Por Ferreira Sigobine Vaneza, 25 anos, mora na Guiana Francesa e é franco-brasileira.
Licenciada na Universidade Rennes2, Participou da rádio Clubebrasil, no grupo Lusophones (grupo de estudantes de
Rennes2), participou do jornal virtual brasil-info e é uma grande ativista da
causa afro-brasileira via facebook.
Facebook: Nega Vanessa
Na tarde de
sábado, depois da missa, as famílias se reuniam para comemorar o dia de folga.
Manga e sua família iam comer na casa da sua vovó Mecedes. Vó Mecedes era bem
neguinha de cabeça branca. Fazia um bolo de milho tão gostoso! Que todo mundo
que passava perto de casa parava para pedir um pouco. Era a especialidade da
minha vó. Os vizinhos faziam fila para pegar sua parte. Ela fazia questão de
deixar todo mundo comer um pouco. Eu sempre admirei muito essa maneira bondosa
da minha vó. Apesar de não compreender muita coisa.
Minha mãe
não gostava da vó Mecedes, dizia que era uma macumbeira, não era bom ficar
muito tempo perto dessa velha negra. Eu me perguntava por que minha mãe me
falava isso, já que todos nós éramos negros. Na verdade não sabia o peso dessa
palavra ainda. Na sexta-feira na minha casa era sempre a mesma briga:
-Minha mãe bradava
aos quatros cantos que depois da missa não ia comer comida de macumbeira, isso
não era coisa de Cristo, José! Faça o que tu queres, mas eu não irei.
Meu pai sempre
respondia a mesma coisa:
-Mulê, não
faça uma coisa dessas, mãe está velha. Já não posso acabar com essa tradição,
todos nós temos que ir vê-la. Ela não nos obriga a seguir sua crença, mas ela
precisa da presença dos filhos dela.
Mãe ficava
emburrada o dia todo. Quando chegava a hora do jantar, era mãe para um lado e
pai para o outro. Até que mãe aceitava e ia conversar com ele mais uma vez:
- Olhe
homem, eu andei falando com o padre Manuel. Ele me disse que não era bom deixar
as meninas irem à casa da tua mãe.
Mulê, tu
estas... O que é isso? Eu não vou trocar minha mãe por essas cambadas de
loucos. Minha mãe é mulher direita.
E Minha mãe
disse:
- José, tu
sabes o que é feito naquela casa, ontem de ontem o padre me falou que teve um outro
ritual. Isso deve ser coisa do Demo. Oh meu Deus! Será que tu eres cego?
O meu pai
respondeu:
- Não ponha
Deus nesta conversa, olhe eu não parto para te rebentar porque não quero que
nossas filhas vêem uma coisa dessas. Mas tu não esperes muito, pois não vou
esquecer isto. Não me fale desse padre. Desde que tu freqüentas essa igreja, tu
andas metendo coisas nas nossas cabeças. Antes tu não pensavas assim, mas
porque tu viste a vizinha ir para essa igreja agora queres obrigar nossos todos
irmos junto contigo. Isso não se faz e não se fala. Minha mãe não é...., depois
minhas filhas vão pensar o quê?
Respondeu minha
mãe:
- Enfim... Já
estou farta de brigar contigo, mas tu não me falas nunca nada. Isso não se faz
também. Deus não gosta de ritual ou sangue, Deus é amor e paz. Na igreja nós
rezamos ao Senhor pai... Eu irei! Mas saiba que espero que tu venhas também
comigo. Vou fazer esse esforço mais uma vez.
Nessa
altura, eu já estava na minha cama. Sei que mãe fica muito nervosa e sempre
procurar nos bater nestas horas. Minhas irmãs Fátima e Maria, ficam sempre de
olhos fechados. Fazem como se estão dormindo. Quando mãe vem para ver se já
estamos na cama, ficamos ainda mais nervosas. Ela se põe em pé, no pé da porta,
com a lamparinha na mão direita. Fica nós olhando durante horas e já vi chorar
muitas vezes. Como fico no canto do quarto, posso levantar o lençol para ver
essas cenas.
No sábado o
dia é corrido. Mãe tem que passar nossas roupas, pai cuida de montar a carroça,
eu dou banho nas minhas irmãs e penteio elas.
- Isto é
trabalho para irmã maior, assim diz a mãe.
Minhas irmãs
não gostam muito, pois tenho que pentear os cabelos e fazer tranças. Isso é
sempre motivo de choro e eu fico com o coração na mão. Porém se não faço
rápido, já sei o que pode acontecer comigo: fico em casa e não irei ver minha
vó. Passo a semana toda esperando o dia em ir comer o bolo de milho e rever
meus primos. E também adoro ouvir as histórias que minha vó conta debaixo do pé
de manga.
Foi daí que
veio o meu apelido: Manga, pois desde pequena sempre gostei em ir para casa da
vó. Quando chegava a casa ia correndo para o pé de manga. Os meus primos começaram
a me chamar Manga.
ACESSE PRETAS POESIAS:
ACESSE PRETAS POESIAS:
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