Por Walter Passos,
Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Poeta
Há certos relatos históricos não possuidores de comprovação
documental e oralidade, consequência de infelizes hábitos de se criarem mitos
da escravidão. A história preta tem sido uma ciência vilipendiada, forjada de
mentiras e apropriada pelos eurocêntricos.
As pessoas estão acostumadas a “diagnosticar” estórias.
Compreensível no mudo virtual em comunidades onde as pessoas escrevem ao bel
querer sem responsabilidade para um grupo desinformado-desinteressado ou
desconhecedor das metodologias da história. A Prova é: eu acho e acabou... As
comprovações documentais não são consideradas.
Na história brasileira há uma tentativa de se fazer engolir
uma pseudo supremacia nagô (Yoruba) em detrimento aos bantus. Mais uma
artimanha de pesquisadores brancos como Pierre Verger e outros que criaram o
mito da superioridade Yoruba. Os brancos tentam nos ensinar sobre a nossa
história e religiosidade. Eles são engraçados! Felizmente, a população preta
tem questionado essa tática caucasiana de criar celeumas entre o nosso povo e
estamos aprendendo a respeitar as diversas influências africanas nas nossas
vidas.
Na década de 80 do século passado se criou uma história
irreal sobre as bonecas que vi na minha infância, as quais minha mãe e minha
tia aprenderam das mais antigas e confeccionavam para as meninas brincarem de
mamães ou fazerem teatrinhos. Nunca ouvi o nome dados atualmente: abayomi (A
palavra Abayomi significa: encontro feliz, ou encontro precioso, aquele que
traz felicidade e alegria).
“Quando os negros vieram da África para o Brasil como
escravos, atravessaram o Oceano Atlântico numa viagem muito difícil”. As
crianças choravam assustadas, porque viam a dor e o desespero dos adultos. As
mães negras, então, para acalentar suas crianças, rasgavam tiras de pano de
suas saias e faziam bonecas com elas para as crianças brincarem. Essas bonecas
são chamadas de Abayomi”.
Não nego a importância do trabalho de Waldilena Martins e
muito menos a influência dessas confecções na releitura das novas bonecas de
pano na autoestima do nosso povo.. Questiono o nome ABAYOMI. “As crianças
choravam assustadas, porque viam a dor e o desespero dos adultos”. As mães
negras, então, para acalentar suas crianças, rasgavam tiras de pano de suas
saias e faziam bonecas com elas para as crianças brincarem. Essas bonecas são
chamadas de Abayomi.
Bonecas foram brincadeiras de crianças em Kemet (Antigo
Egito) em Mohenjo daro, Harappa e em todas as civilizações.
Algumas questões precisam ser discutidas:
1- Os interesses dos traficantes em África.
2- A quantidade de homens e mulheres e crianças (gênero)
3- O transporte dos prisioneiros de guerras (alimentação,
vestimentas, doenças, como ficavam aprisionados, etc..).
3.1 Como eram alocados, homens mulheres e crianças.
4- Qual era a taxa de sobrevivência
5- Quando começou o sequestro dos povos da Costa de Benin em
direção ao Brasil
Outras questões poderiam ser ventiladas para uma discussão
mais aprofundada. Não sendo necessário. O mito de que foram mulheres Yoruba que
rasgavam as saias dos vestidos em navios do desespero não pode ser comprovado e
não existe esse nome para bonecas pretas em nenhuma tradição africana nas
Américas. Foi um mito criado na década de 80 do século passado no Brasil.
Evidente que as primeiras bonecas de pano a serem criadas no
Brasil foram de tradição bantu. Isso é inquestionável. Os nomes dados?
Perderam-se na história.
A confecção de bonecas de panos foi um fato corriqueiro para
brincadeiras das meninas em toda América Africana.
Inclusive no Sul dos USA na época da escravidão as mulheres
pretas confeccionam bonecas de duas cabeças (topsy-turvy doll) (boneca de
pernas para o ar) em vez de pernas, outra cabeça que poderia ser escondido sob
a saia da boneca. Uma cabeça e um conjunto de braços seriam brancos; os outros
seriam pretos, os senhores de escravizados não queriam que as crianças pretas
tivessem bonecas porque davam uma ideia de empoderamento.
"Quando o senhor de escravizados ia embora, as crianças
tinham o lado preto, mas, quando o senhor de escravizados estava por perto,
elas tinham o lado branco”.
O nome dado as bonecas na década de 80 do século passado,
nós a chamávamos de “boneca de pano”, inclusive em Salvador/Bahia, antigamente
havia bonecas de panos brancos nas mãos de meninas pretas.
O que não podemos conceber é o Nagocentrismo ou Yorobofolia.
Quando vou à roça de candomblé, é uma casa ketu (nagô), mas, a verdade
histórica está acima das tradições familiares e escolhas pessoais.
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