Historiador e Hebreu-Israelita
E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br
Msn: kefingfoluke1@hotmail.com
Skype: lindoebano
Facebook: Walter Passos
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Ednei, uma criança de dois anos de idade, filho da minha sobrinha, estudou em uma escola e foi vítima de uma pedagogia equivocada: Ficou de pé com o rosto na parede na sala de aula em frente a outros coleguinhas da mesma idade. A “professora” alegou como motivo:
- “Ele é muito teimosinho, por isso ficou de castigo”
E quando a mãe ia buscá-lo a “educadora” comentava baixinho:
- “Graças a Deus que ele vai embora”.
Após ouvir conselhos, a minha sobrinha o transferiu para outra escola com mais recursos pedagógicos. Este fato aconteceu em 2012, com uma criança, pessoa hipossuficiente que precisa ser respeitado e representado em todos os seus atos:
O Estatuto da Criança e do Adolescente, lei 8069/90, dispõe acerca da proteção integral a crianças e adolescentes, e versa em seus artigos :
"Art. 18 - E dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
Art. 53 - A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I. igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II. direito de ser respeitado por seus educadores;
III. direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;
IV. direito de organização e participação em entidades estudantis;
V. acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais.”
Corroborando com a determinação legal, os estudos psicopedagógicos também descrevem ser essencial ao desenvolvimento das crianças um tratamento emocional e moral dignos, como se extrai do trecho abaixo:
"De acordo com Vygotsky (2007), é a partir dos dois aos cinco anos de idade, que as crianças aumentam a qualidade de discriminação perceptiva em relação ao próprio corpo. O repertório de habilidades motoras aumenta com a compreensão mais exata, uma locomoção mais coordenada o que facilita a exploração do meio. As atividades psicomotoras auxiliam as crianças a adquirirem noção de espaço, lateralidade, orientação em relação a seu corpo às pessoas e objetos. O ritmo traduz uma organização dos fenômenos sucessivos, tanto no plano da motricidade, quanto no plano da percepção dos sons emitidos no curso da linguagem (LE BOUCH, 1998, p. 100)
.
Os educadores têm necessidade de conhecer todos os aspectos do desenvolvimento da criança, para colocar em prática um trabalho global, dinâmico, flexível, e, sobretudo, recreativas, para atender as suas reais necessidades determinadas pelo nível de maturação."
http://www.artigonal.com/educacao-infantil-artigos/a-psicomotricidade-na-educacao-infantil-e-sua-importancia-4998429.html
Comentando com o meu filho sobre o meu sobrinho-neto, aproveitei e relembrei as escolas domésticas onde as crianças eram alfabetizadas nas residências dos professoras, que usavam o espaço larário para o aumento da renda familiar, suprindo a falta de escolas particulares e públicas naquele tempo.
As educadoras, em sua grande maioria, não possuíam formação acadêmica e nem o ensino secundário ou o normal, curso profissionalizante de segundo grau para a formação de professoras primárias, muitas delas haviam cursado as séries iniciais do antigo ginásio (5ª a 8ª séries) - hoje, ensino fundamental II - e, para a época, significava um grande conhecimento intelectual.
Relatei as práticas pedagógicas baseadas na violência física e psicológica. Fatos que possivelmente ainda ocorrem em algumas cidades interioranas e bairros considerados periféricos, não posso afirmar categoricamente por falta de dados.
Interessante que os castigos sofridos por crianças da minha geração ficaram nas memórias, formou-se gerações vítimas de uma educação equivocada e baseada nos castigos sofridos pelos nossos ancestrais escravizados em território brasileiro.
As punições aos estudantes eram injustas e excessivas, criavam o terror nas mentes dos educados, e muitos deles preferiam não ir às escolas. Estes que conseguiram estudar em escolas domésticas ainda foram privilegiados, porque muitos não puderam dar prosseguimento aos estudos por necessitar contribuir com a economia doméstica, tendo que trabalhar ainda bastante jovens. Na verdade, eu ainda fui um privilegiado por meus pais poderem pagar escolas domésticas, estas permitiram a continuidade dos estudos em escolas mais aprimoradas.
Aos seis anos de idade, devaneava com alguns colegas se a escola pegasse fogo, por fim, não seriamos vítimas dos castigos. Nunca sofri castigos corporais, mas as humilhações foram diversas.
Entre os diversos castigos e humilhações, sofridas pelos alunos, recordo-me destes:
Reguada, beliscão, cascudo, puxão de orelha, palmatória, ajoelhar no caroço de milho cru ou tampinha de garrafa (a criança a ser punida se ajoelhasse com os joelhos nus sobre grãos de milho cru ou tampinha de garrafa. Para além de uma elevada humilhação o castigo produzia dor muito intensa, pungente localizada e deixava graves vestígios na pele dos joelhos, tais como hematomas profundos e, se a duração do castigo fosse elevada, feridas abertas), humilhação em pé de cara na parede com um par de orelhas de burro na porta da escola (exposição pública do erro e tornava chacota para os colegas) , proibição de ir ao banheiro (diversos alunos faziam as necessidades fisiológicas na roupa, imaginem a vergonha) e de merendar (os que levavam a merenda sofriam, mas muitos nem merenda possuíam), ficar de castigo depois da aula (muitos apanhavam dos pais quando chegavam em casa), Vassourada (agressão com o cabo de vassoura na cabeça), entre outros.
Os meus estudos foram todos no estado do Rio de Janeiro, e na minha infância, uma professora sempre dizia que eu era baiano, porque os meus pais eram de Salvador. Preto, baiano e macumbeiro e eu ficava triste por ser epitetado de todas essas formas. Certa vez, minha mãe, para me livrar dos constantes abusos que sofria, levou a minha certidão de nascimento para comprovar que eu não era baiano, e sim, carioca. Hoje, ao repensar aquela situação, sentiria orgulho de ser alcunhado de baiano, pois toda minha ancestralidade e africanidade está na Bahia, terra que vivo há mais de 30 anos.
Alguns anos da minha infância, residi no bairro da Liberdade, em Salvador/BA e convivi com uma experiência interessante:
O hábito de pedir a benção aos mais idosos, e as lindas senhoras sentadas nas portas das casas nos esperavam e ai daquele que se esquecia de pedir a benção. No dia seguinte, via o resultado do pretenso “esquecimento”, pois elas comunicavam as “comadres” (as nossas mães) o nosso ato de rebeldia, e consequentemente pagávamos pela falta de respeito. Um pedido de benção baseada também na submissão e no medo. Em Salvador,nas escolas domésticas possuíam o hábito conhecido como: Sabatina que ocorria em dias variados, especialmente nas terças-feiras, onde um aluno arguia o outro sobre a tabuada e o que errava tomava bolos de palmatória.
Os cadernos eram usados para os estudantes escreverem centenas de vezes as mesmas frases, exemplo:
- Não devo conversar na sala de aula. Devo fazer o dever de casa. Não devo responder a professora, etc.
- Alguns epítetos eram usados pelas educadoras, o mais comum era chamar o estudante de “burro”
"Vivenciou a palmatória" - Dona Tereza
Outro fato interessante ocorria com relação a mãe da Professora. Esta a substitua algumas vezes nos casos de sua ausência, mas sempre estava presente nas aulas, escondida as janelas, observando as conversas e não perdia tempo em manter o silêncio com um cabo de vassoura na cabeça do “conversador”. Outras ficavam na sala de aula monitorando as atitudes dos estudantes e pronta para entrar em ação, se houvesse a quebra do silencio monástico em sala de aula.
Os pais apoiavam esta didática e pediam para os filhos e filhas serem “exemplados”. Recordo-me que a mãe adotiva de um colega de classe da cor de ébano, adotado por uma família branca aonde era vítima constante de espancamentos e humilhações, chegou à escola com um quilo de milho para que a professora o colocasse de joelho, e no mesmo dia foi colocado em uma tábua com os caroços de milhos crus, e ele gemia com a dor produzida pelo castigo insano. Só que não resolveu, ele continuava a reagir e não conseguia ser alfabetizado. Exigiam dele uma docilidade de “preto no seu lugar” e na sua tenra idade era um “preto rebelde”. Então, o método de tortura foi aprimorado e a mãe adotiva juntamente com a professora trouxe uma tábua com tampinhas de garrafa. Foi castigado duramente como um preto recapturado na escravidão. Ele chorou de dor e por muitos dias andou de cabeça baixo. Este episódio me deixou bem assustado e após relatar a minha mãe este quadro demoníaco, ela me retirou desta "Casa dos Horrores".
Em algumas conversas com pais de estudantes que viveram este processo educacional, e os seus filhos não conseguem acompanhar o aprendizado, eles manifestam certo saudosismo pelo modelo educacional que passaram. Esta concepção de culpa é decorrente da filosofia judaico-cristã de um país com histórico de colonização e escravidão. Foram introjetados mecanismo de autopunição nos antigos estudantes e que se reproduz atualmente nos educadores que de maneiras diferentes acreditam na “incapacidade” e desinteresse dos educados de aprender e muitos educadores se punem, sem compreender que são vítimas de uma educação violenta, não pluralista e com ideais elitistas, apesar das escolas estarem fora do centro do poder.
Não condeno as antigas professoras das escolas domésticas, porque merecem o nosso respeito e agradecimento pela alfabetização. A pedagogia que seguiam fora repassada através das antigas educadoras e elas acreditavam que estavam fazendo o melhor, muitas amavam os estudantes e supriram a falta de investimentos na educação e dos direitos humanos. Foram as professoras da década de 60 do século passado.
Tenho boas recordações de duas professoras domésticas e as suas mães que nos tratavam com carinho como se fossem membros da família, acredito que as que castigavam e usavam de violência tinham problemas sérios de ajustamento social.
No Brasil, a educação manteve desde os padres-mestres os castigos como uma prática pedagógica aceita por educadores e pais para o aprendizado das crianças, infelizmente, os anos nas décadas passadas a tortura e a humilhação psicológica eram fatores determinantes para o aprendizado, deixaram lembranças de uma pedagogia do terror, que objetivava a domesticação e formação de pessoas acríticas , sem questionamentos, calados e submissos.
Assumo que não sinto saudades das escolas domésticas, mas, será que apesar do fim das torturas físicas a pedagogia é libertadora? E as humilhações psicológicas aos estudantes por causa da cor da pele se extinguiram?
Shalom!
- “Ele é muito teimosinho, por isso ficou de castigo”
E quando a mãe ia buscá-lo a “educadora” comentava baixinho:
- “Graças a Deus que ele vai embora”.
Após ouvir conselhos, a minha sobrinha o transferiu para outra escola com mais recursos pedagógicos. Este fato aconteceu em 2012, com uma criança, pessoa hipossuficiente que precisa ser respeitado e representado em todos os seus atos:
O Estatuto da Criança e do Adolescente, lei 8069/90, dispõe acerca da proteção integral a crianças e adolescentes, e versa em seus artigos :
"Art. 18 - E dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
Art. 53 - A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I. igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II. direito de ser respeitado por seus educadores;
III. direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;
IV. direito de organização e participação em entidades estudantis;
V. acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais.”
Corroborando com a determinação legal, os estudos psicopedagógicos também descrevem ser essencial ao desenvolvimento das crianças um tratamento emocional e moral dignos, como se extrai do trecho abaixo:
"De acordo com Vygotsky (2007), é a partir dos dois aos cinco anos de idade, que as crianças aumentam a qualidade de discriminação perceptiva em relação ao próprio corpo. O repertório de habilidades motoras aumenta com a compreensão mais exata, uma locomoção mais coordenada o que facilita a exploração do meio. As atividades psicomotoras auxiliam as crianças a adquirirem noção de espaço, lateralidade, orientação em relação a seu corpo às pessoas e objetos. O ritmo traduz uma organização dos fenômenos sucessivos, tanto no plano da motricidade, quanto no plano da percepção dos sons emitidos no curso da linguagem (LE BOUCH, 1998, p. 100)
.
Os educadores têm necessidade de conhecer todos os aspectos do desenvolvimento da criança, para colocar em prática um trabalho global, dinâmico, flexível, e, sobretudo, recreativas, para atender as suas reais necessidades determinadas pelo nível de maturação."
http://www.artigonal.com/educacao-infantil-artigos/a-psicomotricidade-na-educacao-infantil-e-sua-importancia-4998429.html
Comentando com o meu filho sobre o meu sobrinho-neto, aproveitei e relembrei as escolas domésticas onde as crianças eram alfabetizadas nas residências dos professoras, que usavam o espaço larário para o aumento da renda familiar, suprindo a falta de escolas particulares e públicas naquele tempo.
As educadoras, em sua grande maioria, não possuíam formação acadêmica e nem o ensino secundário ou o normal, curso profissionalizante de segundo grau para a formação de professoras primárias, muitas delas haviam cursado as séries iniciais do antigo ginásio (5ª a 8ª séries) - hoje, ensino fundamental II - e, para a época, significava um grande conhecimento intelectual.
Relatei as práticas pedagógicas baseadas na violência física e psicológica. Fatos que possivelmente ainda ocorrem em algumas cidades interioranas e bairros considerados periféricos, não posso afirmar categoricamente por falta de dados.
Interessante que os castigos sofridos por crianças da minha geração ficaram nas memórias, formou-se gerações vítimas de uma educação equivocada e baseada nos castigos sofridos pelos nossos ancestrais escravizados em território brasileiro.
As punições aos estudantes eram injustas e excessivas, criavam o terror nas mentes dos educados, e muitos deles preferiam não ir às escolas. Estes que conseguiram estudar em escolas domésticas ainda foram privilegiados, porque muitos não puderam dar prosseguimento aos estudos por necessitar contribuir com a economia doméstica, tendo que trabalhar ainda bastante jovens. Na verdade, eu ainda fui um privilegiado por meus pais poderem pagar escolas domésticas, estas permitiram a continuidade dos estudos em escolas mais aprimoradas.
Aos seis anos de idade, devaneava com alguns colegas se a escola pegasse fogo, por fim, não seriamos vítimas dos castigos. Nunca sofri castigos corporais, mas as humilhações foram diversas.
Entre os diversos castigos e humilhações, sofridas pelos alunos, recordo-me destes:
Reguada, beliscão, cascudo, puxão de orelha, palmatória, ajoelhar no caroço de milho cru ou tampinha de garrafa (a criança a ser punida se ajoelhasse com os joelhos nus sobre grãos de milho cru ou tampinha de garrafa. Para além de uma elevada humilhação o castigo produzia dor muito intensa, pungente localizada e deixava graves vestígios na pele dos joelhos, tais como hematomas profundos e, se a duração do castigo fosse elevada, feridas abertas), humilhação em pé de cara na parede com um par de orelhas de burro na porta da escola (exposição pública do erro e tornava chacota para os colegas) , proibição de ir ao banheiro (diversos alunos faziam as necessidades fisiológicas na roupa, imaginem a vergonha) e de merendar (os que levavam a merenda sofriam, mas muitos nem merenda possuíam), ficar de castigo depois da aula (muitos apanhavam dos pais quando chegavam em casa), Vassourada (agressão com o cabo de vassoura na cabeça), entre outros.
Os meus estudos foram todos no estado do Rio de Janeiro, e na minha infância, uma professora sempre dizia que eu era baiano, porque os meus pais eram de Salvador. Preto, baiano e macumbeiro e eu ficava triste por ser epitetado de todas essas formas. Certa vez, minha mãe, para me livrar dos constantes abusos que sofria, levou a minha certidão de nascimento para comprovar que eu não era baiano, e sim, carioca. Hoje, ao repensar aquela situação, sentiria orgulho de ser alcunhado de baiano, pois toda minha ancestralidade e africanidade está na Bahia, terra que vivo há mais de 30 anos.
Alguns anos da minha infância, residi no bairro da Liberdade, em Salvador/BA e convivi com uma experiência interessante:
O hábito de pedir a benção aos mais idosos, e as lindas senhoras sentadas nas portas das casas nos esperavam e ai daquele que se esquecia de pedir a benção. No dia seguinte, via o resultado do pretenso “esquecimento”, pois elas comunicavam as “comadres” (as nossas mães) o nosso ato de rebeldia, e consequentemente pagávamos pela falta de respeito. Um pedido de benção baseada também na submissão e no medo. Em Salvador,nas escolas domésticas possuíam o hábito conhecido como: Sabatina que ocorria em dias variados, especialmente nas terças-feiras, onde um aluno arguia o outro sobre a tabuada e o que errava tomava bolos de palmatória.
Os cadernos eram usados para os estudantes escreverem centenas de vezes as mesmas frases, exemplo:
- Não devo conversar na sala de aula. Devo fazer o dever de casa. Não devo responder a professora, etc.
- Alguns epítetos eram usados pelas educadoras, o mais comum era chamar o estudante de “burro”
"Vivenciou a palmatória" - Dona Tereza
Outro fato interessante ocorria com relação a mãe da Professora. Esta a substitua algumas vezes nos casos de sua ausência, mas sempre estava presente nas aulas, escondida as janelas, observando as conversas e não perdia tempo em manter o silêncio com um cabo de vassoura na cabeça do “conversador”. Outras ficavam na sala de aula monitorando as atitudes dos estudantes e pronta para entrar em ação, se houvesse a quebra do silencio monástico em sala de aula.
Os pais apoiavam esta didática e pediam para os filhos e filhas serem “exemplados”. Recordo-me que a mãe adotiva de um colega de classe da cor de ébano, adotado por uma família branca aonde era vítima constante de espancamentos e humilhações, chegou à escola com um quilo de milho para que a professora o colocasse de joelho, e no mesmo dia foi colocado em uma tábua com os caroços de milhos crus, e ele gemia com a dor produzida pelo castigo insano. Só que não resolveu, ele continuava a reagir e não conseguia ser alfabetizado. Exigiam dele uma docilidade de “preto no seu lugar” e na sua tenra idade era um “preto rebelde”. Então, o método de tortura foi aprimorado e a mãe adotiva juntamente com a professora trouxe uma tábua com tampinhas de garrafa. Foi castigado duramente como um preto recapturado na escravidão. Ele chorou de dor e por muitos dias andou de cabeça baixo. Este episódio me deixou bem assustado e após relatar a minha mãe este quadro demoníaco, ela me retirou desta "Casa dos Horrores".
Em algumas conversas com pais de estudantes que viveram este processo educacional, e os seus filhos não conseguem acompanhar o aprendizado, eles manifestam certo saudosismo pelo modelo educacional que passaram. Esta concepção de culpa é decorrente da filosofia judaico-cristã de um país com histórico de colonização e escravidão. Foram introjetados mecanismo de autopunição nos antigos estudantes e que se reproduz atualmente nos educadores que de maneiras diferentes acreditam na “incapacidade” e desinteresse dos educados de aprender e muitos educadores se punem, sem compreender que são vítimas de uma educação violenta, não pluralista e com ideais elitistas, apesar das escolas estarem fora do centro do poder.
Não condeno as antigas professoras das escolas domésticas, porque merecem o nosso respeito e agradecimento pela alfabetização. A pedagogia que seguiam fora repassada através das antigas educadoras e elas acreditavam que estavam fazendo o melhor, muitas amavam os estudantes e supriram a falta de investimentos na educação e dos direitos humanos. Foram as professoras da década de 60 do século passado.
Tenho boas recordações de duas professoras domésticas e as suas mães que nos tratavam com carinho como se fossem membros da família, acredito que as que castigavam e usavam de violência tinham problemas sérios de ajustamento social.
No Brasil, a educação manteve desde os padres-mestres os castigos como uma prática pedagógica aceita por educadores e pais para o aprendizado das crianças, infelizmente, os anos nas décadas passadas a tortura e a humilhação psicológica eram fatores determinantes para o aprendizado, deixaram lembranças de uma pedagogia do terror, que objetivava a domesticação e formação de pessoas acríticas , sem questionamentos, calados e submissos.
Assumo que não sinto saudades das escolas domésticas, mas, será que apesar do fim das torturas físicas a pedagogia é libertadora? E as humilhações psicológicas aos estudantes por causa da cor da pele se extinguiram?
Shalom!
10 comentários:
Belo texto, belas e más lembranças de uma vivência que não tive, mas que tive a triste oportunidade de escutar relatos densos e tensos de parentes e amigos mais idosos.
Infelizmente, tem muita gente saudosa da "disciplina" escravista, como a dos privilégios para alguns, que certamente não iriam auferir dessas graças para poucos, mas que pensam que é na divisão hierarquica de classe, raça e gênero, que eles vão manter sua pseudo-paz-de-opressores, mas na realidade são tão oprimidos quanto suas vítimas. Sandra Martins - RJ
Belo texto, feias lembranças. Mesmo não tendo vivido experiências do gênero, convivi com falas saudosistas de uma pedagogia que se supunha correta, mas sabedoras de muita dor, angústia e humilhação. Com o atual estado da arte nas escolas brasileiras, certamente, há quem pense que esta seria a melhor forma de "domar" os incautos sem a luz do conhecimento vinda de um único e iluminado ser acima de quaisquer suspeitas e dogmas - o professor, o iluminado. Mas, quando o Estado determina o lugar e a forma de tratar com esse assalariado, há verdadeira simbiose entre opressor e oprimido, e salve-se quem puder, pois não se sabe onde começa a história ou o intervalo dos reclames: tá tudo dominado pela incompetência e arbitrariedade burra da opressão pela opressão, então o que poderiam ser tenras trocas e aprendizados de ambas as partes - sem depósitos compulsários de conhecimentos inadequados, no mínimo - se tornam torturas de cospe giz regadas ao desrespeito de ambas as partes órfãs e isoladas sem contato com o outro, nós mesmos. Sandra Martins - RJ
Belo texto, feias lembranças. Mesmo não tendo vivido experiências do gênero, convivi com falas saudosistas de uma pedagogia que se supunha correta, mas sabedoras de muita dor, angústia e humilhação. Com o atual estado da arte nas escolas brasileiras, certamente, há quem pense que esta seria a melhor forma de "domar" os incautos sem a luz do conhecimento vinda de um único e iluminado ser acima de quaisquer suspeitas e dogmas - o professor, o iluminado. Mas, quando o Estado determina o lugar e a forma de tratar com esse assalariado, há verdadeira simbiose entre opressor e oprimido, e salve-se quem puder, pois não se sabe onde começa a história ou o intervalo dos reclames: tá tudo dominado pela incompetência e arbitrariedade burra da opressão pela opressão, então o que poderiam ser tenras trocas e aprendizados de ambas as partes - sem depósitos compulsários de conhecimentos inadequados, no mínimo - se tornam torturas de cospe giz regadas ao desrespeito de ambas as partes órfãs e isoladas sem contato com o outro, nós mesmos. Sandra Martins - RJ
Belo texto, feias lembranças. Mesmo não tendo vivido experiências do gênero, convivi com falas saudosistas de uma pedagogia que se supunha correta, mas sabedoras de muita dor, angústia e humilhação. Com o atual estado da arte nas escolas brasileiras, certamente, há quem pense que esta seria a melhor forma de "domar" os incautos sem a luz do conhecimento vinda de um único e iluminado ser acima de quaisquer suspeitas e dogmas - o professor, o iluminado. Mas, quando o Estado determina o lugar e a forma de tratar com esse assalariado, há verdadeira simbiose entre opressor e oprimido, e salve-se quem puder, pois não se sabe onde começa a história ou o intervalo dos reclames: tá tudo dominado pela incompetência e arbitrariedade burra da opressão pela opressão, então o que poderiam ser tenras trocas e aprendizados de ambas as partes - sem depósitos compulsários de conhecimentos inadequados, no mínimo - se tornam torturas de cospe giz regadas ao desrespeito de ambas as partes órfãs e isoladas sem contato com o outro, nós mesmos. Sandra Martins - RJ
Belo texto, feias lembranças. Mesmo não tendo vivido experiências do gênero, convivi com falas saudosistas de uma pedagogia que se supunha correta, mas sabedoras de muita dor, angústia e humilhação. Com o atual estado da arte nas escolas brasileiras, certamente, há quem pense que esta seria a melhor forma de "domar" os incautos sem a luz do conhecimento vinda de um único e iluminado ser acima de quaisquer suspeitas e dogmas - o professor, o iluminado. Mas, quando o Estado determina o lugar e a forma de tratar com esse assalariado, há verdadeira simbiose entre opressor e oprimido, e salve-se quem puder, pois não se sabe onde começa a história ou o intervalo dos reclames: tá tudo dominado pela incompetência e arbitrariedade burra da opressão pela opressão, então o que poderiam ser tenras trocas e aprendizados de ambas as partes - sem depósitos compulsários de conhecimentos inadequados, no mínimo - se tornam torturas de cospe giz regadas ao desrespeito de ambas as partes órfãs e isoladas sem contato com o outro, nós mesmos. Sandra Martins - RJ
Belo texto, feias lembranças. Mesmo não tendo vivido experiências do gênero, convivi com falas saudosistas de uma pedagogia que se supunha correta, mas sabedoras de muita dor, angústia e humilhação. Com o atual estado da arte nas escolas brasileiras, certamente, há quem pense que esta seria a melhor forma de "domar" os incautos sem a luz do conhecimento vinda de um único e iluminado ser acima de quaisquer suspeitas e dogmas - o professor, o iluminado. Mas, quando o Estado determina o lugar e a forma de tratar com esse assalariado, há verdadeira simbiose entre opressor e oprimido, e salve-se quem puder, pois não se sabe onde começa a história ou o intervalo dos reclames: tá tudo dominado pela incompetência e arbitrariedade burra da opressão pela opressão, então o que poderiam ser tenras trocas e aprendizados de ambas as partes - sem depósitos compulsários de conhecimentos inadequados, no mínimo - se tornam torturas de cospe giz regadas ao desrespeito de ambas as partes órfãs e isoladas sem contato com o outro, nós mesmos. Sandra Martins - RJ
Belo texto, feias lembranças. Mesmo não tendo vivido experiências do gênero, convivi com falas saudosistas de uma pedagogia que se supunha correta, mas sabedoras de muita dor, angústia e humilhação. Com o atual estado da arte nas escolas brasileiras, certamente, há quem pense que esta seria a melhor forma de "domar" os incautos sem a luz do conhecimento vinda de um único e iluminado ser acima de quaisquer suspeitas e dogmas - o professor, o iluminado. Mas, quando o Estado determina o lugar e a forma de tratar com esse assalariado, há verdadeira simbiose entre opressor e oprimido, e salve-se quem puder, pois não se sabe onde começa a história ou o intervalo dos reclames: tá tudo dominado pela incompetência e arbitrariedade burra da opressão pela opressão, então o que poderiam ser tenras trocas e aprendizados de ambas as partes - sem depósitos compulsários de conhecimentos inadequados, no mínimo - se tornam torturas de cospe giz regadas ao desrespeito de ambas as partes órfãs e isoladas sem contato com o outro, nós mesmos. Sandra Martins - RJ
Belo texto, feias lembranças. Mesmo não tendo vivido experiências do gênero, convivi com falas saudosistas de uma pedagogia que se supunha correta, mas sabedoras de muita dor, angústia e humilhação. Com o atual estado da arte nas escolas brasileiras, certamente, há quem pense que esta seria a melhor forma de "domar" os incautos sem a luz do conhecimento vinda de um único e iluminado ser acima de quaisquer suspeitas e dogmas - o professor, o iluminado. Mas, quando o Estado determina o lugar e a forma de tratar com esse assalariado, há verdadeira simbiose entre opressor e oprimido, e salve-se quem puder, pois não se sabe onde começa a história ou o intervalo dos reclames: tá tudo dominado pela incompetência e arbitrariedade burra da opressão pela opressão, então o que poderiam ser tenras trocas e aprendizados de ambas as partes - sem depósitos compulsários de conhecimentos inadequados, no mínimo - se tornam torturas de cospe giz regadas ao desrespeito de ambas as partes órfãs e isoladas sem contato com o outro, nós mesmos. Sandra Martins - RJ
Eu sofri todos estes castigos enunciados e não tinha para quem recorrer. Não foram muito brutais e eram aplicados com uma certa justiça. Evidente que não tenho saudades, mas vejo que o administravam com assiduidade por causa do meu gênio. Eduquei os meus filhos sem castigos, mas mostrei as consequências a que estariam sujeitos caso se conduzissem sem respeito às normas estabelecidas. Algumas vezes com vigor. Ensinei-os a serem justos. Digo isto, porque tiraram dos educadores, todo o vigor e o que lhes resta é a indiferença diante do transgressor. O resultado é a atitude ousada dos infratores que abusam dos seus direitos. Transcorreu pouco tempo entre a promulgação das leis e sua implantação e a transição se dará de forma gradativa. O que resultará após a transição é que interessa. Cabe-nos o debate incansável para discutirmos a tecnologia a ser aplicada a cada caso para se obter o máximo rendimento da melhor qualidade. Reputo interessante a experiência acumulada por uma ONG, Observatório de Favelas", do Rio de Janeiro, sediada na Favela da Maré, próxima a UFRJ. Eles desenvolvem tecnologias de educação para casos específicos. Seria um meio de aprofundar esta questão com elementos técnicos e não apenas com o que consideramos certo ou errado.
Fiquei muito de castigo de cara na parede ajoelhar no milho perdi as contas rsrs mais foi bom quem apronta merece o castigo...
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