ela casou-se com James W. Stewart, sob a benção do Reverendo Paul Thomas, na Igreja do Encontro Africano (African Meeting House), também conhecida como A Primeira Igreja Batista Africana, construída apenas pelo trabalho de pretos e pretas, tornou-se um local de celebrações e de reuniões antiescravistas.
James Stewart era empresário independente de pesca que conseguiu relativo sucesso nos negócios, permitindo que ele e sua esposa levassem uma vida de classe média em Boston.
Após três anos de casamento, James Stewart morre, e a herança é apropriada de Maria por empresários brancos que a deixaram sem residência e renda. Então começa a palestrar sobre os direitos das mulheres pretas, para sustentar-se. Sendo influenciada por David Walker, um militante preto, mais conhecido por seu panfleto Walker's Appeal, aonde defendia o orgulho negro, exigia a imediata libertação dos escravizados pretos, e a resistência violenta como um meio para conseguir a liberdade, sendo morto em 1830.
Maria Stewart publica uma coleção de diversas meditações religiosas e manteve-se discursando e palestrando sobre os direitos das mulheres pretas e contra a escravidão por apenas três anos, contudo suficientes para fazer dela o ícone da luta das mulheres pretas em todo o mundo. Foi provavelmente a primeira mulher preta jornalista e escrevia o que a sociedade escravocrata branca não queria ouvir, alguns dos seus artigos foram publicados no jornal abolicionista “O Libertador”.
Stewart defendia que todas as mulheres tinham o direito de expressão e Deus fez o homem e as mulheres iguais, combateu a tirania, a escravidão, a opressão econômica e política do povo preto. Protestou contra a proposta de enviar pretos para a África após séculos de exploração dentro dos Estados Unidos da América, iriam enviar a uma terra estranha, sem direitos e ficariam com os cofres cheios dos trabalhos dos escravizados, sendo necessário que os pretos e pretas desfrutassem do fruto das suas lágrimas e do seu sangue, exigindo reparação dos atos cometidos pelos brancos.
Foi uma cristã ativa, membro da Igreja Batista e usou a Bíblia como base de seus argumentos que a escravidão era errada e violava a vontade divina.
Nas suas palestras religiosas citava trechos dos livros de Lamentações, Juízes, Ester, Mateus e Apocalipse e reiterava que as rebeliões e as destruições eram da vontade de Deus para punir os escravizadores.
Refutava os escritos do apóstolo Paulo que dizem que a mulher deve ser submissa aos homens e o seu apoio a escravidão e, afirmava que se Paulo conhecesse a realidade das mulheres e da escravidão não seria contestado publicamente por ela.
Em seus discursos, assaz religiosa falava com altivez em uma concepção pan-africanista:
Rezo que as cadeias da vitimização, discriminação e opressão jamais impeça-nos de estarmos unidos como um na luta na nossa luta pela justiça social.
Ascendia a esperança no povo preto de um Deus Libertador e Igualitário, citando o livro de Isaías 55:1:
Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite.
E repreendia os escravocratas citando o texto de Provérbios 14:34:
A justiça exalta os povos, mas o pecado é a vergonha das nações.
Nos seus discursos conclamava a união do povo preto para a construção de suas próprias escolas, centros comerciais, etc., e censurava os gastos desnecessários que não contribuíam para a união e crescimento do povo preto. Afirmava que todo o trabalho sujo na América era feito pela população preta e deveriam começar a fazer trabalhos limpos para ajudar a si mesmos. Clamava pelo crescimento da auto-estima da população e na fé e confiança no Eterno para ajudar a vencer as dificuldades, mas tinham que agir.
Ela pronunciou-se contra o comportamento autodestrutivo, como o alcoolismo no seio da comunidade preta, porque era prejudicial para atingir a igualdade de direitos, demonstrava a sabedoria das mulheres pretas com a sua censura, pois em toda a escravidão o álcool foi um planejamento dos caucasianos para fazer parte da dieta dos escravizados, o qual infelizmente tem dizimado grande parte da população preta.
Defendia a emancipação das mulheres pretas que deveriam estudar e terem uma vida ativa fora das obrigações impostas pela sociedade de viverem presas ao lar. Incentivando as mulheres a não serem dependentes de homens e, para iniciar seu próprio negócio e confiar apenas nelas mesmas para tomar as suas decisões na sociedade.
Em 1833 foi forçada a deixar a cidade de Boston devido a fortes reações, inclusive de homens pretos e vai residir em Nova York deixando a vida pública de palestras e dedicando-se a militância em atividade antiescravista, na alfabetização das mulheres pretas e em diversas organizações.
Lembrar de Maria W. Stewart nas lutas do povo preto especialmente no antiescravismo, abolicionismo e feminismo é de suma importância, especialmente pela sua coragem e determinação, de levantar a sua voz dentro de da América escravista há 176 anos. Mulher corajosa que serve de exemplo para os homens e mulheres pretas.

Maria Stewart morreu em 17 de Dezembro de 1879 nos deixando um legado incomensurável.

domingo, 2 de março de 2008

ESCRAVIDÃO E RACISMO TEOLÓGICO – A CANAÃ BRANCA DOS PURITANOS


Por: Ulisses Passos. Acadêmico de Direito, Pan-Africanista e Presidente do CNNC/BA. Pseudônimo: Aswad Simba Foluke. E-mail: ulisses_soares@hotmail.com

“A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça para a justiça em todos os lugares. Estamos presos numa rede de reciprocidade, da qual não se pode escapar, ligados por um mesmo e único destino.”
Martin Luther King Jr.

Infelizmente em Salvador, cidade mais preta do Brasil, um local de culto religioso do povo preto foi destruído em quase sua totalidade: O terreiro Oyá Onipó Neto, cuja proprietária e Sacerdotisa é Roselice Santos do Amor Divino, mais conhecida como Mãe Rosa.
A ordem da demolição foi dada pela Prefeitura de Salvador através da SUCOM - Superintendência de Controle e Ordenamento do Solo do Município - caracterizando novamente uma postura racista de um Estado que não foi pensado para a população preta, com suas bases filosóficas e atitudes cunhadas na escravidão e na repressão ao povo preto e suas culturas.

Clique Aqui e assista a reportagem da Band News sobre a Demolição do Terreiro Oyá Onipó Neto e a greve de fome do militante Marcos Resende.

Tal atitude me recorda às histórias narradas por meus avós e pais, a respeito das perseguições e ataques aos candomblés na Bahia. Todos nós imaginávamos que fatos como esse não mais ocorreriam. A população mais velha de Salvador chegou a conhecer o delegado Pedro Azevedo Gordilho, chamado de Pedrito, grande perseguidor dos cultos afro-brasileiros entre as décadas de 20 e 40 do século passado, não o primeiro e como vemos nem o último aparato estatal de repressão e racismo com o povo preto. Tradições orais e cantigas descrevem a ação do delegado:
“...Ouvia-se um tropel de cavalos; era a policia que a mando do ‘Homem’, vinha acabar com aquela manifestação de negros, ‘coisa de gente ignorante, primitiva... ’
... O barulho das patas dos animais estava mais e mais perto: sentia-se o cheiro de cavalos. Filhas de santo entravam em pânico, pensando no pior: surra dos policias, atabaques furados, saias rasgadas...”
(Azevedo e Martins, 1988, PP.23-4).

Diversas reportagens sobre a perseguição dos cultos eram escritas por jornais de grande circulação, em Salvador, em que a imprensa apóia a perseguição de cultos do povo preto. Trecho do jornal A TARDE:
“Nesses antros de feitiçaria, dispersos pela cidade, ocorrem scenas monstruosas impressionantes, não raro victimando os imprudentes que se prestas às bruxarias.
A polícia ignora e fechas os olhos propositadamente [...]
Uma campanha cerrada de imprensa levou a polícia a perseguir os ‘candomblés’”
. (Jornal A Tarde, 29/05/1923);
Destruições dos locais de culto também foram descritos no livro de professor Walter Passos: Bahia: Terra de Quilombos, em que uma Igreja da Assembléia de Deus fora destruída por grileiros no quilombo do Rio das Rãs.
“Informante- Francisco Amaral de Souza, Presidente do Sindicato dos trabalhadores Rurais.
Os moradores estão na terra há mais de 100 anos, atualmente os membros da comunidade estão ameaçados de expulsão pelo fazendeiro e grileiro Carlos Newton Vasconcelos Bufem e seus pistoleiros. Há matanças indiscriminadas de animais, destruição das lavouras e benfeitorias, envenenamento dos rios e lagoas e outras violências. Em 1974 o grileiro Celso Teixeira mandou demolir as casas e barracos dos moradores e o prédio da Igreja Assembléia de Deus, e em seguida mandou passar o trator”.
(Walter Passos, Bahia Terra de Quilombos. 1996, p-34)
A história e a prática da democracia brasileira precisam ser questionadas, enquanto houver privilégios por causa da cor epitelial. O CNNC como uma entidade panafricanista, respeitando a ancestralidade do Povo Preto e defendendo sua manutenção, se solidariza e indigna-se juntamente com os outros irmãos e irmãs em protesto contra a demolição de um local de culto de origem africana, defendo nossa união do nosso povo na diáspora. As nossas concepções de fé são contra qualquer injustiça que venha atingir o nosso povo no planeta, estamos ligados no mesmo cordão umbilical da Mãe – África, independente das concepções e de nossas práticas religiosas. É necessário compreender as raízes que condiciona uma elite branca no poder a ter práticas diferenciadas para organizações caucasianas e organizações pretas no Brasil, sendo assim, a compreensão do racismo teológico e a escravidão permite-nos dirimir atitudes discriminatórias quando se refere ao nosso povo.

A CANÃA BRANCA DOS PURITANOS
Vivemos em uma sociedade onde os valores cristãos-brancos sejam católicos ou protestantes são considerados “superiores e civilizados” e os valores africanos são tratados como inferiores e atrasados, a continuidade de uma sociedade dicotômica herdada: senhores brancos cristãos X escravizados pretos não cristãos. E o poder e meios de produção continuam nas mãos de brancos cristãos, frutos da exploração do trabalho escravizado de homens e mulheres africanas e seus descendentes.
O protestantismo quando chegou nas 13 colônias da América trazido por colonos ingleses, conhecidos como puritanos, praticantes de uma interpretação literal da Bíblia, se consideravam o “O Novo Israel de Deus", “Os Eleitos" e “diziam” possuir toda a autoridade para interpretar os textos bíblicos e vivê-los literalmente na “Terra dada por Deus”, também se consideravam expulsos da Inglaterra, governada pelo faraó, o rei inglês, e atravessaram o Mar Vermelho, nome que deram ao Oceano Atlântico, e viram os povos nativos, os aldeões coletores como as nações de Canaã que deviam ser destruídos para que eles tomassem posse da Terra Prometida. Essa mesma visão puritana veio com os missionários norte-americanos para o Brasil e se tornou o arcabouço das igrejas evangélicas no Brasil.
O racismo teológico tem uma das suas origens na racialização da Bíblia e na prática do cristianismo eurocêntrico pelos Puritanos, dogmatizando a teologia, corrompendo a exegese e a hermenêutica, embranquecendo e ocidentalizando para usufruir através do tráfico mercantilista a exploração de civilizações livres e primevas africanas e destruição de civilizações nas Américas.
Os puritanos se consideravam e ainda se consideram através de seus seguimentos pelo planeta como os herdeiros de Deus e donos do mundo,torna-se interessante o texto abaixo e as interpretações dos Puritanos abalizando o direito de escravizar os africanos.
"E quanto a teu escravo ou a tua escrava que tiveres, serão das gentes que estão ao redor de vós; deles comprareis escravos e escravas.
Também os comprareis dos filhos dos forasteiros que peregrinam entre vós, deles e das suas gerações que estiverem convosco, que tiverem gerado na vossa terra; e vos serão por possessão perpetuamente os farei servir"
– (Levítico- 25: 44-46).
A falsa interpretação teológica dos puritanos dos textos bíblicos foi usada como certidão de posse do planeta e de seus habitantes. Dentro do protestantismo especialmente o Reformado no final do culto o pastor abençoa a comunidade e ouvi diversas vezes as seguintes palavras:
- O amor de Deus Pai, a Graça de Deus Filho e as Consolações do Deus Espírito Santo, sejam com todos vós e com todo o Israel de Deus espalhado pela face da terra.
A idéia do “Novo Israel” é uma prática puritana de interpretação bíblica e sê-lo é deter uma nova Canaã literalmente falando, sendo assim, os puritanos se sentiam abençoados e cumprindo a vontade divina, só que este Novo Israel era habitado nas Américas, Oceania e na África por populações pretas as quais foram condenadas a uma vida de inferno. A escravidão tornou-se um decreto divino, porque os puritanos brancos se consideram predestinados a herdarem a terra, sendo formulada uma proposta terrena de uma Nova Canaã Branca e protestante, impondo as suas filosofias deformadas e praticas racistas pelas elites no poder e repetidas pela população branca e pobre, conseguintemente na iconografia religiosa, nas teologias, na estética, nos meios de comunicação, na relação capital X trabalho, nos livros didáticos, e especialmente no poder político que afeta o direito a vida e do bem comum dos africanos e seus descendentes.
As graves conseqüências da “idéia de um novo Israel branco e Puritano”, além da pilhagem, exploração e escravidão fizeram com que surgissem as maiores aberrações raciais nos Estados Unidos da América e na África do Sul, legislações baseadas na idéia de uma “Nova Canaã Branca”: leis conhecidas como Jim Crow, as quais você pode acessar lendo o artigo no blogger do CNNC/BA e a instituição do Apartheid na África do Sul.
O racismo é uma ideologia fomentada pela população branca no planeta e introjeda dentro da população preta através da religião cristã, ser preto e cristão, sem o conhecimento do panafricanismo, do afrocentrismo e do cristianismo de matriz africana é coadunar com a exploração e ser repetidor da opressão ideológica e da racialização bíblica.
O cristianismo surgiu na África e onde estão às igrejas mais antigas do planeta e infelizmente os caucasianos se apropriaram de terras, menos da Etiópia, a qual nunca foi escravizada e é detentora das igrejas cristãs mais antigas da história do cristianismo.
Nós do CNNC sabemos que temos uma longa trilha a percorrer para alertar com voz profética que o cristianismo europeu e sua ideologia de uma nova Canaã são anti-bíblica e baseada no racismo.
O CNNC (Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos) tem a sua presença nas discussões do Movimento por fazer parte da sua proposta de atuação o Panafricanismo. O CNNC é uma organização Cristã no Movimento Negro e não um grupo separado de Movimento Negro Evangélico. Um só Povo e um só luta.
Uma das preocupações do Movimento Negro Brasileiro é construir uma proposta de poder para a maioria da população; surgem incipientes idéias de partidos políticos que desejam partidarizar o movimento e colocam os seus representantes, as vozes dos grupos oprimidos sexualmente, das mulheres, da juventude, de representantes religiosos, etc. Sendo uma “novidade” ainda não digerida por muitos militantes a presença nas discussões dos chamados evangélicos, digo “novidade”, porque os chamados evangélicos sempre estiveram no movimento negro, apenas não assumiam essa postura, por medo e vergonha da grande maioria, por saberem da culpabilidade do cristianismo deformado pelos europeus, e sendo seus seguidores, não ousavam contestar o racismo das igrejas protestantes, sendo eles mesmo vítimas. Sendo um dilema de muitos pastores e membros pretos assumir a sua identidade de africano no Brasil, temendo desagradar as Estruturas Eclesiásticas as quais ajudam a manter. A maior prisão é a mental.
Infelizmente, dentro do mundo protestante brasileiro alguns pastores pretos ainda legitimam a escravidão nos seus escritos quando tentam dirimir leis do Primeiro Testamento e repetem interpretações errôneas expondo literalidade dos textos bíblicos. Nenhum tipo de escravidão fez parte dos planos de Deus para a humanidade e quando observamos as vozes dos profetas condenando as vontades humanas, entendemos que as leis de exploração do homem pelo homem eram vontades de pessoas presunçosas e afastadas de Javé. A escravidão nunca foi corroborada pelos desígnios de Deus e não podemos amenizar a maior covardia e genocídio praticado contra os nossos ancestrais. O Senhor não predestinou nenhuma pessoa preta, seres originais criados a imagem e semelhança Dele, para ser escravizada por qualquer europeu e seus descendentes, eles foram seqüestradores e o que foi nos roubado tem que ser devolvido; o termo reparação e cotas devem ser mais bem trabalhados por aqueles (as) que tentam fazer verdadeiramente uma teologia preta, a qual tem tido uma bela interpretação através do teólogo Kefing Foluke.

Os praticantes da escravidão violaram todos os mandamentos divinos e rasgaram o Sermão do Monte e literalmente prestarão contas dos seus atos no dia do Juízo Final, porque usaram o nome do Eterno para invadir, seqüestrar, escravizar e matar os seres originais e continuam afastados do evangelho. O Povo Preto tem a promessa do Reino de Deus conforme as palavras de Yeshua no Sermão do Monte:
"Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. " Mateus 5:10.
E a justiça tem que ser conquistada, não cai do céu, é uma construção e luta diária de todos e todas. Uni-vos povo preto em luta pela justiça.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

SAARTIJE BAARTMAN – ZOOLÓGICOS HUMANOS – A MULHER PRETA HUMILHADA


Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com
Introdução
O colonialismo, escravidão, racismo e todas as suas mazelas, as questões de concepções normativas de beleza têm como principal alvo a mulher preta. Surpreendem as músicas cantadas em Salvador-BA pelos grupos de pagode.
Uma das músicas atualmente mais cantadas em Salvador com grande cobertura da mídia é “Vaza canhão”, interpretada pelo grupo Black Style.
Vaza Canhão
Black Style
Composição: Robyson
Cantor falando: "Eu conheci essa mulher no Orkut, ela me disse que era loira, com um metro e oitenta, com os olhos verdes, com um bundão, com peitão... eu fiquei louco marquei um encontro com ela e deu música."
E eu conheci uma menina na Internet
Ela me disse que é um verdadeiro avião
Eu marquei um encontro com ela na avenida sete
E quando eu vi a menina pirei o cabeção
Ela tem cara de jaca
Nariz de chulapa
Estria nas pernas
Bunda de peteca
Perna de alicate
Cabelo de asolã
.......................
E ela tinha uma papada
Parecia um urubu
Tinha uma impigem na cara
E cocava uu..uhhhh
http://letras.terra.com.br/black-style/1053925/
Vídeo da Banda Black Style encontrado no site Youtube Br.
Os estereótipos usados são de extrema falta de sensibilidade para com as mulheres pretas, falta o respeito às próprias mães, avós, irmãs, companheiras e filhas; músicas repetidas e dançadas pelas crianças, adolescentes, jovens, mulheres e senhoras pretas sem analisarem profundamente a exploração da sexualidade e do corpo da mulher, da sua estética e comportamentos. Sem analisar verdadeiro o racismo empregado nos termos “urubu” e “cabelos de asolã”, comprovando assim o aprisionamento da consciência.
E conforme Carlos Cavalcanti no artigo:Por que os negros preferem as loiras?
"Por que eles preferem as loiras?
Parece que está virando regra: negro bem- sucedido tem sempre uma loira a tiracolo. Não é um problema só nosso. Muito menos de falta de esclarecimento. Basta lembrar de algumas frases do líder negro norte-americano Eldridge Cleaver, em sua autobiografia Alma no Exílio. "...Não existe amor entre um homem negro e uma mulher negra. Eu, por exemplo, amo as mulheres brancas e odeio as negras. Está dentro de mim, tão profundo que já não tento mais arrancar." "Todas as vezes que eu abraço uma mulher negra, estou abraçando a escravidão, e quando envolvo em meus braços uma mulher branca, bem... estou apertando a liberdade."
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2004/02/274659.shtml
O processo histórico da violência caucasiana através do racismo científico, quando divulgaram como verdadeiras o fenótipo caucasiano utilizando uma pseudociência, objetivando destruir o povo preto, e as conseqüências dessas mentiras ficaram introjetadas em grande parte da nossa população. O racismo científico utilizou das formais mais cruéis homens e mulheres pretas africanas e afro americanas para tentar mistificar a superioridade caucasiana.
ZOOLÓGICOS HUMANOS
Na Europa e nos Estados Unidos da América surgiram o Human Zoo (zoológicos humanos) um meio de popularizar o racismo científico e tentar comprovar através da antropologia e da antropometria a inferioridade dos não-brancos.
Em 1836, Phineas Taylor Barnum exibiu durante sete meses a Joice Heth: escravizada, anciã, cega e quase paralisada de seus movimentos, inventando que a mesma possuía mais de 161 anos de idade, havia sido escravizada da família Washington, carregando o próprio George Washington, líder da independência dos USA, ainda bebê.
Barnum foi desmentido, após uma autopsia realizada pelo Dr. David L. Rogers em um local de show na cidade de Nova York na presença de 1500 expectadores. Mesmo após a sua morte Joice Heth serviu para os estudos caucasianos racistas.
Após perder a esposa e dois filhos em um massacre no Congo pelas Forças Armadas do genocida Leopoldo II da Bélgica, Oto Benga foi outro exemplo de vitíma do racismo cientifico dos caucasianos. Benga foi trazido aos Estados Unidos, em 1904, pelo missionário cristão Samuel Phillips Verner. Oto Benga e mais oito Batwa, erradamente chamados de “Pigmeus” pelos caucasianos, sendo exposto em uma gaiola no zoológico de Bronx em Nova York ao lado com um chimpanzé, idéia originaria de Madison Grant, um dos maiores eugenistas da história. Houve protestos de pastores pretos batistas, especialmente do Pastor James H. Gordon que disse:
- A nossa raça está bastante deprimida com a exibição de um de nós como um macaco.
Após ser retirado do Zoológico trabalhou na plantação de tabaco e em 20 de março de 1916 após passar por diversas humilhações e racismos, Oto Benga realizou uma dança ritual e disparou um tiro sobre o próprio coração acabando o seu calvário nos Estados Unidos da América.

Outro exemplo foi o Show Popular ocorrido em Stuttgart na Alemanha com amostras de africanos apresentado de 02 de julho a 05 de agosto de 1928.
Em breve escreverei mais detalhadamente sobre os zoológicos humanos, sendo o nosso objetivo neste artigo comentar sobre Saartjiee Baartaman, exemplo do desrespeito feito as mulheres pretas e a sua memória deve ser lembrada por toda a militância panafricanista no planeta.
SAARTTJIE BAARTMAN
Nasceu em 1789 no Cabo Oriental, membro do povo Griqua, subgrupo dos Koi San, conhecidos também como “Bushman” considerados os primeiros habitantes da África do Sul.
São considerados descendentes diretos do Homo Sapiens que evoluiu há mais ou menos 100 mil anos, os seus marcadores de DNA não são encontrados em nenhum outro povo fora da África, são os humanos mais antigos do planeta. Conforme pesquisa feita pelo geneticista Spencer Wells', publicado no National Geographic News em 2003, são a prova biológica que todos os seres humanos descendem dos africanos pretos, os quais são os seres originais feitos a imagem e semelhança de Deus.
A família de Saartjiee mudou-se para perto do Cabo Town e ela escravizada, com 20 anos de idade, de um fazendeiro holandês, foi percebida pelo cirurgião Willian Dunlop, o qual observou o seu fenótipo e constatou que ela possuía steophagia (aumento do glúteo), então foi levada da Cidade do Cabo para Londres e Paris entre 1810-1814.
No decorrer deste período ela foi exibida em "freak shows" em muitos lugares e tratada como um ser medonho, exótico, monstruoso, bizarro e apresentada em circos, museus, bares, universidades e outros locais pelos caucasianos, sendo transformada no ícone da inferioridade racial da mulher preta pelo período de cem anos.
Ela veio a falecer em 1815, seu corpo foi levado para o Museu de História Natural de Paris, onde o famoso "cientista naturalista" G. Cuvier realizou sua autópsia, moldou em gesso um molde de seu corpo, retirou seu cérebro e genitais que foram preservados em garrafas de formol e foram exibidos ao público no Museu do Homem até 1992. Mas alguns africanos nunca esqueceram Baartman. Nelson Mandela fez um pedido à França em 1994 para que seus restos mortais fossem devolvidos. Sua causa ganhou impulso no pós-apartheid da África do Sul quando surgiu uma nova consciência da identidade étnica. Por todo o país, os povos indígenas estão afirmando sua herança, direitos, alegando não só o reconhecimento político e cultural, mas também a restituição da terra ancestral e à proteção dos direitos de propriedade intelectual. O San, uma vez conhecidos como os bushmen da África meridional, com êxito histórico valorizadas terras tribais e ganhou uma quota-parte dos produtos comercializados internacionalmente de medicamentos fabricados a partir de suas plantas medicinais tradicionais. E agora Baartman khoisan da tribo, que foi reconhecido pelas Nações Unidas como um indígena "First Nation", tendo ganhado uma vitória para tribal reconhecimento por garantir o regresso dos' Hottentot Venus' para a África do Sul.
Demorou anos de negociações e questionamentos antes que uma lei fosse votada, em 6 de março de 2002, que possibilitou o seu retorno. Analistas Jurídico francês disseram que o texto foi redigido cuidadosamente para evitar que ele seja utilizado em outros casos. Investigação ministro francês Roger-Gerard Schwartzenberg disse: "A França pretende restabelecer a dignidade de Saartjie Baartman, que foi humilhada e explorada como uma mulher, como uma Africana". Embaixador Thuthukile Skweyiya declarou:
"Saartjie Baartman está começando sua última viagem para casa, com um livre, democrática, não-sexista e não-racista sul-africano. Ela é um símbolo da nossa nacional necessidade de confrontar nosso passado e restaurar dignidade para todos os nossos povos."
Em 09 de agosto de 2002 o Presidente Mbeki dirigiu-se à cerimônia, disse: "A história de Sarah Baartman é a história do povo Africano". É a história da perda da nossa antiga liberdade... É a história da nossa redução ao estado de objetos que possam ser possuídos, utilizados e rejeitados por outros".
Baartman se tornou um ícone na África do Sul como representante de tantos aspectos da sua história. O Saartjie Baartman: Centro de Mulheres e Crianças, um refúgio para as sobreviventes da violência doméstica, foi aberto na Cidade do Cabo, em 1999.

Saartjie é um dos maiores símbolos da resistência do povo preto.
Saartjie é um símbolo do panafricanismo, da luta das mulheres pretas e do combate ao racismo empregado sem pudor pelos caucasianos europeus.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

BATALHA ESPIRITUAL – AS CRIANÇAS BRUXOS DO CONGO

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com

Com a invasão do continente africano e conseqüentemente a colonização, seqüestro e a escravidão de milhões de pretas e pretos, um dos fatores de dominação foram à imposição religiosa cristã branca na África e nas Américas.


Introdução
Na dominação territorial-política e econômica os momentos de genocídios desenvolveram-se paralelamente com a escravização mental, criando uma geração prisioneira da consciência. Fez-nos acreditar nos modelos políticos e econômicos estruturados pelo invasor europeu, tanto na África como na Afro – América. Exemplos contemporâneos, ao assistirmos com “alegrias e esperanças” a possibilidade de Obama tornar-se candidato a presidência nos USA. Enquanto no Brasil, vemos ensaios de grupos imponderados com propostas de nomes para o chamado “poder” na SEPPIR (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial): mudanças de nomes e continuação de velhas estruturas.
Percebemos a inoculação da escravidão mental, a continuação do modelo econômico-imperialista dos USA e do mesmo modelo de exclusão, desta vez com “algumas cotas”, para tentar calar a boca da maioria e beneficiando com cargos uma minoria sedenta do “poder” envolvida com os partidos políticos, os mesmos nomes que não conseguem pôr em passeata 10 mil pessoas e, ainda sim, afirmam representar milhões de pretas e pretos no Brasil.
Essa pequena reflexão versará sobre as mudanças estruturais no pensar africano e no seu viver religioso que afetaram o nosso povo modificando a sua identidade, comportamentos e maneiras de enfrentar os problemas sócio-políticos, destruindo o modelo de vida ancestral, favorecendo a dominação, nos dividindo e conseqüentemente nos explorando.
A mídia tem sido o meio caucasiano mais potente para concretizar a exploração através da escravidão mental. Ela detém um poder político-sócio-econômico considerável, atingindo veementemente com falta de respeito às religiões não brancas, afirmo isso, porque o alvo preferido da mídia religiosa evangélica no Brasil e na África está nas religiões afro-brasileira e ancestrais africanas, enquanto religiões européias como o Espiritismo Kardecista, não o é.
Para entendermos as desconstruções no viver religioso e no pensar religioso atual africano, tornar-se-á necessário citar, sem muitos detalhes doutrinas criadas dentro dos USA pelas igrejas brancas que atingem diretamente os africanos na África e seus descendentes na diáspora:
Maldição Hereditária
Na crença em maldições hereditárias a cultura africana é considerada maldita, e para que este crente que tem ligações com ela, se veja livre de suas maldições dos antepassados (apenas crer em Jesus não é suficiente), é necessário que ele ainda faça renúncias verbais e unções com óleo sagrado pelo corpo, para se desvincular de todo envolvimento (direto ou indireto) com a cultura preta que é neste contexto considerada demoníaca; e qualquer relação futura que ele venha ter com esta cultura, isso poderá ainda trazer de volta as maldições, para isso é aconselhável que este novo crente, se afaste totalmente da cultura demoníaca (cultura preta), para enfim adotar como padrão os valores euro-norte-americano de ser evangélico, como se estes valores culturais fossem de alguma forma mais puros, santos e superiores.
Batalha Espiritual
Na Batalha Espiritual o caso parece ser mais sério ainda para o preto, pois se olharmos cuidadosamente nos livros que tratam do assunto (principalmente dos E.U.A, traduzidos para o português. Ver o livro de ficção: Este Mundo Tenebroso, de Frank E. Peretti – Editora Vida) veremos que os exércitos de Deus são todos brancos e loiros e o exército do diabo são todos pretos e negros.
Os demônios expulsos em sessões de libertação destas igrejas, em grande parte são identificados como sendo do panteão das religiões afro, denotando assim uma implacável demonização desta cultura por parte dos crentes, que por herança histórica, passaram a ver todas as culturas que não são euro-norte-americana, como sendo obra do demônio.
Também os anjos, quando vistos em ditas experiências espirituais destes crentes brasileiros, estes seres espirituais são sempre brancos, loiros e de olhos azuis (padrão euro-norte-americano), e quando estas visões raramente fogem do comum, nota-se que o anjo avistado é ruivo.
E isso pode ser observado também nos livros de batalha espiritual do escritor Daniel Mastral, onde supostamente foi visto um anjo ruivo, o qual é apresentado como o mentor de Daniel Mastral (ex-satanista), conforme o próprio autor narra ao longo de sua história. Observa-se também, que durante esta narrativa, este anjo ruivo é identificado por Neuza Itioka(Grace), como sendo o próprio Arcanjo Miguel (o príncipe dos exércitos celestes).

http://www.jornalismogospel.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=9590
E congoleses estão indo para os USA reforçando a idéia da batalha espiritual: "A religião para eles não é como a ocidental", diz Jacob Olupona, professor de tradições religiosas africanas na Escola de Teologia da Universidade Harvard. "Não é vista simplesmente como significado e referência em uma ordem transcendental. A religião é vista como algo que funciona. Existe uma visão utilitária a respeito, e as pessoas procuram por soluções sob ângulos e maneiras diferenciados".
Os membros do culto dizem que, porque seus ancestrais não eram cristãos, viviam amaldiçoados, e que a África também vive uma maldição. Agora, os pecados dos pais recaem sobre os filhos.

http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI2165827-EI8141,00.html
Teologia Da Prosperidade
Fundada também nos USA essa teologia afirma que, todo crente tem que ser rico, não morar em casa alugada, ganhar bem, além de ter saúde plena, sem nunca adoecer. Caso não seja assim, é porque está em pecado ou não tem fé. O crente deve ter carro novo, casa nova (jamais morar em casa alugada!), as melhores roupas, uma vida de luxo. Dizem que Jesus andou no "cadillac" da época, o jumentinho. O cristão deve determinar, exigir, requerer, tomar posse.

Esses fatores econômicos atingem a maioria da população preta no mundo. Uma prosperidade que o alvo é se tornar rico igual os brancos norte-americanos e desejar usufruir do seu mundo capitalista, tornando-se uma apologia ao modo de viver dos USA, ocultando os interesses imperialistas de dominação e exploração dos USA. Convencer um povo através da religião que a prosperidade está a mãos é uma forma bem sutil de escamotear a verdade.
A Maldição Hereditária, A Batalha Espiritual e a Teologia da Prosperidade são concepções brancas neopentecostais nas quais podemos fazer uma leitura econômica de valores do neoliberalismo ao valorizar a riqueza e o individualismo.
Resultado dessa inoculação da escravidão mental no modo de pensar religioso e viver em muitas regiões africanas encontram casos espantosos na Terra-Mãe, como o que será citado agora, na Republica Federativa do Congo.
Congo – Terra Abençoada à Terra Amaldiçoada
A história do Congo é lindíssima e rica de acontecimentos históricos que nos orgulham de sermos descendentes também dessa região africana. O Reino do Congo ou Império do Congo foi um reino africano localizado no sudoeste da África no território que hoje corresponde ao noroeste de Angola, a Cabinda, à República do Congo, à parte ocidental da República Democrática do Congo e à parte centro-sul do Gabão. O comércio transatlântico de escravos à partida da embocadura do Congo para as Caraíbas e o Brasil cessou ao redor de 1862.

Em agosto de 1865 o rei Leopoldo II da Bélgica sem conseguir colonizar o Extremo Oriente voltou-se totalmente os seus interesses para o continente africano criando a Associação Internacional Africana (AIA) objetivando a exploração e “civilização” da África Central, sendo aplaudido pela grande iniciativa em setembro de 1876 na Conferência Geográfica ocorrida em Bruxelas por diversos representantes europeus, foi considerado um filantropo em planejar levar a civilização aos africanos e ajudá-los.
Atendendo ao convite do chanceler do II Reich alemão, Otto Von Bismarck, 12 países com interesse na África encontraram-se em Berlim, entre novembro de 1884 a fevereiro de 1885 para a realização de um congresso. O objetivo de Bismarck era que os demais reconhecessem a Alemanha como uma potência com interesses em manter certas regiões africanas como protetorados. Além disso, acertou-se que o Congo seria propriedade do rei Leopoldo II da Bélgica (responsável indireto por um dos mais terríveis genocídios de africanos), transformado, porém em zona franca comercial. Tanto a Alemanha, como a França e a Inglaterra combinaram reconhecimentos mútuos e acertaram os limites das suas respectivas áreas. O congresso de Berlim deu enorme impulso à expansão colonial, sendo complementado posteriormente por acordos bilaterais entre as partes envolvidas, tais como Convênio franco-britânico de 1889-90, e o Tratado anglo-germânico de Heligoland, de 1890. Até 1914 a África encontrou-se totalmente divida entre os principais países europeus (Inglaterra, França, Espanha, Itália, Bélgica, Portugal e Alemanha).
Com a Conferência de Berlim o Rei Leopoldo II consegue impor-se no Congo que é o segundo país em extensão territorial da África e dirigiu a colônia como se fosse uma possessão pessoal. Recebendo a sua parte na divisão da África. Vale ressaltar que o Congo tem cerca de 2,5 milhões de quilômetros quadrados e Bélgica tem uma área de 30 528 km². O rei Leopoldo II transformou o Congo no quintal de sua casa. O que ele fez no Congo foi explorar e auferir imensos lucros a sua filantropia foi baseada no genocídio de 10 milhões de africanos, nada devendo a Hitler e seu extermínio.
A invasão belga foi culpada de desequilíbrio ecológico, manifestação de epidemias como a varíola, matanças de milhares de elefantes para retirada do marfim, exploração desenfreada das riquezas minerais, desestruturação familiar e ruptura dos valores ancestrais, em todas essas questões a presença de missionários católicos e protestantes foi fundamental, com exceção para o Reverendo presbiteriano afro-americano William Henry Sheppard (1865 – 1927) - de terno branco - que denunciou veementemente as atrocidades dos belgas no Congo. Em 1908, após uma forte campanha da imprensa européia e mundial, que revelou as atrocidades que ali eram cometidas, a região deixou de ser um domínio pessoal do monarca e foi transformada em colônia da Bélgica, condição que se manteve até 1961, quando o Congo conquistou sua independência sob a liderança do pan-africanista Patrice Lumumba, criou o Movimento Nacional Congolês (MNC), primeiro partido formado numa base nacional, e não étnica que posteriormente foi detido sob a proteção dos soldados das Nações Unidas, Lumumba acabaria sendo entregue a seus inimigos e deportado para a província de Katanga, onde o líder local, Moisés Tchombé, a soldo de companhias mineradoras européias, o mandou assassinar juntamente com dois de seus companheiros.
Atualmente a região congolesa de Katanga possui alguns dos melhores depósitos mundiais de cobre e cobalto. Outras áreas do país possuem fontes ricas de minerais diversos, incluindo diamantes, ouro, ferro e urânio, o primeiro produtor mundial de Coltan, na África onde está 80% das reservas mundiais. A República Democrática do Congo (RDC) concentra mais de 80% das jazidas, dos quais se extraem metais mais cobiçados do que o ouro, onde 10 mil mineiros labutam todo dia na província de Kivu (no leste do Congo) O coltan é essencial para as novas tecnologias, estações espaciais, naves tripuladas que se lançam no espaço e às armas mais sofisticadas. Sendo estas áreas alvos da cobiça internacional dos países ocidentais e da China.
Ao Congo pouco restou à sua população após das atrocidades da colonização belga. Privados de qualquer dignidade humana, assolado pelas doenças trazidas pelos colonizadores caucasianos, pela guerra civil, outra herança direta das divisões instauradas pelos belgas, e mais recentemente pela corrupção no governo, restou-lhes apenas as esperanças de um milagre.
Milagres esses financiados pelo Governo às igrejas neopentecostais, nas igrejas do despertar, que já contam com cerca de 10.000 templos na capital, Kinshasa. Podemos citar: “Ministério da Fé Audaciosa”, “Ministério da Fé Abundante”, “Ministério do Combate Espiritual”, “Exército do Eterno”, “Exército da Vitória”, “Ministério do Poder”, “Igreja de Deus Vivo”, “a Arca Noé”, entre outras.
Essas igrejas utilizam dentro do seu arcabouço as doutrinas da maldição hereditária, instigam e propagam a batalha espiritual e são adeptas à Teologia da Prosperidade, que tem iludido e desestruturado a população do Congo e casos semelhantes também ocorrem em Angola com especialmente com a população Bakongo.
Com a colonização e cristianização do Congo surgiram novas igrejas de cunho neopentecostal como as igrejas do despertar,
Estas igrejas do despertar também estão ligadas à emergência de um novo fenómeno, "as crianças-feiticeiras": as famílias persuadem-se que a origem das suas desgraças se deve ao "feitiço" que um dos filhos teria lançado e acontece mesmo que este se convença que está dotado de poderes sobrenaturais ou maléficos. O desenfeitiçamento é da competência do pastor, pago pela família, acontecendo mesmo que a criança "culpada" seja posta fora de casa, indo então engrossar as coortes de crianças da rua. A criança pode também ficar a cargo do "religioso", que não se privará de recorrer à violência física e aos maus tratos. Esta explosão das "seitas" e das práticas mágico-religiosas reflecte a profunda desestruturação social criada pelos anos de guerra, pelo êxodo rural e pela deslocação forçada das populações. Resta esperar que, se o país retomar a senda do desenvolvimento, os Congoleses consigam preservar o melhor da sua prática religiosa e da sua "economia da solidariedade", desfazendo-se de todas as derivas.
http://www.enjeux-internationaux.org/articles/num11/pt/eleicoes.htm
“As igrejas do despertar são caracterizadas igualmente pelas curas milagrosas de todas as espécies de doenças, pela expulsão dos demónios (de pobreza ou de “bloqueio”, ou seja, os demónios que impedem que se obtenha um visto para o Ocidente), pelos transes com virtude catársicas.”
Os fieis dessas igrejas são utilizados, a exemplo do que ocorre no Brasil, como massa de manobra política e alicerce dos pastores que diferente da maioria população preta do congo são riquíssimos.
Para expandir e dominar as igrejas do Congo utilizam os programas televisivos chamados de “tele-evangelismo” que foram trazidos por missionários e pastores norte-americanos brancos, e tornou-se hoje um dos grandes poderes econômicos e políticos do congo.
“Os tele-evangelistas americanos, bem como numerosos evangelistas suíços, alemães e suecos financiarão inicialmente o desenvolvimento dos seus colegas congoleses. Estes patrocinadores estrangeiros foram-se sucessivamente retirando, desiludidos pelo facto dos pastores congoleses serem mais propensos a utilizar os seus subsídios para fins pessoais do que para fins religiosos. Mas, a máquina estava lançada, e o negócio lucrativo dos milagres não parou de prosperar no Congo.”
Uma das grandes atrocidades pregadas nas Igrejas do Congo é chamada de “Calvário das crianças-feiticeiras de Kinshasa”. Depois da destruição do modo matrilinear, destruições da base familiar preta e das sucessivas repressões às tradições religiosas originárias da população do Congo diversas crianças são acusadas de bruxaria, chamadas então de Kindoki, e conseguintemente abandonadas pelos pais.
Embora o impacto de inicio seja estarrecedor, cerca de 70% das crianças moradoras de rua na capital do Congo são acusadas de bruxaria e abandonadas pelos pais, com o incentivo das pregações dos pastores. De uma parte e de outra do rio Congo, os pregadores afirmam: o diabo esconde-se nos olhos desesperados das crianças abandonadas, acusadas de trazem com eles o mal e o pecado.
“Mama Louise Mujinga, 55 anos, partilha um alojamento nojento com quinze “crianças feiticeiras”. Os seus métodos de exorcismo são relativamente suaves: não recorre nem à pancada nem à tortura, submete as crianças a um jejum de nove dias, e dá-lhes apenas um bocado de pão e um copo de água ao pôr-do-sol. “Devem sofrer para se entregarem inteiramente a Deus e serem libertas do mal”, explica. Segundo ela, as crianças transformam-se frequentemente emanimais durante a noite. “Tu, em que é que te transformaste?”, pergunta a uma criança aterrorizada. “Em rato”, respondeu. “E tu?” pergunta a outro. “Em gato.” Outro rapaz afirma que se transforma regularmente em porco, outro, em cabra. “São muito perigosos”, continua Mama Mujinga. “Vejam esta criança. A sua mãe teve uma gravidez de onze meses. E apenas quando expulsei o demónio que estava nele é que ele pôde vir ao mundo. Aquele, além, paralisou o seu pai. O homem já não se podia mover. Então tive que expulsar o espírito maligno. Felizmente, tenho as minhas orações para me proteger.”
Há mais de 40.000 mil crianças acusadas de bruxaria na capital da Congo, que vivem escondidas, esse fato começou a ser denunciado pela ONG Save the Children:
A ONG "" denunciou ontem, o abusos e a violência de que são vítimas milhares de crianças, acusadas de bruxaria, na República Democrática do Congo um fenômeno que começou no início da década de 90, nas grandes cidades desse país africano.
A "Save the Children" publicou um informe, segundo o qual, em torno de 70 mil crianças são acusadas ou perseguidas por bruxaria, a maioria das quais, na capital do país, Kinshasa.
O informe revela que a perda dos valores tradicionais, o poder alcançado por alguns grupos religiosos como, por exemplo, a "Igreja do despertar", e o trauma dos anos de guerra (que deixaram um saldo de quatro milhões de mortos e um milhão e 600 mil deslocados) têm levado a coletividade a considerar certas crianças como uma possível ameaça, da qual é preciso se proteger.
Alguns eventos naturais ao crescimento de uma criança são considerados, por alguns pregadores e por numerosas famílias congolenses como "sinais inequívocos de bruxaria": debilidade física, magreza, baixa estatura, aspecto de desnutrido, sujeira, epilepsia, desordens de comportamento, desobediência, má-educação, nervosismo e incontinência urinária, além do fato de vagar pelas ruas, tudo isso pode ser sinônimo de que a criança é uma bruxa ou um bruxo. A maioria dessas "características" é própria da adolescência e, outras tantas derivam da pobreza e do escasso nutrimento.
Os pregadores da "Igreja do despertar" asseguram que a bruxaria é capaz de provocar danos, de trazer má sorte, de contagiar enfermidades e desencadear matanças. Essa "seita" religiosa atua graças a doações que obtém, por meio de exorcismos, e conta com a condescendência de funcionários estatais, aos quais paga consistentes subornos. (AF)
Fonte: Rádio Vaticano
http://noticiascristas.blogspot.com/2007/07/congo-violncia-contra-crianas-acusadas.html
A multiplicação de igrejas evangélicas, pentecostais ou africanas havida desde finais dos anos 1980 em Angola e no Congo acompanhou o crescimento das denominações pentecostais em outras partes da África e do mundo.
No Brasil podemos notar posicionamento semelhante:
A Serviço Do Diabo
Para Elinaldo Renovato de Lima, líder da AD em Paranamirim (RN), desmascara as verdadeiras intenções da obra. "As crianças são alvo predileto do diabo. Ele quis matar os meninos de Belém, visando a Jesus. Graças a Deus, seu plano foi frustrado, pois os pais de Jesus obedeceram à direção Divina, tirando-o para bem longe dos que queriam destruir sua vida. Era o 'projeto Herodes'. Esse projeto continua em vigor. O diabo quer destruir as mentes infantis, levando-as a crer que existem poderes sobrenaturais que podem ajudá-las na luta entre o bem e o mal. É uma trama diabólica, pois, usando o mal, o inimigo das crianças faz com que elas acreditem que estão sendo ajudadas. Harry Potter é mais uma das armadilhas do diabo", denuncia pastor Elinaldo.
Pastor Elinaldo faz um paralelo com um dos períodos negros da humanidade registrado na Bíblia: "O menino bruxo está fazendo com que milhares de crianças no mundo deixem de crer no poder de Deus para crer no poder da bruxaria. No Antigo Testamento, em Canaã, antes da chegada de Israel, pais jogavam seus filhinhos no fogo, nos braços do deus moloque. Hoje, crianças são lançadas diretamente nos braços de satanás".
A preocupação do Pastor Elinaldo Renovato de Lima tem todo fundamento. Basta lembrar da declaração da escritora diante dos primeiros protestos, em entrevista ao The London Times, edição de 17 de julho de 2001. "Acho que é uma total bobagem protestar contra os livros infantis, dizendo que estão atraindo as crianças a Satanás... As pessoas deveriam estar contentes por isso! Esses livros guiam as crianças para uma compreensão que o fraco e idiota Filho de Deus é uma fraude", afirma a escritora. Não é à toa que nos livros de Rowling todas as pessoas que não são bruxos são chamados de "estúpidos" ou "trouxas".
"Creio que tal declaração dispensa mais comentários. Está mais do que claro que os Pais Cristãos devem manter seus filhos à distância dessa literatura perversa e maligna, que tem por objetivo afastar ainda mais as crianças de Deus e iniciá-las na bruxaria.
A Bíblia tem razão: "Instrui o menino no caminho em que deve andar; até quando envelhecer não se desviará dele", Pv 22.6. Jesus disse: "Deixai vir a mim os pequeninos, e não os impeçais; porque dos tais é o Reino de Deus", Mc 10.14. Que os Pais Cristãos zelem melhor pela vida de seus filhos, afastando-os do 'projeto herodes', como os pais de Jesus o fizeram", alerta o ministro.
Leia toda a declaração: http://www.marciobatista.jor.br/diaforos/pontosponderar/midia/pontos_harry3.htm
Os novos ventos doutrinários criados nos Estados Unidos da América se direcionaram especialmente para a América Latina e a África objetivando manter a dominação política, as quais com extrema sagacidade atacam a ancestralidade e hoje atinge as crianças especificamente no Congo e de maneira diretamente também no Brasil. Crianças-bruxos no Congo expulsas de casas acusadas de feitiçaria e crianças pretas no Brasil que odeiam sua ancestralidade por acharem que são descendentes de feiticeiros. É necessário que estejamos alerta e protejamos as nossas crianças denunciando a falácia da maldição hereditária e da batalha espiritual que domina os meios de comunicação e nos atinge independente da prática religiosa.
Não podemos permitir que envenenem o nosso povo e o caminho é a solidariedade panafricanista: Um só povo e uma só luta.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

É NECESSÁRIO RESPEITAR NOSSAS MEMÓRIAS - QUILOMBOS E CRISTÃOS-NOVOS NO BRASIL NUNCA FORAM ALIADOS.




Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com


Li essa semana em diversas listas do Movimento Negro um artigo de Jane Bichmacher de Glasman, escritora e doutora em Língua Hebraica, Literaturas e Cultura Judaica da USP, o qual inicial com a seguinte frase:
"Consciência negra não é só Zumbi dos Palmares. Há muitas estórias para serem contadas. No mês da Consciência Negra, não vamos deixar de lado as boas histórias também. Você sabia que há judeus negros? Na África há dois povos muito antigos que só recentemente foram reconhecidos como judeus: os Falashas e os Lembas."

"Zumbi dos Palmares abriu o quilombo não apenas aos negros foragidos da escravidão, mas também aos judeus que estavam fugindo da inquisição"

"Com a chegada de numerosos judeus fugidos da inquisição, a população abriu-se aos brancos e estes últimos muito inspiraram a sua organização económica e política a partir de então."
E termina o artigo:
"Quando homenageamos no dia 20 de novembro a Consciência Negra, é preciso relembrar os horrores e a suprema vergonha do passado escravagista, da mesma forma que devemos relembrar os horrores do Holocausto dos judeus e outras minorias da II Guerra Mundial."

Leia todo o artigo:

http://comunidadeshemaisrael.blogspot.com/2006/11/os-negros-e-os-judeus.html
Houve alguns questionamentos e algumas sugestões de que esse assunto estivesse presente em todos os seminários do Movimento Negro e que fosse um tema sempre ventilado, trazendo-me uma forte preocupação porque nem tudo que reluz é ouro e venho compartilhar com os irmãos e irmãs pretas considerações sobre os cristãos-novos e a escravidão e a situação dos Falashas em Israel.
Em primeiro momento, foi o holocausto um crime horrível praticado pelos nazistas o qual como todos sabem levou seis milhões de seres humanos a morte, e genocídio não se esquece, tem sempre que ser lembrado de geração em geração para que não mais ocorra.
Não podemos esquecer o maior genocídio da história mundial realizado na África com quase 200 milhões de assassinatos e mais de 30 milhões de escravizados. Nós ainda não aprendemos a chorar os nossos mortos; porque dizem que devemos esquecer a escravidão e seus assassinatos. Nessa parte os judeus têm muito a ensinar e ninguém de sã consciência dirá a comunidade judaica mundial para esquecer o holocausto, porque será considerada inimiga do povo de Israel.
Falando em holocausto está havendo uma grande polêmica no carnaval do Rio de Janeiro, porque a Escola de Samba Viradouro que tem o tema ARREPIOS queria levar para a avenida uma alegoria sobre o holocausto, e teve de recuar por causa do plantão judiciário do Tribunal de Justiça do Rio o qual concedeu uma liminar, a pedido da Federação Israelita do Rio, proibindo a escola de samba de levar à Marquês de Sapucaí o carro alegórico que representa o Holocausto. Segundo decisão da juíza de plantão até a manhã de hoje, se o carro for exibido na avenida, a Viradouro terá de pagar multa de R$ 200 mil.
Leia mais:
http://www.estadao.com.br/cidades/not_cid118135,0.htm
Muito importante os israelitas preservarem a memória dos seus ancestrais vítimas da bárbarie do nazismo na segunda guerra mundial. Um exemplo que deveria ser seguido pela população preta brasileira que a todo o momento tem a sua história romantizada e seus ancestrais vítimas do maior genocídio mundial.


Operário prepara carro alegórico da escola de samba Viradouro representando o Holocausto, nesta segunda-feira, na Cidade do Samba, no Rio de Janeiro. Photo by Sergio Moraes. http://br.reuters.com/article/entertainmentNews/idBRN2848317620080128?pageNumber=2&virtualBrandChannel=0
E os protestos surgiram em uma comunidade do Orkut contra a decisão na justiça:
http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=75760&tid=2580784584753995588&start=1
A Dra. Jane Bichmacher de Glasman, deixou de explicar as riquezas adquiridas pelos cristãos-novos nas Américas com o tráfico de escravizados africanos e exploração da mão-de-obra-escravizada nas fazendas açucareiras, na mineração, com os escravizados-de-ganho nas cidades coloniais e imperiais do Brasil escravocrata. Em hipótese nenhuma estou negando as perseguições inquisitoriais aos marranos em terras brasileiras, mas, estou afirmando que muitos deles conseguiram se adaptar como cristãos-novos ao modo de produção escravista colonial e dele tirarem proveitos econômicos astronômicos. Não podemos concordar com romantismos históricos simplesmente, é necessária uma análise acurada quando se tratam da história diásporica e escravagista a qual os nossos ancestrais foram submetidos.
Uma das provas incontestes que ainda se mantêm no Brasil da escravização realizada pelos cristãos-novos aos nossos ancestrais são os sobrenomes que se mantêm até hoje dentro da comunidade preta brasileira. Impostos pelos judeus aos seus escravizados pretos, e eu sou uma prova inconteste, tenho o sobrenome Oliveira, significando que um dos meus ancestrais foi escravizado de cristãos-novos, tema esse que trabalhei detalhadamente no próximo livro que lançarei em fevereiro deste ano intitulado Afro-Reflexões.
Insinuar uma coligação de escravizados pretos e cristãos-novos em formação de quilombos é deveras preocupante carecendo de dados históricos e tenta apagar a união dos cristãos-novos com as forças coloniais na opressão da população preta nas Américas.
A história não se escreve com achismos e muito menos com acomodações e junções objetivando inserir no fato ocorrido acomodações políticas. Os Judeus sefardistas, conhecidos como marranos, traficaram e escravizaram pretos, de oprimidos se tornaram opressores, e devemos ter cuidados com essas informações sobre a resistência de nossos ancestrais. É necessário exigirmos respeito a nossa memória.
Em HOLOCAUSTO NEGRO: CITAÇÕES

Escravidão Negra, o Rabino Marc Lee Raphael escreve:
"Judeus também tiveram uma ativa participação no tráfico colonial holandês de escravos; realmente, os estatutos das congregações do Recife e Maurício (1648) incluíam um imposta (taxa judia) de cinco soldos por cada escravo negro que um judeu brasileiro comprasse da Companhia das Índias Ocidentais. Leilões de escravos eram adiados se eles caíam num feriado judaico. Em Curaçao, no século dezessete, como também nas colônias britânicas de Barbados e Jamaica, no século dezoito, mercadores judeus desempenharam um papel destacado no comércio de escravo. De fato, em todas as colônias americanas, seja francesa (Martinica), britânica ou holandesa, mercadores judeus freqüentemente dominavam. "Isto não foi menos verdadeiro no continente norte-americano, onde durante o século dezoito judeus participaram do 'comércio triangular' que trazia escravos da África para as Índias Ocidentais e lá os trocava por melaço, que por sua vez era levado para a Nova Inglaterra e convertido em rum para vender na África. Isaac da Costa, de Charleston, nos anos de 1750, David Franks, de Philadelphia, nos anos de 1760, e Aaron Lopez, de Newport, nos finais dos anos de 1760 e início dos de 1770 dominaram o comércio judeu de escravos no continente americano."

Leia mais sobre a declaração do Rabino Raphael Ira Rosenwaike :
"Em Charleston, Richmond e Savannah a maioria (acima de três-quartos) das famílias judias tinham um ou mais escravos; em Baltimore, apenas uma em cada três famílias era dona de escravo; em Nova Iorque, uma em cada oito... Entre famílias donas de escravos o número médio de escravos variava de cinco em Savannah a um em Nova Iorque." ""The Jewish Population in 1820," in Abraham J. Karp, ed., The Jewish Experience in America: Selected Studies from the Publications of the American Jewish Historical Society (Waltham, Massachusetts, 1969, 3 volumes), volume 2, pp. 2, 17, 19. Cecil Roth "Os judeus de Joden Savanne (Suriname) foram também os primeiros na supressão das sucessivas revoltas negras, de 1690 a 1722: estas eram na verdade amplamente dirigidas contra eles, uma vez que eram os maiores donos de escravo da região." History of the Marranos (Philadelphia: Jewish Publication Society of America, 1932), p. 292. Jacob Rader Marcus.
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2005/01/301745.shtml
Sobre os cristãos-novos em Recife escreveu Ana Beatriz Magno:
"Da população civil, 1.492 moradores eram judeus, atraídos da Holanda para o Brasil pela idéia de fazer daqui filial da terra prometida. A maioria dos israelitas era de origem ibérica e correu para os países baixos durante a Inquisição.
Logo enriqueceram no Brasil e aqui brigaram pela permanência de Nassau quando, em 1644, a Holanda ordenou o retorno do conde. Dois dos mais famosos israelitas, David Coronel e Duarte Saraiva, lotearam uma rua só para seus irmãos de fé, chamados de. gente da nação.. Era a rua dos judeus, hoje do Bom Jesus, preservada no centro do agora restaurado Recife antigo.
Ali, num prédio de dois andares, fundaram a primeira sinagoga das Américas e trouxeram da Holanda Aboab da Fonseca para ser o primeiro rabino do continente. Aqui escreveu a primeira oração judaica em terras brasileiras."
http://www2.correioweb.com.br/hotsites/500anos/recifeholandes/recifehol1.htm

"Gradualmente porém, com a transferência do capital da Europa para as Américas, cristãos-novos e Judeus abertamente a professar a própria religião — estes últimos sobretudo nas Caraíbas, no Suriname e, ora sim ora não na Guiana Francesa e na Guiana Britânica — conseguiram acumular riquezas e a estabelecer-se no seio da população, contribuindo à prosperidade da colónia. Isto implicava sobretudo ser proprietários terreiros, ser donos de plantações e, óbvia e tristemente, ser donos de escravos africanos. Infelizmente, então, de opresso o Povo de Israel nas Américas, uma vez ambientado, tornou-se opressor. Nisso não havia nenhuma diferença entre eles e as suas contrapartidas de fé católica a residirem nas Américas. Foi sobretudo por esta razão, pelo facto de os Judeus/cristãos-novos terem um interesse económico na prosperidade do Brasil que as autoridades coloniais, mesmo se com uma certa relutância, lhes deram cargos administrativos. A Metrópole sabia que iam defender os seus interesses económicos."
Leia mais: http://www.triplov.com/cictsul/exodus.html
Leia mais na Visão Judaica on line:
História dos judeus no Brasil - Capitulo VIII
Período Pós-Holandês - Dispersão e Acomodação (1654 – 1700)http://www.visaojudaica.com.br/Principal/Historia/historiadosjudeusnobrasil/8.htm
Na questão das populações pretas em Israel também se torna preocupante a adaptação e inserção na soc iedade israelense e diversos casos de racismo ocorrem:
http://www.telegraph.co.uk/news/main.jhtml?xml=/news/2007/08/03/wisrael103.xml

Nascida em uma pequena cabana na Etiópia Oriental, a bela modelo Esti Mamo(foto abaixo) nascida em 1983 foi obrigada a viver em guetos falasha no sul de Israel, enfrentando o racismo por causa da sua origem africana e cor da pele. Hoje é considerada uma das mais belas modelos do mundo.
Leia mais: http://www.ajlmagazine.com/content/032006/estimamo.html

Violenta manifestación «falasha» en contra del racismo interjudaico
Los hebreos negros etíopes acusan al Gobierno y al pueblo israelíes de ejercer contra ellos la segregación racial.
Leia todo o artigo do jornal El Mundo de 29 de janeiro de 1996:
http://www.elmundo.es/papel/hemeroteca/1996/01/29/mundo/80691.html

A autora do artigo foi infeliz na comparação de “outras histórias”, quilombos e cristãos-novos no Brasil nunca foram aliados. Os quilombos de homens e mulheres escravizadas que lutaram pela liberdade e os cristãos-novos de escravizadores que lucraram com a escravidão.

PRETAS POESIAS

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Poemas de amor ao povo preto: https://www.facebook.com/PretasPoesias