domingo, 29 de janeiro de 2012

MENINA BONITA DO LAÇO DE FITA- LIVRO INFANTIL POLITICAMENTE CORRETO - MESTIÇAGEM COMO IDEÁRIO DAS ELITES


Por Malachiyah Ben Ysrayl.

Historiador e Hebreu-Israelita
E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br
Msn: kefingfoluke1@hotmail.com
Skype: lindoebano
Facebook: Walter PassosLink

Sempre apreciei literatura infantil. Durante a infância até a adolescência, eu li e, muitas vezes, reli inúmeras revista em quadrinhos, livros infantis e recortes de jornais. Ainda hoje, assisto desenhos animados e continuo gostando de literatura para crianças.

Naquela época, eu não compreendia a ideologia intrínseca em cada uma daquelas publicações, e mesmo com a “visão de menino”, sabia que naquelas histórias eu não me encontrava - toda criança procura nos personagens uma identificação -, nelas eu apenas me embranquecia e concomitantemente com a discriminação racial vivida, eu vivia mergulhado em crises. Sem perceber, as mensagens simbólicas de poder sempre me colocavam como inferior em uma sociedade branca judaico-cristã.

Atualmente, neste afã mercadológico da nova literatura, leio os livros infantis como observador e crítico das mazelas que ocasionam para as crianças pretas, em especial aqueles livros escritos por pessoas que não estão inseridas na realidade dos africanos e seus descendentes no Brasil, nem conosco mantém compromissos étnicos-identitários.

Por desafios, aprendi a escrever contos na tentativa de suprir a fantasia dos meus filhos e filhas pretas, quando ao buscar, não encontravam uma literatura adequada e específica para crianças pretas naquele período, desta forma, eu mesmo tive que criar as histórias.

Quando meus filhos estavam pequenos, havia uma febre de programas televisivos endereçados a crianças, como a Xuxa e muitos outros. Tais programas exaltavam o imaginário mundo das fadas e princesas européias, a dita beleza dos traços caucasianos, a ilusão da superioridade fenotípica branca e a degradação da figura das pessoas pretas.

Não permiti que os meus filhos assistissem a Xuxa e suas Paquitas, e hoje eles me agradecem. Da mesma maneira, nunca presenteei minhas filhas com bonecas de fenótipos europeus, sempre lhes dava bonecos e bonecas pretas, cujos nomes faziam referência a ilustres líderes com Zumbi, ou a belíssimos nomes africanos como Dandara, com as quais elas interagiam umbilicalmente com a pretitude. Dessa maneira, meus filhos aprenderam as suas histórias e se sentiam felizes, refletindo, ainda crianças, sobre a sua origem africana e, desde lá, conscientes de enfrentar com cabeça erguida a vida real de racismo na educação brasileira.

Os livros paradidáticos traziam mensagens que não satisfaziam a minha necessidade de informá-los sobre a sua ancestralidade africana e onde eles pudessem ser vistos. Então, comecei a colher informações e usando a criatividade escrevi dezenas de histórias e muitas delas com a participação deles, uma interação de africanidade onde os meus filhos foram participes, proporcionando a eles, hoje, o pertencimento como africanos, uma consciência adquirida desde a tenra infância, através dos contos escritos por mim.

A literatura infantil é iconográfica, com representações estéticas raciais, discursos ideológicos e poderosas influências simbólicas. O livro infantil não é pautado na inocência, mas nos interesses e projeções do autor e na manutenção da submissão daqueles considerados subalternos na sociedade. O livro infantil é a mensagem política do adulto, e sua explicação do mundo para as crianças, e naquele mundo, o preto não ocupa o lugar de poder e desconhece os padrões da ancestralidade. O livro infantil para o povo preto tem que ser considerado como arte-educação-política de literatura libertária para as nossas crianças.

Um dos livros didáticos apresentado ao meu filho caçula na 1ª série do ensino fundamental foi MENINA BONITA DO LAÇO DE FITA, escrito por Ana Maria Machado, uma renomada escritora com “mais de 100 livros publicados no Brasil e em mais de 18 países somando mais de dezoito milhões de exemplares vendidos. Os prêmios conquistados ao longo da carreira de escritora também são muitos, tantos que ela já perdeu a conta. Em 2003, Ana Maria foi eleita para ocupar a cadeira número 1 da Academia Brasileira de Letras, substituindo o Dr. Evandro Lins e Silva. Pela primeira vez, um autor com uma obra significativa para o público infantil havia sido escolhido para a Academia.”

Fonte: http://www.anamariamachado.com/biografia

MENINA BONITA DO LAÇO DE FITA


Este livro é conceituado pela crítica nacional e internacional, admirado pela maioria dos professores, e divulgado por uma parcela importante de militantes do MOVIMENTO NEGRO BRASILEIRO, inclusive mulheres, sendo referência pela maioria de professoras pretas. Sobre ele, irei tecer algumas reflexões críticas.

A princípio, merece destaque o fato do livro não ser pensando para a comunidade preta, ao contrário, a autora se inspira em sua filha, uma menina branca de ascendência italiana, conforme se pode extrair das informações do seu sitio pessoal na internet. Vejamos:

“Este livro, para mim, é uma história que surgiu a partir de uma brincadeira que eu fazia com minha filha recém-nascida de meu segundo casamento. Seu pai, de ascendência italiana, tem a pele muito mais clara do que a minha e a de meu primeiro marido. Portanto, meus dois filhos mais velhos, Rodrigo e Pedro, são mais morenos que Luísa. Quando ela nasceu, ganhou um coelhinho branco de pelúcia. Até uns dez meses de idade, Luísa quase não tinha cabelo e eu costumava por um lacinho de fita na cabeça dela quando íamos passear, para ficar com cara de menina. Como era muito clarinha, eu brincava com ela, provocando risadas com o coelhinho que lhe fazia cócegas de leve na barriga, e perguntava (eu fazia uma voz engraçada): “Menina bonita do laço de fita, qual o segredo para ser tão branquinha?” E com outra voz, enquanto ela estava rindo, eu e seus irmãos íamos respondendo o que ia dando na telha: é por que caí no leite, porque comi arroz demais, porque me pintei com giz etc. No fim, outra voz, mais grossa dizia algo do tipo: “Não, nada disso, foi uma avó italiana que deu carne e osso para ela...” Os irmãos riam muito, ela ria, era divertido. Um dia, ouvindo isso, o pai dela (que é músico) disse que tínhamos quase pronta uma canção com essa brincadeira, ou uma história, e que eu devia escrever.”
Fonte: http://www.anamariamachado.com/historia/menina-bonita-do-laco-de-fita

No primeiro olhar, o livro totalmente inocente conta a história de uma menina pretinha questionada por um coelho branco o porquê da sua cor epitelial, responde simploriamente, frases que a maioria não responderia:

- Menina bonita do laço de fita, qual é o teu segredo para ser tão pretinha?

A menina não sabia, mas inventou:

­- Ah deve ser porque eu caí na tinta preta quando era pequenina...
- Ah, deve ser porque eu tomei muito café quando era pequenina.
- Ah, deve ser porque eu comi muita jabuticaba quando era pequenina.
A menina não sabia e... Já ia inventando outra coisa, uma história de feijoada...

As respostas da menina sem nome fazem referências a uma gama de preconceitos incutidos que muitas crianças pretas ouvem para justificar a sua cor de pele. Um dos exemplos, é que as pessoas nascem pretas porque estão sujas:

“Cai na tinta preta (o sujo de tinta).”

Também é Interessante é a explicação da mãe da menina, outra personagem sem nome, que explica a cor da filha assim:

“quando a mãe dela que era uma mulata linda e risonha, resolveu se meter e disse:
- Artes de uma avó preta que ela tinha...”

Observemos que a mãe sem nome e adjetivada como “uma mulata” - fruto da miscigenação - e nós sabemos que o termo mulato não é aceito pelos setores do Movimento Negro por exprimir através da própria sociedade branca escravocrata, o filho considerado híbrido, o homem afeminado em diversos romances da literatura brasileira, a mulher sexualmente fácil, a rejeição da mulher preta. Por outro lado, a idéia de mulatismo agrada as classes dominantes por criar uma sociedade sem conflitos e impor o poder do homem branco sobre as mulheres pretas na construção de uma sociedade na concepção de Gilberto Freire.

A mulata sem nome e sem consciência racial explica a cor da menina sendo decorrente das:

- Artes de uma avó preta que ela tinha...

Quais foram estas artes? A avó preta foi uma mulher arteira, sexualmente falando, que teve relações com um homem branco, sendo estas artes (sexo) o motivo da menina ser preta? As artes são da mulher preta e não do homem branco. O homem branco na sociedade escravocrata brasileira e posteriormente após a escravidão, não faz artes, a responsabilização sempre é das mulheres pretas. Consequentemente, lembremos, que na escravidão, quando diversas mulheres pretas foram estupradas pelos senhores e seus filhos, elas que fizeram as artes. No período pós-abolição, as mulheres pretas continuam a fazer artes e terem os seus filhos “mulatos”. A autora poderia ter usado o termo:

- Por causa de um amor que a avó preta dela tinha.

Contudo, foi de extremo equivoco a autora explicar a ascendência da menina pretinha envolvendo as artes de uma avó preta e omitir o seu avô branco.

O coelho branco, símbolo de fertilidade, é um questionador e acha a menina preta bonita e deseja tornar-se preto. É o homem branco cordial, que “ama o povo preto”, e tenta se tornar preto. Ele faz diversas tentativas e não consegue alterar sua cor epitelial.

- Aí o coelho, que era bobinho, mas nem tanto, viu que a mãe da menina devia estar mesmo dizendo a verdade, porque a gente se parece sempre é com os pais, os tios, os avós e até com os parentes tortos.

Dentro daquele contesto, ainda não compreendi com clareza o que são parentes tortos.

Todavia, através da relação sexual com uma coelhinha preta, completa o seu desejo de uma ninhada multiétnica. Na representação do homem branco cordial e da sociedade sem conflitos raciais:

“- E se ele queria ter uma filha pretinha e linda que nem a menina, tinha era que procurar uma coelha preta para casar.
Não precisou procurar muito. Logo encontrou uma coelhinha escura como a noite, que achava aquele coelho branco uma graça.”

O coelho branco sempre é uma graça, lindo e poderoso que encantou a coelhinha preta igual à menina e neste casamento surge uma ninhada de coelhos semelhante à sociedade brasileira: sem graves problemas raciais, na concepção equivocada e maldosa da autora. O que nos chama a atenção é que o coelho branco segue os padrões sociais aceitos e contrai núpcias com a coelhinha preta que o achou uma graça, enquanto a avó da menina faz artes, é a preta arteira, a pecadora, a jezabel.

“-Foram namorando, casando e tiveram uma ninhada de filhotes, que coelho quando desanda a ter filhote não para mais! Tinha coelhos de todas as cores: branco, branco malhado de preto, preto malhado de branco e até uma coelha bem pretinha.”

As idéias de pluralidade racial, multietnicidade e cordialidade nas mentes das crianças são programadas pela autora, que no âmago do discurso com esta brincadeira para uma criança branca escreve um livro sem nenhuma preocupação com a comunidade preta brasileira, sem quaisquer fundamentos históricos, e reproduz um ideário das elites brancas deste país: Uma civilização brasileira sem conflitos, sem mazelas da escravidão cristã, sem luta de classes, sem importância referencial da África, uma sociedade mestiça, um livro a base do pensamento de Gilberto Freire. Um louvor a mestiçagem, em resumo: um livro “politicamente correto”.

O livro nega toda a idéia de construção de relação que devemos ter com a nossa ancestralidade africana, apesar de no seu início sugerir que “Ela ficava parecendo uma princesa das terras da áfrica, ou uma fada do Reino do Luar”. Ela sugere em contraposição a princesa das terras da África à história das fadas brancas do Reino de Luar. Temos que criar nas nossas crianças um referencial apropriado de afrocentricidade, porque o que se coloca neste conto ainda é uma idéia de branqueamento embutido na menina pretinha do laço de fita.

Não podemos aceitar a continuidade do mito do paraíso racial e o pluriculturalismo na educação deve ser baseado no respeito às diferenças e não na negação da história do povo preto.

Acredito que é uma covardia quando mascaramos das crianças a sua realidade e as inserimos em outro mundo como se fosse seu, quando deixamos que se sintam no mundo branco e elas descobrem sozinhas que este mundo não as querem com a sua ancestralidade.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

ÁFRICA- ORIGEM DAS LUTAS MARCIAIS – A ARTE DO COMBATE EM KUSH- NÚBIA O ATUAL SUDÂO


Por Malachiyah Ben Ysrayl.

Historiador e Hebreu-Israelita
E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br
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Skype: lindoebano
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Milhões de africanos na África e nas Américas praticam diversas modalidades de artes marciais, como a luta livre, jiu-jutsi, kung-fu, judô, karatê, Tae Kwon Do, hapkido, aikido, boxe, luta Greco-romana, capoeira, ninjutsi, e outros estilos.

Os lutadores pretos possuem um número incontável de fãs e nomes marcaram a história do boxe, a exemplo de Mohamed Ali, Mike Tison, Holyfield, George Foreman, entre outros. Atualmente um lutador brasileiro tem levantado as platéias pelo seu estilo e conclusão nos combates do MMA: Anderson Silva.

Se perguntarmos a um jovem preto sobre a origem das lutas marciais, imediatamente ele reportará aos países asiáticos, especialmente a China, Japão e a Coreia. E citará a capoeira como uma luta de origem afro-brasileira.

A maioria dos jovens pretos concordará com estas respostas porque assim aprendeu nos livros didáticos, nas revistas de esportes e nas academias. Inclusive terá como referência histórica as lutas gregas como a matriz, o início no planeta da arte das técnicas de combate. Fato corroborado sempre nos jogos olímpicos que tentam perpetuar o equivoco histórico e lamentavelmente milhões de africanos acreditam nesta falácia.

Como a origem da vida e a civilização se deram no continente africano, todas as ciências lá também surgiram, dentre elas a medicina, filosofia, matemática, astronomia e muitas outras, cujos estudos temáticos foram postados neste blogger:

VERDADEIRO PAI DA MEDICINA – IMHOTEP OU HIPÓCRATES?


AKHENATON E ÉDIPO - HISTÓRIA OU MITO - O PLÁGIO DOS GREGOS DA HISTÓRIA AFRICANA

A ESFINGE DE GIZÉ – A ESFINGE COPIADA PELOS GREGOS - A TENTATIVA DE BRANQUEAMENTO E A MUTILAÇÃO DA ESFINGE DE GIZÉ.

Neste artigo, iremos desmitificar esses ensinamentos e conduzi-lo a uma maravilhosa viagem no tempo para o local da origem das lutas marciais: África.
O erro histórico tem sido corrigido de uma forma eficaz, através de inúmeros documentos recém-descobertos em terras africanas: iconografia, literatura das civilizações do Vale do Nilo, combinada com estudos etnográficos.

A Civilização Kush-Nubia foi o palco das primeiras artes marciais, inúmeros documentos estão sendo estudados no antigo Kemet (nome correto para o antigo Egito) que retratam as artes marciais do povo núbio. Kemeth e Núbia tiveram em muitos períodos da história relações econômicas estáveis e períodos de turbulência política. Acredita-se que a civilização de Kemet se originou de migrações de Kush-Nubia, inclusive muitos deuses cultuados em Kemth foram deuses de Kush-Núbia, o exemplo é a deusa Isis. Apesar da civilização de Kush ter fechado por um grande período as suas fronteiras por Kemth para manter a sua pureza étnica.

As artes marciais surgidas em Kush e posteriormente divulgadas em Kemet possuíam todo um espírito filosófico com técnicas apuradas de respiração.

As escavações revelaram em monumentos de Kemet as técnicas de combate dos núbios que remontam a 2800 a. C. Uma das interessantes figuras retrata uma vitória de um kemita sobre um lutador núbio.

A luta entre o egípcio e o Núbio é ilustrada da direita para a esquerda em quatro "frames". O egípcio está usando a roupa de um soldado. No segundo quadro, o egípcio tem o seu braço esquerdo sobre e em torno da cabeça do Núbio. Penetrando em um joelho sob seu oponente, o egípcio, simultaneamente, elevadores entre as pernas do núbio, enquanto curiosos em um movimento descendente em sua cabeça. O Núbio é derrubado no chão e colocado de costas, no quadro final. O lutador egípcio está sobre seu adversário com os braços levantado em uma pose tradicional de vitória antes do Faraó.

A civilização grega apropriou-se dos ensinamentos africanos e também as suas técnicas de defesa, tanto assim, que chamou de pankaration (Παγκράτιον), que significa todos os poderes, uma mistura de boxe e luta livre, com golpes e técnicas que incluem socos, chutes, estrangulamentos, agarramentos e imobilizações. Segundo a mitologia helênica, o pankaration eve início com Hercules e Teseu. Os estudos revelam que até a palavra pankaration é de origem africana (Kemeth). O prefixo "pan" significa "todos". O sufixo "ção", ou "ion" denota ação ou estado de ser. O "Krat" porção da palavra define o conceito de "poderes" no pankration. Krat diz respeito aos métodos completos de luta que são exemplificadas pela prática de várias formas de combate. A palavra grega "Krat" pode também referir-se ao agrupamento de três palavras encontradas em um vocabulário antigo de Kemetic.

O sistema de escrita antiga kemita é conhecido como MEdu Neter. Os gregos chamaram de hieróglifos , ou os escritos dos Deuses. No MEdu Neter a palavra "Ka" tem um duplo significado: lidar com o espiritual e o físico. "Ka" significa a energia vital da alma. Observe o conceito e ortografia do Ka no antigo Kemet e as palavras "ki" em japonês, e "chi" em chinês. As três palavras referem-se a uma energia vital interna. Em Kemet, a palavra"Ka" também significa o corpo físico, ou mais precisamente, "o corpo morto".

A palavra "Ra", ou "res" significa acordar, para manter-se acordado, ou para assistir. Ra é também o nome dado ao Sol, que re-se por notícias circulando para voltar a aparecer a cada dia. Ra, a palavra fala de regeneração.

"Te", ou "t" significa mão. No antigo sistema Kemita, “t” era representado por uma mão. A palavra "Te" significa fora, para sair, para emitir, para dar, para definir, ou ao lugar. "Te" denota ação. Além disso, observe que a palavra japonesa para a mão também é "Te".

O Krat no pankration significa poderes e pode ser derivada a partir dos conceitos kemitas mais antigos de Ka (energia física e espiritual vital), ra (a levantar-se, para regenerar), e "Te" (o ato de).

É interessante notar que, no Japão, as palavras Karate (空手), ou Karate Do traduzem o significado de "caminho de mão vazia". Kara significa "vazio" e "Te" |手| | literalmente "mão", é o mesmo em Neter MEdu, como indicado acima. A palavra "do" significa caminho (em chinês é "tao"). Note-se que lendário mestre das artes marciais Masutatsu Oyama escreveu em seu primeiro livro O que é Karatê?, publicado em 1958, que "Os registros mais antigos que temos são de combate desarmados em hieróglifos das pirâmides do Egito ...". Oyama faz referência específica a Beni Hasan como fonte de artes marciais. Da mesma forma, Hawaiian Kenpo Karate, que nasceu Grandmaster Ed Parker , universalmente reconhecido como "Pai do Karate-americano", escreveu em seu primeiro livro "Kenpo Karate - Direito do punho e da mão vazia", que "os registros apresentam ligações do Kenpo Karate (ênfase Mr. Parker ), desde o tempo do Império Egípcio ".

As evidências históricas são fartas e os estudiosos atuais sabem que a luta conhecida como greco-romana está representada em ilustrações nas paredes de tumbas da região do antigo Egito chamado Mahez, que foi renomeado como "Beni Hasan", ou "monte de o filho da família Hasan ". Estas ilustrações apontam para uma ciência bem desenvolvida na Núbia e que atingiu o auge de expressão no Egito. São centenas de pinturas com diversas técnicas de golpes, como chutes, socos, estrangulamentos, uso de bastões, e diversos tipos de arma branca.
A luta livre núbia é como uma Pedra de Roseta das artes marciais, pois contém as origens e conceitos-chaves para entender as artes marciais que foram desenvolvidos milhares de anos depois, em várias regiões do planeta.

Detalhe do túmulo de Khety descreve técnicas de bloqueio de luta e articulação.


Guerreiros Núbios demonstrando chutes e técnicas de finalização (Túmulo de Amenemhat, 12ª Dinastia do Egito.)

Boxe e faixas personalizadas ( leste da parede do túmulo do governador Khety)

O uso pela primeira vez de faixas por dois competidores em combate (túmulo de Khety, 11 Dinastia do Egito)


Lutadores núbios

Há remanescentes destes lutadores africanos?

- Sim, são os Nubas. Vivem nas Montanhas Nuba e estão localizados no sul da Kordofan, cobrindo cerca de 30.000 quilômetros quadrados, aproximadamente do tamanho da Escócia no centro geográfico do Sudão.

A ciência das artes marciais foi modificada pelos povos ocidentais e perdeu muita a sua essência original de justiça, ações corretas e verdade, meditação, concentração na respiração, controle e correta liberação de poderosas forças internas. Com a destruição da biblioteca de Alexandria muitos ensinamentos das artes marciais foram perdidos, mas as escavações nos têm mostrado a veridicidade que todo o conhecimento, e entre eles, a essência das artes marciais, é de origem africana.

Shalom!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

CABELO DE PRETO – RESISTÊNCIA E AFIRMAÇÃO DA ANCESTRALIDADE - I LOVE MY HAIR - "MY NAPPY ROOTS" - GOOD HAIR - PARTE II

"Papai, como é que eu não tenho cabelo bom?




Por Walter Passos.
Historiador e Poeta
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Uma amiga internauta perguntou-me se eu estava zangado com ela. É muito difícil ficarmos aborrecidos com amigos virtuais, especialmente com aqueles que conversamos ocasionalmente. O motivo da minha suposta “zanga” foi o artigo sobre os cabelos que eu escrevi e uma amiga dela enviou o link para o seu perfil no facebook. Não escrevo especificamente para nenhuma mulher preta. Escrevo para todas as mulheres pretas e homens pretos.

É necessário que falemos de amor que se transformou em ódio a si próprio, de uma forma de banzo que a mulher preta começou a ter ao se olhar no espelho. Não de saudades, mas um banzo que corroeu o âmago de seu ser e fazia chorar nas fétidas senzalas e nas casas após o cativeiro. A mulher preta, além das mazelas do racismo, preocupações de sobrevivência, do sustento das famílias, de sofrer e amar pela irresponsabilidade de muitos homens pretos em serem verdadeiros companheiros: conseqüência da quebra dos laços familiares pela escravidão. Teve uma nova incógnita a resolver: as suas madeixas, os seus cabelos. Conheço muito bem esse processo dos cabelos das pretas. A minha filha Aidan quando pequena chorava para não pentear os seus lindos cabelos. Manter os cabelos naturais das meninas pretas é difícil por causa da falta de continuidade dos conhecimentos ancestrais africanos. Mas, é fácil quando voltamos as nossas origens e é prazeroso para toda a família o olhar de pertencimento as raízes dos nossos antepassados, o retorno pode começar pelo amor e respeito aos nossos cabelos e quão gratificante é quando as nossas meninas dizem como o a linda africana no livro de Cantares de Salomão 1:5:

- Eu Sou preta e formosa.

O conhecimento foi interrompido com a escravidão como a descontinuidade de comunicação através das línguas nativas e a imposição cultural dos senhores acarretaram a não manutenção de pentes, ervas naturais e lindos penteados que as nossas ancestrais usavam; no processo escravocrata os pretos mais ebanizados eram desvalorizados pelos que tinham as peles mais claras e cabelos mais lisos.

A intenalização no africano de que a sua cor e seu cabelo forte em forma de espiral foram motivos da inferiorizarão racial alterou as atitudes das descendências futuras. O chamado cabelo “bom” se tornou um passaporte econômico-sentimental no mundo branco das Américas. A maioria dos homens pretos, já contaminados pela beleza ocidental, considera as mulheres pretas mais belas quanto mais brancas se parecerem, e o cabelo tornou-se a mensagem de beleza, limpeza e adequação a inclusão de uma sociedade desejada, e esquecer o passado africano no olhar do espelho foram, e é à saída da maioria da população africana na América.

Desde o final da escravidão começa a se tornar popular as mudanças estéticas e já em 1920 o grande Marcus Garvey exortava a população para voltar a usar a sua estética africana.

Marcus Garvey estava com toda a razão, já no inicio da década de 1900, Annie Malone, que se tornou milionária, trouxe um novo método de alisamento para as mulheres pretas patenteando o ferro quente, auxiliando as mulheres descontentes e em crise com os cabelos africanos, que usavam para o relaxamento dos cabelos a gordura de ganso gordo, gordura de porco (bacon), manteiga, e chegavam ao cumulo de usar uma faca com manteiga aquecida. Durante décadas a prática de tentar o embranquecimnento através dos cabelos fez com que muitos pretos e pretas usassem água sanitária para o clareamento, alvejantes que nas fórmulas possuíam soda caustica, uso de cremes e loções, combinado com ferro quente, a fim de “endireitar” o cabelo.

A sua ex-empregada madame CJ Walker, anteriormente Sarah Breedlove, nascida na Louisinania em 1967, filha de ex-escravizados, trabalhou como agricultora, lavadeira e cozinheira, e após sofrer uma doença de couro cabeludo, tornou-se uma poderosa empresaria ao criar uma fórmula para os cabelos das mulheres pretas em 1900. Foi à primeira preta milionária dos USA na indústria de produtos para os cabelos, e aperfeiçou o ferro quente, ampliando os dentes patenteado pela sua ex-patroa Annie Malone.

Uma das propagandas usadas por Madame CJ Walker para convencer as mulheres pretas a modificar os cabelos foi a uso de um livro infantil publicado em 1900: The Gift of the Good Fairy (O dom da fada boa)
- "Era uma vez, uma boa fada, cujos pensamentos diários eram em muito meninos e meninas de se transformarem em mulheres e homens bonitos, e de como ela poderia embelezar aqueles infelizes a quem a natureza não tivesse dado cabelos longos e ondulados e uma pele suave e encantadora”.

A propaganda retratava o cabelo que não é ondulado e liso como indesejáveis e algo que a fada boa (
Madame CJ Walker) podia corrigir. Já se passaram cem anos e as mulheres pretas ainda valorizam o cabelo liso, e sonham com a boa fada que modificará os seus cabelos.


Garrett Augustus Morgan, um inventor preto, experimentou um líquido de agulhas para máquinas de costura, e acidentalmente, descobriu que este líquido não só esticava o tecido, mas também o cabelo. Ele fez o líquido em um creme e começou a GA Morgan Refining Company Hair. Morgan também fez um óleo corante preto para o cabelo e um pente de ferro dente-curvo em 1910, para “endireitar” o cabelo.


O processo de negação do cabelo africano começa com a infância, especialmente com as meninas. A simples brincadeiras com bonecas alertam a criança das diferenças estéticas. Foi o que ocorreu com Sergi, uma menina de origem etíope, adotada por Joey Mazzarino, principal escritor de Sesame Street, e manipulador de marionetes. Sergi ao brincar com as bonecas Barbie começou a dizer coisas negativas sobre si mesma e ao seu próprio cabelo.

- "Ela estava passando por esta fase em que realmente queria o cabelo comprido e loiro.

Mazzarino, um homem branco não ignorou o problema como fazem milhões de pais e mães pretas nas Américas. Sabia que no futuro Sergi teria problemas com a auto-estima, e ele criou um muppet para mostrar a sua filha como era belo o seu cabelo.

I Love My Hair


Desejo que este vídeo fale direto ao seu coração, minha amada irmã preta que alimenta a baixo-estima por causa dos seus cabelos. Eles são lindos. Tu és bela. Remanescente das mulheres originais

O processo da indústria de relaxantes especialmente nos Estados Unidos da América se desenvolveu de maneira surpreendente e afetou todas as regiões das Américas. Atualmente a indústria do cabelo ultrapassa a cifra de 10 bilhões de dólares só nos USA. Nós os africanos nas Américas vivemos 400 anos sem usar um pente e processos de relaxamentos. O relaxamento dos cabelos nos USA é conhecido como o “crack cremoso pela dependência que criou nas mulheres pretas.

Dois importantes documentários foram produzidos recentemente nos USA: Nappy Roots: A Journey Through Black Hair Itage-2005, dirigido por Regina Kimbell, e Good Hair, produzido por Chris Rock em 2009. Com certeza irão contribuir nas nossas discussões para o entendimento deste nefasto processo de auto-violação do corpo preto.

"My Nappy ROOTS" Award winning documentary on Black hair

Este filme produzido por Regina Kimbell através de pesquisas retrata os histórico das transformações do cabelos no pretos nos USA. Kimbell pesquisou o continente africano, a escravidão em terras americanas e as consequências até os dias atuais e produziu este precioso documentário.

Sinopse:

My Nappy Roots: A Journey Through Black Hair Itage, um documentário de edutainment, tem um olhar sem precedentes de como o cabelo preto é usado como um prisma através do qual o olhar para as questões culturais, sociais e políticas na comunidade Afro-americana ao longo do tempo. O filme revela o significado e o orgulho de penteados Africanos antes da chegada dos primeiros africanos escravizados para a América, onde a luta mais ampla do povo negro começou. Esta luta cultural e social criou o surgimento dos primeiros grandes empresários negros e da bilionária indústria do cuidado de cabelo étnico que existem hoje.

Começando com as primeiras tentativas de denominar do cabelo preto, o documentário de longa-metragem apresenta um conjunto de várias técnicas e estilos, incluindo o, conk imprensa e onda, o afro, a onda Jheri e locs. Cada estilo marca um momento distinto da história americana, a política e a cultura norte-americana Africana. Explorar para além da superfície, My Nappy Roots mergulha internamente na mentalidade que criou o debate interminável de "cabelo bom versus cabelo ruim" e papel que os meios de comunicação desempenha como instigador. Desde o início do filme, um tema subjacente de superação de obstáculos se desenvolve em uma história inspiradora de sucesso e de negócio que não termina. Em vez disso, ele levanta a questão de "para onde iremos a partir daqui?"

My Nappy Roots vai contar sua história em grande parte através das pessoas que as vozes eram, e são, fundamentais para as mudanças que têm influenciado as imagens cultural, estética e o comportamento dos negros americanos. As cineastas Regina Kimbell e Jay Bluemke entrevistam celebridades conhecidas mundialmente (Vivica A. Fox, Patti LaBelle, Ella Joyce e Malcolm-Jamal Warner para citar alguns). Historiadores, autores, jornalistas, comediantes, estilistas e barbeiros, ícones da indústria de negócios como George Johnson, Produtos Johnson, Ed Gardner, Produtos Sheen Soft, Bronner Bernard do show de cabelo Bronner Brothers International e outros fornecem históricos, relatos profissionais e pessoais em suas jornadas com os cabelos de negros. A indústria do cabelo do povo preto, que é sempre passional, às vezes chocantes, e muitas vezes cômica é considerada a libertação dos negros nos Estados Unidos.

http://www.mynappyrootsthemovement.com/virginmoom.html



Good Hair

De maneira bem-humorada, o documentário aborda a identidade dos pretos nos Estados Unidos, o movimento da indústria de produtos capilares e as tentativas das mulheres pretas em alisarem os cabelos. Ao ouvir sua filha comparar o seu cabelo com o de uma amiguinha branca, o ator e cantor Chris Rock teve a idéia de produzir o documentário Good Hair. A temática central em torno da obsessão que as mulheres afro-americanas tem com o cabelo, que no final das contas reflete o conceito que elas tem de beleza. Rock colabora como produtor, roteirista e repórter. Durante o documentário, ele entrevista diversas celebridades e médicos negros. Destes, Rock considera a participação da atriz Nia Long como a mais importante.

Em Good Hair, Rock explica como o cabelo de uma mulher negra pode afetar sua atividade diária (evitando atividades que possam afetar o seu cabelo, se cair água arruina a sua peruca), finanças (o penteado pode custar milhares de dólares), e uma vida sexual (os homens são forçados a aceitar um "hands-off" da política). Roch explica porque o cabelo de uma mulher negra é um investimento desta natureza, os homens muitas vezes não são autorizados a tocá-lo durante o sexo. Rock diz: "... Você está condicionado a não ir até lá . Quando eu era um cara de namoro, namorei mulheres de diferentes raças. Sempre que eu estava com uma menina asiática ou um Porto Riquenha ou uma menina branca, minhas mãos iam constantemente em seus cabelos. Como minhas mãos estavam com sede. "O tipo de penteado que uma mulher negra tem às vezes pode funcionar como um aviso do que ela está disposta a fazer ( The Oprah Winfrey Show ).



BÁRBARA E A BONECA ENCANTADA( trecho)

- Sua mãe, depois de tanta insistência a levaria a um salão chique, proporcionando a Bárbara, o grande sonho do alisante. Então Bárbara falou para as bonequinhas:

- Vou ficar linda igual a vocês. Mamãe vai ficar bonita. De cabelo bom!



Livro: Bárbara e a Boneca Encantada (2006) de Walter Passos e Ilustração de Nattan Cerqueira. Necessitando de uma editora para publicação. Vamos fazer a parceria?

ACESSE PRETAS POESIAS:

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

CABELO DE PRETO – RESISTÊNCIA E AFIRMAÇÃO DA ANCESTRALIDADE - Parte I



Por Walter Passos
Historiador e Poeta
E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br
Msn: kefingfoluke1@hotmail.com
Skype: lindoebano
Facebook: Walter Passos

Os cabelos dos africanos na América não são simplesmente um assunto estético, de beleza, de modismo ou de escolha, mais que isso, tornaram-se uma questão político-econômica e o livre arbítrio é questionável. Nas Américas, a todo o segundo nos lembram que somos africanos por causa da nossa cor epitelial e o passado escravagista, sendo assim, são de suma importância as nossas atitudes e decisões estéticas, porque perpassam além das nossas escolhas políticas.



O nosso cabelo em forma de espiral é forte, relembra o grande passado africano que foi esquecido pela nova estética de beleza imposta pelo padrão europeu, criando conflitos psicológicos e afetando a auto-estima do nosso povo. A nossa conversa de hoje é sobre os nossos cabelos lindos e fortes.

Os homens pretos sofrem discriminação por causa dos cabelos, mas, as mulheres pretas são o alvo discriminatório preferível, antes mesmo da natividade e continuam por toda a vida. Os estereótipos e adjetivações são diversos desde o momento que as africanas prisioneiras de guerra foram retiradas do continente-mãe. As litografias das africanas no tempo do cativeiro e logo depois do processo abolicionista demonstram que os seus cabelos se mantinham naturais.




Nossas avós, mães, irmãs, companheiras e filhas ouviram e ouvem que os seus cabelos são: duros, rebeldes, ruins, sujos e feios e quando tentam modificá-los para se parecer com os cabelos da civilização branca são chamados de domados, bons, lisos e relaxados.


Está escrito no livro de Cantares de Salomão 5:11
-Sua cabeça é como o ouro mais fino. Seus cabelos são crespos e pretos como o corvo.

Esta imagem me faz recordar um pouco da minha avó paterna e seus “cocós”, eu só conheço este penteado por este nome, são pequeno tufos no cabelo, amarrados com barbantes, este penteado de origem africana também usavam as irmãs e primas dos meus pais. Então, acredito que o fato de “melhorar” o cabelo não era uma prática em certos setores da comunidade preta em Salvador-Bahia, apesar de todo um histórico de alisamento já praticado e conhecido desde o tempo de atanho. Apesar de toda esta resistência, as mulheres pretas usavam muitos lenços nas cabeças e falavam que tinham vergonha dos cabelos. A vergonha de si mesmo é um sentimento patológico de auto-rejeição e baixa-estima.

Todas as minhas colegas pretas das escolas que mantinham os cabelos naturais foram censuradas, ridicularizados e algumas, lacrimejavam, e se sentiam envergonhadas, almejando serem mais bem aceitas nos padrões brancos alisavam os cabelos.

O cabelo natural passa uma mensagem de como a mulher vê a si própria e é muito mais fácil conversar sobre a africanidade. Não ter vergonha de usar os cabelos naturais é um simbolismo, uma forma de resistência, uma mensagem explicita de aceitação da ancestralidade. Exemplos de vida, dedicação e militância: Drª em pedagogia Ana Célia Silva, Makota Valdina Pinto e a Ministra Luiza Bairros.
Atualmente, como educador me deparo com este “problema” do cabelo “ruim” com as estudantes e as críticas dos estudantes pretos aos cabelos naturais das colegas pretas. O interessante é que ministro aulas em um bairro onde a população é de maioria preta e o mesmo é referência de pretitude em todo o Brasil.

Por que o cabelo que é um significado de benção e pertencimento se tornou maldição e negação?
Porque o processo violento de catequização e evangelização e a falsa hermenêutica da maldição de Cam ainda pairam em muitas mentes africanas nas Américas. Pois ser um bom “negro” e um bom cristão inicia-se com a caricatura da aparência do africano e ela começa pelo cabelo. A maioria das mulheres cristãs, nega a sua origem africana, e acreditam na maldição hereditária e muitos pastores (inclusive pretos) afirmam que os demônios estão nas tranças. O alisar o cabelo é uma forma de queimar o demônio e um passaporte para o mundo branco cristão.

Hoje, eu conversava com o meu filho de 13 anos sobre como é belo o cabelo dele, um cabelo turututu, um cabelo forte, como diz a minha filha Aidan. Nós temos os cabelos belos e fortes, Somos os adornos de Yah.

É muito importante para as mulheres pretas a beleza dos cabelos em um mundo globalizado onde o modismo transforma e modifica valores e cria uma sensação de que todos são iguais e o padrão de beleza ocidental se impõe como universal. Noto que a rejeição do cabelo é mental-físico-espiritual. A escravidão alterou toda uma relação de pertencimento e surgiu a negação de si mesmo, espiritualmente e fisicamente. As mulheres pretas possuem sérios problemas psicológicos com os cabelos levando a insatisfação, ódio e desprezo.

Nappy Hair, Carla Ray Thompson.


O griot Ademario comentou:

"O vídeo Nappy Hair, de Carla Ray Thompson, faz uma abordagem sobre a importância do hair style, do estilo de cabelo, para as mulheres afro-descendentes americanas. A abordagem não se limita apenas a aparência dos cabelos. De forma divertida, realiza-se um verdadeiro debate sobre o uso de tinturas, cosméticos, os diferentes cortes e, principalmente de como elas sentem-se com seus estilos e como são percebidas pelos outros.

Este vídeo traz, portanto, os vários olhares sobre os nappy (aspirais, fraldas, hair styles) das mulheres pretas e suas implicações sociais, políticas, pessoais, religiosas, econômicas, morais, etc; neste grande jogo de interesses, nesta sociedade de consumo capitalista."

Vale a pena conferir!

Novas posturas se apresentam com a juventude preta em formaturas e solenidades, outrora, se adequavam aos modelos de cabelos impostos pela sociedade dominante. Dois exemplos recentes de afirmação étnica demonstram as transformações estéticas: Dois jovens do bairro da Liberdade- Salvador-Bahia, Ícaro Luis (24 anos) formou-se em medicina pela UFBA usando tranças- raiz. Ulisses Passos (23 anos) recebeu a carteira da OAB com os cabelos de tranças.


Apesar da abolição a maioria das mulheres pretas escraviza os cabelos permitindo o cativeiro mental, psicológico e espiritual porque através deles sucumbem aos desejos do opressor rejeitando a sua beleza de mulheres originais.
O antigo ferro de marcar a carne preta foi adaptado para queimar e enfraquecer os lindos cabelos africanos no processo de embranquecimento.

Ferro
Cuti (Luiz Silva)

Primeiro o ferro marca
a violência nas costas
Depois o ferro alisa
a vergonha nos cabelos
Na verdade o que se precisa
é jogar o ferro fora
e quebrar todos os elos
dessa corrente
de desesperos.



No próximo artigo: A economia milionária do relaxamento dos cabelos, Química e Suicídio dos cabelos naturais, os mais recentes documentários sobre os cabelos políticos dos pretos nas Américas.

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