segunda-feira, 29 de agosto de 2016

O PASTOR APAIXONADO




Por Walter Passos,
Teólogo, Historiador, Poeta, Pan-africanista e Afrocentrista







Ouço comentários todos os dias que as religiões de matrizes africanas são “redutos” de homoafetividade. Essa afirmação é verdadeira ou mais uma forma de tentarem com o machismo discriminarem a reverencia a nossa ancestralidade? A homoafetividade pode ser proibida por filosofia ou opção religiosa?

Conheci diversos estudantes de teologia homoafetivos e pastores de diversas denominações do protestantismo histórico, pentecostais e neopentecostais. A homoafetividade ainda é um grande tabu na nossa sociedade. Não vou emitir opiniões sobre as determinações de religiões, apenas os sofrimentos de pessoas homoafetivas que sentem necessidade de continuarem no cristianismo ou no islamismo e pagam o preço por suas opções religiosas.
O escritor Adam Clayton Powell Jr escreveu na revista Ebony de novembro - 1951 sobre um fato ocorrido no ano de 1920 em uma cidade não informada dos USA. O pastor de nome não citado o qual ficou angustiado com a morte do seu jovem assistente (provavelmente pastor auxiliar) o qual ele considerava bonito e belo macho.
“Descrevendo o funeral, Powell enfatizou a voz do pregador trêmula, seus olhos encharcados de lágrimas, seu corpo tremendo, e sua tentativa de saltar para a sepultura com o caixão”.
Conforme Powell o reverendo soluçava amargamente pela perca do seu amante, relembrando os diversos anos de convivência. O fato interessante era o conhecimento da comunidade religiosa sobre o relacionamento amoroso desses dois líderes cristãos.
Segundo Powell “Toda a comunidade sabia sobre ele, no entanto o ministro era e é hoje um dos mais poderosos e ' respeitáveis ' pastores pretos em toda a América”. 
O que a caríssima ledora e ledor acham desse fato? É correto as igrejas cristãs proibirem a homoafetividade enquanto diversas lideranças e membros de ambos os sexos praticam essa forma de amor?


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sexta-feira, 26 de agosto de 2016

A BONECA ABAYOMI - INVENÇÃO OU VERDADE HISTÓRICA?







Por Walter Passos, 
Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Poeta





Há certos relatos históricos não possuidores de comprovação documental e oralidade, consequência de infelizes hábitos de se criarem mitos da escravidão. A história preta tem sido uma ciência vilipendiada, forjada de mentiras e apropriada pelos eurocêntricos.
As pessoas estão acostumadas a “diagnosticar” estórias. Compreensível no mudo virtual em comunidades onde as pessoas escrevem ao bel querer sem responsabilidade para um grupo desinformado-desinteressado ou desconhecedor das metodologias da história. A Prova é: eu acho e acabou... As comprovações documentais não são consideradas.
Na história brasileira há uma tentativa de se fazer engolir uma pseudo supremacia nagô (Yoruba) em detrimento aos bantus. Mais uma artimanha de pesquisadores brancos como Pierre Verger e outros que criaram o mito da superioridade Yoruba. Os brancos tentam nos ensinar sobre a nossa história e religiosidade. Eles são engraçados! Felizmente, a população preta tem questionado essa tática caucasiana de criar celeumas entre o nosso povo e estamos aprendendo a respeitar as diversas influências africanas nas nossas vidas.
Na década de 80 do século passado se criou uma história irreal sobre as bonecas que vi na minha infância, as quais minha mãe e minha tia aprenderam das mais antigas e confeccionavam para as meninas brincarem de mamães ou fazerem teatrinhos. Nunca ouvi o nome dados atualmente: abayomi (A palavra Abayomi significa: encontro feliz, ou encontro precioso, aquele que traz felicidade e alegria).


“Quando os negros vieram da África para o Brasil como escravos, atravessaram o Oceano Atlântico numa viagem muito difícil”. As crianças choravam assustadas, porque viam a dor e o desespero dos adultos. As mães negras, então, para acalentar suas crianças, rasgavam tiras de pano de suas saias e faziam bonecas com elas para as crianças brincarem. Essas bonecas são chamadas de Abayomi”.
Não nego a importância do trabalho de Waldilena Martins e muito menos a influência dessas confecções na releitura das novas bonecas de pano na autoestima do nosso povo.. Questiono o nome ABAYOMI. “As crianças choravam assustadas, porque viam a dor e o desespero dos adultos”. As mães negras, então, para acalentar suas crianças, rasgavam tiras de pano de suas saias e faziam bonecas com elas para as crianças brincarem. Essas bonecas são chamadas de Abayomi.
Bonecas foram brincadeiras de crianças em Kemet (Antigo Egito) em Mohenjo daro, Harappa e em todas as civilizações.
Algumas questões precisam ser discutidas:
1- Os interesses dos traficantes em África.
2- A quantidade de homens e mulheres e crianças (gênero)
3- O transporte dos prisioneiros de guerras (alimentação, vestimentas, doenças, como ficavam aprisionados, etc..).
3.1 Como eram alocados, homens mulheres e crianças.
4- Qual era a taxa de sobrevivência
5- Quando começou o sequestro dos povos da Costa de Benin em direção ao Brasil
Outras questões poderiam ser ventiladas para uma discussão mais aprofundada. Não sendo necessário. O mito de que foram mulheres Yoruba que rasgavam as saias dos vestidos em navios do desespero não pode ser comprovado e não existe esse nome para bonecas pretas em nenhuma tradição africana nas Américas. Foi um mito criado na década de 80 do século passado no Brasil.
Evidente que as primeiras bonecas de pano a serem criadas no Brasil foram de tradição bantu. Isso é inquestionável. Os nomes dados? Perderam-se na história.
A confecção de bonecas de panos foi um fato corriqueiro para brincadeiras das meninas em toda América Africana.
Inclusive no Sul dos USA na época da escravidão as mulheres pretas confeccionam bonecas de duas cabeças (topsy-turvy doll) (boneca de pernas para o ar) em vez de pernas, outra cabeça que poderia ser escondido sob a saia da boneca. Uma cabeça e um conjunto de braços seriam brancos; os outros seriam pretos, os senhores de escravizados não queriam que as crianças pretas tivessem bonecas porque davam uma ideia de empoderamento.
"Quando o senhor de escravizados ia embora, as crianças tinham o lado preto, mas, quando o senhor de escravizados estava por perto, elas tinham o lado branco”.


O nome dado as bonecas na década de 80 do século passado, nós a chamávamos de “boneca de pano”, inclusive em Salvador/Bahia, antigamente havia bonecas de panos brancos nas mãos de meninas pretas.
O que não podemos conceber é o Nagocentrismo ou Yorobofolia. Quando vou à roça de candomblé, é uma casa ketu (nagô), mas, a verdade histórica está acima das tradições familiares e escolhas pessoais.


sexta-feira, 5 de agosto de 2016

O RESPEITO AO IDOSO NO CRISTIANISMO E NAS RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA



Por Walter Passos, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Poeta
Nesses dias andando por certa rua, uma senhora com mais de 80 anos de idade reclamava do mesmo modo que a minha falecida mãe sobre o abandono de irmãos, irmãs e líderes religiosos os quais não a visitavam. 


A minha mãe abandonou o modo de cultuar o Criador conforme ensinamentos dos ancestrais e permitiu ser convertida a religião eurocentrada (protestantismo calvinista), sofrendo todas as formas de discriminação racial por ser preta e baiana, comungando a sua fé no cristianismo em uma cidade do Rio de Janeiro. A minha mãe sentiu-se abandonada já em Salvador da presença dos chamados “irmãos e irmãs” de fé. 

O cristianismo desenvolveu uma concepção antibíblica de abandono dos seus idosos e doentes, de falta de respeitabilidade aos mais velhos. Não conheço relato bíblico de abandono dos ancestrais no Tanach, é triste ouvir dessas pessoas que só possuíam valor quando contribuíam financeiramente. Realidade antagônica aos cultos afro-brasileiros ou de matriz africana, fica ao gosto da ledora e do ledor essa conceituação.
A civilização ocidental possui um hábito de colocar os seus pais, tios, tias e avós em asilos porque eles atrapalham a vivência familiar. Na verdade, uma forma de se livrar do idoso, agora considerado um entrave para o bem da família. Esses fatos são utilizados por membros de igrejas. Evidente, o cristianismo é branco apesar de certas igrejas possuírem quase 100% de membros pretos. O que impera é a concepção europeia de vida e falta de amorosidade aos mais velhos.
São duas concepções de vida:
1- A branca cristã que ojeriza os idosos e não possuem tempo e
2- A africana que respeita os idosos e possuem todo o tempo porque sem idoso não tem ancestralidade.


Nos cultos afro-brasileiros ou de matriz africana só podem existir com a presença dos mais idosos, porque eles que transmitem o conhecimento e quanto mais idoso, mais sábio e digno de maior reverencia.
Eu gosto de ir ao candomblé pedir a benção aos mais velhos, sinto-me honrado quando uma senhora ou um senhor conversa comigo ensinando-me sobre a vida, sobre as energias, sobre a cosmologia africana. 
Infelizmente, muitos pretos catequizados e convertidos se voltam contra os seus antigos e amaldiçoam a sua ancestralidade para serem bem vistos pelos seus líderes brancos ou líderes pretos embranquecidos.
Acredito que o temos de aprender com os cultos afro-brasileiros ou de matriz africana a forma de tratar os que nos deram a vida e transmitiram os genes abençoados oriundos da África mãe.
Um texto despretensioso só para reflexão.

PRETAS POESIAS

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Poemas de amor ao povo preto: https://www.facebook.com/PretasPoesias