domingo, 12 de maio de 2013

FLORISVALDO E O DIA DAS MÃES



 









Por Walter Passos - Historiador
Skype: lindoebano
Facebook: Walter Passos 


Seu Florisvaldo acordou contente e com um sorriso escancarado abraçou Dona Gracinha, sua varoa, deu-lhe um beijo na boca e um kit de cashmere bouquet de presente.


- Feliz dia das mães, Amada!

Dona Gracinha estava feliz pela noite de amores, emocionada pelo afeto do seu Varão e lembrando-se da sua mãe que não existia mais.

Os meninos e as meninas acordaram e foram correndo presentear Dona Gracinha com as lembranças compradas a bel prazer pelo Seu Florisvaldo: duas calçolas, um conjunto de copos, uma panela, dois panos de prato e uma jarra para colocar o ki-suco. Presentes comprados na Baixa dos Sapateiros.

Seu Florisvaldo comprava presentes de utensílios do lar para os filhos presentearem a sua esposa.

Cá entre nós, para sua avô e sua mãe comprou dois belos vestidos. E, ainda, um bom presente para a sua irmã Joana que ele considerava como a sua segunda mãe.

Entenda seu Flor!

Foi um atropelo dentro do cafofo para ver quem entregava primeiro o presente com abraços e beijos.

- Te Amo, mainha!

Versos aprendidos na escola e todo aquele chamego gostoso das crianças.

Uma das meninas, a caçulinha de seis anos de idade, declamou um verso e Dona Gracinha se derramou em lágrimas:

- Eu sou pequeninha
Do tamanho de um botão
Carrego painho no bolso
E mainha no coração
O bolso furou
E painho caiu no chão.

Seu Florisvaldo deu uma risada sem graça, lembrou-se do seu tempo de criança e que havia recitado esse verso também.

Dona Gracinha sabia que tinha que fazer os afazeres correndo, banho nas crianças pequenas, o café na mesa porque tinham que sair todos. Iriam à casa de sua sogra e seria uma grande festa familiar.

Antes de saírem seu Florisvaldo admoesta a todos:

- Comportem-se na casa de minha mãe!  Lá vai ser uma bacafuzada

Falou quase cinco minutos. As suas palavras entravam pelo ouvido e saiam pelo outro.  As crianças sabiam que na casa da avó, seu Florisvaldo não apitava nada. Era o filho caçula e assim era tratado pelos tios e tias, irmãos e irmãs, primos e primas.

 A reunião teria muita gente porque a mãe do seu Florisvaldo residia na casa de sua avó e todos se dirigiam para lá em épocas de festas.

E o seu Florisvaldo ansioso gostava muito da família e sorria sozinho.

No portão, encontra uma das primas, dois anos mais nova do que ele, e fica sério repentinamente.

- Bom dia, Flor!

Ela fala com carinho.

Ele responde sisudo:

- Bom dia!

-Está zangado primo? Parece que o cachorro te mordeu! Eu, hein!
E beija Dona Gracinha e as crianças.

A esposa e a prole de seu Florisvaldo sabiam que ele não gostava de ser chamado de Flor. Será que foi este o motivo da mudança de temperamento?

O ledor já desconfiou que nesse angu tem caroço e nesse mato tem coelho!

Seu Florisvaldo, na adolescência, havia trocado uns bitoques com a prima e não namoraram por causa dos conselhos da avó que era a confidente de toda a família, uma verdadeira matriarca. Na época, o coração de Florisvaldo ficou abalado e propôs a fuga à prima que não aceitou.  Coisa de adolescente apaixonado.

Ela se divertia com o ocorrido e perguntava, nos raros momentos quando estavam a sós, nessas reuniões de família:

- Ainda vamos fugir priminho?

Esse era o motivo para o bom dia seco. Ela também já era casada. 

Alguns leitores e leitoras desse conto também já se flertaram com primos e primas. Por isso, esse sorriso nos lábios.

A casa era só zoada e correria das crianças. Florisvaldo adentra a residência e começa o ritual de pedir com os filhos a benção.

- Bença Vó! Bença Vô! Bença Pai! Bença Mãe! Bença tio! Bença Tia! Bença Dinho! Bença Dinha!

E ele e Dona Gracinha abençoam também os sobrinhos e sobrinhas.  Sem comparação parecia à Casa da Benção!

Abraça e beija a avô e a sua mãe. Entrega os presentes e é acariciado, sorri com tanto dengo, parecia uma criança mimada.

Havia na sala de visitas um andor com as imagens de Santo Antonio, Santa Bárbara, São Roque, São Jorge e de Cosme e Damião e velas acesas. Florisvaldo apesar de não gostar, faz olhos de mercador.

Na casa, algumas pessoas jogavam dominó, outros buraco e a feijoada estava no fogo.

Batida de limão, cerveja à vontade, tira gosto de pititinga frita com farofa e bastante pimenta! 


Para as crianças muita tubaína e doces!

Estavam esperando Florisvaldo chegar para começar o samba-de-roda, ele era o rei do pandeiro e de todo instrumento de percussão e bom cantador.

E a galera grita:

- Flor! Flor! Puxa o samba! Entra na roda!

A sua avó, a sua mãe e sua irmã Joana sorriram relembrando a mocidade de Florisvaldo.

Ele nunca desagradou a sua avó a sua mãe e a sua irmã primogênita. Pega o pandeiro e toca. Mas, não entra na roda.

As crianças de Florisvaldo escondidos sambavam.

Ele sorri vendo a sua avó a matriarca, bem idosa sambando miudinho e abrindo a roda:

Moinho da Bahia queimou
Queimou deixa queimar

Katinguelê, Katinguelê
Katinguelê, Katinguelá

Quem não tem cabelo
Não carrega trança
Quem não tem amor na Bahia
Não manda lembrança

Katinguelê, Katinguelê
Katinguelê, Katinguelá

- Mãe é mãe e está acima de qualquer coisa!

Assim ele dizia.

2 comentários:

  1. que lindo,minha infãncia,menos flerte,mas na casa de minha avô maria e josé,não tinha samba,mas tinha amor,comida de fogão de lenha,bolo de fubá,tubaína tudo que os netos de manoel e inês vão chegar,pensa seis em uma vespa de uma cidade para outro:são josé do rio preto interior de são paulo á olimpia.crescemos e até hoje sinto falta.obrigada Walter a me fazer voltar no tempo,principalmente sorrir de felicidade amigo.abraços

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  2. Muito legal! lembrei das minhas avós que adoravam Cashemer bouquet...é tão bom reviver estes momentos de alegria e memória com pessoas queridas. E tão bom saber que seu Flor também era Mareense :)

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