Por Walter Passos - Historiador
E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br
Seu Florisvaldo acordou contente e com um sorriso escancarado
abraçou Dona Gracinha, sua varoa, deu-lhe um beijo na boca e um kit de cashmere bouquet de presente.
- Feliz dia das mães, Amada!
Dona Gracinha estava feliz pela noite de amores, emocionada
pelo afeto do seu Varão e lembrando-se da sua mãe que não existia mais.
Os meninos e as meninas acordaram e foram correndo presentear
Dona Gracinha com as lembranças compradas a bel prazer pelo Seu Florisvaldo: duas
calçolas, um conjunto de copos, uma panela, dois panos de prato e uma jarra
para colocar o ki-suco. Presentes comprados na Baixa dos Sapateiros.
Seu Florisvaldo comprava presentes de utensílios do lar para os
filhos presentearem a sua esposa.
Cá entre nós, para sua avô e sua mãe comprou dois belos
vestidos. E, ainda, um bom presente para a sua irmã Joana que ele considerava
como a sua segunda mãe.
Entenda seu Flor!
Foi um atropelo dentro do cafofo para ver quem entregava
primeiro o presente com abraços e beijos.
- Te Amo, mainha!
Versos aprendidos na escola e todo aquele chamego gostoso das
crianças.
Uma das meninas, a caçulinha de seis anos de idade, declamou
um verso e Dona Gracinha se derramou em lágrimas:
- Eu sou pequeninha
Do tamanho de um botão
Carrego painho no bolso
E mainha no coração
O bolso furou
E painho caiu no chão.
Seu Florisvaldo deu
uma risada sem graça, lembrou-se do seu tempo de criança e que havia recitado
esse verso também.
Dona Gracinha sabia que tinha que fazer os afazeres correndo,
banho nas crianças pequenas, o café na mesa porque tinham que sair todos. Iriam
à casa de sua sogra e seria uma grande festa familiar.
Antes de saírem seu Florisvaldo admoesta a todos:
- Comportem-se na casa de minha mãe! Lá vai ser uma bacafuzada!
Falou quase cinco minutos. As suas palavras entravam pelo
ouvido e saiam pelo outro. As crianças
sabiam que na casa da avó, seu Florisvaldo não apitava nada. Era o filho caçula
e assim era tratado pelos tios e tias, irmãos e irmãs, primos e primas.
A reunião teria muita
gente porque a mãe do seu Florisvaldo residia na casa de sua avó e todos se
dirigiam para lá em épocas de festas.
E o seu Florisvaldo ansioso gostava muito da família e sorria
sozinho.
No portão, encontra uma das primas, dois anos mais nova do
que ele, e fica sério repentinamente.
- Bom dia, Flor!
Ela fala com carinho.
Ele responde sisudo:
- Bom dia!
-Está zangado primo? Parece que o cachorro te mordeu! Eu,
hein!
E beija Dona Gracinha e as crianças.
A esposa e a prole de seu Florisvaldo sabiam que ele não
gostava de ser chamado de Flor. Será que foi este o motivo da mudança de
temperamento?
O ledor já desconfiou que nesse angu tem caroço e nesse mato
tem coelho!
Seu Florisvaldo, na adolescência, havia trocado uns bitoques
com a prima e não namoraram por causa dos conselhos da avó que era a confidente
de toda a família, uma verdadeira matriarca. Na época, o coração de Florisvaldo
ficou abalado e propôs a fuga à prima que não aceitou. Coisa de adolescente apaixonado.
Ela se divertia com o ocorrido e perguntava, nos raros
momentos quando estavam a sós, nessas reuniões de família:
- Ainda vamos fugir priminho?
Esse era o motivo para o bom dia seco. Ela também já era
casada.
Alguns leitores e leitoras desse conto também já se flertaram
com primos e primas. Por isso, esse sorriso nos lábios.
A casa era só zoada e correria das crianças. Florisvaldo
adentra a residência e começa o ritual de pedir com os filhos a benção.
- Bença Vó! Bença Vô! Bença Pai! Bença Mãe! Bença tio! Bença
Tia! Bença Dinho! Bença Dinha!
E ele e Dona Gracinha abençoam também os sobrinhos e
sobrinhas. Sem comparação parecia à Casa
da Benção!
Abraça e beija a avô e a sua mãe. Entrega os presentes e é
acariciado, sorri com tanto dengo, parecia uma criança mimada.
Havia na sala de visitas um andor com as imagens de Santo
Antonio, Santa Bárbara, São Roque, São Jorge e de Cosme e Damião e velas
acesas. Florisvaldo apesar de não gostar, faz olhos de mercador.
Na casa, algumas pessoas jogavam dominó, outros buraco e a
feijoada estava no fogo.
Batida de limão, cerveja à vontade, tira gosto de pititinga
frita com farofa e bastante pimenta!
Para as crianças muita tubaína e doces!
Estavam esperando Florisvaldo chegar para começar o samba-de-roda,
ele era o rei do pandeiro e de todo instrumento de percussão e bom cantador.
E a galera grita:
- Flor! Flor! Puxa o samba! Entra na roda!
A sua avó, a sua mãe e sua irmã Joana sorriram relembrando a
mocidade de Florisvaldo.
Ele nunca desagradou a sua avó a sua mãe e a sua irmã
primogênita. Pega o pandeiro e toca. Mas, não entra na roda.
As crianças de Florisvaldo escondidos sambavam.
Ele sorri vendo a sua avó a matriarca, bem idosa sambando miudinho
e abrindo a roda:
Moinho da Bahia queimou
Queimou deixa queimar
Katinguelê, Katinguelê
Katinguelê, Katinguelá
Quem não tem cabelo
Não carrega trança
Quem não tem amor na Bahia
Não manda lembrança
Katinguelê, Katinguelê
Katinguelê, Katinguelá
- Mãe é mãe e está acima de qualquer coisa!
Assim ele dizia.
2 comentários:
que lindo,minha infãncia,menos flerte,mas na casa de minha avô maria e josé,não tinha samba,mas tinha amor,comida de fogão de lenha,bolo de fubá,tubaína tudo que os netos de manoel e inês vão chegar,pensa seis em uma vespa de uma cidade para outro:são josé do rio preto interior de são paulo á olimpia.crescemos e até hoje sinto falta.obrigada Walter a me fazer voltar no tempo,principalmente sorrir de felicidade amigo.abraços
Muito legal! lembrei das minhas avós que adoravam Cashemer bouquet...é tão bom reviver estes momentos de alegria e memória com pessoas queridas. E tão bom saber que seu Flor também era Mareense :)
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