sexta-feira, 7 de junho de 2013

FLORISVALDO E A TREZENA DE SANTO ANTÔNIO


 





  



Walter Passos - Historiador
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O incenso perfumava a rua e seu Florisvaldo sentia-se incomodado recordando das trezenas de Santo Antônio que ainda ocorriam na casa de seus pais.

E ele ouvia a musica na casa de Tonhão:

- Viva Santo Antônio, nosso advogado,

no céu e na terra vós sois festejado!

Na Bahia, Ogum é sincretizado com Santo Antônio, diferente do Rio de Janeiro onde é São Jorge.

Santo Antônio de capitão-do-mato virou santo casamenteiro...

A maioria dos cafofos da Rua da Paz possuía altares de Santo Antônio e rezava trezenas de primeiro a treze de junho.  Nessa época, havia uma disputa de quem fazia o altar mais bonito e crianças serviam de espiãs, agentes secretos, os meninos assumiam o papel de Kojak ou 007 e as meninas de Mulher-maravilha ou Isis, a mando de suas mães e madrinhas, para descobrirem qual eram as cores e o tamanho dos altares das casas das vizinhas (Se eram de tecido ou papel) e quais os cardápios. 

Muitas senhoras não permitiam a entradas das crianças e das vizinhas, e faziam os altares de portas fechadas.

Quem mais gastava na preparação do altar era “Tonhão das Pretas” porque havia nascido no dia de Santo Antônio. O altar de sua casa era grande e forrado com cetim de seda azul adornado com fitas prateadas, flores brancas em jarros bordados, iluminado com lâmpadas coloridas e palmeiras ao lado do altar. 
 Rezar Santo Antônio consistia em gastos e Tonhão não economizava. Eram treze dias de comilança após as rezas: Bolo com guaraná, mingau de milho, mugunzá, pipocas, xinxim de bofe, caruru, batidas e cervejas. 

E os fogos iluminavam a Rua da Paz. Todo mundo sabia. Era o Santo Antônio de Tonhão das Pretas. O Santo Antônio mais famoso do lugar para onde amigos e amigas de outros bairros iriam.


Da. Elvira (bafafá) esposa de Tonhão tinha muito que agradecer ao Santo. Corria o comentário que ela surripiou o Santo Antônio de Dª. Barbara e o enterrou de cabeça para baixo. E assim, após promessas conseguiu conquistar Tonhão. E dizia a todos:

- Adoro Santo Antônio, ele deu Tonhão pra mim.

Rita estava doida para enrabichar e conquistar o namorado de uma amiga, perguntou a sua tia Elvira o que fazer. Ela respondeu:

- Querida sobrinha faça esta oração:

- Oh, meu milagroso santo António, fazei com que aquele por quem meu coração chama ouça minha voz. E, ouvindo-a, vá aos pés de Deus Nosso Senhor comigo, vossa humilde devota. “Amém.”

E continuou o ensinamento:

- O santo tem que se virar para trazer o seu amor.  Reze os treze dias. Queridinha reforce castigando o santo. Comigo deu certo!

 Faça assim: 

- Prenda-o dentro da geladeira, coloque-o de cabeça para baixo, esconda o menino Jesus, amarre-o de cordão, o enterre dentro do fumeiro. É quente, não falha!

As moças solteironas fazem ainda promessas e castigos e simpatias para Santo Antônio.

E no dia treze de junho, o altar ficava mais bonito porque a última noite era do dono da casa. Ele colocava roupa nova e o banho de Lancaster era dobrado. 


As moças usavam vestidos novos, era um desfile de moda no dia treze porque havia o baile na casa de Tonhão com muita música lenta e merengue, e os namoricos rolavam.


Algumas iam de calças cocotas e blusas “tomara que caia”. No dia colocavam bobs para deixar os cabelos mais “bonitos” e iam à festa perfumadas de contouré, ou cashmere bouquet, ou água de colônia, pó compacto no rosto e o sensual batom.

Dona Bárbara que já tinha sido devota do santo, não queria saber das rezas. Era devota somente de Santa Bárbara. Sentia-se traída por Elvira e pelo santo. Mas, não falava nada por respeito e fé.

Se não fosse pelo seu padrinho, o nome de Seu Florisvaldo seria Antônio. 

Ele era contra a reza e quando convidado para a trezena, respondia:

- Não festejo coisas do mundo. Sou crente!

No quarto a sua esposa, sorria e agradecia a Santo Antônio por ter dado Florisvaldo a ela depois de ter sido enterrado no fumeiro.

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