Facebook: Benício Campos
Moçambique tem cerca de 22 milhões de pessoas e mais da
metade desse número é de analfabetos.
Existe toda uma mobilização para que essa constatação seja
diferente como, por exemplo, formação de professores, construção de novas
escolas, aceitação de professores com a décima classe, etc.
Apesar desse aparente esforço do governo, o resultado obtido
é muito aquém do que se espera.
Mais crianças estão na escola, mas o sistema não tem
funcionado por diversas razões.
- Crianças não reprovam até a quinta classe;
- Professores são obrigados a falsificar notas para que a escola tenha bom conceito diante do governo;
- Professores abusam sexualmente da maior parte dos alunos em troco de notas;
- Escolas sem o mínimo de estrutura para o ensino;
- População vive abaixo do nível da pobreza.
Além desses problemas lamentáveis, nos deparamos com a
situação das próprias crianças que é deplorável. É de conhecimento que 80% das
crianças moçambicanas sofrem algum tipo de subdesenvolvimento mental leve
devido à falta de nutrientes básicos necessários para o intelecto, ou seja,
crianças não se desenvolvem intelectualmente por falta de alimentação adequada.
A falta de estruturação da própria família é outro
agravante, pois a família atual é formada quase totalmente por meninas que
ficaram grávidas na adolescência, muitas delas de professores ou de
aproveitadores que a troco de míseros trocados abusam e descartam. Crianças
estão gerando crianças que sem um mínimo de apoio lançam essas novas crianças
no mundo e essas novas crianças desde muito cedo tem de aprender sobreviver e
assim, quase sempre, vão seguir os caminhos “mais fáceis” que é o roubo e a
prostituição infantil.
É muito comum se deparar com meninas que mal chegaram à
puberdade saindo com homens casados por alguns dias. A própria população
resignada com tais situações diz que aquela criança está namorando. Depois
daquilo, é igualmente comum encontrarmos essas garotas grávidas ou infectadas
com HIV. Com isso não é de se admirar que Moçambique seja o segundo país no
mundo com maior porcentagem de infectados, ficando atrás apensas da África do
Sul.
Eu vivo em Mocuba, na Zambezia há cerca de três anos. Foi
aqui que me deparei com essa realidade tão triste. A aldeia onde vivemos abriga
cerca de 20% da população de toda a cidade que possui um pouco mais de 170 mil
pessoas, segundo senso de 2007.
A miséria que se encontra esse povo é patente, é geral a
falta de esperança no futuro. Já sabem que o destino deles é fazer filhos,
conseguir uma enxada e ir para o mato cultivar milho, mandioca e amendoim para
sobreviverem. Assim, cada família produz sua pequena roça e assim vivem...
Quando fui enviado para cá, o plano era investir todo o meu
tempo na área espiritual da igreja local e de algumas outras igrejas espalhadas
na província e nas províncias do Norte. Assim eu fiz, visitei as aldeias,
treinei líderes, plantei algumas igrejas...
Trabalhei alguns meses, mas logo vi que se alguma coisa não
fosse feita pelas pessoas e principalmente pelas crianças, todo o meu “trabalho
espiritual” seria no mínimo hipócrita!
Em 2011, procurei saber o porquê de as crianças não freqüentarem
a escola e os motivos foram relatados, falta de uniforme que é obrigatório nas
escolas em Moçambique e falta de registro de nascimento. Em 2012, com apoio de
amigos vindo do Brasil, confeccionamos uniformes para nossas crianças e
regularizamos toda a documentação.
Logo percebi que isso não ajudou muito porque mesmo na
escola, as crianças não aprendiam nada e tudo me pareceu na mesma. Foi então
que conversando com profissionais da área da educação, eu descobri as reais
dificuldades, assim como citei acima.
Cheguei à conclusão que para mudar a situação de aprendizado
e desenvolvimento das crianças onde estou, é necessário um investimento em cada
área de suas vidas, isto é, educação, social, psicológico, físico e espiritual.
Em uma forma mais pratica, as crianças precisam ser
alimentadas adequadamente, precisam de um reforço escolar, precisam de
diversão, precisam da educação cristã. Ainda, para isso tudo acontecer é
necessário o envolvimento das estruturas do governo local e da própria
população.
Pensando em longo prazo, precisamos de infra estrutura
(salas, refeitório, banheiros), pessoas para lecionar, pessoas para cozinhar,
pessoas para educar, material escolar e bíblico e claro, um investimento na
própria criança como produtos da higiene, roupas, etc.
Em curto prazo, estamos planejando começar mesmo na igreja
reforço escolar de segunda a sexta-feira com uma refeição enriquecida de
nutrientes, escola bíblica, musicalização e esporte.
Iniciaremos com crianças que fazem parte da comunidade
Metodista que são cerca de 80. O critério é que sejam atendidas crianças a
partir dos seis anos que é a idade que entram na escola.
Com isso, esperamos que as crianças tenham um
desenvolvimento intelectual saudável, que as nossas meninas alcancem boas notas
e assim se livrem das mãos de professores inescrupulosos. Esperamos ainda que
essas crianças tenham um senso moral sadio proporcionado pela educação cristã e
uma visão mais positiva quanto ao futuro delas.
Estamos preparando professores vocacionados para o reforço e
para as aulas bíblicas, estamos procurando apoio entre amigos brasileiros e
escolas cristãs e estamos projetando o que seria a infraestrutura para
agregarmos nossos pequeninos.
Tudo isso surge de uma necessidade real e da igualmente real
possibilidade de mudarmos o futuro de toda uma geração...
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