Por Malachiyah Ben Ysrayl - Historiador e Hebreu-Israelita
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Todos os dias, ao cair da tarde, uma idosa bem preta de lenço
branco na cabeça, saia comprida e com um andar sereno, descia a rua apoiada em sua
bengala na mão direita, sempre sorridente.
Ao avistá-la, as crianças paravam de brincar de pique, bandeirinha,
amarelinha, quebra-pião, em um período onde ainda se podia brincar nas ruas sem
os atrativos da vida moderna, e, respeitosamente, paravam e diziam:
- A benção Vovó!
Vovó a todos abençoava e seguia seu caminho para onde não
sei.
Foram anos e anos, a Vovó descendo a rua e todos os dias o
mesmo ritual, uma coisa bonita, a relação de respeitabilidade entre as crianças
e a idosa, que conhecia rezas e chás. Os adultos comentavam que ela tinha uma Casa
de Umbanda; as crianças a consideravam um anjo de pessoa, a querida Vovó.
Certo dia, uma das crianças, uma daquelas que mais gostava da
Vovó, um menino preto de seis ou sete anos de idade, que corria atrás dela para
pedir a benção, foi levado a uma igreja protestante e se tornou, como se dizia
antigamente, um Bíblia ou um Crente, época em que os protestantes eram
considerados pessoas de bem.
Na Igreja, o menino ouviu também falar da Vovó, mas não da
maneira que ouvira na rua ou dos adultos.
Ele se sentia uma pessoa diferente das outras, mais
importante, deveria ser “uma luz no mundo”, como “um sal na terra”, um diferencial.
Colocam essas coisas nas cabeças das crianças.
Certo dia, em uma discussão com um menino de cor branca,
também crente, de outra denominação, ele cheio de orgulho disse:
- Não vou brigar com você! Sou crente e crente não briga com
irmão.
Então, ele ouviu rispidamente do “irmão”:
- Preto só entra na igreja para chamar branco de irmão.
O resultado foi desastroso e os “irmãos” brigaram. Brigas de
crianças, elas são muito sensíveis as palavras.
Outro dia, a maioria das crianças brincando, quando mais uma
vez, a vovó desce a rua e todos pedem a benção, exceto o neófito, o menino
preto, o crente. Os colegas estranharam porque ele era o mais animado para ser
abençoado.
Ao ser indagado:
- Por que você não pediu a benção da Vovó?
Ele, tristemente e cabisbaixo, respondeu:
- Na Igreja, disseram que Vovó é do povo que segue a religião do Diabo.
ACESSE
PRETAS POESIAS:
Que triste historia.
ResponderExcluirBenção só se dá quem tem para passar. De mãe ou de pai, geralmente. No mundo moderno, que é o meu, lamento não vivo de passado. Uma pessoa que tem a vida derrotada vai passar qual benção? Agora se a vovó umbandista for cheia da grana -nos dias de hoje- pode abençoar a vontade, começando com a conta bancária, que não falta quem precise. Qual o real significado de abençoar, historicamente? Abençoa-se com bens e não com um simples, "abençoado seja".
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