sexta-feira, 31 de agosto de 2007

NEGROS CRISTÃOS NO SUL DO BRASIL



Damaris Nascimento de Souza, da Assembléia de Deus e membro do CNNC - Paraná



A situação dos Negros Cristãos na região Sul do Brasil, em específico no Paraná, é um tanto delicada. Por um lado, tivemos o privilégio de termos como Presidente da Convenção das Assembléias de Deus no Estado do Paraná o Pastor José Alves da Silva, pedagogo, teólogo e assumidamente negro, o que, pra nós, foi um avanço muito grande. Por outro lado, o número de pessoas negras que chegam a pastores, evangelistas, presbíteros, etc., é muito pequeno. E, dentro deste pequeno número, há ainda os que não se assumem como negros, e também os que sabem que são negros, mas não gostam de ser e, por esse motivo, fica difícil combatermos o preconceito que há dentro das igrejas evangélicas no Paraná.
Existem pastores no Paraná que não aceitam que negros assumam algum tipo de liderança dentro das igrejas, como foi o caso de um pastor na igreja em que eu congrego que exigiu que minha mãe fosse tirada da liderança do grupo de senhoras porque ele não queria negros “mandando na igreja”. Ela liderava este grupo há dezessete anos, liderança esta garantida por eleições diretas.
Nas pregações, podemos observar muitas piadinhas racistas, sem o menor respeito com os irmãos pretos que estão ouvindo a pregação! Houve um caso em que um pastor, pregando na igreja Assembléia de Deus Sede de Maringá, disse haver ficado muito triste quando a filha começou a namorar um rapaz “pretinho, daqueles que chega brilha” (foi exatamente esta a expressão usada por ele). Porém, depois que ela casou e o filho nasceu, ele viu que era café com leite e ficou mais feliz! Também há o caso de um grande pregador, não vou citar nomes por questão de ética, mas era em um congresso do GMUH. Muitas pessoas ouvindo e, em meio ao fervor da pregação, ele solta uma “pérola”: “Irmãos! Nem que for aquele pior crente, das perninhas tortas e do cabelo pixaim, Deus vai abençoar nesta tarde!” Isso sem contar que, sempre que vão dar testemunho nas pregações sobre algum crente que consideram feio, este crente sempre é preto!
Existe também o preconceito contra as crianças, pois sempre que há casamentos, teatros, coreografias ou qualquer outro tipo de apresentações na igreja, as crianças negras raramente são escolhidas e, quando são, ocupam sempre os últimos lugares, as últimas filas. Quando eu era criança, adorava participar de Maratonas Bíblicas. Sempre tirava em primeiro lugar! Um belo dia estava participando de uma e eu percebi que o marido da irmã que era professora das crianças (alias, uma excelente e consciente professora, já falecida.), não marcava os pontos que eu fazia; então eu reclamei com a irmã. Ela virou pra mim e gritou, apontando-me com o dedo: “Cala a boca sua negrinha! Senão te expulso daqui!”
Enfim, essa é apenas uma parte do que enfrentamos dentro das igrejas evangélicas no Sul do Brasil. Infelizmente, muitos de nossos pastores pregam que Deus não faz acepção de pessoas, que Deus é amor, que temos que amar ao próximo como a nós mesmos mas, na prática, suas atitudes não refletem o que pregam. São absolutamente incoerentes!
Contatos com o CNNC/Ba: cristaosnegros@yahoo.com.br

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

A EVA PRETA






Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente do CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke.



A humanidade, como nós a conhecemos, começou na África com o Homo Erectus e Homo Sapiens, que viveu na região dos grandes lagos africanos antes de migrarem para outros continentes através do Vale do Nilo, à Palestina e o Mar Vermelho. É importante ressaltar a proximidade do Equador, o qual comprova que os primeiros habitantes do planeta foram homens e mulheres pretas, sendo seres de sangue quente, que se desenvolveram em um clima quente e úmido, produzindo um pigmento preto sintetizado por células (melanócitos), que estão dispersos no cabelo, nos pelos, na pele e nos olhos, protegendo a pele contra os raios ultravioletas: a melanina.
Complementando todas as informações bíblicas de Gênesis 2:1, que diz: “Então Javé Deus modelou o homem com argila do solo”. Modelou o homem com a cor da lama. E todos nós sabemos a cor da lama que é preta. A idéia da criação do ser humano, através argila, ainda é encontrada em regiões da África, no Togo, país africano. Algumas comunidades acreditam que Deus ainda faz homens e mulheres de argila.
Também vamos encontrar, em diversas tradições africanas, o mito da imortalidade da serpente e seu poder de mudar as suas escamas, dando uma idéia de renascimento constante, e o ser humano sempre teve o desejo de ser imortal. Os hebreus herdaram dos babilônios as teorias da criação do mundo e da queda do homem. E os babilônios foram pretos, descendentes dos cushitas, que migraram para o Continente Asiático. Antes do Canal de Suez, a África e a Ásia eram um só continente, sem separações nesse período histórico A partir daí, sem entrar em discussões teológicas de criacionismo ou evolucionismo, temos a plena convicção de que os primeiros habitantes do planeta, representados na Bíblia por Adão e Eva, foram pretos e criados à imagem e à semelhança de Deus. Esse fato é de domínio dos hebraístas e dos teólogos estudiosos do Primeiro Testamento. Porém, as lições da escola dominical e os tratados teológicos não ventilam essa revelação, e sabemos o motivo: o medo dos teólogos e hebraístas de trabalharem nos seminários teológicos a fiel interpretação bíblica centrada nos estudos das civilizações que foram protagonistas dessa história.
Todas as civilizações antigas foram compostas por povos pretos. Na antiga Suméria, no Vale do Indo, Iraque, regiões do Cáucaso, a presença de pretos na China antiga, na Grécia antiga, no Japão, no Continente Americano, na Oceania, na civilização de Angkor, na Tailândia, na civilização de Champa, no Vietnã. Os africanos e aborígines australianos habitaram a América bem antes da invasão espanhola e portuguesa. Tal fato foi comprovado com a descoberta de esculturas, como a pedra de Olmec, no México, que traz os narizes largos, cabelos rasta e lábios cheios. A mulher da Lagoa Santa, no Brasil, é outro exemplo.
Os historiadores ocidentais inventaram diversas denominações para os pretos espalhados pela face da terra, com o objetivo de negar a origem africana, sendo algumas delas: negróide, negrito, proto-negróide, aborígine australiano, euro-africanos, mediterrâneos, dentre outras.
As análises de material genético recolhido ao redor do planeta confirmam que todos os seres humanos modernos descendem de uma única mulher, quem viveu no Continente Africano, a qual os antropólogos e bioquímicos da universidade da Pensilvânia, Estados Unidos, apelidaram de Eva Preta. Após o estudo do material genético retirado de cento e oitenta e nove mulheres de diversas etnias, desde 1979, a cientista Rabecca Cann e dois colegas, Allan Wilson e Mark Stoneking chegaram a uma conclusão. Comprovaram, por meio da coleta de placenta de bebês, que os tecidos celulares com mitocôndrias (grânulos ou bastonetes que transformam comida em liquido e energia para as células) foram retirados do DNA para traçar árvore genealógica, os quais preservam somente a herança materna.


Apenas a mitocôndria da mãe entra na genética do bebê, haja vista que o gameta masculino (o espermatozóide) só provê o núcleo. A genética mitocondrial só é alterada por mutações genéticas fazendo, desta forma, parte das gerações seguintes, como se fossem impressões digitais da linhagem. Todos os conceituados biólogos, americanos e europeus, confirmam que todas as mulheres modernas são descendentes de uma mulher africana, conhecida por Eva Preta.
As mudanças genéticas estudadas ocorrem em regiões do cromossomo Y, que não codificam genes ou suas regiões de controle e não afetam as pessoas que as possuem.
O Dr. Underhille e seus colegas, com base nas mutações encontradas no cromossomo Y em estudos recentes do DNA, chegaram à conclusão que os povos mais antigos do planeta podem ser os Oroma e Amhara, da Etiópia, e os Koissans que estão no sul da África.
A grande pergunta é: como se deram essas mudanças epiteliais, e como surgiram o branco, o amarelo e o vermelho? A Bíblia diz que todos nós descendemos dos primeiros humanos representados por Adão (humanidade) e Eva (vida) e já sabemos que eles foram pretos africanos. Com as migrações citadas anteriormente pelos primeiros grupos humanos, os seus descendentes foram se adaptando a novos climas e dietas alimentares, tendo como conseqüência a perda da melanina, porque não havia mais necessidade de proteção solar. A cor epitelial sofreu mudanças. Os cabelos originais crespos que serviam como protetores solar foram-se afinando e clareando; os olhos ficaram mais claros, adaptando-se à necessidade de enxergar em regiões com menor incidência solar; os narizes foram-se modificando pela necessidade de exercerem novas funções respiratórias nos diversos climas frios, e perdeu-se também a consistência nos lábios.
O equívoco vigente nas igrejas protestantes, referente ao surgimento da humanidade, é afirmar que os seres humanos são originários dos três filhos de Noé, Cam, Sem e Jafé, sendo a humanidade predestinada a benções e maldições, resultantes do relacionamento conflituoso de Noé e seus três filhos. Jafé originou os jafetitas, que seriam os brancos. Sem originou os semitas, com uma cor intermediária e, Cam os pretos, os quais foram amaldiçoados para servir aos seus irmãos. Essa hermenêutica é falsa, anti-histórica e racista; infelizmente, repetida nos mais conceituados seminários teológicos do mundo cristão, por diversos estudiosos do Primeiro Testamento, e ensinada nas igrejas.

domingo, 26 de agosto de 2007

PANTERAS NEGRAS: Tratamento de choque para a América Branca


Por: Aidan Dudu Labalãbã
Este é o meu pseudônimo, o qual escolhi por não aceitar os nomes dados pelo escravizador. O meu nome pela língua imposta pelos brancos é Vanessa e sou membro da Igreja Presbiteriana Unida, em Salvador-Bahia e Tesoureira do CNNC/Bahia.

PANTERAS NEGRAS:
Tratamento de choque para a América Branca


O filme "Panteras Negras: Tratamento de choque para a América Branca” é baseado no livro de Melvin Van Peebles e foi produzido pelo seu filho, Mario Van Peebles. Retrata a luta de jovens pretos nos Estados Unidos da América na década de 60. O Partido dos Panteras Negras foi fundado em 15 de outubro de 1966 e, exatamente em 1967, em Oakland, Califórnia, ocorrem os fatos relatados no filme. Lembremos também que foi nessa década que os movimentos pretos Norte-Americano ganharam força. O filme mostra a convivência de Huey Newton (Marcus Chong) e Bobby Seale (Courtney B. Vance), amigos que formam um novo partido dedicado a proteger os pretos das violentas arbitrariedades dos policiais brancos. Percebemos aí que os Panteras Negras tinham a nobre ideologia Pan- Africanista de defender os direitos do povo preto, promovendo o desenvolvimento de instituições pretas sem interferências dos brancos, desenvolvendo a filosofia que temos de trabalhar unidos para proteger os nossos direitos, melhorando a nossa vida sócio-econômica.
Uma das falhas do filme foi a não inserção da grande ativista dos Panteras negras, Angela Davis.
As mulheres pretas foram as grandes participantes do partido, sendo a sua maioria. As mulheres pretas são as grandes guerreiras na diáspora em defesa do seu povo.

O Partido dos Panteras Negras teve como preocupação a alimentação das nossas belas crianças pretas e também a conscientização dos pretos pelos seus direitos na diáspora nos EUA , e enfrentaram um dos maiores problemas que afetam a juventude preta: as DROGAS! E foram forçados ao enfrentamento com a polícia ariano-racista nos Estados Unidos. Porém, o mais importante de tudo isso foi que eles não transgrediram nenhuma lei; mesmo assim, foram perseguidos pelos brancos racistas e tiveram que priorizar a autodefesa. Esse filme é de muita importância para a juventude afrocentrada porque explica a formação de um partido para o povo preto. Mostra como a população pode suprir problemas deixados pela sociedade dominadora. Não deixe de assistir. É um bom filme para ver com a galera preta!

Melvin Van Peebles
Título Original: Panther
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 123 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1995
Estúdio: Gramercy Pictures / Tribeca Productions / Working Title Films / MVPFilms / Polygram Filmed Entertainment
Distribuição: Gramercy Pictures
Direção: Mario Van Peebles
Roteiro: Melvin Van Peebles, baseado em livro de Melvin Van Peebles
Produção: Preston L। Holmes, Mario Van Peebles, Melvin Van Peebles e Robert De Niro
Música: Stanley Clarke Fotografia: Edward J। Pei
Desenho de Produção: Richard Hoover
Direção de Arte: Bruce Robert Hill e Carol Lavoie
Figurino: Paul Simmons Edição: Earl Watson

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

O PAN-AFRICANISMO EM SI MESMO


Por Jose Raimundo dos S. Silva. Pan-africanista
Pseudônimo: Thembi Sekou Okwui.
Estudante de Direito e membro do CNNC – SP


Primeiro, devemos entender o pan-africanismo em sua forma literal: pan vem do grego, que denota “todo”, “tudo”; africanismo significa: 1 – Estudo das coisas da África; 2 – Influência da África; 3 – Costumes ou modos próprios da África; 4 – Palavra ou expressão oriunda das línguas africanas; 5 – Sentimento de amor ou fidelidade às tradições, interesses ou idéias africanas. Em suma, pan-africanismo é o “tudo” ou “todo” relativo à África. Isso, quando analisamos a palavra pan-africanismo no seu sentido literal.
Historicamente, o pan-africanismo consiste na proclamação da organização, unidade e solidariedade entre negros do mundo todo, tantos os que vivem na África como os de sua Diáspora, na luta contra o racismo e supremacia racial dos brancos. Entenda a palavra Diáspora como todas as regiões fora do continente africano que abrigou, em seus territórios, os descendentes de africanos, tenham sido eles escravizados ou não.
No começo, o pan-africanismo era uma simples manifestação de solidariedade fraterna entre os negros de ascendência africana das Antilhas Britânicas e dos E.UA. Teve, como um dos seus precursores, o advogado negro da Ilha de Trinidad, Sylvester Williams, que foi o primeiro a usar o termo pan-africanismo, no final do século XIX. Muitos outros “apóstolos” caíram no esquecimento. E a lista deles seria não somente comprida e difícil de estabelecer, mas também pouco instrutiva. No entanto, dá para destacar os precursores das suas principais correntes.
· W.E. Burghardt Du Bois, considerado “pai do pan-africanismo político”. Ele tem um famoso livro intitulado “Almas da Gente Negra” que foi traduzido para o português. Neste livro ele responde com um categórico “não” à seguinte pergunta: “Será possível, será provável que possam milhões de homens realizar, no plano econômico, verdadeiros progressos, quando privados de direitos políticos, quando reduzidos apenas a uma casta servil, e quando não se lhes concede a mais mínima oportunidade de desenvolver os seus jovens intelectualmente bem dotados?
. Marcus Garvey foi o precursor do pan-africanismo messiânico. Fez um grande movimento popular em torno da repatriação dos negros à África, tendo criado uma linha de navegação, a Black Star Line, com essa finalidade. Seus discursos foram tão fortes que chegaram a influenciar o processo de libertação das nações africanas. Também, foi produto das manifestações lideradas por Marcus Garvey a “Declaração dos Direitos dos Povos Negros do Mundo”. Como esta é a corrente que nos importa para abordagem do tema, veremos mais sobre ele no próximo tópico.
. Jean Price-Mars foi o precursor do pan-africanismo cultural. Ele era grande humanista em toda extensão do termo. A sua obra mais importante, observada pelo ângulo pan-africano, foi “Assim Falou o Tio...”. Esta obra era um grande ensaio etnográfico publicado na França em 1928, cujas idéias revolucionárias eram bastante compreensivas. Assim, trago à luz um dos seus pensamentos mais importantes: “Houve, em dado momento, no continente africano, centro de civilização negra dos quais não somente se encontram vestígios, mas cujo brilho se irradiou além da estepe e do deserto”
Vários foram os acontecimentos na história mundial que representaram a concepção ideológica pan-africana. No Brasil, por exemplo, podemos destacar a resistência cultural das religiões de matriz africana, a capoeira, as fugas, as revoltas, as rebeliões, a musicalidade negra e tantas outras, como a formação dos Quilombos. Estes últimos, por exemplo, representam os verdadeiros princípios pan-africanos de solidariedade, unidade e autodeterminação (a liberdade propriamente dita). Os Quilombos não eram somente comunidades de negros fugidos, mas sim um lugar onde os negros procuraram resgatar os valores, concepções e modo de vida africanos.

domingo, 5 de agosto de 2007

CNNC/BA - CONSELHO DE NEGRAS E NEGROS CRISTÃOS DA BAHIA











Por: Ulisses Passos. Acadêmico de Direito, Pan-Africanista e Presidente do CNNC/BA. Pseudônimo: Aswad Simba Foluke

Somos a única organização pan-africanista e cristã do Brasil e primeira a defender o Cristianismo de Matriz Africana, através de estudos bíblicos e pesquisas históricas.

Princípios Fundamentais:

º CRISTIANISMO DE MATRIZ AFRICANA

Compreende o principal fundamento do CNNC/BA. Divulgar o Cristianismo de Matriz Africana, sua importância história e afirmativa para o povo preto e sua fé cristã, como sendo a verdadeira origem do Cristianismo, advindo dos Hebreus Pretos e a África como provedora das principais religiões do mundo.
Sendo um dos alicerces para consciência do Povo Preto Cristão, a redescoberta da sua ancestralidade e a rejeição do embraquecimento imposto dentro das Igrejas no Brasil.

º PAN-AFRICANISMO



O Pan-Africanismo é um movimento político, filosófico e social que promove a união Africana, dos pretos na diáspora e a defesa dos direitos das pessoas africanas em todo planeta.

º AFROCENTRISMO



Acreditamos que toda civilização mundial está baseada na África. E o estudo do Afrocentrismo retrata toda a verdade manipulada pelos estudos eurocêntricos. A África é a Mãe de todas as ciências e tecnologias.

Objetivos:

· Conhecer os negros e negras pertencentes às igrejas evangélicas integrando-os nas lutas contra a discriminação racial;
· Saber onde vivem, onde congregam;
·Conhecer os líderes negros das igrejas cristãs;
· Quais os ministérios que mais participamos;
. Promover a união de negros e negras cristãs, capacitando-os para combater toda a discriminação;
. Realizar Encontros no Estado da Bahia;
. Preparar materiais didáticos;



Contatos:



E-mail: cristaosnegros@yahoo.com.br



Orkut: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=10443953



Diretoria do CNNC/BA

Presidente do CNNC/BA - Aswad Simba Foluke






Vice-Presidente - Kinda







Secretário Executivo - Abede Foluke





Secretária - Makeda Foluke




Primeira Tesoureira - Aidan Foluke





Segundo Tesoureiro - Artur Rocha






Diretora de Comunicação - Dara Bamidele Foluke



quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Negros evangélicos debatem racismo e discriminação nas igrejas

RELIGIÃO
Entrevista- Jornal Ìrohìn -
"São 15 milhões de pessoas pretas de cabeça baixa nas igrejas, achando que são descendentes do continente do demônio", afirmou o teólogo Walter Passos, no I Encontro Nacional de Negras e Negros Cristãos, realizado em Salvador no mês de abril. A iniciativa foi do Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos (CNNC), organização que vem debatendo a questão racial em diversas igrejas evangélicas em todo o país há cerca de um ano. Passos preside o CNNC, que é composto por fiéis de igrejas como a Presbiteriana, Batista, Adventista, Assembléia de Deus e a Metodista tendo a participação, até então, de estados como Rio de Janeiro, Alagoas, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, São Paulo e Bahia. Criado a partir de debates e discussões por e-mails, o Conselho hoje vem promovendo encontros regionais, levantando o tema entre jovens e adultos negros - homens e mulheres evangélicas pelo país. Em entrevista, o presidente do CNNC falou ao Ìrohìn sobre este debate. Confira.


Jamile Menezes Santos, Estudante de Jornalismo da Faculdade da Cidade do Salvador jamyllem@hotmail.com

Ìrohìn - São 15 milhões de evangélicos negros no Brasil. O que pensa este contingente hoje quanto às suas identidades negras?
Walter Passos - Os evangélicos são os que têm um processo de negação maior quanto ao seu pertencimento à comunidade negra. A pobreza e a desorganização, além da falta de políticas públicas, fazem com que nosso povo procure o mínimo de bens materiais através dos sacrifícios (ofertas), negando seu próprio ser. A discriminação em nenhum momento é questionada e nas igrejas históricas, o racionalismo branco é imitado. Em todas as três correntes do protestantismo no Brasil, a máscara branca está desfigurando a essência dos pretos e pretas e esse fato é um anti-evangelho de Yeshua (Jesus), que foi o mais importante preto da história da humanidade.
Ìrohìn - De que forma isso é visto nas igrejas?
Walter Passos - No comportamento dos (as) pastores (as), por exemplo, que se explica na formação teológica: as faculdades e seminários são formadores de teologias excludentes, baseadas no medo e na negação das raízes africanas. Os sermões, que seriam o grande alimento das comunidades, se tornaram mecanismos de dominação através da palavra e demonização das culturas africanas. Há um processo de branqueamento escandaloso nas lideranças pastorais negras. O mais difícil de encontrar é pastores pretos casados com mulheres pretas, porque o padrão de beleza europeu é propagado dentro das comunidades. Tudo que é belo é branco e tudo que é demoníaco é preto, por exemplo. A direção das igrejas não está com as lideranças pretas. Na Bahia, qual o pastor preto consciente que pastoreia uma grande igreja? Se somos 15 milhões, deveria haver pelo menos 650 mil pastores (as) pretos. Acontece que para estudar teologia é necessário ter condições financeiras e nosso povo não possui essas condições.
Ìrohìn - O Encontro Nacional, realizado em abril, reuniu expressivas delegações de diversos estados. Existem singularidades quanto ao engajamento por região?


Walter Passos - As diferenças são evidentes. O estado da Bahia é o que sofre a maior discriminação, tendo também a maior organização de juventude afrocentrada e atuante. A Bahia é um imenso paradoxo, porque somos a maioria da população preta que guardamos grandes ensinamentos ancestrais e o estado onde há menos políticas públicas de combate à discriminação.
Ìrohìn - Qual o papel dessa juventude?
Walter Passos - A juventude afrocentrada do CNNC é a espinha dorsal da organização, como está sendo em todo o Movimento Negro Brasileiro. A diretoria do CNNC Bahia é composta de 100% de jovens, sendo um marco na nossa organização no Brasil. Os jovens não aceitam as mazelas que as igrejas têm feito com nosso povo e são os grandes questionadores, não sentindo tanto temor das lideranças das igrejas como os idosos e adultos.
Ìrohìn – E o que é que o CNNC traz para o debate junto a esse público?
Walter Passos - A nossa luta se dá dentro do cristianismo, que participou ativamente da formação ideológica do Brasil: legitimou, abençoou, traficou, explorou e enriqueceu com tráfico dos nossos ancestrais, mantendo ainda uma violenta discriminação em todas as igrejas, seja a católica ou a protestante. Sendo assim, debatemos a discriminação racial e a sua superação dentro das igrejas cristãs, a luta como entidade preta cristã contra todos os tipos de exploração na sociedade, a organização do povo preto cristão, a propagação e a prática do pan-africanismo, a formulação de uma teologia preta e a questão de gênero, pois sabemos que a mulher preta é a mais discriminada dentro do cristianismo, além de outros temas. Trocamos informações, literaturas, realizamos encontros e aprendemos a ouvir os especialistas negros, porque sabemos que não podemos confiar nos teólogos (as) brancos e seu academicismo, o que é ideológico e visa manter a dominação e escravização mental do povo preto.
Ìrohìn - Um ponto central nesta discussão, para vocês, é a Escola Bíblica Dominical (EBDs). Por que é importante questionar essa Escola?
Walter Passos - A escola bíblica dominical dentro das igrejas históricas e pentecostais tem uma função de grande importância que é a formação do membro da igreja. A EBD é uma escola com objetivo de branqueamento, pois leva as pessoas negras, desde pequenas, à negação de suas origens. Ela reforça os preconceitos, acaba com sua auto-estima. Reforça o machismo, ensina um Deus branco baseado no medo, cópia do senhor de engenho. É necessária uma reformulação das EBDs, mas, nessa estrutura de igrejas que existe, é muito difícil.
Ìrohìn - Por que então não fundar uma outra Igreja, criar uma outra Bíblia?
Walter Passos - A função do CNNC não é formar uma nova denominação evangélica, mas, atuar dentro das igrejas de forma contundente. Queremos fundar a Comunidade Cristã Pan-Africanista, onde poderão atuar livremente e louvar a Yeshua conforme a sua africanidade. O CNNC não é uma igreja, mas uma organização pan-africanista. O cristianismo que temos hoje no planeta, e inclusive em várias regiões da África, é um cristianismo caucasiano deturpado. Os teólogos brancos, com mestrados e doutorados, conhecem a verdade e não ensinam. Há interesse ideológico em se manter um povo dominado. Estamos escrevendo o livro Cristianismo de Matriz Africana, objetivando informar o nosso povo preto dessas verdades escondidas.
Ìrohìn - Como é a reação dos (as) negros (as) evangélicos (as) ao serem chamados para este debate em suas igrejas? Há reações mais ou menos adversas em alguma delas?
Walter Passos - As reações são as mais diversas possíveis, porque a catequese católica e a forma de evangelização que sofreram os nossos ancestrais foram violentas e hoje a violência é ideológica. Os negros cristãos no Brasil estão com os olhos vendados e temem o inferno ensinado pelos brancos. Tenho conversado com pastores de diversas denominações e lideranças que sabem da discriminação racial e ficam calados, sendo co-participantes e alimentadores das mentiras. Por isso o CNNC não acredita e não participa do chamado Movimento Negro Evangélico (MNE) porque é um movimento que se apóia em organizações e lideranças brancas. Outro fator importante é que a luta pela emancipação do povo preto tem que ter a base familiar, e ainda não vi a maioria masculina dessas lideranças do MNE levar suas famílias para as reuniões. Será porque as suas mulheres são brancas e eles têm vergonha de suas companheiras? Como podem liderar e falar da discriminação racial se a própria família não é participante? Acreditamos que os pretos têm que trilhar os seus próprios caminhos e ditar as regras de sua própria emancipação.
Ìrohìn - Há a participação da Igreja Universal do Reino de Deus no CNNC?
Walter Passos - A questão da IURD (Igreja Universal do Reino de Deus) é bem interessante. No censo do ano 2000, possuía 2.101.887 membros, possuindo um poder imenso de comunicação. A IURD tem como chamamento a idéia da maldição hereditária. Hoje os negros lá se sentem amaldiçoados, todos os seus problemas são resultantes do chamado encosto que vem acompanhando a família desde a África. Sendo assim, se toma “fácil” nessas igrejas a comunidade negra enfrentar os graves problemas sociais que a afligem. A presença crescente de descendentes de africanos nessas igrejas é conseqüência da constante expulsão que sofrem nas igrejas históricas, na conversão forçada ao catolicismo, na falta de reação das religiões de matriz africana e seus paralelismos e sincretismo. São co­locados fora dos muros do bem- estar social e as fronteiras sociais se manifestam também religiosamente. A realidade dos pretos nestas igrejas é de extrema preocupação: explorados financeiramente e crendo numa falsa libertação, vivenciam um processo de alienação de seus problemas. Odeiam sua própria cultura, rejeitam sua história e permitem que a memória de seus ancestrais seja ultrajada, recebendo o rótulo de “demoníaca”.
Ìrohìn - E quanto aos adeptos do Candomblé?
Walter Passos - A liberdade religiosa tem que ser defendida. O que notamos é que algumas pessoas querem falar pela religião do candomblé e repetem a prática branca de falta de respeito com os negros. Antes de sermos religiosos, somos pretos. Posso mudar de religião, de opção sexual e de ideologia. Só não posso deixar de ser preto-africano no Brasil.Ìrohìn - De que maneira o CNNC atua frente à intolerância religiosa de setores evangélicos contra as demais crenças de origem africana? Walter Passos - A nossa organização é contrária aos ataques perpetrados pelas igrejas evangélicas às crenças dos nossos antepassados e de nossos irmãos. Todas as igrejas evangélicas são desrespeitosas com as crenças de matriz africana. Há vozes proféticas em diversas denominações, mas a prática é de extrema violência e falta de respeito. Os pretos evangélicos não são os culpados pela falta de respeito, muitos são repetidores dos ensinamentos deformados das igrejas.
Ìrohìn - Pan – Africanismo e Religiosidade. Qual a relação e de que forma o CNNC vem integrando ambos os temas pelo Brasil?
Walter Passos - O Pan-Africanismo é a saída para a união do povo preto nessa diáspora forçada. Quando o CNNC se coloca como uma organização pan-africanista é para desmistificar a idéia pregada de ecumenismo das igrejas protestantes, baseado em palavras que mantêm nosso povo afastado de suas decisões “ecumênicas”. O Ecumenismo é a grande mentira das igrejas brancas. Temos que ter uma preocupação com o nosso povo e essa preocupação é um ato de espiritualidade e prática. Lutamos por uma organização de autogestão e o CNNC, com seu teor pan-africanista, acredita que o próprio povo tem que se libertar da segunda escravidão que o levou à inércia em relação aos seus próprios problemas.
Ìrohìn – Quais os principais resultados do Encontro Nacional?
WP - O Encontro Nacional foi uma grande vitória do povo preto, independente de religião, mostrando que podemos ter um objetivo de liberdade. As mulheres e homens pretos só podem louvar em comunhão quando aquelas e aqueles que se dizem irmanados na mesma fé de Yeshua reconhecerem que o racismo, antes de ser ontológico, é moral. Que temos o direito de desenvolver os nossos destinos através da nossa identidade africana, representado a nossa corporalidade através da nossa ancestralidade. Enquanto isso não ocorrer e houver a exploração da comunidade branca sobre o nosso povo, a comunhão não existe, porque estaremos mentindo para nós mesmos, enganando nossos jovens e alienando nossas crianças. Não há comunhão sem a real vivência do evangelho de justiça de Yeshua.

http://www.irohin.org.br/imp/template.php?edition=20&id=96

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PRETAS POESIAS

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