quinta-feira, 15 de maio de 2008

A GUERRA DOS ESCRAVIZADOS PRETOS BATISTAS NA JAMAICA

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br

A ilha da Jamaica está localizada no mar do Caribe na América Central. O país foi colonizado pelos Espanhóis e posteriormente conquistado pelos ingleses. Estudos etnológicos mostram que o nome Xamayca (terra dos mananciais) foi dado à ilha caribenha pelos aruaques, devido à abundância de fontes existentes em suas luxuriantes florestas, alguns estudiosos a chamam de “terra de bosques e água”.

Os arawak foram os primeiros habitantes a ter contato com os europeus. Quando Cristóvão Colombo invadiu às Bahamas, o navio atraiu a atenção dos nativos que, maravilhados, foram ao encontro dos visitantes, a nado. Quando Colombo e seus marinheiros desembarcaram, armados com suas espadas e falando uma língua estranha, os arawak lhes trouxeram comida, água e presentes. Mais tarde, Colombo escreverá em seu diário de bordo:
"Eles nos trouxeram papagaios, trouxas de algodão, lanças e muitas outras coisas que trocaram por contas de vidro e guizos. Trocavam de bom coração tudo o que possuíam. Eram bem constituídos, com corpos harmoniosos e feições graciosas. [...] Não usavam armas, que não conheciam , pois quando lhes mostrei uma espada, tomaram-na pela lâmina e se cortaram, por ignorância. Não conheciam o ferro. As lanças são feitas de cana. Dariam bons criados. Com cinquenta homens, poder-se-ia submeter todos eles e fazer deles o que se quisesse".
Colombo, fascinado por essa gente tão hospitaleira, escreverá ainda: "Desde que cheguei às Índias, na primeira ilha que encontrei, peguei alguns indígenas à força para que eles aprendam e possam me dar informações sobre tudo o que poderíamos encontrar nestas regiões". Leia Mais
A Jamaica foi reclamada pela Espanha depois de Cristóvão Colombo a ter invadido em 1494. Colombo usou a ilha como propriedade privada da sua família. Os ingleses conquistaram-na em 1670. Durante os primeiros 200 anos de domínio britânico, a Jamaica tornou-se o maior exportador mundial de açúcar, o que se conseguiu pelo uso maciço de trabalho escravizado africano.
No início do século XIX, o número de pretos era quase 20 vezes maior que o de brancos.
A conquista pelos caucasianos da ilha da Jamaica foi seguida de destruição da civilização dos aruaques em um dos genocídios mais violentos perpetrados nas Américas, e de exploração aos africanos e seus descendentes, com castigos horrendos, torturas e assassinatos, inclusive queimando vivos membros da comunidade escravizada, o incrível que eram protestantes e falavam do amor de Cristo e serviam a Sinagoga de Satanás.

PASTOR SAMUEL SHARP

Samuel Sharp nasceu na Jamaica em 1801 foi um homem letrado, estudioso e pastor da Igreja Batista. Ledor de diversos jornais ingleses observou que deveria implementar mudanças e liderar o seu povo e não confiar nos escravizadores. Ele passou a maior parte do seu tempo viajando para diversos estabelecimentos em St. James educando os escravizados sobre cristianismo e liberdade, formou uma sociedade secreta e se reunia a noite para planejar a luta pela emancipação; explicava o plano aos seus partidários escolhidos após as reuniões religiosas e os fazia beijar a Bíblia para mostrarem sua lealdade. Os participantes repassavam às outras paróquias, até que a idéia se espalhou ao longo de Saint James, Trelawny, Westmoreland, e até mesmo Saint Elizabeth e Manchester. Um orador de extrema sapiência que contagiava a platéia e usando palavras bíblicas afirmava que” os brancos não podiam escravizar os pretos como os pretos não podiam escravizar os brancos”; quem ouvia as suas pregações ficavam extasiados e felizes porque sentiam nele a presença do Espírito de Deus. O Espírito da Liberdade.

A GREVE GERAL E A GUERRA DOS BATISTAS PRETOS
O pastor Samuel Sharp planejou uma greve geral para ocorrer três dias depois do natal de 1831, a sua proposta foi de uma resistência pacífica contra os escravizadores, e sabia que devia está preparado para o confronto armado. O plano chegou ao conhecimento de alguns fazendeiros, e foram enviadas tropas à Saint James e navios de guerra eram ancorados em Montego Bay e Black River com as armas apontadas para as cidades. A rebelião durou oito dias e se espalhou por toda a ilha da Jamaica, resultando na morte de cerca de 190 africanos e 14 plantadores brancos ou superintendentes.

A VINGANÇA BRANCA
Houve mais de 750 condenações de escravos rebeldes, dos quais 138 foram condenados à morte. Muitos foram enforcados, as cabeças cortadas e colocadas nas lavouras. A maior parte das pessoas que escapou da condenação à morte foi brutalmente castigada e, em alguns casos, a punição a foi tão dura que eles não sobreviveram.
O Pastor Samuel Sharp cumpriu a sua missão como um verdadeiro pastor, sendo capturado e enforcado em na Praça Charles - Montego Bay em 23 de maio 1832.
No momento da sua morte ele disse: “Eu prefiro morrer enforcado a viver como escravo.”

HOMENAGEM DO POVO JAMAICANO
A luta dos batistas jamaicanos não foi em vão, em 01 de agosto de 1834 a escravidão terminou na Jamaica, conquistada pelos próprios escravizados. O povo jamaicano não esqueceu o pastor Samuel Sharp, relembrado como “Papai Sam Sharp” e inúmeras homenagens lhe são prestadas:
Em 1975, após a independência, Sam Sharpe foi feito um herói nacional e em sua honra esta praça foi renomeado Sam Sharpe Square.

Em sua homenagem, também está o retrato na nota de cinqüenta dólares Jamaicanos.

O povo jamaicano também homenagea A GRANDE NANNY QUILOMBOLA - A MÃE DA JAMAICA

CONCLUSÃO
O exemplo do pastor batista Samuel Sharp mostra-nos que a união do povo preto é essencial para a conquista da liberdade. As igrejas no Brasil conseguem manter através dos discursos milhões de descendentes de africanos na inércia, sonhando e esperando uma vida futura pós-morte de felicidade. Conseguiram criar batalhões enfurecidos para combater as religiões de origem africana, usando-nos como marionetes para perpetuar o racismo. Já passou o tempo do povo preto construir as suas próprias igrejas, pois as provas são incontestes que milhões estão marginalizados. As igrejas no Brasil conseguiram subjugar pastores e pastoras pretas que a todo o momento se acovardam e colocam vendas brancas nos olhos e continuam amendontrados (as), temerosos de usarem os púlpitos e a exemplo de Samuel Sharp levar a mensagem do Reino de Deus que é contra toda a injustiça.
Sharp declarou que o cristianismo não aceita opressão. Infelizmente, o cristianismo embranquecido se tornou escravidão para milhões de brasileiros pretos. A mensagem de Yeshua só é verdadeira se pregar a liberdade.

6 comentários:

selasie disse...

odeio vifar fazendo comparações mas não da para não fazelo , la nos EUA parece que os negro são muito mais organizados aqui ainda vale a lei dos negros mais claros que sofrem preconceitos ,mais são preconceituosos contra si e contra o mais escuros ,que na minha opinião nunca deveriam aceitar qualquer tipo de chacota engunato não aver uma iniciativa globalizada deesta inforamções a os que não tem vai ficar dificio ,eu mesmo ando planejando com algums coleagas a ir a favelas onde se concentra muitos negro , e começar a espelir a conciencia de dentro para fora , por que na favela e muito mais facio um negro de favela se assumir do que um de bairros que ja aceitou ser um boneco e tem preguisa de pensar !valeu .

Anônimo disse...

Cristo é o Caminho que devemos escolher sempre! Sem dúvida nenhuma. Mas não são as igrejas que devem determinar o papel do povo preto no Brasil. O povo preto deve conquistar e garantir seu lugar dentro da igreja de Cristo. A maioria do povo preto não se assume enquanto afrodescendentes.

Assim como já escrevi noutros comentários, conheço muito bem a religião dos nossos antepassados. Me apartei dela por não concordar com 99,9% do que era ensinado por lá...fiquei sem opção até me converter anos depois. Me afastei tal e qual da católica, que deu nomes santos aos orixás africanos. E sem falar que a maioria dos terreiros está assumindo uma linha mais "kardecista" (até os mais otodoxos), ou seja, mais embranquecimento que isso, impossível. Mas é a essência que não condiz com minha filosofia de vida.

A igreja que mais dividiu o povo preto foi a católica não se esqueçam disso. O racismo é velado no Brasil graças a ela, o embranquecimento da raça foi idéia dos católicos, juntamente com teorias darwinistas. Igreja evangélica é sim sim não não. Talvez por isso que nos EUA a história dos negros seja diferente. É preferível um inimigo declarado a um falso amigo. E foi o papel de "falsa amiga do povo preto" que a católica romana sempre fez. A idolatria é divisora da fé e, tanto católica quanto religiões afros, idolatram seus santos. Quando nossa fé é focada em Cristo e seguimos somente seus passos, podemos mensurá-la e fortalecê-la a cada dia, com seus ensimentos.

Voces acham que quando fui resgatada (sim) pelo próprio Cristo, com seu amor transformador/preenchedor perguntei qual a cor de sua pele? Imagina! rs...Só queria saber (e quero) do amor vivo e sincero que se apoderou de mim. rs

Uma igreja para o povo preto seria ótimo, porém não deve jamais fugir à Palavra de Deus...ela é nossa referência cristã e devemos estar sempre firmados nos ensinamentos contidos nela.

Uma coisa que une e sempre unirá o povo preto é o rítmo. Acompanhado de uma boa mensagem, da Palavra, então! rs

Mais uma vez recomendo ouvirem trabalho dos jovens pretos da igreja. São muitos, mas estes para começar:

O cd D'ALMA, do grupo Apocalipse 16, une vários rítmos afros, com mensagens muito boas! Conheçam as músicas D'Alma e Moisés Negro (são maravilhosas!!!);

O cd O Céu é o Limite, do grupo FLG;

O cd O que há de Melhor em Mim, do grupo Templo Soul.

O grupo Ao Cubo, faz um excelente trabalho de evangelização com jovens delinquentes, no Rio de Janeiro.

A Banda Kadoshi tinha um som bem raiz africana (batuques da terra mãe), porém foi desfeita por falta de recursos. Deveríamos apoiar o trabalho daqueles que defendemos dentro da igreja: o povo preto.
De que adianta falar falar e nossas atitudes nos contradizerem?

Vamos começar a apoiar os trabalhos bons que são realizados pelos pretos dentro da igreja! Apoiá-los é garantir a afirmação do povo preto cristão.

Em qualquer área, a qualquer tempo, o rítmo, a alegria, a dança do povo preto nos uniu e contagiou todas as outras etnias...sempre foi assim!

É essa a herança africana que mais me fascina! Nossa alma é musical, é alegria, é rítmo...uma das nossas armas de resistência e de afirmação também foi a música, não podemos nos esquecer disso. Nossa forma de conscientizar e influenciar sem distinção de classes sociais.

E para os mais letrados, também os livros, pois a palavra escrita/falada (poesia, literatura)também é nossa outra grande arma.

Eu me empolgo e acabo escrevendo quase um livro nos comentários! rsrs

Afrobeijos à todos! \O/

Anônimo disse...

Acrescento venho colaborando com minhas ofertas (antes entregues somente na igreja) com esses trabalhos musicais do povo preto, ou seja, compro cds, dvds, se possível vou aos shows. É uma forma de apoio ao trabalho deles.

E confesso se houvesse no Brasil uma igreja evangélica preta cristã, eu não teria dúvidas de onde entregar meus dízimos e ofertas para a Obra do Senhor. Porém, repito, deveria estar firmada na Palavra de Deus (disso jamais abrirei mão).

Ver o povo preto convertido, digno em sua liberdade (material, intelectual, espiritual). Ciente e consciente de si, do seu poder, da sua capacidade, completo, unido, próspero, etc...(são tantas coisas boas que desejo para nossa gente! rs)...enfim, ver tudo isso é um dos meus grandes sonhos que gostaria de ver se realizar, senão nesta geração, nas próximas, nas futuras.

Uma coisa é certa, chega de divisão! O povo preto brasileiro deve se encontrar e escrever uma nova história (sua história). E se esta união for no Nome de Jesus, a vitória é (e sempre será) certa!
Que outro nome seria capaz de unir um povo com tanta legitimidade senão o de Cristo?

Afrobeijos à todos! \O/

Anônimo disse...

Jente Deus não ver cor no ceu todos ~sao igual, eu sou contra racismo.

Anônimo disse...

Para o anônimo!

"no céu todos são iguais"
Terão que ser, senão, não estarão lá, ou seja, quem não amar a Deus sobre todas as coisas e não amar ao seu próximo como a si mesmo, estará fora da herança.

Temos certeza de que Deus não vê a cor e, sim, o coração.

O problema é aqui.rsrs

Falar que é contra o racismo, todos falam. Mas sabemos que ele existe...não há como negar.

Espero que vc esteja fazendo mais do que ser contra! ;-)

Afrobeijos

Unknown disse...

Confesso que somente conheci este site agora, durante minhas pesquisas de mestrado em História da UFPR. Minha tese trabalha os Batistas em Angola durante o processo de descolonização. A vida de Sharpe me marcou profundamente por ser um batista extremamente comprometido com a causa da liberdade, dirente das altar lideranças batistas brasileiras de hpje em dia.... Por outro lado, sou branco e não compreendo um cristianismo que se volta contra a diversidade criada por Deus. Creio que é necessário tanto o reconhecimento ao negro, como ao branco, ao indígena, ao nipônico. É preciso rever a mensagem hoje pregada de forma a atingir todos com uma mensagem relevante e libertadora. Jesus afirmou que "Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará..." Creio que esta liberdade envolve nossos estigmas e visões do outro.....

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Poemas de amor ao povo preto: https://www.facebook.com/PretasPoesias