sexta-feira, 25 de maio de 2012

RELEMBRANDO A PUNIÇÃO: RACISMO E CASTIGOS NA ESCOLA



Por Malachiyah Ben Ysrayl.
Historiador e Hebreu-Israelita
E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br
Msn: kefingfoluke1@hotmail.com
Skype: lindoebano
Facebook: Walter Passos




Ednei, uma criança de dois anos de idade, filho da minha sobrinha, estudou em uma escola e foi vítima de uma pedagogia equivocada: Ficou de pé com o rosto na parede na sala de aula em frente a outros coleguinhas da mesma idade. A “professora” alegou como motivo:

- “Ele é muito teimosinho, por isso ficou de castigo”

E quando a mãe ia buscá-lo a “educadora” comentava baixinho:

- “Graças a Deus que ele vai embora”.

Após ouvir conselhos, a minha sobrinha o transferiu para outra escola com mais recursos pedagógicos. Este fato aconteceu em 2012, com uma criança, pessoa hipossuficiente que precisa ser respeitado e representado em todos os seus atos:

O Estatuto da Criança e do Adolescente, lei 8069/90, dispõe acerca da proteção integral a crianças e adolescentes, e versa em seus artigos :

"Art. 18 - E dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

Art. 53 - A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:

I. igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II. direito de ser respeitado por seus educadores;
III. direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;
IV. direito de organização e participação em entidades estudantis;
V. acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.

Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais.”

Corroborando com a determinação legal, os estudos psicopedagógicos também descrevem ser essencial ao desenvolvimento das crianças um tratamento emocional e moral dignos, como se extrai do trecho abaixo:

"De acordo com Vygotsky (2007), é a partir dos dois aos cinco anos de idade, que as crianças aumentam a qualidade de discriminação perceptiva em relação ao próprio corpo. O repertório de habilidades motoras aumenta com a compreensão mais exata, uma locomoção mais coordenada o que facilita a exploração do meio. As atividades psicomotoras auxiliam as crianças a adquirirem noção de espaço, lateralidade, orientação em relação a seu corpo às pessoas e objetos. O ritmo traduz uma organização dos fenômenos sucessivos, tanto no plano da motricidade, quanto no plano da percepção dos sons emitidos no curso da linguagem (LE BOUCH, 1998, p. 100)
.
Os educadores têm necessidade de conhecer todos os aspectos do desenvolvimento da criança, para colocar em prática um trabalho global, dinâmico, flexível, e, sobretudo, recreativas, para atender as suas reais necessidades determinadas pelo nível de maturação."

http://www.artigonal.com/educacao-infantil-artigos/a-psicomotricidade-na-educacao-infantil-e-sua-importancia-4998429.html

Comentando com o meu filho sobre o meu sobrinho-neto, aproveitei e relembrei as escolas domésticas onde as crianças eram alfabetizadas nas residências dos professoras, que usavam o espaço larário para o aumento da renda familiar, suprindo a falta de escolas particulares e públicas naquele tempo.

As educadoras, em sua grande maioria, não possuíam formação acadêmica e nem o ensino secundário ou o normal, curso profissionalizante de segundo grau para a formação de professoras primárias, muitas delas haviam cursado as séries iniciais do antigo ginásio (5ª a 8ª séries) - hoje, ensino fundamental II - e, para a época, significava um grande conhecimento intelectual.

Relatei as práticas pedagógicas baseadas na violência física e psicológica. Fatos que possivelmente ainda ocorrem em algumas cidades interioranas e bairros considerados periféricos, não posso afirmar categoricamente por falta de dados.

Interessante que os castigos sofridos por crianças da minha geração ficaram nas memórias, formou-se gerações vítimas de uma educação equivocada e baseada nos castigos sofridos pelos nossos ancestrais escravizados em território brasileiro.

As punições aos estudantes eram injustas e excessivas, criavam o terror nas mentes dos educados, e muitos deles preferiam não ir às escolas. Estes que conseguiram estudar em escolas domésticas ainda foram privilegiados, porque muitos não puderam dar prosseguimento aos estudos por necessitar contribuir com a economia doméstica, tendo que trabalhar ainda bastante jovens. Na verdade, eu ainda fui um privilegiado por meus pais poderem pagar escolas domésticas, estas permitiram a continuidade dos estudos em escolas mais aprimoradas.

Aos seis anos de idade, devaneava com alguns colegas se a escola pegasse fogo, por fim, não seriamos vítimas dos castigos. Nunca sofri castigos corporais, mas as humilhações foram diversas.
Entre os diversos castigos e humilhações, sofridas pelos alunos, recordo-me destes:

Reguada, beliscão, cascudo, puxão de orelha, palmatória, ajoelhar no caroço de milho cru ou tampinha de garrafa (a criança a ser punida se ajoelhasse com os joelhos nus sobre grãos de milho cru ou tampinha de garrafa. Para além de uma elevada humilhação o castigo produzia dor muito intensa, pungente localizada e deixava graves vestígios na pele dos joelhos, tais como hematomas profundos e, se a duração do castigo fosse elevada, feridas abertas), humilhação em pé de cara na parede com um par de orelhas de burro na porta da escola (exposição pública do erro e tornava chacota para os colegas) , proibição de ir ao banheiro (diversos alunos faziam as necessidades fisiológicas na roupa, imaginem a vergonha) e de merendar (os que levavam a merenda sofriam, mas muitos nem merenda possuíam), ficar de castigo depois da aula (muitos apanhavam dos pais quando chegavam em casa), Vassourada (agressão com o cabo de vassoura na cabeça), entre outros.

Os meus estudos foram todos no estado do Rio de Janeiro, e na minha infância, uma professora sempre dizia que eu era baiano, porque os meus pais eram de Salvador. Preto, baiano e macumbeiro e eu ficava triste por ser epitetado de todas essas formas. Certa vez, minha mãe, para me livrar dos constantes abusos que sofria, levou a minha certidão de nascimento para comprovar que eu não era baiano, e sim, carioca. Hoje, ao repensar aquela situação, sentiria orgulho de ser alcunhado de baiano, pois toda minha ancestralidade e africanidade está na Bahia, terra que vivo há mais de 30 anos.

Alguns anos da minha infância, residi no bairro da Liberdade, em Salvador/BA e convivi com uma experiência interessante:

O hábito de pedir a benção aos mais idosos, e as lindas senhoras sentadas nas portas das casas nos esperavam e ai daquele que se esquecia de pedir a benção. No dia seguinte, via o resultado do pretenso “esquecimento”, pois elas comunicavam as “comadres” (as nossas mães) o nosso ato de rebeldia, e consequentemente pagávamos pela falta de respeito. Um pedido de benção baseada também na submissão e no medo. Em Salvador,nas escolas domésticas possuíam o hábito conhecido como: Sabatina que ocorria em dias variados, especialmente nas terças-feiras, onde um aluno arguia o outro sobre a tabuada e o que errava tomava bolos de palmatória.

Os cadernos eram usados para os estudantes escreverem centenas de vezes as mesmas frases, exemplo:

- Não devo conversar na sala de aula. Devo fazer o dever de casa. Não devo responder a professora, etc.

- Alguns epítetos eram usados pelas educadoras, o mais comum era chamar o estudante de “burro”

"Vivenciou a palmatória" - Dona Tereza


Outro fato interessante ocorria com relação a mãe da Professora. Esta a substitua algumas vezes nos casos de sua ausência, mas sempre estava presente nas aulas, escondida as janelas, observando as conversas e não perdia tempo em manter o silêncio com um cabo de vassoura na cabeça do “conversador”. Outras ficavam na sala de aula monitorando as atitudes dos estudantes e pronta para entrar em ação, se houvesse a quebra do silencio monástico em sala de aula.

Os pais apoiavam esta didática e pediam para os filhos e filhas serem “exemplados”. Recordo-me que a mãe adotiva de um colega de classe da cor de ébano, adotado por uma família branca aonde era vítima constante de espancamentos e humilhações, chegou à escola com um quilo de milho para que a professora o colocasse de joelho, e no mesmo dia foi colocado em uma tábua com os caroços de milhos crus, e ele gemia com a dor produzida pelo castigo insano. Só que não resolveu, ele continuava a reagir e não conseguia ser alfabetizado. Exigiam dele uma docilidade de “preto no seu lugar” e na sua tenra idade era um “preto rebelde”. Então, o método de tortura foi aprimorado e a mãe adotiva juntamente com a professora trouxe uma tábua com tampinhas de garrafa. Foi castigado duramente como um preto recapturado na escravidão. Ele chorou de dor e por muitos dias andou de cabeça baixo. Este episódio me deixou bem assustado e após relatar a minha mãe este quadro demoníaco, ela me retirou desta "Casa dos Horrores".

Em algumas conversas com pais de estudantes que viveram este processo educacional, e os seus filhos não conseguem acompanhar o aprendizado, eles manifestam certo saudosismo pelo modelo educacional que passaram. Esta concepção de culpa é decorrente da filosofia judaico-cristã de um país com histórico de colonização e escravidão. Foram introjetados mecanismo de autopunição nos antigos estudantes e que se reproduz atualmente nos educadores que de maneiras diferentes acreditam na “incapacidade” e desinteresse dos educados de aprender e muitos educadores se punem, sem compreender que são vítimas de uma educação violenta, não pluralista e com ideais elitistas, apesar das escolas estarem fora do centro do poder.

Não condeno as antigas professoras das escolas domésticas, porque merecem o nosso respeito e agradecimento pela alfabetização. A pedagogia que seguiam fora repassada através das antigas educadoras e elas acreditavam que estavam fazendo o melhor, muitas amavam os estudantes e supriram a falta de investimentos na educação e dos direitos humanos. Foram as professoras da década de 60 do século passado.

Tenho boas recordações de duas professoras domésticas e as suas mães que nos tratavam com carinho como se fossem membros da família, acredito que as que castigavam e usavam de violência tinham problemas sérios de ajustamento social.

No Brasil, a educação manteve desde os padres-mestres os castigos como uma prática pedagógica aceita por educadores e pais para o aprendizado das crianças, infelizmente, os anos nas décadas passadas a tortura e a humilhação psicológica eram fatores determinantes para o aprendizado, deixaram lembranças de uma pedagogia do terror, que objetivava a domesticação e formação de pessoas acríticas , sem questionamentos, calados e submissos.

Assumo que não sinto saudades das escolas domésticas, mas, será que apesar do fim das torturas físicas a pedagogia é libertadora? E as humilhações psicológicas aos estudantes por causa da cor da pele se extinguiram?

Shalom!  

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domingo, 20 de maio de 2012

A NOVA ESTRÁTEGIA DOS MÓRMONS COM A POPULAÇÃO PRETA - WILLARD MITT ROMNEY UM MÓRMON EM DIREÇÃO A CASA BRANCA


Por Malachiyah Ben Ysrayl.
Historiador e Hebreu-Israelita
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Willard Mitt Romney, de descendência escocesa e alemã, candidato mais forte do Partido Republicano a Presidência dos USA, da 5ª geração da SUD (Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias), fez uma declaração infeliz em Alabama:

"Eu entendo o quão difícil pode ser para um afro-americano na sociedade de hoje. Na verdade, posso me relacionar com pessoas negras muito bem. Meus ancestrais, uma vez possuído escravos, e é na minha linhagem a trabalhar estreitamente com a comunidade negra. No entanto, só porque eles foram libertados mais de um século atrás não significa que eles podem agora ser aproveitadores. Eles precisam ser orientados a trabalhar duro, e os incentivos simplesmente não estão lá para eles. Quando eu for presidente eu pretendo trabalhar em estreita colaboração com a comunidade negra para trazer um sentimento de orgulho e ética de trabalho de volta à vista por eles."

https://www.facebook.com/pages/BlacksAfro-Americans-for-Mitt-Romney/231659056888330

Mitt Romney - Who Let the Dogs Out?


Resolvi escrever este artigo para que possamos discutir as novas estratégias dos mórmons no Caribe, Brasil e África. Porque muitos pretos nestas três regiões do planeta seguem e defendem esta prática religiosa.

Há muitos pretos que não se importam com a história dos seus antepassados como se não fizessem parte dela, por isso a ignoram, e tentam viver fora da realidade alimentando o racismo que abate a sua autoestima. Ignorar a história dos seus antepassados tem sido uma fuga radical da própria realidade, levando alguns ao absenteísmo, e em casos mais graves a uma patologia que deve ser tratada urgentemente, ou optam a autonegação e covardia de olhar dentro de si mesmo.

Um destes graves problemas patológicos ou esquecimento voluntário se trata de questionar ilações da Igreja de Jesus Cristo dos Santos Últimos Dias, conhecida popularmente como a Igreja dos Mórmons. Em primeiro momento, é necessário afirmar que todo ser humano é livre para seguir qualquer religião, conforme reza o artigo 2º da Declaração Universal dos Direitos Humanos e, no Brasil, a Constituição Federal em seu art. 5º, VI. Então, aqui a discussão não é sobre a opção religiosa, mas o que a história desta prática de fé afetou os africanos e seus descendentes no planeta.

O chamado mormonismo surgiu nos USA com o profeta Joseph Smith Jr, em m 06 de Abril de 1830, com alguns convertidos e em 1838 mudou seu nome para A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Foi um jovem que teve diversas visões, perturbações e sonhos, conforme ele mesmo descreveu em seus escritos.

Em 1820, Smith teve uma visão de Deus e Jesus Cristo: “Quando a luz pousou sobre mim, vi dois Personagens cujo esplendor e glória desafiam qualquer descrição, pairando no ar, acima de mim. Um deles falou-me, chamando-me pelo nome, e disse, apontando para o outro: — Este é Meu Filho Amado. Ouve-O!”

Se você quiser saber mais sobre os mórmons e ter acesso a mais de 100 comentários, acesse o artigo de minha autoria escrito em 13 de janeiro de 2008:
http://cnncba.blogspot.com.br/2008/01/os-mrmons-e-os-negros.html

A teologia mórmon sempre considerou por mais de 125 anos a população preta como inferior e descendente do fratricida Caim. Os pretos eram considerados pelos mórmons como amaldiçoados, uma raça inferior. Nesse sentido, vê-se o que o Profeta Brigham Young relatou:

"Você vê alguns grupos da família humana que são pretas, grosseiras, feias, desagradáveis, tristes, baixos em seus costumes, selvagens, ad aparentemente sem a benção da inteligência que é normalmente dada à humanidade. O primeiro homem que cometeu o odioso crime de matar um de seus irmãos foi amaldiçoado por mais tempo do que qualquer um dos filhos de Adão. Caim matou seu irmão. Caim poderia ter sido morto, e que teria posto fim a essa linha de seres humanos. Este não era para ser e que o Senhor pôs uma marca nele, que é o nariz chato e pele preta. Rastrear humanidade até depois do dilúvio, e, em seguida, outra maldição é pronunciada sobre a mesma raça -. que seria o servo "de funcionários”; e que será, até que a maldição é removida, e os abolicionistas não pode ajudá-lo, nem sequer a alterar esse decreto.” Journal of Discourses, Volume 7, páginas 290 291.

Blacks Called NIGGERS By Mormon Joseph Smith


Com uma nova revelação em 1978, os mórmons afirmam que deixaram a sua postura racista e a igreja estendeu as bênçãos do sacerdócio de todos os membros dignos, e se dedicam a converter pretos no Caribe, América e África. Quais são os motivos dessa nova estratégia dos mórmons?
Nos USA, entre os mórmons somente 1% são pretos e a maioria da população não esqueceu o que foi ensinado por mais de um século que eles tinham um pacto com Satanás e eram amaldiçoados. Na Pérola de Grande Valor, diz, "A negritude veio em cima dos descendentes de Caim, que foram desprezados entre todos os povos."

Ainda, são feitas campanhas milionárias tentando demonstrar que o racismo não existe mais, e divulgando uma igualdade racial com latinos e pretos preocupados com a campanha presidencial. Pretos e latinos em grandes outdoors afirmam serem mórmons.

Inclusive no Mali, um dos países mais pobres da África, apesar de ser o terceiro maior produtor de ouro do continente, o candidato a presidente Yeah Samake segue a religião mórmon, e deles tem recebido apoio financeiro substancial, mas com o golpe militar se torna incerto se haverá mesmo eleições. O interesse dos mórmons no continente africano é deveras interessante.


BYU GRAD BECOMES MAYOR OF OUELESSEBOUGOU, MALI


Na África do Sul, os mórmons trazem uma boa mensagem aos brancos calvinistas Afrikaaner por causa das semelhantes crenças religiosas sobre a maldição de Cam. Para os brancos a história mórmon é parecida com Grande Marcha, quando os africânderes invadiram Traansvaal para “domar” o deserto, e estabelecer a “liberdade”.

Mas, muitos pretos se tornaram calvinistas e agora mórmons. Muitos pretos esquecem ou ignoram a sua história de opressão e seguem a religião dos antigos senhores.
Disse o Profeta Brigham Young:

"Devo dizer-lhe a lei de Deus em relação à raça Africana? Se o homem branco que pertence à semente escolhida misturar seu sangue com a semente de Caim, a penalidade, sob a lei de Deus, é a morte no local. Isso vai ser sempre assim." Journal of Discourses, Volume 10, página 110.

SOUTH AFRICAN YOUTH SING OF CHRIST


Em outros países africanos a SUD tem conseguido adeptos com uma mensagem mais amena e aproveitando os problemas econômicos e analfabetismo de uma grande parcela da população. Caso também que ocorre no Brasil onde muitos pretos e pretas tem aderido ao mormonismo sem sequer atentar para a história.

Mórmons - Racismo no Templo


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domingo, 13 de maio de 2012

A MULHER PRETA E O DESAFIO DA MATERNIDADE EM UMA SOCIEDADE RACISTA



Por Walter Passos
Historiador
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Os desafios das nossas ancestrais pretas se tornaram dores inextinguíveis com o surgimento do tráfico transatlântico e o sequestro de crianças, adolescentes e adultos. A separação causou sofrimento em milhões de mães africanas, este inimaginável aos nossos pensamentos, e a tristeza pairou em todo o período do sequestro, porque a separação do ventre materno: África: significou a separação de mães amorosas e filhos amados.

Para a mulher preta escravizada nas Américas à maternidade trouxe desafios outrora desconhecidos em terras africanas, afastadas dos rituais religiosos do nascimento e de iniciação em muitas sociedades, abalou o processo identitário, especialmente nos nascimento de gêmeos.

A mulher preta no Brasil Colônia e Império enfrentou desafios em uma nova sociedade, onde os ritos de nascimentos são ignorados, e a maternidade em muitos casos é decorrente do estupro, de nascimento de filhos considerados ilegítimos pelos progenitores; senhores de engenhos e seus filhos e em muitos casos os chamados “filhos de padres”. Propagando uma nova realidade nas relações de maternidade e da escravidão: a crise da mestiçagem e a negação cultural da ancestralidade materna e da própria genitora, casos estes relatados em diversos exemplos na literatura brasileira.

Na escravidão, a função materna da escravizada vai se adequar aos desejos de lucro do senhor de engenho. A gravidez tinha concepções diferentes para muitos senhores de engenho, eram novas bocas a alimentar no processo produtivo, ou uma necessidade de aumentar a renda, sendo assim muitos senhores engravidam as escravizadas, e vendem os bebes considerados por eles, apenas uma mercadoria.

Ocorreu no Brasil, houve uma quebra da ancestralidade e de conceitos maternos africanos com a resistência na prática de aborto e do infanticídio, mais uma vez, a escravidão desfigurou o papel da maternidade, abalando estruturas milenarmente construídas de gestação e criação em território africano.

Nesse ínterim, cria-se no Brasil um elaborado mito de maternidade: a Mãe Preta, uma mulher feliz que amamentava os filhos de senhores e foi ativa participante de um país sem racismo e poucos conflitos. A Mãe Preta da democracia racial de Gilberto Freire e seguidores.

Na realidade, a Mãe-preta foi uma mulher infeliz é obrigada a amamentar os filhos dos seus algozes, enquanto os seus filhos foram vendidos e os que ficaram sofriam de inanição, por pouco leito materno. Muitas escravizadas, as chamadas amas de leite forneceram lucros às boas famílias católicas ao terem os seus peitos alugados para amamentação de crianças brancas.

Abaixo: Fernando Simões Barbosa com ama–de–leite – Euge

Mauricio – Recife, c.1860–1869. Crédito: Fundação Joaquim Nabuco, e Monumento a mãe-preta na matriz da Fraternidade Eclética Universal.

Uma realidade nova se propagou: a função de ser mãe solteira em uma sociedade patriarcal e racista. A dificuldade em criar os seus filhos obrigou as mulheres pretas a deixarem os seus bebes enjeitados nas Santas Casas a Roda dos Expostos.

A pobreza extrema que foi jogada a população preta no Brasil reforça os laços do chamado compadrio, onde muitas crianças foram entregues a parentes, pessoas estranhas e as chamadas comadres endinheiradas ou de melhor situação financeira criando uma rede de exploração de crianças que em muitos casos serviram como serviçais nas residências de famílias mais abastadas. As mulheres pretas não foram culpadas dessas atitudes.

Com o advento da abolição da escravatura a mulher preta traz consigo os traumas da escravidão e novos desafios teve que enfrentar, por causa da maioria das famílias desestruturadas. Além da pobreza, aprender a vencer desafios e preconceitos em uma sociedade judaico-cristã: Mulher preta, pobre e mãe-solteira.

2PAC - DEAR MAMA (LIVE) - LEGENDADO


A mulher preta é uma heroína na sociedade racista, não só como provedora de muitos lares, mas, como sustentáculo das tradições ancestrais. Quando os seus filhos e filhas começam a enfrentar as discriminações por causa da cor da pele, a mãe é o apoio e a orientação para a preservação da autoestima. E ela que suporta e procura os meios de combater a discriminação, é o verdadeiro amor que sofre com as tristezas e exulta com as vitórias.

O desafio da maternidade ainda é para muitas mulheres pretas questões de profundas análises, porque só elas sabem, os grandes desafios que vão enfrentar para o sustento e a educação dos seus filhos e filhas.

Felizmente, as mulheres pretas apesar das dificuldades herdadas da escravidão dos nossos ancestrais e dos novos desafios após a abolição da escravatura, tem mantido as nossas tradições e formando gerações de pretas e pretos orgulhosos de terem o prazer de chamar uma mulher preta de: mãe.


SIZZLA - THANK YOU MAMA


Shalom!

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domingo, 6 de maio de 2012

SALIF KEITA – A VOZ DE OURO DA ÁFRICA


Por Malachiyah Ben Ysrayl.

Historiador e Hebreu-Israelita
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Salif Keita é descendente direto do fundador do Império Mali, Sundiata Keita, nasceu na aldeia de Djoliba, no Mali, em 25 de Agosto de 1949, e por ser albino foi expulso da família na adolescência, pois o albinismo é um sinal de azar na cultura mandinka.


Mali - SALIF KEITA – AFRICA


A discriminação contra o albinismo ocorre em diversos países africanos. Nascer com deficiência de melanina é considerado maldição em muitas culturas, inclusive nos relatos dos hebreus, também uma civilização africana, onde pessoas que quebravam as regras religiosas eram punidas com a perda da melanina. Esta realidade comprova que ser preto não é maldição nas civilizações africanas e na civilização hebraica, como outrora foi difundido.

Exemplo disso, há uma espécie de maldição genética no caso de Geazi, descrito no livro bíblico de II Reis 5:27, vejamos: “Portanto a lepra de Naamã se pegará a ti e à tua descendência para sempre. Então Geazi saiu da presença dele leproso, branco como a neve.”

Com o avanço do estudo da genética, sabemos que o albinismo é um distúrbio congênito caracterizado pela ausência completa ou parcial de pigmento na pele, cabelos e olhos, devido à ausência ou defeito de uma enzima envolvida na produção de melanina, podendo ocorrer tanto em seres humanos, como também em animais e plantas. Ele é hereditário e pode ser classificado em dois tipos: tirosinase-negativo (quando não há produção de melanina) e tirosinase-positivo (quando há pequena produção de melanina).

Os massacres e sacrifícios humanos de albinos e o comércio de partes de seus corpos têm sido relatados na Tanzânia, Burundi e Quênia e não passaram despercebidos por Salif Keita que se empenhou em uma luta para proteção e conscientização para combater a discriminação dos albinos.

Fontes históricas afirmam que entre a população Mandi do Sudão a tradição ensinava que quando aparecesse o primeiro branco eles seriam destruídos. Então é compreensível o receio aos albinos pelas gerações passadas. Torna-se necessário para compreender esse posicionamento extremo, um estudo mais acurado da questão do albinismo em território africano e saber das mudanças comportamentais e quando, na verdade, começaram a existir esses casos de assassinatos e mutilações.

Albinos Killed For Their Organs


Salif Keita por ser de família nobre não poderia dedicar a sua vida a música por ser um atributo aos griots. Esta herança real significava que sob o sistema de castas do Mali, que ele nunca deveria ter se tornado um cantor, que foi considerado como um papel de griot e disse:

-"Passei dois anos vivendo no mercado, tocando violão e cantando em bares e cafés".

Ele quebra essa regra e como um albino rejeitado, se desloca para Bamako, a mais importante cidade do Mali e inicia a sua vida musical com a o grupo "Rail Band de Bamako", onde canta musicas tradicionais com ritmos modernos. Sua música combina tradicionais estilos de música do Oeste Africano, com influências da Europa e Américas, mantendo um estilo global islâmico. Instrumentos musicais que são comumente apresentados no trabalho de Keita incluem balafons e djembes, guitarras, Koras, órgãos, saxofones, e sintetizadores

As convulsões políticas, sob a junta militar no Mali, durante a década de 1970 obrigou Keita a fugir do país, primeiro para a Costa do Marfim e, posteriormente, para a França.

Em 1973, Keita se juntou ao grupo "Les Ambassadeurs" e, mudou o nome do grupo para "Les Ambassadeurs Internationaux". A reputação do grupo subiu a nível internacional e, em 1977, Keita recebeu o prêmio da Ordem Nacional das mãos do presidente da Guiné, Sékou Touré.

CULTNE - SALIF KEITA EM SALVADOR - BAHIA


Em 2004, Salif retorna ao Mali com sua esposa e seus onze filhos para estar mais perto de suas raízes ancestrais.

MALI - SALIF KEITA - NYANAFIN


O ultimo albúm de Keita recebeu críticas positivas de todo o mundo musical:

“O último álbum de Keita, “La Différence”, foi produzido por volta do final de 2009. O trabalho é dedicado à luta da comunidade mundial albino (vítimas de sacrifício humano), para que Keita foi cruzada toda a sua vida. Em uma das faixas do álbum, o cantor chama os outros para compreender que a diferença não significa ruim e para mostrar o amor e compaixão para com os albinos como todos os outros: "Eu sou preto / minha pele é branca / assim que eu sou branco e meu sangue é negro [albino] / ... eu adoro isso, porque é uma diferença que é linda .. "," alguns de nós são bonitos alguns não são / alguns são pretos outros são brancos / toda a diferença que foi de propósito .. para nós, para completar um ao outro / vamos todos vivenciar o amor e dignidade / O mundo vai ser bonito.

La Différence é o único álbum que pela primeira vez Keita combina claramente e corajosamente diferentes influências melódicas para produzir uma sensação musical altamente original, com uma vasta gama de recurso. O álbum foi gravado entre Bamako, Beirute, Paris e Los Angeles. Esta sensação musical única é reforçada por campos soulful na faixa "Samigna" que emanam da trombeta do grande músico libanês Ibrahim Maaluf.

"La Différence” venceu um dos maiores prêmios musicais da sua carreira: o the Best World Music 2010 pela Victoires de la musique.”

LA DIFFÉRENCE" BY SALIF KEITA


A vida de Salif Keita tem sido um exemplo de superação, demonstrando com a sua música que qualquer tipo de discriminação não contribui para o amor e o respeito à humanidade. Keita não demonstra rancor pelos acontecimentos pregressos, mas trabalha com a conscientização de que as pessoas com albinismo são seres humanos como todos os outros. As diferenças têm que ser respeitadas.

terça-feira, 1 de maio de 2012

BECCA – A REVELAÇÃO MUSICAL DE GANA - NÃO A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA


Por Malachiyah Ben Ysrayl.
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Rebecca Akosua Acheampomaa Acheampong, conhecida popularmente como Becca, é um dos mais novos multitalentos de Gana e de toda a África. Nascida em 15 de agosto de 1984, em Kumasi na região de Ashanti, Gana, África Ocidental.

É a quinta filha de uma família de nove irmãos, estudou na Inglaterra na London’s Croydon College, especializando-se em cuidado e educação infantil, retornando em seguida para Gana para aplicar seu aprendizado. Becca além de ser um afro pop, também é uma talentosa atriz, com um dos salários mais alto da África.

Vencedora de vários prêmios, ela tornou-se uma das vozes mais audíveis sobre os problemas que envolvem crianças carentes de Gana, participando de projetos sociais de apoio às crianças portadoras do vírus HIV e que estão em prisão. Becca tem sido aclamada pela crítica, não apenas por militar contra os problemas sociais de seu país, mas especialmente por suas lutas pelos direitos e especificidades das mulheres africanas. Em African Woman, Becca demonstra a sua sensibilidade e homenageia a força, caráter e a coragem da mulher africana. Assista esse belo clipe abaixo:

'AFRICAN WOMAN' - BECCA


SCORNED, um importante filme dirigido e produzido pela cineasta Shirley Frimpong Manso, retrata a violência domestica.



Na canção DAA KE DAA, Becca relata a violência doméstica, sendo o clipe com cenas do filme acima, vale a pena conferir:

DAA KE DAA





GMA 2011 - BECCA PERFORMS AFRICAN WOMAN
NO JUBILEU DE GANA:


África, celeiro inesgotável de musicalidade, força e beleza, conjugando em Becca uma das mais belas vozes, tanto por sua grande versatilidade vocal, movimentos dinâmicos e carisma, quanto pela defesa das crianças e mulheres africanas.

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