sábado, 23 de fevereiro de 2008

SAARTIJE BAARTMAN – ZOOLÓGICOS HUMANOS – A MULHER PRETA HUMILHADA


Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com
Introdução
O colonialismo, escravidão, racismo e todas as suas mazelas, as questões de concepções normativas de beleza têm como principal alvo a mulher preta. Surpreendem as músicas cantadas em Salvador-BA pelos grupos de pagode.
Uma das músicas atualmente mais cantadas em Salvador com grande cobertura da mídia é “Vaza canhão”, interpretada pelo grupo Black Style.
Vaza Canhão
Black Style
Composição: Robyson
Cantor falando: "Eu conheci essa mulher no Orkut, ela me disse que era loira, com um metro e oitenta, com os olhos verdes, com um bundão, com peitão... eu fiquei louco marquei um encontro com ela e deu música."
E eu conheci uma menina na Internet
Ela me disse que é um verdadeiro avião
Eu marquei um encontro com ela na avenida sete
E quando eu vi a menina pirei o cabeção
Ela tem cara de jaca
Nariz de chulapa
Estria nas pernas
Bunda de peteca
Perna de alicate
Cabelo de asolã
.......................
E ela tinha uma papada
Parecia um urubu
Tinha uma impigem na cara
E cocava uu..uhhhh
http://letras.terra.com.br/black-style/1053925/
Vídeo da Banda Black Style encontrado no site Youtube Br.
Os estereótipos usados são de extrema falta de sensibilidade para com as mulheres pretas, falta o respeito às próprias mães, avós, irmãs, companheiras e filhas; músicas repetidas e dançadas pelas crianças, adolescentes, jovens, mulheres e senhoras pretas sem analisarem profundamente a exploração da sexualidade e do corpo da mulher, da sua estética e comportamentos. Sem analisar verdadeiro o racismo empregado nos termos “urubu” e “cabelos de asolã”, comprovando assim o aprisionamento da consciência.
E conforme Carlos Cavalcanti no artigo:Por que os negros preferem as loiras?
"Por que eles preferem as loiras?
Parece que está virando regra: negro bem- sucedido tem sempre uma loira a tiracolo. Não é um problema só nosso. Muito menos de falta de esclarecimento. Basta lembrar de algumas frases do líder negro norte-americano Eldridge Cleaver, em sua autobiografia Alma no Exílio. "...Não existe amor entre um homem negro e uma mulher negra. Eu, por exemplo, amo as mulheres brancas e odeio as negras. Está dentro de mim, tão profundo que já não tento mais arrancar." "Todas as vezes que eu abraço uma mulher negra, estou abraçando a escravidão, e quando envolvo em meus braços uma mulher branca, bem... estou apertando a liberdade."
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2004/02/274659.shtml
O processo histórico da violência caucasiana através do racismo científico, quando divulgaram como verdadeiras o fenótipo caucasiano utilizando uma pseudociência, objetivando destruir o povo preto, e as conseqüências dessas mentiras ficaram introjetadas em grande parte da nossa população. O racismo científico utilizou das formais mais cruéis homens e mulheres pretas africanas e afro americanas para tentar mistificar a superioridade caucasiana.
ZOOLÓGICOS HUMANOS
Na Europa e nos Estados Unidos da América surgiram o Human Zoo (zoológicos humanos) um meio de popularizar o racismo científico e tentar comprovar através da antropologia e da antropometria a inferioridade dos não-brancos.
Em 1836, Phineas Taylor Barnum exibiu durante sete meses a Joice Heth: escravizada, anciã, cega e quase paralisada de seus movimentos, inventando que a mesma possuía mais de 161 anos de idade, havia sido escravizada da família Washington, carregando o próprio George Washington, líder da independência dos USA, ainda bebê.
Barnum foi desmentido, após uma autopsia realizada pelo Dr. David L. Rogers em um local de show na cidade de Nova York na presença de 1500 expectadores. Mesmo após a sua morte Joice Heth serviu para os estudos caucasianos racistas.
Após perder a esposa e dois filhos em um massacre no Congo pelas Forças Armadas do genocida Leopoldo II da Bélgica, Oto Benga foi outro exemplo de vitíma do racismo cientifico dos caucasianos. Benga foi trazido aos Estados Unidos, em 1904, pelo missionário cristão Samuel Phillips Verner. Oto Benga e mais oito Batwa, erradamente chamados de “Pigmeus” pelos caucasianos, sendo exposto em uma gaiola no zoológico de Bronx em Nova York ao lado com um chimpanzé, idéia originaria de Madison Grant, um dos maiores eugenistas da história. Houve protestos de pastores pretos batistas, especialmente do Pastor James H. Gordon que disse:
- A nossa raça está bastante deprimida com a exibição de um de nós como um macaco.
Após ser retirado do Zoológico trabalhou na plantação de tabaco e em 20 de março de 1916 após passar por diversas humilhações e racismos, Oto Benga realizou uma dança ritual e disparou um tiro sobre o próprio coração acabando o seu calvário nos Estados Unidos da América.

Outro exemplo foi o Show Popular ocorrido em Stuttgart na Alemanha com amostras de africanos apresentado de 02 de julho a 05 de agosto de 1928.
Em breve escreverei mais detalhadamente sobre os zoológicos humanos, sendo o nosso objetivo neste artigo comentar sobre Saartjiee Baartaman, exemplo do desrespeito feito as mulheres pretas e a sua memória deve ser lembrada por toda a militância panafricanista no planeta.
SAARTTJIE BAARTMAN
Nasceu em 1789 no Cabo Oriental, membro do povo Griqua, subgrupo dos Koi San, conhecidos também como “Bushman” considerados os primeiros habitantes da África do Sul.
São considerados descendentes diretos do Homo Sapiens que evoluiu há mais ou menos 100 mil anos, os seus marcadores de DNA não são encontrados em nenhum outro povo fora da África, são os humanos mais antigos do planeta. Conforme pesquisa feita pelo geneticista Spencer Wells', publicado no National Geographic News em 2003, são a prova biológica que todos os seres humanos descendem dos africanos pretos, os quais são os seres originais feitos a imagem e semelhança de Deus.
A família de Saartjiee mudou-se para perto do Cabo Town e ela escravizada, com 20 anos de idade, de um fazendeiro holandês, foi percebida pelo cirurgião Willian Dunlop, o qual observou o seu fenótipo e constatou que ela possuía steophagia (aumento do glúteo), então foi levada da Cidade do Cabo para Londres e Paris entre 1810-1814.
No decorrer deste período ela foi exibida em "freak shows" em muitos lugares e tratada como um ser medonho, exótico, monstruoso, bizarro e apresentada em circos, museus, bares, universidades e outros locais pelos caucasianos, sendo transformada no ícone da inferioridade racial da mulher preta pelo período de cem anos.
Ela veio a falecer em 1815, seu corpo foi levado para o Museu de História Natural de Paris, onde o famoso "cientista naturalista" G. Cuvier realizou sua autópsia, moldou em gesso um molde de seu corpo, retirou seu cérebro e genitais que foram preservados em garrafas de formol e foram exibidos ao público no Museu do Homem até 1992. Mas alguns africanos nunca esqueceram Baartman. Nelson Mandela fez um pedido à França em 1994 para que seus restos mortais fossem devolvidos. Sua causa ganhou impulso no pós-apartheid da África do Sul quando surgiu uma nova consciência da identidade étnica. Por todo o país, os povos indígenas estão afirmando sua herança, direitos, alegando não só o reconhecimento político e cultural, mas também a restituição da terra ancestral e à proteção dos direitos de propriedade intelectual. O San, uma vez conhecidos como os bushmen da África meridional, com êxito histórico valorizadas terras tribais e ganhou uma quota-parte dos produtos comercializados internacionalmente de medicamentos fabricados a partir de suas plantas medicinais tradicionais. E agora Baartman khoisan da tribo, que foi reconhecido pelas Nações Unidas como um indígena "First Nation", tendo ganhado uma vitória para tribal reconhecimento por garantir o regresso dos' Hottentot Venus' para a África do Sul.
Demorou anos de negociações e questionamentos antes que uma lei fosse votada, em 6 de março de 2002, que possibilitou o seu retorno. Analistas Jurídico francês disseram que o texto foi redigido cuidadosamente para evitar que ele seja utilizado em outros casos. Investigação ministro francês Roger-Gerard Schwartzenberg disse: "A França pretende restabelecer a dignidade de Saartjie Baartman, que foi humilhada e explorada como uma mulher, como uma Africana". Embaixador Thuthukile Skweyiya declarou:
"Saartjie Baartman está começando sua última viagem para casa, com um livre, democrática, não-sexista e não-racista sul-africano. Ela é um símbolo da nossa nacional necessidade de confrontar nosso passado e restaurar dignidade para todos os nossos povos."
Em 09 de agosto de 2002 o Presidente Mbeki dirigiu-se à cerimônia, disse: "A história de Sarah Baartman é a história do povo Africano". É a história da perda da nossa antiga liberdade... É a história da nossa redução ao estado de objetos que possam ser possuídos, utilizados e rejeitados por outros".
Baartman se tornou um ícone na África do Sul como representante de tantos aspectos da sua história. O Saartjie Baartman: Centro de Mulheres e Crianças, um refúgio para as sobreviventes da violência doméstica, foi aberto na Cidade do Cabo, em 1999.

Saartjie é um dos maiores símbolos da resistência do povo preto.
Saartjie é um símbolo do panafricanismo, da luta das mulheres pretas e do combate ao racismo empregado sem pudor pelos caucasianos europeus.

7 comentários:

Anônimo disse...

Comentário sobre a música e mais tarde comento sobre a outra parte que é mais complexa:
Cadê O MOVIMENTO NEGRO? AQUELE MESMO QUE PROCESSOU O TAL TIRIRICA?
Depois disso o cara, mesmo sendo absolvido porque é uma anta e foi considerado inocente da própria ignorância, encerrou a carreira musical. E a Sony foi multada por apoiar o tal racismo em R$ 3 milhões, mas recorreu fez acordo e pagou R$ 300 mil.

fonte: http://www.observatoriosocial.org.br/conex2/?q=node/1016

Tem que processar!
E as negras que curtem esse tipo de música, têm que estudar e ler mais.
Ha muito tempo compositores negros denigrem a própria etnia. Ex. Martinho da Villa, Bezerra da Silva, etc. sempre retrataram o negro em suas músicas como beberrões, jogadores compulsivos, mulherengos, vagabundos e preguiçosos. Eu nunca curti nenhum deles, graças a Deus, por não me identificar. Uma música sucesso de minha infância que eu odiava era:

"Cadê Tereza, onde anda minha Tereza...será que arrumou outro crioulo pois ainda não voltou...
Juro por Deus se voce voltar,
Eu vou me regenerar,
Jogo fora meu chinelo,
meu baralho e a minha navalha,
e vou trabalhar..."

Nem sei quem fez e canta esse lixo,
mas tocava em todas as rádios e minha mãe sempre cantava.

Unknown disse...

Parabéns ao blog do CNNC por resgatar a história de crimes perpetrados por um sistema de dominação e opressão cruéis - o racismo - criado pelos brancos ao longo da história da humanidade. Pena que parcela significativa dos negros tenha contribuído e ainda contribua com seus próprios algozes.
Quanto a música "Cadê Tereza", oncordo parcialmente com o irmão que comentou o artigo. Ela até reforça estereótipos mas infelizmente não deixa de retratr parte da realidade dos negros da periferia carioca, quer gostemos ou não. Este, que é um samba cheio de suingue e não pode ser comparado com o lixo de Tiririca e Paulinho Camafeu - dois compositores negros sem consciência racial -, foi composto por Jorge Benjor, que todo brasileiro um pouquinho atualizado em MPB conhece. Axé.

Unknown disse...

Que isso meu isso e o fim da picada,tambem hoje em dia as proprias mulheres negras não se valoizam como tal ,hoje ate elas mesmas pintam o cabelo de loiro ,fora os alizantes ,sera que elas não vem que são manipulada .a se parecerem mais brancas do que negras eu mesmo ate hoje 90%das mulheres que fiquei eram loiras .não por que eu não goste de mulher negras elas alem de não se asumirem .tambem não se ajudam ,mais eu não vou entra nesta onde de mestisagem não vou casar com uma negra e ter filhos com elas .não que tenha nada contra mulher branca ,mais deixar de ter uma falia negra so por conta de estatus e de mais .abraço

Anônimo disse...

"...Não existe amor entre um homem negro e uma mulher negra. Eu, por exemplo, amo as mulheres brancas e odeio as negras. Está dentro de mim, tão profundo que já não tento mais arrancar." "Todas as vezes que eu abraço uma mulher negra, estou abraçando a escravidão, e quando envolvo em meus braços uma mulher branca, bem... estou apertando a liberdade."


O que dizer?
Pelo menos esse foi sincero.rs ...e eu duvido que ele "tentou" arrancar de dentro de si, como escreveu.rs
Muitos pensam assim, mas não assumem. Já sofri muito preconceito racial e sexista de homens negros (dói mais, viu?). Porém, aqueles que se dispuseram a se aprofundar nesta questão, entrar de cabeça até resolvê-la...(é um processo difícil), quando conseguem, quebram preconceitos, mudam conceitos e paradigmas, tornam-se negros maravilhosos, porque é a essência, o interior que muda (e tem que mudar), amadurece. Então, passam a ter bom relacionamento com o mundo, consigo, com sua história, com as mulheres em geral e não haverá problemas em escolherem a loira, a branca, a japonesa, a índia ou a negra para se casarem.

Percebem?
O problema é quando colocamos o histórico negativo de uma raça nas costas das pessoas com as quais nos relacionamos. Quer seja a história dos negros, ou dos não-negros. Devemos buscar o história o bastante para entender e transformar, somente isso.
Temos que procurar evoluir em termos de convivência com os não-negros, assim como muitos deles efetivamente têm evoluído (e tentado fazê-lo) conosco. Percebemos a cada dia pessoas simpáticas a causa da diversidade, com sinceridade e sem interesses pessoais. Falo sobre o Brasil, São Paulo, onde vivo.
Gostei de saber da história da Saartije Baartman - excelente texto - , mas (eu, Elisabete) não posso deixar de amar os não-negros que convivo por causa disso (e tem muitos que amo de coração aberto). E procuro conversar sobre isso com todos e verifico como são diferentes de seus ancestrais, assim como sou dos meus... Graças a Deus! rsrs ...A vida é uma constante evolução!!!

Há que se quebrar preconceitos em nosso meio, senão seremos cópia do mal, e se um dia tivéssemos o poder absoluto, faríamos igual ou pior que os "opressores" do passado. Já pensaram nisso? Primeiramente, admitir o preconceito e NÃO ACEITÁ-LO, ao contrário do que disse a ex-ministra; depois evoluir/crescer em Cristo.

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É mais doloroso e deprimente, como mulher negra, saber de declarações como essa do Eldrigde Cleaver e verificar que são verdadeiras (a atuais a exemplo das músicas) em muitos negros, que saber da história da Saartije. Ainda que saibamos que talvez esse preconceito, do líder americano, seja inconsciente (duvido), venha de mensagens subliminares, políticas educacionais sistemáticas e preconceituosas, mídia, etc. Mas o fato de um homem negro, líder, famoso, inteligente ter desistido de "tentar" lutar consigo mesmo para se melhorar, para evoluir, para se libertardo próprio preconceito... é desanimador. rs

Se o negro tem preconceito intranhado em si e nem mais "tenta" eliminá-lo, como cobrar isso do não-negro?

Anônimo disse...

Valdir Campos Estrela

"...É igual a uma cabeça de negro
Muito QI e TNT
Do lado esquerdo..."
(música Engenho de Dentro)

Música de Jorge Benjor, se referindo a inteligência do negro como sendo para o mal, ou negativa.

Por isso que para mim o principal da música, além do rítmo, é a mensagem que ela transmite.
Amo dançar, mas com o corpo dançando a cabeça continua pensando, por isso palavras e boas mensagens (positivas) são fundamentais para mim, juntamente com o suingue.

Dereviam ser para todos!
Meus ouvidos e minha cabeça são importantes para mim. rs

Concordo com o Lord Santana, tem músicas que não tem nada a ver!

Anônimo disse...

Cara, isso não vai mudar nunca.
Aposto que todos os responsáveis por este blog namoram com mulheres brancas. Meu pai negro se casou com uma branca.
TODOS os negros que conheço só namoram brancas e rejeitam as negrAS.
TODAS as negras que conheço só namoram brancos/morenos e rejeitam os negrOS.
Negro odeia a própria raça então como podem querer que os brancos ou asiáticos os respeitem?
Como pode o negro querer o fim do racismo se ele mesmo odeia o seu próprio povo? Negros rejeitam negros e querem ser aceitos pelos brancos? PORRA QUE ABSURDO CARA!!!!!
Tantos séculos e a ladainha é a mesma. Voces falam que Jesus era negro e ficam com essa ladainha de Afrocentrismo mas no entanto se casam com brancas e tentam ser brancos.
Se os negros tivessem vergonha na cara amariam o seu próprio povo e procurariam fundar repúblicas negras nas Américas e expulsar os brancos e asiáticos da África negra

Anônimo disse...

Pq não fundar uma República Bahiana Negra? Medo de viver em um país sem brancos? Ou querem viver como carrapatos por toda a eternidade sendo motivo de humilhação pelos brancos e mulatos?

PRETAS POESIAS

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