Walter Passos - Historiador
O incenso
perfumava a rua e seu Florisvaldo sentia-se incomodado recordando das trezenas
de Santo Antônio que ainda ocorriam na casa de seus pais.
E ele ouvia
a musica na casa de Tonhão:
- Viva Santo Antônio, nosso advogado,
no céu e na terra vós sois festejado!
Na Bahia, Ogum
é sincretizado com Santo Antônio, diferente do Rio de Janeiro onde é São Jorge.
Santo Antônio
de capitão-do-mato virou santo casamenteiro...
A maioria
dos cafofos da Rua da Paz possuía altares de Santo Antônio e rezava trezenas de
primeiro a treze de junho. Nessa época,
havia uma disputa de quem fazia o altar mais bonito e crianças serviam de
espiãs, agentes secretos, os meninos assumiam o papel de Kojak ou 007 e as
meninas de Mulher-maravilha ou Isis, a mando de suas mães e madrinhas, para descobrirem
qual eram as cores e o tamanho dos altares das casas das vizinhas (Se eram de tecido
ou papel) e quais os cardápios.
Muitas senhoras não permitiam a entradas das
crianças e das vizinhas, e faziam os altares de portas fechadas.
Quem mais
gastava na preparação do altar era “Tonhão das Pretas” porque havia nascido no
dia de Santo Antônio. O altar de sua casa era grande e forrado com cetim de
seda azul adornado com fitas prateadas, flores brancas em jarros bordados,
iluminado com lâmpadas coloridas e palmeiras ao lado do altar.
Rezar Santo Antônio
consistia em gastos e Tonhão não economizava. Eram treze dias de comilança após
as rezas: Bolo com guaraná, mingau de milho, mugunzá, pipocas, xinxim de bofe,
caruru, batidas e cervejas.
E os fogos
iluminavam a Rua da Paz. Todo mundo sabia. Era o Santo Antônio de Tonhão das
Pretas. O Santo Antônio mais famoso do lugar para onde amigos e amigas de
outros bairros iriam.
Da. Elvira
(bafafá) esposa de Tonhão tinha muito que agradecer ao Santo. Corria o comentário
que ela surripiou o Santo Antônio de Dª. Barbara e o enterrou de cabeça para
baixo. E assim, após promessas conseguiu conquistar Tonhão. E dizia a todos:
- Adoro
Santo Antônio, ele deu Tonhão pra mim.
Rita estava
doida para enrabichar e conquistar o namorado de uma amiga, perguntou a sua tia
Elvira o que fazer. Ela respondeu:
- Querida
sobrinha faça esta oração:
- Oh, meu milagroso santo António,
fazei com que aquele por quem meu coração chama ouça minha voz. E, ouvindo-a,
vá aos pés de Deus Nosso Senhor comigo, vossa humilde devota. “Amém.”
E continuou
o ensinamento:
- O santo
tem que se virar para trazer o seu amor.
Reze os treze dias. Queridinha reforce castigando o santo. Comigo deu
certo!
Faça assim:
- Prenda-o dentro
da geladeira, coloque-o de cabeça para baixo, esconda o menino Jesus, amarre-o
de cordão, o enterre dentro do fumeiro. É quente, não falha!
As moças
solteironas fazem ainda promessas e castigos e simpatias para Santo Antônio.
E no dia treze
de junho, o altar ficava mais bonito porque a última noite era do dono da casa.
Ele colocava roupa nova e o banho de Lancaster era dobrado.
As moças
usavam vestidos novos, era um desfile de moda no dia treze porque havia o baile
na casa de Tonhão com muita música lenta e merengue, e os namoricos rolavam.
Algumas iam
de calças cocotas e blusas “tomara que caia”. No dia colocavam bobs para deixar
os cabelos mais “bonitos” e iam à festa perfumadas de contouré, ou cashmere
bouquet, ou água de colônia, pó compacto no rosto e o sensual batom.
Dona Bárbara
que já tinha sido devota do santo, não queria saber das rezas. Era devota
somente de Santa Bárbara. Sentia-se traída por Elvira e pelo santo. Mas, não
falava nada por respeito e fé.
Se não fosse
pelo seu padrinho, o nome de Seu Florisvaldo seria Antônio.
Ele era contra
a reza e quando convidado para a trezena, respondia:
- Não
festejo coisas do mundo. Sou crente!
No quarto a sua esposa, sorria e agradecia a
Santo Antônio por ter dado Florisvaldo a ela depois de ter sido enterrado no
fumeiro.
ACESSE PRETAS POESIAS:
http://www.facebook.com/PretasPoesias
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