domingo, 25 de maio de 2008

DIANTE DO TRONO: AOS OLHOS DO PAI, A CRIANÇA PRETA NÃO ESTÁ NOS SONHOS DE DEUS?

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br


“ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele.” (Pv. 22:6).

A imagem da criança preta na história infantil e nos livros didáticos brasileiros sempre foi de estigmatização e preconceitos. Nos renomados literários brasileiros a criança preta é vítima das mais horrendas violências, já há algum tempo, contestadas por estudiosas (os) pretas (as), a exemplo de Ana Célia no livro: “A discriminação do negro no livro didático” e outras pesquisadoras (es) ligados a nossa comunidade. Necessário é afirmar que a resposta aos ataques e introjeções discriminatórias ao povo preto só pode ser dada corretamente pelo povo preto. As doenças provenientes da escravidão só nós, povo preto, temos a cura. Não podemos acreditar que os que fizeram nosso povo adoecer possam tê-la.
No que tange a educação religiosa protestante a situação é mais grave porque influencia o inconsciente e cria adultos traumatizados que perfazem um futuro de medo e culpabilidade por todo um processo de branquitude vivencial das igrejas protestantes brasileiras.
O trabalho contestatório ainda não surgiu de forma abrangente, nos faltam educadores (as) pretos que vivenciem a realidade eclesiástica e suas aberrações discriminatórias, sendo estes comprometidos na formação de uma pedagogia preta libertadora.
A luta do CNNC como a única organização cristã afrocentrista, panafricanista e defensora do cristianismo de matriz africana, tem ocorrido em diversas frentes, a priori contra a omissão do protestantismo e a propagação de ideologias que atingem diretamente as crianças pretas nas igrejas protestantes, uma das primeiras denúncias foi escrita pela irmã Aidan: O RACISMO NA ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL.

Na concepção protestante no Brasil, as representações bíblicas são baseadas na branquitude de uma forma tão sagaz que inclusive o leitor (a) neste momento pode refletir acerca do que vou pedir, respondendo as seguintes perguntas:
O que é um animal sem mancha? Qual era a cor de um animal para o sacrifício em Israel?
O que veio a sua mente? Obviamente pensou em um animal de cor branca. Porque tu estais dominado pela branquitude. A cor branca representando a pureza é ensinada para as nossas crianças. Ser branco é ser puro?
Um dos maiores grupos gospel no Brasil é o DIANTE DO TRONO, que já lançou 10 álbuns, tem mais de seis milhões de cópias vendidas, milhões de admiradores, chegando a ter no Orkut uma comunidade de mais de 300 mil pessoas, atualmente deletada.Já reuniu mais de 2.000.000 de pessoas em uma única apresentação, se apresentando por todo o Brasil, em Israel, Estados Unidos, Alemanha, Rússia, Inglaterra, Japão, etc. Com seu poder de comunicação encanta uma grande parcela da população preta protestante, não detentora da profundidade do discurso de racialização pregado por este grupo, ao afirmar em seus shows que as civilizações africanas e indígenas são demoníacas, e nós povo preto sofremos da maldição hereditária advinda dos nossos ancestrais, tema esse já postado nesse blogger: A MALDIÇÃO DE CAM – MENTIRAS PARA ESCRAVIZAR E EXPLORAR O POVO PRETO e BATALHA ESPIRITUAL – AS CRIANÇAS BRUXOS DO CONGO
Trabalhos realizados por este grupo tem se destacado especialmente voltado para as crianças no site: http://www.criancasdt.com.br/ e na comunidade do Orkut : “Crianças diante do trono”, com 54.445 membros, cujo apresentação é: “ dê produto cdt para os seus filhos, sobrinhos, alunos netos lembre-se quando ele for velho ele estará no caminho do senhor.semeie no coração das crianças.”


Crianças Diante Do Trono (54.545 membros)


Pesquisando detalhadamente as personagens Mico, Tonico, Bia, Ed, Bolota e Vareta, criadas pela equipe de divulgação infantil do Diante do Trono, notamos que nenhuma delas representa a comunidade preta e além do mais a idéia de pureza é representada pela brancura, observamos que ao se referirem ao cordeiro da Páscoa, há uma representação de um animal de pêlo branco, puro e sem defeito, enquanto os outros cordeiros são considerados defeituosos, por não serem brancos. O defeito do cordeiro não era a cor do seu pêlo. Esta representação semeia como o ideário da cor branca é introjetado na população preta protestante, como o belo e perfeito. Será esse um dos motivos que a maioria dos pastores pretos tenham ao seu lado a “perfeição”, a “beleza”, a “pureza”: a mulher branca?

Tenho conversado com diversas irmãs e irmãos pretos que almejam serem transformados após a ressurreição em pessoas brancas e loiras, quando conseguirem um novo corpo na Nova Jerusalém. Isso é muito sério: crianças, adultos e idosos almejando se tornarem brancos na nova vida. Quais são as causas que levam a esse desejo? O processo na igreja protestante brasileira é de mudanças estruturais no ser preto; um processo de auto-rejeição é ensinado e assimilado. A exemplo, lembro-me na infância de mulheres pretas cantando na Igreja Presbiteriana o hino Bendito Seja o Cordeiro, que em seu refrão, declara o desejo das pessoas pretas em tornar-se brancas:
Alvo mais que a neve,
Alvo mais que a neve!
Sim, nesse sangue lavado,
Mais alvo que a neve serei.
Importante também ressaltar, que ainda hoje o hino citado acima continua a ser cantado em todas as Igrejas Protestantes no Brasil por milhões de descendentes de africanos.
No site infantil do Diante do Trono é ensinado: “Jesus é como aquele cordeiro da Páscoa dos hebreus”. Menção expressa ao Cordeiro branco sem defeito, simbolizando que Jesus fora branco, logicamente ao ver deles, puro e sem defeito, modelo a ser seguido e aspiração a ser conquistada já e na vida futura. Reforçando também que todas as outras cores de pêlo dos animais são defeituosas e, por conseguinte todas as demais cores epiteliais dos seres humanos. Como fica a mente de uma criança preta que desde a infância aprende que a sua cor é defeituosa?


Um dos Clipes Musicais mais vistos do Diante do Trono é "Aos Olhos do Pai”, com a seguinte letra:



Aos Olhos do Pai

Composição: Ana Paula Valadão
Aos olhos do Pai
Você é uma obra prima
Que Ele planejou
Com Suas próprias mãos pintou.
A cor de sua pele.
Os seus cabelos desenhou.
Cada detalhe, Num toque de amor.
Você é linda demais!
Perfeita aos olhos do Pai.
Alguém igual a você, não vi jamais.
Princesa!
Nunca deixe alguém dizer que não é querida.
Antes de você nascer
Deus sonhou com você!

O Clipe repete a idéia caucasiana de contos de fadas, com meninas-princesas e castelo. Deus como um Pai Amoroso planeja e pinta a sua obra prima com toque de amor, fazendo-a perfeita:

“A cor de sua pele.
Os seus cabelos desenhou!
Cada detalhe,
Num toque de amor.
Antes de você nascer
Deus sonhou com você!”

Neste Sonho de Deus a população preta não é contemplada. A prática caucasiana de distorções dos fatos históricos e geográficos são alarmantes, tudo para europeizar acontecimentos em terras afro-asiáticas.
A menina não branca que surge rapidamente no clipe é um reforço ideológico de construção da idéia de mestiçagem que tem o branco como referência, cabelos alisados, poucos traços africanos, vestimenta européia, o sonho caucasiano tropical.
Cento e noventa pessoas comentaram o clipe e somente cinco entraram na questão da discriminação racial:
“A música é linda realmente! No entanto o videoclipe nào mostra nenhuma criança negra ou de cabelos crespos, só crianças brancas, olhos claros, cabelos lisos. Hipocrisia!”
“É muito lindo o vídeo, mas senti falta de criança negras. Em nosso país a diversidade e grande, devemos retrata-la. Como será que se sente uma criança que não se vê retratada diante do pai? Parece vídeo de gringo! Só tem crianças arrumadinhas.”
“Essa música toca muito no meu coração, quando a escuto me emociono muito pois me faz lembrar minha linda sobrinha, ela é uma criança negra e por isso já sofreu muito preconceito e quando a vejo triste canto essa música pra ela na mesma hora seu semblante de tristeza muda para um semblante de alegria por saber que é tão amada por Deus.”
“Esta música é o máximo...Minha filha tinha complexo,pois moramos num lugar de alemães,e ela é morena,bem clara,mas perto das amiguinhas dá diferença...Não sabia mais o que dizer,qdo me deparei com esta música...Hj ela se aceita muito mais que antes!!!Glórias a Deus pelo autor desta música!!!!”
“Eu só falei a verdade, por isso que incomodou. Sou evangélica e isse que a música é linda. só acho que poderiam ter colocado crianças reais, que se identificassem com a música.”
A cada dia aumenta o poder da comunicação dos protestantes brancos no Brasil, os quais repassam a sua concepção de mundo, de santidade, de beleza, da prosperidade e da vida futura. Neste processo urge que o povo preto protestante acorde desse pesadelo e tenha coragem de romper com essas estruturas. Não acreditem que essas instituições poderosas permitirão mudanças estruturais. Não sonhem, porque para eles não estamos nem no sonho do Pai.
Hoje é extremamente necessário que o povo preto protestante, não se engane acerca das mentiras propaladas por essas lideranças brancas religiosas protestantes, não aceite a comparação com o cordeiro defeituoso, e muito menos permita que nossas crianças sejam excluídas, por eles, da criação de Deus.
A verdade histórica é que as crianças pretas estão no sonho e na realidade de Deus. Na sua sapiência e benevolência criou o ser humano perfeito a sua imagem e semelhança. A humanidade original é cheia de melanina como Deus. Nós, o povo preto, somos o Sonho e a Realidade de Deus.

Dessa forma, o Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos, denuncia a racialização do pecado propagada por tais lideranças brancas, hipócritas, que apenas reproduzem o ideal da brancura dentro da comunidade preta cristã, a exemplo do que fizeram nesse clipe, negando a verdadeira essência da criação de Deus, do evangelho do Reino, e da pessoa de Yeshua: a essência africana.
Nós, do CNNC, desenvolvemos projetos de comunicação criados para e pelo povo preto, acreditamos apenas dessa forma, sem interferências, podemos através de uma mídia realmente livre responder a altura e informar ao nosso povo.
Se você quer participar desse projeto libertário de comunicação e acredita no nosso poder de organização, o convidamos, irmã ou irmão preto que entre em contato conosco, única organização cristã panafricanista e afrocentrista que não sofre intervenções de lideranças e nem orientações de organizações, bispos e pastores brancos, para mudança dessa realidade racista que vivenciamos no protestantismo.

terça-feira, 20 de maio de 2008

UMA MULHER NEGRA E SEU DIREITO DE SER

Reva. Cleusa Caldeira é pastora da

4ª Igreja Presbiteriana Independente de Curitiba, PR

(cleusacaldeira@hotmail.com)

Ao falar da mulher negra, precisamos entender que a nossa luta por libertação e emancipação requer de nós, mulheres e homens negros, bem como os que se simpatizam e se solidarizam com elas, que se leve em consideração todo o processo histórico sofrido por nós, mulheres negras. Porque o movimento feminista clássico e o movimento negro não contemplaram as diferenciações da luta da mulher negra. Se pretendermos falar abertamente sobre a opressão que a mulher negra sofre, teremos de aceitar que a história é marcada pelo androcentrismo, patriarcalismo e escravista. E que, em relação ao homem negro e à mulher branca, a mulher negra sofre duplamente com o preconceito. A minha história, enquanto mulher negra e pastora de uma igreja de tradição Reformada, tem-se caracterizado por luta e resistência. Desta forma, sinto-me forçada, pela necessidade, a buscar, nos quilombos modernos, ferramentas para resistir diante de tamanha opressão. Há, exatamente, 10 anos, recém chegada do interior do Paraná, buscava algo que nem mesma eu sabia o que era. No entanto, esse que a minha alma buscava, de um modo maravilhoso, se revelou a mim: Jesus! Imaginava que, a partir da experiência com Jesus, todos os meus problemas desapareceriam. Mas o desenrolar histórico me ensinaria que as lutas estavam apenas começando. Encontrava-me numa igreja de tradição Reformada na qual eu era a única mulher negra. Não poderia deixar de perceber essa gritante diferença. Ali, então, desencadeou-se um processo de reconstrução do meu ser. Era importante que eu pudesse perceber que, de fato, era diferente dos outros, mas não menos digna. A verdade é que, em última instância, o diferente somente encontra o seu sentido pleno naquilo que ele não é . Quando ainda no início da minha vida cristã, algumas das líderes da mocidade da igreja chegaram para o presidente dos jovens e questionaram a minha presença. Elas enfatizaram “que ali não era o meu lugar”. Lembro-me de Rosa Parks, militante do Movimento dos Direitos Civis nos Estados Unidos, quando ela se recusou a obedecer às leis municipais que exigiam a segregação nos ônibus. Há uma segregação mascarada na nossa sociedade e a igreja, muitas vezes, como legitimadora dos atos da sociedade, não é diferente. E, assim como Rosa Parks, eu precisava romper com essa segregação. E a minha permanência ali na igreja, contrariando aquelas jovens brancas, seria um modo de romper com essa segregação. Mas esse rompimento estava acontecendo, primeiro, dentro de mim. Todo movimento de emancipação é antecedido pela conscientização do sujeito. Porque, a princípio, eu também achava que ali não era o meu lugar. Quando fui para o seminário a fim de me preparar para assumir o ministério pastoral, as lutas se intensificaram. As mulheres brancas que lá encontrei não conseguiam conceber a idéia de ter que dividir o espaço com uma mulher negra. E lutaram para me tirar do seminário. Houve uma que gastava suas energias maquinando o mal para me tirar do seminário. Mas sempre resisti, permanecendo no lugar ao qual Deus me havia enviado. Não havia nada pessoal; agora, entendo isso. Tem a ver com a formação da nossa sociedade. Foi um tempo difícil até eu conquistar o meu próprio espaço no seminário. Depois de formada, teria que cumprir a licenciatura em alguma igreja. Não imaginava eu que a intensidade dessas lutas aumentaria. Enviaram-me a uma igreja que ficava numa cidade pequena e histórica, na qual a concentração de preconceitos é bem maior e onde as mentes estão mais fechadas para o novo. Uma pastora já seria difícil para eles. Mas uma pastora negra era inadmissível. Houve pessoas que chegaram a declarar que não gostavam de mim porque eu era negra. Nós, mulheres negras, não estamos lutando por ascensão social, mas, sim, pelo direito de sermos diferente. Tive muitos problemas naquela cidade pequena. Mas compreendo que tanto eles quanto eu estávamos sendo confrontados com séculos de história de opressão contra a mulher negra. A relação da sociedade escravista, da qual o Brasil se formou, colocou as mulheres negras num lugar subalterno na relação intragênero. E tudo isso fica muito claro nas relações que tenho vivenciado, principalmente na igreja. Não que o preconceito não estivesse presente antes; ele sempre esteve. Mas o que acontece é que Deus me fez sujeita de minha história; tenho olhos que vêem e consciência do processo histórico. Em outras palavras, fui liberta do jugo opressor que dizia que a mulher negra era inferior à mulher branca. E estou ocupando uma posição de destaque como pastora. Não estou, com isso, dizendo que nós, negras, estamos disputando alguma coisa com as mulheres brancas. Não! Estamos lutando, como está fazendo o movimento feminista clássico, por libertação e emancipação da mulher negra. Vejo que as pastoras brancas, entre si, não têm compreendido o movimento de emancipação da mulher. Porque, a partir do momento em que elas alcançaram um lugar que antes era destinado, exclusivamente, aos homens, deixaram de lutar por uma mudança verdadeira nas relações de gênero para concorrer entre si e com os pastores homens, na busca para ver quem é o melhor. Nota-se que aquele sentimento de disputa e opressão ainda continua movendo, principalmente, a mulher branca, o que faz com que tenhamos dificuldades para iniciar um diálogo intragênero. Mas houve também muita dificuldade com os meus colegas de trabalho, os pastores homens. Vejo que eles se sentem ameaçados com a minha presença. Na verdade, a minha simples presença no meio deles é um confronto direto com a suas mentalidade sexista, etnocentrista e classista. Houve colegas de trabalho que lutaram arduamente para me derrubar da minha dignidade. Mas nem mesmo eles conseguiram perceber tudo o que estava em jogo. Estamos falando de séculos de dominação. Estamos falando de androcentrismo, patriarcalismo e escravismo. Tudo isso tem influência nas relações que tenho experimentado enquanto pastora negra da IPI do Brasil. Mas creio que, se tenho vivenciado tudo isso, é porque o próprio Deus tem usado a minha experiência para transformar a mim e à própria denominação. Pois esta está inserida numa sociedade na qual 50% da população é negra. Já está mais do que na hora de abrirmos as portas para o povo brasileiro. Porque, quando a IPI do Brasil foi formada, a intenção inicial era a de fazer uma igreja para os brasileiros. Mas a pretensa supremacia européia importava na negação do diferente. A sua superação importará necessariamente na afirmação do diferente. Enquanto pastora negra, muitas são as minhas lutas. A todo tempo, vejo meus companheiros e companheiras fazendo piadas, insinuando que eu não sou capaz. É muito triste ver o que eles não conseguem ver. Eu posso deixar de ser e fazer qualquer coisa, mas nunca poderei deixar de ser mulher negra. E estou muito feliz porque toda essa experiência de negação do meu ser tem contribuído para a afirmação da minha identidade enquanto mulher negra.
Publicado no Jornal O Estandarte - Edição 119 - Abril 2008. Autorizado a publicação neste blogger pela Reverenda Cleusa Caldeira.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

A GUERRA DOS ESCRAVIZADOS PRETOS BATISTAS NA JAMAICA

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br

A ilha da Jamaica está localizada no mar do Caribe na América Central. O país foi colonizado pelos Espanhóis e posteriormente conquistado pelos ingleses. Estudos etnológicos mostram que o nome Xamayca (terra dos mananciais) foi dado à ilha caribenha pelos aruaques, devido à abundância de fontes existentes em suas luxuriantes florestas, alguns estudiosos a chamam de “terra de bosques e água”.

Os arawak foram os primeiros habitantes a ter contato com os europeus. Quando Cristóvão Colombo invadiu às Bahamas, o navio atraiu a atenção dos nativos que, maravilhados, foram ao encontro dos visitantes, a nado. Quando Colombo e seus marinheiros desembarcaram, armados com suas espadas e falando uma língua estranha, os arawak lhes trouxeram comida, água e presentes. Mais tarde, Colombo escreverá em seu diário de bordo:
"Eles nos trouxeram papagaios, trouxas de algodão, lanças e muitas outras coisas que trocaram por contas de vidro e guizos. Trocavam de bom coração tudo o que possuíam. Eram bem constituídos, com corpos harmoniosos e feições graciosas. [...] Não usavam armas, que não conheciam , pois quando lhes mostrei uma espada, tomaram-na pela lâmina e se cortaram, por ignorância. Não conheciam o ferro. As lanças são feitas de cana. Dariam bons criados. Com cinquenta homens, poder-se-ia submeter todos eles e fazer deles o que se quisesse".
Colombo, fascinado por essa gente tão hospitaleira, escreverá ainda: "Desde que cheguei às Índias, na primeira ilha que encontrei, peguei alguns indígenas à força para que eles aprendam e possam me dar informações sobre tudo o que poderíamos encontrar nestas regiões". Leia Mais
A Jamaica foi reclamada pela Espanha depois de Cristóvão Colombo a ter invadido em 1494. Colombo usou a ilha como propriedade privada da sua família. Os ingleses conquistaram-na em 1670. Durante os primeiros 200 anos de domínio britânico, a Jamaica tornou-se o maior exportador mundial de açúcar, o que se conseguiu pelo uso maciço de trabalho escravizado africano.
No início do século XIX, o número de pretos era quase 20 vezes maior que o de brancos.
A conquista pelos caucasianos da ilha da Jamaica foi seguida de destruição da civilização dos aruaques em um dos genocídios mais violentos perpetrados nas Américas, e de exploração aos africanos e seus descendentes, com castigos horrendos, torturas e assassinatos, inclusive queimando vivos membros da comunidade escravizada, o incrível que eram protestantes e falavam do amor de Cristo e serviam a Sinagoga de Satanás.

PASTOR SAMUEL SHARP

Samuel Sharp nasceu na Jamaica em 1801 foi um homem letrado, estudioso e pastor da Igreja Batista. Ledor de diversos jornais ingleses observou que deveria implementar mudanças e liderar o seu povo e não confiar nos escravizadores. Ele passou a maior parte do seu tempo viajando para diversos estabelecimentos em St. James educando os escravizados sobre cristianismo e liberdade, formou uma sociedade secreta e se reunia a noite para planejar a luta pela emancipação; explicava o plano aos seus partidários escolhidos após as reuniões religiosas e os fazia beijar a Bíblia para mostrarem sua lealdade. Os participantes repassavam às outras paróquias, até que a idéia se espalhou ao longo de Saint James, Trelawny, Westmoreland, e até mesmo Saint Elizabeth e Manchester. Um orador de extrema sapiência que contagiava a platéia e usando palavras bíblicas afirmava que” os brancos não podiam escravizar os pretos como os pretos não podiam escravizar os brancos”; quem ouvia as suas pregações ficavam extasiados e felizes porque sentiam nele a presença do Espírito de Deus. O Espírito da Liberdade.

A GREVE GERAL E A GUERRA DOS BATISTAS PRETOS
O pastor Samuel Sharp planejou uma greve geral para ocorrer três dias depois do natal de 1831, a sua proposta foi de uma resistência pacífica contra os escravizadores, e sabia que devia está preparado para o confronto armado. O plano chegou ao conhecimento de alguns fazendeiros, e foram enviadas tropas à Saint James e navios de guerra eram ancorados em Montego Bay e Black River com as armas apontadas para as cidades. A rebelião durou oito dias e se espalhou por toda a ilha da Jamaica, resultando na morte de cerca de 190 africanos e 14 plantadores brancos ou superintendentes.

A VINGANÇA BRANCA
Houve mais de 750 condenações de escravos rebeldes, dos quais 138 foram condenados à morte. Muitos foram enforcados, as cabeças cortadas e colocadas nas lavouras. A maior parte das pessoas que escapou da condenação à morte foi brutalmente castigada e, em alguns casos, a punição a foi tão dura que eles não sobreviveram.
O Pastor Samuel Sharp cumpriu a sua missão como um verdadeiro pastor, sendo capturado e enforcado em na Praça Charles - Montego Bay em 23 de maio 1832.
No momento da sua morte ele disse: “Eu prefiro morrer enforcado a viver como escravo.”

HOMENAGEM DO POVO JAMAICANO
A luta dos batistas jamaicanos não foi em vão, em 01 de agosto de 1834 a escravidão terminou na Jamaica, conquistada pelos próprios escravizados. O povo jamaicano não esqueceu o pastor Samuel Sharp, relembrado como “Papai Sam Sharp” e inúmeras homenagens lhe são prestadas:
Em 1975, após a independência, Sam Sharpe foi feito um herói nacional e em sua honra esta praça foi renomeado Sam Sharpe Square.

Em sua homenagem, também está o retrato na nota de cinqüenta dólares Jamaicanos.

O povo jamaicano também homenagea A GRANDE NANNY QUILOMBOLA - A MÃE DA JAMAICA

CONCLUSÃO
O exemplo do pastor batista Samuel Sharp mostra-nos que a união do povo preto é essencial para a conquista da liberdade. As igrejas no Brasil conseguem manter através dos discursos milhões de descendentes de africanos na inércia, sonhando e esperando uma vida futura pós-morte de felicidade. Conseguiram criar batalhões enfurecidos para combater as religiões de origem africana, usando-nos como marionetes para perpetuar o racismo. Já passou o tempo do povo preto construir as suas próprias igrejas, pois as provas são incontestes que milhões estão marginalizados. As igrejas no Brasil conseguiram subjugar pastores e pastoras pretas que a todo o momento se acovardam e colocam vendas brancas nos olhos e continuam amendontrados (as), temerosos de usarem os púlpitos e a exemplo de Samuel Sharp levar a mensagem do Reino de Deus que é contra toda a injustiça.
Sharp declarou que o cristianismo não aceita opressão. Infelizmente, o cristianismo embranquecido se tornou escravidão para milhões de brasileiros pretos. A mensagem de Yeshua só é verdadeira se pregar a liberdade.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

QUILOMBO, EVANGELIZAÇÃO E CONTRADIÇÃO CULTURAL

Kelly, 23 anos, recém-casada. Pseudônimo Nzinga Mbandi.

Localização: O Quilombo Campinho da Independência está localizado ao sul do Estado do Rio de Janeiro, a 20 km da cidade de Paraty, entre os povoados de Pedras Azuis e Patrimônio. É banhado pelo rio Carapitanga e servido por cachoeiras e pela exuberante Mata Atlântica.
Histórico: A origem do Quilombo Campinho da Independência é muito peculiar. Todos os moradores são descendentes de três escravas: Antonica, Marcelina e Luiza. Segundo as histórias contadas pelos mais velhos as três não eram escravas comuns, pois tinham cultura, posses e habitavam a Casa Grande. Conta-se que no local existiam grandes fazendas, sendo a Fazenda Independência a mais importante. Após a abolição da escravatura os fazendeiros abandonaram suas propriedades e as terras foram divididas entre aqueles que nela trabalhavam.


Eu nasci, cresci, vivi e vivo até hoje em um quilombo, logo, sou quilombola. Já nasci em um lar cristão, nunca fui de outra religião.
Até certo momento da minha vida, confesso que achava que deveria separar a religião da cultura. Nós temos festas comemorativas que acontecem anualmente: dia de São Benedito, Festas Juninas e Julinas, Encontro da Cultura Negra e etc, aonde são dias em que quase toda a comunidade se reúne para se alegrar, dançar, brincar, sorrir... Mas esse evento é freqüentado apenas pelos católicos da região.
Meu quilombo é formado por 400 pessoas, sendo boa parte delas membros da Igreja Assembléia de Deus, onde se encontra mais problemas na hora de “liberar” seus membros para quaisquer eventos “mundanos” no quilombo. Temos a Igreja Batista da qual sou membro. O pastor nunca fica sabendo para onde vamos e o que faremos lá, pois ele também é contra essa mistura de religião com cultura. Acontece se passarmos muito tempo freqüentando esses eventos e festas e sermos excluídos, bem mais pra frente, por intermédio de “irmãos” que vão até o pastor criticar nossa “má conduta”. Existe aqui também, como já falado anteriormente, a Igreja Católica, que é a que está mais presente em tudo. E temos umas duas, três ou mais pessoas que são admiradores ou até mesmo seguem Umbanda e Candomblé, ressaltando que, não temos terreiro em nossa comunidade. Já tivemos um, mas a pessoa que o mantinha não mora mais em nosso quilombo e a grande vontade dos que a esta, é reconstruir um templo, um terreiro por lá. Com certeza, haverá “quebra-pau”, pois o preconceito ainda é muito grande. Se me perguntarem o que eu acho de tudo isso, eu responderia que não tenho nenhuma opinião formada a respeito. A evangelização nos dividiu demais, não somos unidos como deveríamos ser. Tínhamos conseguido resgatar o jongo depois de um considerável esforço e hoje ele já não existe mais tão fortemente como antes, pois a maioria dos componentes era da Assembléia de Deus e o pastor os impedem completamente de continuar a fazer parte, assim como também no futebol.
Temos um grupo de Hip Hop, aonde no penúltimo evento que nos apresentamos, não contamos com a presença de um dos componentes que nos “deixou na mão” sem prévio aviso e logo quando contatado, disse que seu pastor (Assembléia de Deus), achou melhor que não fosse tocar conosco. Ele é do grupo já há um tempo, e hoje não sabemos se ainda o é. O que falta é reunião para redefinir.
Aos poucos, tudo vai sendo destruído pela forte “pressão religiosa”. E sobre isso, eu tenho uma opinião formada. No passado, Yeshua não falou em evangelização. As palavras de Yeshua foram mudadas conforme os europeus quiseram. Yeshua veio pra fazer a diferença. Assim como veio Ghandi, Tchê Guevara, Zumbi, esses nomes tão fortes e ilustres. Yeshua falou em amor, união, paz. No Velho Testamento, vemos passagens de sacrifícios/oferendas que eram oferecidos a Deus e, claro, ainda hoje o sacrifício é realizado. Ao contrário do que dizem, ele não é, nunca foi e nunca será pecado. Por acaso é pecado oferecermos a Deus nossas vidas, nossas casas e tudo o que temos? Por um acaso é pecado oferecer o meu animal mais forte, mais bonito e vistoso a Deus? Eu me disponho a responder: Não. Não é!
Isso foi à forma mais fácil que os europeus encontraram de começar a conversão, a mudança, e transformar a nossa religião, a religião dos pretos, em uma religião abominável como hoje o é aos olhos de muita gente. Aos poucos foram excluindo isso e aquilo e quando demos conta, já estavam lá, suspendendo a imagem de um Yeshua branco, ensangüentado, totalmente diferente da realidade. Começaram a apelação: Se não creres, se não vieres até ele, será lançado no inferno juntamente com o diabo. Diabo... está aí outra criação deles para conversão pelo temor. No quesito artístico, tenho que admitir, eles tiveram talento e criatividade. É muito fácil conseguir arrastar milhares e milhares de “fiéis” para os bancos das igrejas alegando que se morrerem sem estar em “comunhão” com Deus, irão para o inferno. Só não percebe que isso é completamente inviável quem não quer. Mas não pretendo falar sobre diabos e demônios agora.
Deixe-os para aqueles que adoram os invocar e fazem questão de trazê-los pra dentro das igrejas gritando pelo seu nome e fazendo fileiras de oração depois do culto com as mãos postas sobre as cabeças, dando show de graça para todos que quiserem ouvir, e também ver as pessoas se contorcendo no chão, duros e fazendo caretas. Eu sou amante de psicologia e sei bem que, mexemos com energias, nosso corpo sempre responderá positivamente a um comando, pois somos energias. Isso se chama Hipnose.
Acho engraçado, as pessoas vão até a igreja sem problema algum e muitas das vezes saem pior do que entraram, com o corpo totalmente sobrecarregado (Claro! Depois de uma sessão de espiritismo, não tem como ser diferente). Absolutamente nada contra os espíritas, mas é que em muitas igrejas, me sinto sentada em uma “mesa branca” assistindo todos os espíritos baixarem. Muitas igrejas trabalham desta forma, “acham lindo”, e ainda “metem o pau” nos espíritas e macumbeiros. Por que será? A forma de trabalho é praticamente a mesma, não consigo ver muita diferença. Acho que a única, é que os espíritas assumem que são espíritas.
Eu, como protestante preta, não mais sigo o Cristianismo enquanto instituição. Eu sigo o Cristianismo de Matriz Africana. Esse acaba com o ódio que muitos sentem do cristianismo enquanto instituição, que é uma religião que massacra, aterroriza, impede as pessoas de serem felizes e as obrigam a viver sob fortes regras, as transformando em bonecos de corda, marionetes.
Em um Domingo, presenciei um irmão de a igreja pedir que oremos, pois nossa igreja está sendo perseguida sem um porquê. Agora eu pergunto, sem um por quê? Absolutamente! Claro que tem um porque. Qual a religião que sempre invadiu terreiros nessa vida? Qual a religião que sempre deu showzinho em público quebrando imagens de santos? Que religião segue o prefeito de Salvador que mandou derrubar todos os terreiros? Eu respondo: O Cristianismo enquanto instituição. Muitos crentes vieram me dizer: “Ah, mas não podemos ser todos incriminados por uma coisa que só esse prefeito fez”. Quando me voltei pra essa pessoa e perguntei se ela achava que o prefeito estava errado, não soube me dizer. Ou seja, considera apelação do prefeito, mas acha que ele está no caminho certo.
Infelizmente, tudo isso reflete dentro do meu quilombo. O mesmo preconceito!
E eu digo, é possível sim, crer em Cristo e manter as tradições. Por mais que muitos pensem o contrário, Cristo está mais próximo das tradições do que imagina e um dia essa verdade, irá ser revelada para rompimento do sofrimento do meu povo preto. Eu creio!
Graças à capacitação de historiadores, esse mistério vem sendo desvendado com certezas. E o rancor, o ódio de algumas pessoas de outras religiões, vem sendo quebrado. Vão percebendo que os europeus se apropriaram do cristianismo e o transformaram em uma religião violenta. Falo com bases nas posturas de meu marido hoje, comparando com as que ele tinha assim que nos conhecemos e começamos a namorar. Tinha pudor, tinha ódio do Cristianismo e hoje, não mais. Não é seguidor de Umbanda, mas falo sem nenhuma vergonha que suas crenças são voltadas pra tal. Nem falava no nome de Jesus de tanto ódio. Hoje me deparo com frases como estas: “Fulano está de um jeito que só Jesus”. E pra isso, não precisei evangelizá-lo. Até seu irmão, que antes tinha o mesmo pudor do Cristianismo, me deparei com uma comunidade em seu Orkut que diz: “Jesus! Eu te amo!” Tudo isso, graças ao desvendamento que se vem dando em relação a isso.
Acho o máximo. Vejo o progresso, graças a Deus! E é disso que precisamos: união entre o povo preto e não precisamos arrastar ninguém de uma religião à outra pelos cabelos.

Deus há de julgar a todos com sua benevolência. Só me pergunto: Como Deus julgará civilizações que usando o seu Santo nome trucidaram 200 milhões de seus filhos e filhas na África e seqüestraram quase 30 milhões para as Américas? Qual será o julgamento para a escravidão de homens e mulheres que se apropriaram da força de trabalho, mudaram as línguas, os nomes, costumes e cometeram atrocidades inimagináveis? Que enforcaram milhares de negros e depois foram para os cultos como nada tivessem feito, com sensação de missão cumprida, com “a alma limpa”, simplesmente por acharem que haviam feito um grande favor pra Deus, matando estes filhos do demônio. Já chegaram a dizer que Deus é branco e que o diabo é que é preto. Quem foram os seguidores e adoradores do diabo e satisfizeram os desejos do mal, foram os seqüestradores ou os meus ancestrais que viviam nas suas florestas e savanas, fazendo seus cultos nos terreiros em paz?
As civilizações ocidentais que se diziam seguidoras de Yeshua foram tão perversas, que hoje, a maioria de nossos irmãos e irmãs se calam, sendo subserviente com medo de clamar e lutar por justiça, porque se consideram descendentes de amaldiçoados e acham que a vontade dos opressores é a vontade de Deus. Veremos!
Grande Asè!




Jongo - Quilombo Campinho da Independência

terça-feira, 29 de abril de 2008

OS DALITS DA ÍNDIA - A MAIOR POPULAÇÃO PRETA DO PLANETA

* Todos as fotos postadas no texto são dos Dalits.

Por Walter Passos.
Teólogo, Historiador, Pan-africanista e Afrocentrista
Skype: lindoebano
Facebook: Walter Passos
Pseudônimo: Kefing Foluke.
Há um equívoco dos estudiosos, repetido incessantemente pela mídia e a todo o momento por militantes sobre a população preta do mundo, um desconhecimento e negação do Afrocentrismo e do povoamento da população preta no planeta. Se você for responder a indagação: Qual é o país que detém a maior população preta? E qual é o segundo? Imediatamente você responderá: O primeiro país em população preta do mundo é a Nigéria, na África, e o Brasil está em segundo lugar. Neste texto você descobrirá o quanto foi mal informado e há anos reproduz esses ensinamentos errôneos em salas de aula, nas reuniões do Movimento Negro, na conscientização dos pretos e pretas e até nas conversas informais.
Pode-se esperar por incessante negação do Afrocentrismo e do povoamento da população preta no mundo, seja ensinado que o país  que há mais pretos e pretas localiza-se na África, e o segundo, na América, por consequência do sequestro de homens, mulheres e crianças, prisioneiros das guerras e escravizados em território africano, forçados  ao regime de escravidão. Entretanto, o que te surpreenderá é que o maior país de população preta do planeta não está localizado no continente africano e nem nas Américas.
A Índia é um país localizado no centro-sul do continente asiático, com uma população de hum bilhão e 130 milhões de habitantes, este é o país com a maior população preta do planeta. Com 250 milhões de pretos e pretas, a Índia supera a população da Nigéria formada de 135 milhões de pessoas e do Brasil com 186 milhões de habitantes, ou seja, a população preta da Índia é maior que toda a população do Brasil e duas vezes a população da Nigéria.
Quem são esses pretos da Índia? Como a habitaram? Qual o interesse em negar sua existência? Só através do Afrocentrismo é possível ter esse conhecimento lato das populações pretas no planeta por entender e provar as diversas diásporas voluntárias de africanos. É através do Afrocentrismo que os africanos e africanas em diáspora e na África podem verdadeiramente compreender a dinâmica da colonização e povoamento africano em todo o mundo.

ORIGEM DA POPULAÇÃO PRETA NA ÍNDIA
A história das populações pretas na Índia remonta há milhares de anos, são originários das grandes migrações Etíopes e Egípcias para o Vale do Indos. A contribuição de Runoko Rashidi é primaz para esse entendimento. Segundo Rashidi, no século I a.C, o famoso historiador grego Diodoro da Sicília descreve a presença dos pretos na Índia: "Da Etiópia ele (Osíris) passou pela Arábia, mediante ribeirinhos do Mar Vermelho, tanto quanto na Índia... Ele construiu muitas cidades da Índia, um das quais ele chamou de Nysa, disposta a ter recordação de que (Nysa) no Egito, de onde ele se originou."E continua informando que outro importante escritor da antiguidade, Apolônio de Tiana, que visitara a Índia perto do final do primeiro século, estava convencido de que "Os etíopes colonizaram a Índia, e seguiram a tradição dos seus antepassados em sabedoria."
A obra literária dos primeiros cristão, escritas por Eusébio preserva a tradição que "No reinado de Amenophis III [o mais poderoso faraó da XVIII dinastia egípcia] um grupo de etíopes migrou de um país do Indos, e se estabeleceram no vale do Rio Nilo". E ainda outro documento de tempos antigos, o Itinerarium Alexandri, diz que "Índia, como um todo, e à Pérsia, é uma continuação do Egito e dos etíopes."A população preta da Índia, os Dalits atuais, é descendente de civilizações desenvolvidas que foi vitima da Chamada Grande Invasão Ariana em 1.500 a.C., que se apropriou do território, conhecimento filosófico da população preta e criaram um sistema de castas baseados na cor da pele e o revestiu religiosamente (Hinduísmo) para humilhar e escravizá-la economicamente.

CONHECENDO OS DALITS - A população de pretos na Índia é superior as populações da Inglaterra, França, Bélgica e Espanha e superior as populações pretas do Brasil e Nigéria também juntas.
O termo "dalit" tem raízes em sânscrito onde a terminação “dal” é usada para dividir, abrir, corromper. O vocábulo "Dalit" está relacionado a coisas ou pessoas que são cortadas, rachadas, quebradas, dispersas ou esmagadas e destruídas.
Por coincidência, existe a mesma terminação em hebraico significado baixo, fraco, pobre. Na Bíblia, diferentes formas desta expressão foram usadas para descrever pessoas que foram reduzidas a nada ou desamparados.
Com a invasão britânica na Índia foram criadas as chamadas castas programadas, com a aliança dos britânicos com a minoria que governava a Índia. Os pretos da Índia e Nepal são os mais discriminados do planeta, e por isso muitos têm se convertido ao islamismo, por causa de suas propostas de igualdade e liberdade.
Os dalitis nesses países são excluídos de todo o bem comum, todos os dias três mulheres dalitis são violentadas e obrigadas a se prostituírem; as crianças dalitis sentam na parte detrás das escolas ou assistem aula fora da sala, a cada duas horas uma casa de dalitis é incendiada; 66% dos dalitis são analfabetos e a mortalidade infantil chega a 10%.
No Nepal os pretos são 25% da população. A maioria dos dalitis é proibida de beber a mesma água que bebem as castas superiores. As mulheres dalitis de Badi são obrigadas a se prostituir e são consideradas piores de que um cão vivente de rua.
Com a opressão dos povos pretos da Índia, herdeiros de uma das maiores civilizações, a Harappan, hoje destituída do direito a dignidade e a uma vida de igualdade. Como conseqüência dos arianos se apossou de seus ensinamen­tos, fatos esses ocorridos com a África, berço dos grandes pensamentos filosóficos mundiais e das grandes religiões. Por último, o projeto Genoma Humano análise do DNA na composição dos seres humanos tem produzido evidência científica indicando que a origem genética das castas superiores na Índia é mais européia do que asiática.
Leia mais: http://www.dalitnetwork.org/go?/dfn/blog/2007/04/

FATOS SOBRE OS DALITS:
• A cada dia, três mulheres Dalits são estrupadas (leia Jovem Dalit estrupada e queimada até a morte);
• Crianças Dalits são freqüentemente forçadas a sentarem de costas nas suas salas de aula, ou mesmo fora da sala;
• A cada hora, duas casas de Dalits são queimadas;
• A maioria das pessoas das castas altas evitarão terem Dalits preparando a sua comida, por medo de se tornarem imundos;
• A cada hora, dois Dalits são assaltados.
• Em muitas partes da Índia, Dalits não são permitidos entrar nos templos e outros lugares religiosos;
• 66% são analfabetos;
• A taxa de mortalidade infantil é perto de 10%;
• 70% são negados o direito de adorarem em templos locais;
• 57% das crianças Dalits abaixo da idade de quarto anos estão muito abaixo do peso;
• 60 milhões de Dalits são explorados através do trabalho forçado;
• A maioria dos Dalits são proibidos de beber da mesma água que os de castas mais altas.
Em agosto de 1972, os Dalit Panthers anunciaram que o 25 º aniversário da independência indiana seria celebrado como um dia de luto.
É necessário que todos os pretos e pretas na África e na diáspora denunciem em todas as estâncias a situação da maior população preta do planeta confinada na Índia. Não podemos ficar calados (as) com a opressão de mais de 250 milhões de pessoas de ascendência africana.



Typical Southern India Village
I'm Dalit, how are you



ACESSE PRETAS POESIAS:

domingo, 27 de abril de 2008

LIVRO AFRO-REFLEXÕES


Por: Ulisses Passos. Acadêmico de Direito, Pan-Africanista e Presidente do CNNC/BA. Pseudônimo: Aswad Simba Foluke. E-mail: ulisses_soares@hotmail.com



DESCRIÇÃO
O Livro Afro-Reflexões de Walter Passos é voltado para a resignificação africana, a mudança dos conceitos eurocêntricos e um olhar afrocentrado e panafricanista. Este é, sem dúvida, um importante instrumento para o povo preto na diáspora. Serve como reflexão e introspecção ao pensarmos à nossa ascendência africana.
Com linguagem acessível o livro contém diversas reflexões acerca do dia-a-dia do povo preto. São temas cotidianos vislumbrados com uma nova perspectiva, em que o autor faz uma reflexão sobre a capa dos cadernos dos estudantes, nomes e sobrenomes da família preta, os relacionamentos amorosos, discute o mulatismo, discorre sobre o Cristianismo de Matriz Africana, a esperança da Nova Terra, a mulher preta na Bíblia, o medo das crianças pretas no Brasil, analisando o discurso de dominação e preconceitos entre outros temas de grande relevância.
Um ótimo presente para todas as idades proporcionando momentos de reflexões que mudarão sua perspectiva de enxergar o mundo.

LEIA ALGUNS TRECHOS DO LIVRO AFRO-REFLEXÕES:
O NOVO NOME A NOVA TERRA
“Essa transformação na Nova Jerusalém é um dos motivos da nossa fé, é uma das maiores esperanças da igreja, um dos maiores sonhos onde verdadeiramente todos seremos iguais, sem opressão de gênero, sexismo e racismo. Sem as importâncias intelectuais, onde os títulos obtidos nessa existência de nada valerão, mas, a fé advinda do próprio Deus, o doador da fé que nos foi dada através de Yeshua. O qual nos preparou um lugar antes da fundação do mundo, e esse lugar é a África reconstruída”.

OS MEDOS DAS CRIANÇAS
“As crianças brancas falaram abertamente que não tinham medo do bicho-papão, mas de adolescentes que vivem nas favelas e, com eles, a violência; as crianças negras tinham medo da violência de onde viviam, e uma das meninas negras dizia que os violentos eram da cor epitelial dela. Incrível essas descrições formuladas pelos detentores do saber: as crianças.”

DISCUTINDO O MULATISMO
“A ideologia do branqueamento criou cores epiteliais, estigmatizou os mestiços e assim muitos querem ser aceitos pela sociedade, reprimem e repreendem a sua identidade afro.
O racismo no Brasil foi muito bem elaborado, diferente do que ocorreu no USA aonde o racismo se determina por origem, sua ascendência preta determina se você será ou não discriminado racial, enquanto aqui à cor da pele determina o que nós somos, e o mestiço no Brasil não sabe na verdade o que é, não são culpados.”


SOLIDARIEDADE NA DIÁSPORA
“Nós pretos na diáspora africana perdemos muito do ato solidário através da escravização e forçadamente aprendemos a pensar e agir como os europeus ocidentais que invadiram o continente africano e seqüestraram os nossos antepassados, os escravizando, e nós os seus descendentes, esquecemos muito do referencial solidário vivenciado na África - Mãe e com os nossos ancestrais em terras afro-americanas. Os caucasianos nos ensinaram a olhar o nosso legado cultural com os olhos deles, articular o pensamento com as filosofias européias, como se não tivéssemos conhecimentos filosóficos antes da Europa...”


SOBRE O CRISTIANISMO DE MATRIZ AFRICANA
“A grande questão é a desinformação que o cristianismo é uma religião de matriz africana, isso se deve ao desconhecimento da África, felizmente os mais sérios pesquisadores e panafricanistas, sendo alguns deles seguidores do candomblé já afirmam categoricamente essa verdade: O Cristianismo é de Matriz Africana.
Os europeus se apropriaram do cristianismo e o transformaram em uma religião violenta que entre os seus momentos brancos instituiu as cruzadas, a inquisição, a escravidão dos povos africanos e a destruição de civilizações ancestrais em terras da Oceania e das Américas.”


O AMOR ASSENZALADO
"O homem e a mulher preta precisam se reencontrar fora da senzala e reconstruir no útero do ser preto um novo relacionamento de respeito e amorosidade, lembrando sempre que somos frutos de um amor depreciativo formulado nas senzalas da escravidão. Não estamos mais abandonados e jogados na fétida senzala de amores depreciativos, por isso não devemos ter medo de amar. O amor deve ter início na auto-afirmação do ser preto..."

DADOS TÉCNICOS:
Edição: Independente
Ano: 2008
Número de páginas: 150
Formato: Médio

segunda-feira, 21 de abril de 2008

PENTECOSTALISMO E O DESPERTAR DA AFRICANIDADE

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br
É de suma importância o Movimento Pentecostal, posto que é um fenômeno religioso de amplitude e possuidor em sua maioria de membros pretos. O interessante é que análises simplórias e discriminatórias de estudiosos o colocam diferenciado de outras igrejas protestantes, com análises ermas de dentro para fora e com olhares eurocêntricos e uso de instrumentos metodológicos os quais não permitem compreender valores africanos em sua formação e resistência aos valores europeus originários da Reforma do século XVI.
Toda a minha infância e adolescência foram bipolares, vivendo na Assembléia de Deus e na Igreja Presbiteriana. Quase em frente a casa onde cresci no município de Queimados-RJ ainda há uma grande igreja Assembléia de Deus a qual possuia cânticos alegres, manifestações espirituais de origem africana, com instrumentos não convencionais na concepção reformada e uma plenitude de pretos e pretas.
Quando falamos em consciência e escravização mental nas questões raciais colocamos no bojo todas as religiões praticadas no Brasil, porque parto dessa premissa, não há nenhuma religião no Brasil independente dos graves momentos de aumento de falta de respeitabilidade a cultos de matriz africana, que tenha em sua formação e reuniões de lideres para o combate a discriminação racial de forma organizada, e uma proposta de poder político para o povo preto sendo uma viés o caráter religioso, baseado nos princípios do Panafricanismo.
O mais recente movimento pentecostal nos USA foi um processo de despertar da africanidade, uma negação das concepções brancas de cultos e de valores eurocêntricos litúrgicos e de interpretações da divindade por um pequeno grupo de eleitos que dominam o saber teológico, possível somente pelo passar das faculdades teológicas que permitem entender o sagrado e suas manifestações somente através dos estudos acadêmicos. O pentecostalismo reage a essas concepções do distanciamento de Deus pela necessidade da própria ancestralidade, de sentir e exercer a espiritualidade de uma forma mais parecida com os seus valores ancestrais africanos, e não com a letargia caucasiana de climas gelados e cânticos anglo-saxônicos e germânicos, tornou-se necessário africanizar a Igreja e resistir às pressões raciais da fé reformada européia, tanto assim que o movimento pentecostal surge de maneira abrasiva com “O Chamado Avivamento da Rua Azusa, ocorrido em Los Angeles, nos EUA, há 100 anos, foi um dos mais importantes movimentos evangélicos da história da Igreja. No raiar do século 20, a sociedade americana, impregnada pelo racismo, presenciou uma onda carismática varrer as igrejas do país. E à frente do movimento estava justamente um pastor negro, William Joseph Seymour. De origem humilde, cego de um olho e sem formação escolar, Seymour chegou a ser discriminado na igreja - para assistir aulas numa escola bíblica freqüentada por brancos, ele tinha que se sentar no corredor, enquanto ouvia as explicações através da porta entreaberta da sala.
Após ser expulso de uma congregação afro-americana por pregar a doutrina pentecostal, Seymour iniciou uma série de reuniões inter-raciais em uma residência particular. A medida que a notícia sobre curas e milagres espirituais se espalhou, cresceu também o número de pessoas nos cultos. O grupo então mudou-se para uma estrebaria desativada na Rua Azusa. Ali, pessoas de todo o país e até do exterior vinham presenciar a manifestação do poder de Deus.
Apesar do avivamento, a questão racial provocava situações bizarras. Seymour tinha o cuidado de dispor os bancos em círculo, para que os freqüentadores negros não dessem as costas aos brancos, o que era considerado ofensivo. Como nem todos os crentes brancos aceitavam que o pastor orasse por eles, Seymour, para evitar constrangimentos, costumava ajoelhar-se atrás do púlpito feito com caixas de sapatos e orar dali. Enciumados da liderança espiritual exercida por aquele negro, os outros pastores da cidade passaram a evitá-lo. Seymour não era convidado para pregar nem participar de convenções. Quando ia a um culto, sequer tinha sua presença anunciada. Mesmo assim, William Seymour continuou com a missão da Rua Azusa - que se tornou uma igreja quase toda negra - até sua morte, em 1922".
(Marcos Stefano) Revista Eclésia Edição 108 2005
Azusa Street Revival

No Brasil está resistência continua liturgicamente e de cultos totalmente africanizados nas manifestações espirituais, assista esse vídeo:
VIGILIA DO RETETE NA ASSEMBLÉIA DE DEUS PARTE 3
Já surgem vozes discordantes de lideranças brancas contra as expressões africanizadas dentro dos cultos pentecostais como o pastor Silas Malafaia.
Embora a Africanidade esteja presente nos cultos em que pese a espiritualidade dos participantes, pretos e pretas, uma teologia prática que oferece cura para os problemas espirituais e fisicos, os valores caucasianos ainda imperam no seio das Igrejas Pentecostais, sendo representado em sua maioria pelas lideranças brancas e sua teologia de omissão para as questões raciais.
Os fundadores da Assembléia de Deus no Brasil foram dois suíços que vieram dos USA e sabiam muito bem das questões raciais e se estabeleceram na cidade de Belém, e cria-se uma ruptura na idéia de ser uma igreja nacional sem influências externas, esse movimento cresceu no Brasil alheio ao movimento pentecostal dos pretos nos USA.
Os fundadores da Assembléia de Deus em Belém foram Daniel Berg e Gunnar Vingren.
Nos USA, através dos Spirituals a comunidade preta resistiu e não aceitou ser tratada como mercadoria e surgiram diversas igrejas pretas contestatórias da discriminação racial, através de conceitos teológicos, alguns afrocentrado, e todos com a consciência da vivência na discriminação racial violenta, não significando que todas as igrejas tivessem um conceito não integracionista e seus membros ainda são desejosos de usufruir os valores europeus e se integrar na América Branca.
O Movimento Pentecostal no Brasil não discute as questões raciais,os membros de maioria preta são embranquecidos mentalmente ,outrossim, é incontestável o grande paradoxo da dominação e escravização mental, não podemos especialmente considerar a Assembléia de Deus a maior religião negra do Brasil, por negar a negrura nos sentidos psíquicos e sociais, na demonização da ascendência africana,na repulsa as culturas ancestrais e na prática teológica branca.São igrejas como ponta-de-lança de um problema ainda maior, da não resignificação simbólica da fé e da negritude e ao mesmo tempo de maior aceitação da comunidade afro-diásporica no Brasil.
A história do moderno pentecostalismo nos serve de arcabouço para entender e pontuar como igrejas de milhões de membros pretos no Brasil não assumem um questionamento da problemática racial e discriminação da maioria de seus fiéis, os colocando fora da própria realidade, como vivessem dentro de um paraíso racial, contrariamente ao Movimento pentecostal nos Usa que na sua formação teve a necessidade de separação pela discriminação racial e a fé Pentecostal assumiu uma nova postura teológica e levantou lideranças para o combate a discriminação racial.
É interessante pontuar também que nenhuma grande denominação protestante brasileira discute o racismo seriamente, e nesse ponto, todas podem ser comparadas aos pentecostais. Não temos nenhuma denominação que seja capaz de liderar e consiga reunir dentro do seu próprio grupo um grande encontro, nem cerca de 30 pastores para intervir diretamente e propor mudanças reais. As igrejas protestantes são omissas e quanto mais ”intelectualizadas” mais embranquecidas,os pretos(as)que chegam ao pastorado ensinam os padrões teológicos e litúrgicos caucasianos mantendo a mesma situação de inércia acerca da questão racial,e denominações que possuem pastorais para enfrentamento da discriminação racial os membros pedem permissão e prestam relatórios as suas lideranças brancas, as quais permitem ou não tomadas de atitudes, e outros grupos são orientados por pastores brancos os quais consideram o CNNC radical quando afirmamos a necessidade de discutirmos e planejarmos os nossos próprios caminhos.Incrível que pareça a couraça de ser anti-africano se torna mais evidente nas igrejas não pentecostais, do outro lado dentro de todas as denominações há contestações isoladas.
No Brasil, no caso especifico das Assembléias de Deus, já surgem vozes que ensaiam discutir as questões raciais: jovens seminaristas e membros que já participam do Movimento Negro timidamente e ativamente nas lutas pela terra em diversos quilombos evangélicos. No blogger do CNNC/BA foi postado um artigo de uma jovem do Paraná da Assembléia de Deus que faz um questionamento. Leia o artigo NEGROS CRISTÃOS NO SUL DO BRASIL
Uma seara de esperança surge com essas vozes, para a resignificação dos membros das Igrejas Pentecostais, e mais além de toda a Igreja de Yeshua: o redescobrimento com sua ancestralidade africana e a resistência contra a discriminação racial, nas bases do Panafricanismo e surgimento de uma Teologia Preta.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

AFRICANAS AS PRIMEIRAS MATEMÁTICAS – ISHANGO A MENSTRUAÇÃO E A MATEMÁTICA

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista . Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com
Facebook: Walter Passos

A todo o momento as mentiras europocêntricas são desmitificadas com as descobertas das civilizações africanas, e atualmente o véu é rasgado e novas luzes surgem sobre os primeiros saberes do planeta no berço de todas as ciências: África. Nos estudos do livro de Levítico é deveras interessante todo o direito normativo que orienta o povo hebreu, especificamente sobre a concepção de proibições às mulheres referentes à menstruação, encontrado no capítulo 15. O sangue menstrual nas sociedades primitivas foi motivo de diversas especulações e rituais que elevaram às mulheres à condição de detentoras do poder mágico do sangue, da maternidade, da perpetuação do grupo clânico, e a serem divinizadas e formarem as primeiras sociedades matriarcais e matrilineares.

A chegada da menstruação em uma das sociedades mais antigas do planeta, os BaMbuti no Congo, é motivo de festa chamada “Elima” onde todos da comunidade participam, porque é a menstruação como "ser abençoado pela Lua"
A necessidade de pensar numericamente fez com que os primeiros agrupamentos humanos do planeta criassem métodos e instrumentos matemáticos, por muito tempo os eurocêntricos forçaram que a ciência matemática surgissem entre os povos europeus, sendo desmascarados a todo o momento com as construções dos egípcios e dos núbios. Assim mesmo, os estudiosos paravam os seus estudos no nordeste da África, na civilização egípcia, bem anterior a civilização grega que teve como base do seu conhecimento filosófico e cientifico os povos africanos.

Quando as novas descobertas arqueológicas provam a todo o momento que bem antes do Egito, civilizações do Centro e Sul da África detinham conhecimentos avançadíssimos, os quais tem deixados os cientistas caucasianos perplexos, se tornam fruto de ignorância para os historiadores desconhecer civilizações primevas e de grande potencial tecnológico e cientifico. Infelizmente, na academia brasileira, os historiadores, e fora delas, os contestadores do saber acadêmico, como alguns militantes pretos, não conhecem a civilização egípcia e nem a núbia, e baseiam seus ensinamentos em algumas regiões que foram mutiladas pelos seqüestradores europeus, como se assim, possam falar da África. O continente-mãe tem que ser estudado com uma concepção abrangente e seguindo não somente a rota escravagista do Atlântico, mas a rota africana em direção a todos os continentes, nas diásporas voluntárias para o povoamento do planeta.

Os saberes africanos assustam os caucasianos e eles escrevem livros que pairam no ridículo ao afirmarem que foram extraterrestres que construíram ou ensinaram as grandes construções africanas. Incrível, a criatividade e devaneios só para negar os saberes das primeiras civilizações.
As primeiras sociedades africanas seguiam o calendário lunar que foi repassado mundialmente através das diásporas voluntárias no povoamento de todos os continentes. A importância da lua e suas fases ainda são observadas em diversas culturas pelas mulheres no que tange ao ciclo menstrual, quando citei acima o livro de Leviticio no capítulo 15- 19-33.

19 Mas a mulher, quando tiver fluxo, e o seu fluxo de sangue estiver na sua carne, estará sete dias na sua separação, e qualquer que a tocar, será imundo até à tarde.
20 E tudo aquilo sobre o que ela se deitar durante a sua separação, será imundo; e tudo sobre o que se assentar, será imundo.
21 E qualquer que tocar na sua cama, lavará as suas vestes, e se banhará com água, e será imundo até à tarde.
22 E qualquer que tocar alguma coisa, sobre o que ela se tiver assentado, lavará as suas vestes, e se banhará com água, e será imundo até à tarde.
23 Se também tocar alguma coisa que estiver sobre a cama ou sobre aquilo em que ela se assentou, será imundo até à tarde.
24 E se, com efeito, qualquer homem se deitar com ela, e a sua imundícia estiver sobre ele, imundo será por sete dias; também toda a cama, sobre que se deitar, será imunda.
25 Também a mulher, quando tiver o fluxo do seu sangue, por muitos dias fora do tempo da sua separação, ou quando tiver fluxo de sangue por mais tempo do que a sua separação, todos os dias do fluxo da sua imundícia será imunda, como nos dias da sua separação.
26 Toda a cama, sobre que se deitar todos os dias do seu fluxo, ser-lhe-á como a cama da sua separação; e toda a coisa, sobre que se assentar, será imunda, conforme a imundícia da sua separação.
27 E qualquer que a tocar será imundo; portanto lavará as suas vestes, e se banhará com água, e será imundo até à tarde.
28 Porém quando for limpa do seu fluxo, então se contarão sete dias, e depois será limpa.
29 E ao oitavo dia tomará duas rolas, ou dois pombinhos, e os trará ao sacerdote, à porta da tenda da congregação.
30 Então o sacerdote oferecerá um para expiação do pecado, e o outro para holocausto; e o sacerdote fará por ela expiação do fluxo da sua imundícia perante o SENHOR.
31 Assim separareis os filhos de Israel das suas imundícias, para que não morram nas suas imundícias, contaminando o meu tabernáculo, que está no meio deles.
32 Esta é a lei daquele que tem o fluxo, e daquele de quem sai o sêmem da cópula, e que fica por eles imundo;
33 Como também da mulher enferma na sua separação, e daquele que padece do seu fluxo, seja homem ou mulher, e do homem que se deita com mulher imunda.

Podemos observar uma seqüência de abstinência sexual e de práticas rituais dirigidas por homens, os sacerdotes, em ofertas de holocausto em sentido purificatório, mostrando uma mudança do que era considerado puro se transformando em imundo na sociedade patriarcal dos hebreus.

Ao longo dos milênios, as mulheres têm desaprendido a arte de menstruar, de fluir com a vida. Nas sociedades tribais, a menarca, o início do fluir do sangue, era celebrada com um rito de passagem, auxiliando a menina a realizar sua entrada para o reino do mana: o poder sagrado transmitido pelo sangue e que tanto podia dar como tirar a vida. Além de apaziguar o poder destruidor, o rito tinha como função auxiliar a menina a entender sua condição física e sua relação com a função procriadora da natureza. Ainda uma criança em espírito e condição social, a partir de suas regras, a jovem deve assumir o comando de sua vida. Sem ritos de passagem, o que temos para oferecer às nossas meninas, que as ajude a transformar e assumir sua nova identidade?

http://www.vadiando.com/textos/archives/000744.html

Ouvia sempre da minha falecida mãe e das “antigas” que não se devia ir ao candomblé mulher menstruada, uma espécie de proibição que na época, ainda criança não me interessava muito, mas sei que há proibições (quizilas) no cozimento de alimentações ritualísticas e oferendas proibitivas a participação de mulheres menstruadas.

A necessidade de numerar e entender a menstruação fez com que fosse criado um instrumento no centro da África entre 25.000 a 20.000 mil anos, denominado de Ishango.



The Ishango Bone



Descoberto no ano de 1950, pelo geólogo belga Jean de Heinzelin e uma equipe de pesquisadores ao realizar escavações no Congo, próximo às margens do lago Rutanzige (antigo lago Alberto), quando procuravam uma grande civilização pré-histórica nessa região vulcânica,
o geólogo encontrou esse precioso objeto de 10 cm de comprimento, ornado com um cristal de quartzo em uma extremidade e que trazia três séries de entalhe agrupados. O cristal de quartzo que não pode ser separado do instrumento comprova que era usado para a gravação, em culturas que se acreditavam não ter o conhecimento da escrita.
O que chamou a atenção dos estudiosos foram à datação, o ineditismo e o uso matemático do instrumento.
Conforme Dirk huylebrouck: “O BASTÃO COMPORTA uma primeira coluna de entalhes unidas em pequenos grupos: de 3 a 6 entalhes; 4 e 8; 10; 5; e, finalmente, 7 entalhes. Duas outras colunas são constituídas por grupos de 11, 21, 19, 9 e 11, 13,17 e 19 entalhes.
Heinzelin via nesses entalhes um jogo aritmético: uma operação de duplicação dos números aproximada na primeira coluna, seguida do “ritmo” de 10=1, 20=1, 20-1, 10-1 e, na seguinte, os números primos entre 10 e 20. Contestado em 1972 pelo jornalista americano Alexander Marshack que afirmou que o bastão era um calendário lunar, porque a soma de cada uma das duas últimas colunas (11, 21, 19,9e 11, 13, 17,19) o resultado é 60, isto é, dois meses lunares, e a primeira coluna totaliza 48 traços, ou um mês e meio lunar. O que deixou os estudiosos caucasianos perplexos foi que o bastão de Ishango é uma prova inconteste que os africanos já realizavam cálculos matemáticos 15 mil anos antes dos egípcios e 18 mil anos antes do surgimento da matemática na Grécia.


Coluna esquerda



Coluna do centro


Coluna direita

Na antigüidade o ciclo menstrual da mulher seguia as fases da lua com tanta precisão que a gestação era contada pelas luas. Com o passar dos tempos, a mulher foi se distanciando dessa sintonia e perdendo, assim, o contato com seus próprios ritmos e seu corpo, fato que teve como conseqüências vários desequilíbrios hormonais emocionais e psíquicos.
http://mulheresedeusas.blogspot.com/2008/01/lua-vermelha-da-menstruao-na-antigidade.html
Nos estudos da etnomatematica, observa-se que as primeiras comunidades tiveram a necessidade transcedental, criativa, objetivando a sobrevivência e a prosperidade grupal e o Ishango foi um instrumento que as mulheres africanas criaram através da observação da sua sexualidade e o calendário lunar adquirindo o conhecimento matemático para gerir e acompanhar os ciclos menstruais. Assim, o calendário lunar, não teria sido apenas métodos de conservação de tempo, mas também reflexiva da ressonância entre as fases da lua e do sagrado ciclos menstruais das mulheres.
Leia mais: http://paje.fe.usp.br/~etnomat/anais/CO01.html

African Mathematics Ma'at Techniques The Thoth Process


As mulheres africanas e suas descendentes são o fruto da criação original de YAH, detentoras de conhecimentos milenares e de saberes equilibrados, possuindo a nobre missão de resgatar e manter através dos conhecimentos uma sociedade igualitária, onde a opressão do gênero masculino sobre o feminino, seja a cada dia questionado; e através do afrocentrismo e panafricanismo um sonho de perfazermos uma sociedade sem opressores e oprimidas.

PRETAS POESIAS

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