segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

CABELO DE PRETO – RESISTÊNCIA E AFIRMAÇÃO DA ANCESTRALIDADE - I LOVE MY HAIR - "MY NAPPY ROOTS" - GOOD HAIR - PARTE II

"Papai, como é que eu não tenho cabelo bom?




Por Walter Passos.
Historiador e Poeta
E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br
Msn: kefingfoluke1@hotmail.com
Skype: lindoebano
Facebook: Walter Passos

Uma amiga internauta perguntou-me se eu estava zangado com ela. É muito difícil ficarmos aborrecidos com amigos virtuais, especialmente com aqueles que conversamos ocasionalmente. O motivo da minha suposta “zanga” foi o artigo sobre os cabelos que eu escrevi e uma amiga dela enviou o link para o seu perfil no facebook. Não escrevo especificamente para nenhuma mulher preta. Escrevo para todas as mulheres pretas e homens pretos.

É necessário que falemos de amor que se transformou em ódio a si próprio, de uma forma de banzo que a mulher preta começou a ter ao se olhar no espelho. Não de saudades, mas um banzo que corroeu o âmago de seu ser e fazia chorar nas fétidas senzalas e nas casas após o cativeiro. A mulher preta, além das mazelas do racismo, preocupações de sobrevivência, do sustento das famílias, de sofrer e amar pela irresponsabilidade de muitos homens pretos em serem verdadeiros companheiros: conseqüência da quebra dos laços familiares pela escravidão. Teve uma nova incógnita a resolver: as suas madeixas, os seus cabelos. Conheço muito bem esse processo dos cabelos das pretas. A minha filha Aidan quando pequena chorava para não pentear os seus lindos cabelos. Manter os cabelos naturais das meninas pretas é difícil por causa da falta de continuidade dos conhecimentos ancestrais africanos. Mas, é fácil quando voltamos as nossas origens e é prazeroso para toda a família o olhar de pertencimento as raízes dos nossos antepassados, o retorno pode começar pelo amor e respeito aos nossos cabelos e quão gratificante é quando as nossas meninas dizem como o a linda africana no livro de Cantares de Salomão 1:5:

- Eu Sou preta e formosa.

O conhecimento foi interrompido com a escravidão como a descontinuidade de comunicação através das línguas nativas e a imposição cultural dos senhores acarretaram a não manutenção de pentes, ervas naturais e lindos penteados que as nossas ancestrais usavam; no processo escravocrata os pretos mais ebanizados eram desvalorizados pelos que tinham as peles mais claras e cabelos mais lisos.

A intenalização no africano de que a sua cor e seu cabelo forte em forma de espiral foram motivos da inferiorizarão racial alterou as atitudes das descendências futuras. O chamado cabelo “bom” se tornou um passaporte econômico-sentimental no mundo branco das Américas. A maioria dos homens pretos, já contaminados pela beleza ocidental, considera as mulheres pretas mais belas quanto mais brancas se parecerem, e o cabelo tornou-se a mensagem de beleza, limpeza e adequação a inclusão de uma sociedade desejada, e esquecer o passado africano no olhar do espelho foram, e é à saída da maioria da população africana na América.

Desde o final da escravidão começa a se tornar popular as mudanças estéticas e já em 1920 o grande Marcus Garvey exortava a população para voltar a usar a sua estética africana.

Marcus Garvey estava com toda a razão, já no inicio da década de 1900, Annie Malone, que se tornou milionária, trouxe um novo método de alisamento para as mulheres pretas patenteando o ferro quente, auxiliando as mulheres descontentes e em crise com os cabelos africanos, que usavam para o relaxamento dos cabelos a gordura de ganso gordo, gordura de porco (bacon), manteiga, e chegavam ao cumulo de usar uma faca com manteiga aquecida. Durante décadas a prática de tentar o embranquecimnento através dos cabelos fez com que muitos pretos e pretas usassem água sanitária para o clareamento, alvejantes que nas fórmulas possuíam soda caustica, uso de cremes e loções, combinado com ferro quente, a fim de “endireitar” o cabelo.

A sua ex-empregada madame CJ Walker, anteriormente Sarah Breedlove, nascida na Louisinania em 1967, filha de ex-escravizados, trabalhou como agricultora, lavadeira e cozinheira, e após sofrer uma doença de couro cabeludo, tornou-se uma poderosa empresaria ao criar uma fórmula para os cabelos das mulheres pretas em 1900. Foi à primeira preta milionária dos USA na indústria de produtos para os cabelos, e aperfeiçou o ferro quente, ampliando os dentes patenteado pela sua ex-patroa Annie Malone.

Uma das propagandas usadas por Madame CJ Walker para convencer as mulheres pretas a modificar os cabelos foi a uso de um livro infantil publicado em 1900: The Gift of the Good Fairy (O dom da fada boa)
- "Era uma vez, uma boa fada, cujos pensamentos diários eram em muito meninos e meninas de se transformarem em mulheres e homens bonitos, e de como ela poderia embelezar aqueles infelizes a quem a natureza não tivesse dado cabelos longos e ondulados e uma pele suave e encantadora”.

A propaganda retratava o cabelo que não é ondulado e liso como indesejáveis e algo que a fada boa (
Madame CJ Walker) podia corrigir. Já se passaram cem anos e as mulheres pretas ainda valorizam o cabelo liso, e sonham com a boa fada que modificará os seus cabelos.


Garrett Augustus Morgan, um inventor preto, experimentou um líquido de agulhas para máquinas de costura, e acidentalmente, descobriu que este líquido não só esticava o tecido, mas também o cabelo. Ele fez o líquido em um creme e começou a GA Morgan Refining Company Hair. Morgan também fez um óleo corante preto para o cabelo e um pente de ferro dente-curvo em 1910, para “endireitar” o cabelo.


O processo de negação do cabelo africano começa com a infância, especialmente com as meninas. A simples brincadeiras com bonecas alertam a criança das diferenças estéticas. Foi o que ocorreu com Sergi, uma menina de origem etíope, adotada por Joey Mazzarino, principal escritor de Sesame Street, e manipulador de marionetes. Sergi ao brincar com as bonecas Barbie começou a dizer coisas negativas sobre si mesma e ao seu próprio cabelo.

- "Ela estava passando por esta fase em que realmente queria o cabelo comprido e loiro.

Mazzarino, um homem branco não ignorou o problema como fazem milhões de pais e mães pretas nas Américas. Sabia que no futuro Sergi teria problemas com a auto-estima, e ele criou um muppet para mostrar a sua filha como era belo o seu cabelo.

I Love My Hair


Desejo que este vídeo fale direto ao seu coração, minha amada irmã preta que alimenta a baixo-estima por causa dos seus cabelos. Eles são lindos. Tu és bela. Remanescente das mulheres originais

O processo da indústria de relaxantes especialmente nos Estados Unidos da América se desenvolveu de maneira surpreendente e afetou todas as regiões das Américas. Atualmente a indústria do cabelo ultrapassa a cifra de 10 bilhões de dólares só nos USA. Nós os africanos nas Américas vivemos 400 anos sem usar um pente e processos de relaxamentos. O relaxamento dos cabelos nos USA é conhecido como o “crack cremoso pela dependência que criou nas mulheres pretas.

Dois importantes documentários foram produzidos recentemente nos USA: Nappy Roots: A Journey Through Black Hair Itage-2005, dirigido por Regina Kimbell, e Good Hair, produzido por Chris Rock em 2009. Com certeza irão contribuir nas nossas discussões para o entendimento deste nefasto processo de auto-violação do corpo preto.

"My Nappy ROOTS" Award winning documentary on Black hair

Este filme produzido por Regina Kimbell através de pesquisas retrata os histórico das transformações do cabelos no pretos nos USA. Kimbell pesquisou o continente africano, a escravidão em terras americanas e as consequências até os dias atuais e produziu este precioso documentário.

Sinopse:

My Nappy Roots: A Journey Through Black Hair Itage, um documentário de edutainment, tem um olhar sem precedentes de como o cabelo preto é usado como um prisma através do qual o olhar para as questões culturais, sociais e políticas na comunidade Afro-americana ao longo do tempo. O filme revela o significado e o orgulho de penteados Africanos antes da chegada dos primeiros africanos escravizados para a América, onde a luta mais ampla do povo negro começou. Esta luta cultural e social criou o surgimento dos primeiros grandes empresários negros e da bilionária indústria do cuidado de cabelo étnico que existem hoje.

Começando com as primeiras tentativas de denominar do cabelo preto, o documentário de longa-metragem apresenta um conjunto de várias técnicas e estilos, incluindo o, conk imprensa e onda, o afro, a onda Jheri e locs. Cada estilo marca um momento distinto da história americana, a política e a cultura norte-americana Africana. Explorar para além da superfície, My Nappy Roots mergulha internamente na mentalidade que criou o debate interminável de "cabelo bom versus cabelo ruim" e papel que os meios de comunicação desempenha como instigador. Desde o início do filme, um tema subjacente de superação de obstáculos se desenvolve em uma história inspiradora de sucesso e de negócio que não termina. Em vez disso, ele levanta a questão de "para onde iremos a partir daqui?"

My Nappy Roots vai contar sua história em grande parte através das pessoas que as vozes eram, e são, fundamentais para as mudanças que têm influenciado as imagens cultural, estética e o comportamento dos negros americanos. As cineastas Regina Kimbell e Jay Bluemke entrevistam celebridades conhecidas mundialmente (Vivica A. Fox, Patti LaBelle, Ella Joyce e Malcolm-Jamal Warner para citar alguns). Historiadores, autores, jornalistas, comediantes, estilistas e barbeiros, ícones da indústria de negócios como George Johnson, Produtos Johnson, Ed Gardner, Produtos Sheen Soft, Bronner Bernard do show de cabelo Bronner Brothers International e outros fornecem históricos, relatos profissionais e pessoais em suas jornadas com os cabelos de negros. A indústria do cabelo do povo preto, que é sempre passional, às vezes chocantes, e muitas vezes cômica é considerada a libertação dos negros nos Estados Unidos.

http://www.mynappyrootsthemovement.com/virginmoom.html



Good Hair

De maneira bem-humorada, o documentário aborda a identidade dos pretos nos Estados Unidos, o movimento da indústria de produtos capilares e as tentativas das mulheres pretas em alisarem os cabelos. Ao ouvir sua filha comparar o seu cabelo com o de uma amiguinha branca, o ator e cantor Chris Rock teve a idéia de produzir o documentário Good Hair. A temática central em torno da obsessão que as mulheres afro-americanas tem com o cabelo, que no final das contas reflete o conceito que elas tem de beleza. Rock colabora como produtor, roteirista e repórter. Durante o documentário, ele entrevista diversas celebridades e médicos negros. Destes, Rock considera a participação da atriz Nia Long como a mais importante.

Em Good Hair, Rock explica como o cabelo de uma mulher negra pode afetar sua atividade diária (evitando atividades que possam afetar o seu cabelo, se cair água arruina a sua peruca), finanças (o penteado pode custar milhares de dólares), e uma vida sexual (os homens são forçados a aceitar um "hands-off" da política). Roch explica porque o cabelo de uma mulher negra é um investimento desta natureza, os homens muitas vezes não são autorizados a tocá-lo durante o sexo. Rock diz: "... Você está condicionado a não ir até lá . Quando eu era um cara de namoro, namorei mulheres de diferentes raças. Sempre que eu estava com uma menina asiática ou um Porto Riquenha ou uma menina branca, minhas mãos iam constantemente em seus cabelos. Como minhas mãos estavam com sede. "O tipo de penteado que uma mulher negra tem às vezes pode funcionar como um aviso do que ela está disposta a fazer ( The Oprah Winfrey Show ).



BÁRBARA E A BONECA ENCANTADA( trecho)

- Sua mãe, depois de tanta insistência a levaria a um salão chique, proporcionando a Bárbara, o grande sonho do alisante. Então Bárbara falou para as bonequinhas:

- Vou ficar linda igual a vocês. Mamãe vai ficar bonita. De cabelo bom!



Livro: Bárbara e a Boneca Encantada (2006) de Walter Passos e Ilustração de Nattan Cerqueira. Necessitando de uma editora para publicação. Vamos fazer a parceria?

ACESSE PRETAS POESIAS:

Um comentário:

Anônimo disse...

O nergo é umaINVENÇÃO do branco;não
havia negros na África.O negro só passa a existir a partir do tráfico de escravos. Antes da chegada dos traficantes europeus, os africanos não se conheciam como negros. Negro é uma percepção do outro.
Negro é aquele que, já no batismo, recebe um nome europeu, acredita que um europeu vai descer dos céus cercado de europeuzinhos de cabelos loiros, apelidados de anjos,e levá-los para um "paraíso" cheio de ovelhas brancas.
Negro é aquele que não conhece linguas africanas, detesta nomes africanos, adora linguas europeias.
Negro é aquele que pinta o cabelo de loiro, alisa o cabelo,e vê-se
branco no espelho.
O negro é uma invenção do branco.
Negro é aquele que não possui um deus negro, veste-se como eu europeu.
Negro é aquele que detesta comida
africana. E renomeia os pratos típicos da África.
Enfim, negro é aquele que , sendo africano, detesta a África!

Eu, AMEN HOTEP !

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