Por Walter Passos - Historiador e Afrocentrista
"Quando os sacerdotes brancos chegaram à África, nós tínhamos a terra e eles a bíblia. Os brancos nos deram a bíblia, e disseram que rezássemos com os olhos fechados. Quando abrimos os olhos, eles tinham terra e nós a bíblia." - Jomo Kenyatta.
A opção religiosa é “subjetiva” e há um ditado que diz: religião não se discute. No que tange aos africanos e as religiões impostas na África e aos descendentes sequestrados no infame tráfico negreiro: religião se discute. Porque foram atos de extremas violências físicas e psicológicas.
A imposição do cristianismo aos africanos e descendentes foi uma das maiores mudanças culturais da história da humanidade. Para os africanos o pensar e viver religioso se baseia na solidariedade e na comunidade, práticas antagônicas ao cristianismo embasado na individualidade e prosperidade pessoal.
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O cristianismo foi o braço ideológico do colonialismo, através dos missionários católicos e protestantes as nações brancas colonizadoras puderam afetar culturas milenares que possuíam rituais belíssimos de nascimento, casamento, morte e especialmente o contato com os ancestrais, estes foram rituais banalizados e demonizados. Com a ideia de civilização superior os missionários criaram divisão e discórdia utilizando o instrumento ideológico, e gradualmente mudou a mente do povo africano e fez-lhes ver a sua religião como superstição e atraso civilizatório, apregoando a beleza e superioridade do deus cristão e a inferioridade das diversas concepções de deus na África. Não foi uma atitude simplesmente de missões religiosas, internamente mostrava ao africano a sua inferioridade, sujeira e pobreza espiritual, ao contraponto da superioridade, pureza e riqueza do deus branco conquistador.
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Os descendentes de africanos nas Américas não puderam manter as suas línguas nativas e somente nas religiões de matrizes africanas que são as maiores expressões de resistência nas Américas, às línguas foram mantidas com extrema dificuldade, perseguições e adjetivadas como línguas do Satanás. Por isso a minha estranheza e ao mesmo tempo entendimento da tristeza e medo de alguns cristãos africanos e de pretos brasileiros cristãos a se referir a línguas ancestres.
A colonização e o cristianismo conseguiram através do imperialismo cultural ocidental atingir os rins e afetar o fluxo sanguíneo da vida dos africanos cristãos e descendentes através da negação de seu poder de comunicação simbólica das línguas maternas. Obrigando-os a pensar e crer a maneira branca e repudiar os milenares conceitos epistemológicos e metafísicos ao aceitar a ideologia dos europeus cristãos, sendo uma das principais tarefas dos missionários substituir crenças e valores tradicionais, especialmente às línguas nativas com as escolas das missões e formais dedicadas a preparar uma elite conivente e participativa de propagar como correta os novos conhecimentos dos colonizadores e defendê-los contra reações libertárias do seu próprio povo.
Conversando com um amigo africano ele me disse: conversão é renegar o passado dos seus pais, é abjurar a ancestralidade. Então se torna necessário tirarmos ilações sobre a conversão da população preta ao cristianismo e as consequências sociopolíticas e culturais. Dentro da concepção cristã a conversão é a mudança radical psicológica de vida, um processo de mudança total, tomada de consciência dos pecados e um renascimento para uma nova vida ao aceitar a concepção cristã europeia de deus. Os europeus tratavam os africanos como subespécie humana, um elo entre o macaco e o ser humano, uma criança incapaz de gerir o seu próprio destino. A ciência e a religião aliadas propagaram para os europeus a inferiorizarão do africano, através de uma pseudociência, as bulas papais e teologias reformadas postulavam de que o africano foi predestinado a servir a civilização branca ocidental.
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Na África e nas Américas a continuidade do cristianismo tem sido devastador, a destruição das culturas ancestres continua bem real. E atualmente com africanos convertidos, tornando-se líderes de igrejas neopentecostais ou em igrejas oriundas no próprio continente. Nas Américas, o preto convertido se tornou o maior inimigo da sua própria ancestralidade e um cristão apto e contribuinte da continuidade missionária.
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Quando refletimos a conversão ao cristianismo podemos fazer uma viagem ao passado dos ancestrais e rememoramos o que aconteceu: invasão, destruição, mudanças econômicas e territoriais, escravidão e perca da ancestralidade. Não são recordações que tragam felicidades. Se viajássemos no tempo e retornássemos ao viver dos nossos ancestrais os encontraríamos com suas concepções teológicas de vida e morte equilibradas.
Pois no cristianismo nós encontramos uma história de tristeza, sequestro, de aprisionamento de uma guerra religiosa onde nossos ancestrais foram forçados a aceitar o pensamento do homem branco. O encontro do nosso povo com o cristianismo foi um encontro de morte e não de vida. O reencontro do nosso povo com a ancestralidade é uma ressurreição da morte branca para a vida preta plena.
Torna-se necessário voltarmos a ter dignidade e respeito à história dos nossos antepassados e suas concepções teológicas e entendermos que para os africanos e seus descendentes o cristianismo deixou um legado de milhões de mortes, destruição de diversas culturas e civilizações. Não adianta propagar que o deus cristão não faz acepção de pessoas, porque o deus do cristianismo criado em Roma, e posteriormente mascarado com a Reforma Protestante é o mesmo: ditando tudo para o africano, tomando posse das suas riquezas roubando a sua existência.
CONGO-THE BRUTAL HISTORY
As igrejas não mudaram e as teologias apesar dos enfeites libertários com o surgimento de igrejas pretas e teologias pretas, são máscaras brancas em pele preta. Eu tenho sérias restrições aos cristãos católicos e protestantes pretos porque representam a opressão e a escravidão e não entendo nessa “redescoberta” teológica como pessoas tão inteligentes (teólogos (as) pretos defendam as religiões impostas pelo colonizador com tanta
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Recordo-me em um debate que um teólogo preto americano disse que eu não iria para o céu com os cristãos. Eu não quero ir para o céu com representantes daqueles que nos ameaçaram com o inferno por causa das nossas crenças originais. Fiquei feliz porque não vou para o céu branco pregado pelos cristãos.
Reaja Povo Preto mantendo vivos os ensinamentos dos ancestrais!
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3 comentários:
parabéns Irmão Walter! fogo em Roma!!!
Meu caro, seu texto foi muito bem escrito, parabéns. Mas acredito que há certos equívocos.
Me pareceu que você considera todos os africanos convertidos ao cristianismo vítimas da alienação imposta pelo povo branco. Decerto, isso não é verdade.
É necessário entender que todo povo, de todas as etnias, é livre para mudar de religião quando quiser. Tanto os brancos podem se tornar adeptos de religiões afros, como os negros podem se tornar adeptos de religiões europeias e afins. Afirmar o contrário seria pregar um novo apartheid.
Porém, é fundamental que saibamos quais as condições para essa escolha. Essa escolha religiosa não pode nunca ser baseada em opressão e violência. O homem deve ser livre para escolher o que quiser pensar.
Abraços.
uma coisa é ser livre, e outra é ser imposta...ou se converter a algo que os nossos antepassados foram a aceitar
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