sábado, 29 de junho de 2013

DARFUR: DESERTO DE SANGUE



 










Walter Passos - Historiador
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Localizado na região Oeste do Sudão, Darfur foi um Sultanato independente, assim como inúmeros outros, até sua incorporação ao Estado do Sudão por forças militares anglo-egípcias no inicio do século passado. O que a destaca, no século XXI, é ser o maior palco de conflitos militares e genocídios étnicos da atualidade. 

Darfur, a exemplo de outras regiões do atual Sudão, abriga uma política ineficiente que não atende as necessidades básicas de sua população. Embora tenha em sua geografia uma região produtiva e fértil, as aldeias vivem sem qualquer auxilio e na pobreza extrema. Tal situação agravou-se com a assunção do Tenente General Omar Hassan Ahmad al-Bashir, que após sangrento golpe militar instaurou um regime ditatorial naquele país.

Nesse sentido, o filme DARFUR: DESERTO DE SANGUE, dirigido por Uwe Boll e estrelado por Kristanna Loken, David O’Hara, Billy Zane, retrata a viagem de um grupo de jornalistas internacionais a uma aldeia de Darfur e presenciam violentos e sanguinários conflitos armados promovidos pela população árabe contra os não-árabes, estes últimos, em sua esmagadora maioria, composta por pretos. Neste cenário, milícias apoiadas pelo governo - conhecidas como Janjawid (o diabo montado a cavalo) - espalham o horror e a morte por onde passam, destruindo aldeias, assassinando, estuprando e sequestrando crianças, em uma guerra étnico-cultural, promovida pelo ódio à população original, o que já vitimou mais de 400 mil pessoas.

 O filme denuncia o maior e mais relevante genocídio do mundo atual e faz um alerta a passividade dos organismos internacionais, bem como de ausência do reconhecimento e manifestação contrária de diversos países, entre eles a China.

Imperdível para educadores das mais diversas áreas que buscam apresentar e discutir as causas e consequências atuais da colonização, islamização, cristinianização, comércio ilegal de armas, escravização moderna, inexistência de Direitos Humanos e interesses econômicos no continente africano.

Assista ao filme gratuitamente no link abaixo:


ACESSE PRETAS POESIAS:

segunda-feira, 24 de junho de 2013

A MENINA DA PEMBA



 









Walter Passos - Historiador 
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Em pleno século XXI -  no ano de 2013 -, em uma escola pública,  Ritinha, com seis anos de idade e no segundo ano do ensino fundamental, pretinha  e belíssima, assume a sua religiosidade de origem africana de forma contundente e não nega o aprendizado no terreiro.

Ela faz parte de um número incontável de crianças pretas oriundas e pertencentes do candomblé que já nos primeiros anos do ensino fundamental conhecem o outro lado: o mundo das escolas públicas ou privadas que não respeitam e nem admitem as religiões de matrizes africanas, em seus estudantes ou em sua pedagogia.

A professora de Ritinha é uma mulher preta, em uma localidade onde a maioria das crianças é de terreiro, mas assume a religião cristã, de vertente evangélica.

As mães  vão à reunião de pais e professores ostentando os colorares que não escondem a opção religiosa africana.

Professoras evangélicas afirmam que Ritinha apresenta problemas de comportamento e aprendizado, cujo motivo único seria a prática do candomblé dela e de sua família.

Constantemente, a professora diz em sala de aula:

- Ritinha, você não aprende porque está cheia de demônios do candomblé! Por isso, você é perturbada e não aprende nada.

Nesse ínterim, a criança começou a ser tratada diferentemente pelas demais da sua turma, que começaram a chamá-la de endemoniada e a discriminá-la.

Ritinha, no entanto, não se abateu. Em rechaço as discriminações, certo dia levou talco para a sala de aula e o soprou nas coleguinhas. Todas ficaram assustadas pensando ser uma espécie de pemba, inclusive a professora.  

Então, Ritinha disse:

- Se vocês têm medo de mim, agora que vão ter mesmo!

Após o incidente, ela também diz que vai colocar o nome de algumas coleguinhas – as que mais reproduzem o discurso da professora -  na encruzilhada ou que vai fazer ebós. Estratégias de defesa que ela possui em reação a discriminação fomentada pela professora dentro da sala de aula.

Em que terra estamos? Uma professora que deveria pregar a paz e ensinar a diversidade cultural e religiosa é o agente da discriminação e de uma educação excludente.

Por mais que pareça engraçado, esse fato ocorre em uma localidade da Bahia e essa criança de nome fictício continua a sofrer discriminação e perseguição porque é seguidora de candomblé.

ACESSE PRETAS POESIAS:

domingo, 23 de junho de 2013

FLORISVALDO E A FESTA DE SÃO JOÃO




 









Walter Passos - Historiador
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 - A benção, seu Florisvaldo! Vim pegar o dinheiro da vaquinha para colocar as bandeirinhas na rua. Disse, um menino.

Complementou Zezinho:

 - Assine a lista aqui! Todos estão contribuindo.

De porta em porta, a molecada arrecadava contribuições a fim de comprar papel seda, barbante e cola cujo objetivo era confeccionar bandeirolas e balões na Rua da Paz para os festejos de São João.

Havia uma divisão de tarefas baseada em gênero nos preparativos da noite de São João. Os meninos iam procurar madeiras pelas ruas: cama velha, cadeiras quebradas, tronco de árvores, cabo de vassouras e todo tipo de móveis no lixo para preparar as fogueiras e confeccionavam os balões.

Também cabia a eles procurarem terrenos baldios e quintais onde houvesse  folhas do pé de coqueiro, folhas de  bananeira para enfeitar os postes. Com o dinheiro arrecadado, se comprava ainda latas de areia branca para cobrir o chão na rua e alguns moradores jogavam  na sala de visita.

As meninas confeccionavam as bandeirolas e organizavam toda a decoração da rua, determinavam os afazeres dos meninos por causa da desorganização e falta de lideranças masculinas para os festejos.

Alguns moradores consideravam aquela a festa mais importante do ano, inclusive seu Florisvaldo, que apesar de ter entrado na “Lei dos crentes” tinha uma mesa farta de bolos de Carimã, aipim, fubá, mungunzá e outras delicias da época.

Ele dizia:

- Não festejo a morte de João Batista. Coitadinho, teve a cabeça cortada para agradar a mulher de Herodes. Mas, aprendi dessa maneira: ter a mesa farta e os meus filhos não ficarem andando na casa dos vizinhos parecendo esfomeados, morta-fome, pedindo meu São João.

A noite de São João era animada com muitas fogueiras. As meninas e os meninos vestidos de caipira, ao redor da fogueira assando milho, soltando fogos, olhando os balões no céu. Os adultos sentados na frente das casas conversando, comendo amendoim e bebendo o tradicional licor de sabores vários: laranja, jenipapo, maracujá e outros dançando forro nas casas. Alguns aproveitavam e enchiam a cara de licores e mais fubuia, especialmente jacarezinho e saborosa.

Alguns homens e mulheres andavam com os pés descalços nas brasas das fogueiras e não se queimavam.  Seu Florisvaldo afirmava que eles eram do dendê.

“Pula a fogueira Iaiá,
Pula a fogueira Ioiô.
Cuidado para não se queimar.
Olha que a fogueira já queimou o meu amor.

Nesta noite de festança
todos caem na dança
alegrando o coração.
Foguetes, cantos e troca na cidade e na roça
em louvor a São João.”

Muitas jovens faziam adivinhações à meia noite para descobrir os futuros maridos:

- Uma das mais usadas era jogar uma faca virgem na bananeira e no dia seguinte aparecia a primeira letra do nome do futuro marido.

- Acender uma vela, rezava uma Santa Maria e deixava as gotículas caírem na água. Colocava-a no sereno e pela manhã olhava a letra que havia aparecido, que obstante, seria a primeira letra do nome do futuro marido.  

- Colocar em pedacinhos de papel dobrados nomes de rapazes conhecidos que se gostasse ou não, jogando-os em um vasilhame com água a esperar que um dos papelinhos abrirem e esse seria o nome do futuro amor.

- Quebrar um ovo em um copo de água e no outro dia ver a imagem que aparecia. Podia um ser um véu de noiva, caixão, duas portas, barril. Essa adivinhação não possuía fins específicos para casamento, era pra prever o futuro. O problema era quando aparecia um barril que significava que a jovem ira ficar para titia, muitas delas se desesperavam. Tentava-se no outro ano para ver se o destino havia mudado. E se não tivesse participado da trezena de Santo Antônio, começava rezar na sua própria casa e "Toinho” (Santo Antônio) que sofreria no fumeiro.

Uma das mais perigosas adivinhações na meia-noite consistia em sentar-se em frente a um grande espelho, que podia ser da penteadeira, colocar uma bacia cheia de água no chão atrás do corpo e aguardar a aparecer à imagem do homem que seria o seu futuro esposo. E muitas moças corriam porque acreditavam ver o que não lhes agradava.

No dia seguinte, a vizinhança se reunia e saía pelas casas pedindo meu São João, consiste em entrar nas residências alheias para comer, beber e sambar.

Então, era de bom grado sempre ter pelo menos um licor de jenipapo e amendoim cozido em casa para oferecer às visitas.   

Ninguém entendia o porquê do seu Florisvaldo todo ano comprar balões e rojões e soltar no quintal de sua casa e queimar uma fogueira dizendo que não era para São João. Era para os seus meninos não ficarem na porta dos outros vendo a festa do mundo.

Cai Cai Balão





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