sexta-feira, 24 de agosto de 2012

ANANSI A ARANHA – NA ÁFRICA E AMERICA A SABEDORIA ASHANTI






Por Malachiyah Ben Ysrayl - Historiador e Hebreu-Israelita


As histórias africanas são as mais belas do planeta e trazem ensinamentos ancestrais que nos servem até os dias atuais. Concomitantemente com os provérbios, retratam a profundidade das instruções de formas simples com teores filosóficos de extrema perspicácia para explicar aos mais jovens comportamentos sociais.

Muitas destas histórias vieram para as Américas e foram readaptadas com diversos simbolismos que serviram para a resistência e manutenção dos ensinamentos ancestres, apesar do africano não ter preservado as línguas maternas, as histórias permitiram a manutenção do pensar africano. É peculiar nos contos africanos à presença de animais explicando as mais difíceis e complexas filosofias e respondendo enigmas da sociedade.
Anansi, uma aranha, é o animal mais importante dos contos originários da África Ocidental, especificamente da civilização Ashanti de Gana, e se espalhou para outros grupos Akan. Posteriormente, Anansi acompanhou os prisioneiros de guerra nas duras viagens nos navios direcionados à escravidão nas Américas.

Na sabedoria do Oeste Africano, entre os mais importantes símbolos Adrinka, está o de Ananse (Anansi):


Ananse NTONTAN
"Teia de aranha"
Símbolo da criatividade, sabedoria e as complexidades da vida.

Anansi (Ananse, Ananse Kwaku) entre os pretos do sul dos USA recebeu o nome de a tia Nancy, Anansi Drew (Bahamas), B'anansi (Suriname), Annancy ou Anancy (Jamaica, Granada, Costa Rica, Colômbia, Nicarágua) e outras codinomes em diversas regiões das Américas. A especificidade de Anansi é a sabedoria e a esperteza para resolver problemas aparentemente insolúveis. Na mitologia Ashanti, é a representação de um deus reconhecido por sua sabedoria e também um herói de extrema popularidade que atua em beneficio de Nyame - o deus do Universo. Além disso, Anansi é um intermediário entre Nyame e os seres vivos. A ele também é atribuído à criação do sol, da lua e das estrelas e do dia e a noite, à criação do ser humano o qual Nyame proporcionou a vida. Ensinou a humanidade a agricultura, e é responsável por propiciar as chuvas e controlar as margens dos oceanos e dos rios nos períodos de inundação.

Anansi é inteligente e astuto, as suas histórias são importantes e familiares da cultura oral Ashanti.

A palavra Anansesem (contos da aranha) representa todos os tipos de fábulas. Considerado um herói tem o poder de se transformar em um camaleão. Ele é um grande tecedor de teias e chegou até o céu para conversar com Nyame e trouxe as histórias para a terra. Anansi também é um grande galanteador de mulheres.

AFRICAN FOLKTALE - ANANSI



Diversas são as histórias, uma das mais conhecidas é quando Anansi tenta acumular toda a sabedoria e guardando-a em uma cabaça. Não satisfeito com a segurança das histórias, esconde a cabaça em cima de uma árvore espinhosa (ou um algodoeiro), no entanto, a cabaça cai e quebra espalhando a sabedoria pelo mundo.

Em Gana os contos de Anansi estão em livros e panfletos e em peças teatrais os quais apresentam Ananse como o personagem principal. Os dramaturgos interessados em preservar a cultura oral tradicional, com algumas das características de narração de histórias, incluindo a interação entre o contador de histórias e o público tem em Anansi o compendio da oralidade.

Os contos têm inspirado diversas histórias com muitas variantes de sucesso, entre eles nos quadrinhos Marvel a minissérie Tales Spider-Man Fairy e nos contos da Disney, Anansi está presente também no Rei Leão. Diversos livros infantis foram escritos, peças teatrais são apresentadas e Anansi é citada em musicas, filmes e jogos.

É interessante o poder da mídia, quando divulgou pelos quatro cantos do planeta que iriam lançar um homem aranha preto. O editor chefe da Marvel, Alex Alonso, disse que a personagem preta do Homem-Aranha era um esforço publicitário e um reflexo da indústria se adaptando à sociedade moderna. "Essa é uma decisão consciente. Aqui na Marvel nós nos orgulhamos de refletir o mundo real com toda sua diversidade".

Anansi foi relembrado e usado como o espírito de rebelião dos escravizados, capaz de subverter a ordem social, criarem riqueza para aqueles despojados de tudo; enfrentar o inimigo (senhor branco) e enganar a própria morte. Anansi em seus contos é derrotado em algumas histórias e na maioria sai vencedor, é um alento e uma esperança para as rebeliões e fugas. Anansi transmitiu em toda a Afro-América a esperança para os oprimidos africanos e descendentes que valia a pena resistir sempre.

Escrevi um poema para a preta que eu gosto e nele eu falo da bela Kisimbi e de Anansi e o seu poder de criação, Abaixo o poema:


A minha página de poesias no Facebook: https://www.facebook.com/PretasPoesias

2 comentários:

  1. A mitologia como ciência que estuda representações construídas pelo homem para interpretar e explicar fenômenos, assim como transmissão de lições, pode ter nascido do desejo e da necessidade de dominar o mundo, para fugir ao medo e à insegurança também como forma de protesto romantizado diante das situações que assolavam a humanidade.
    As coisas eram vistas como plenas de qualidades, podendo tornar-se boas ou más, amigas ou inimigas, familiares ou sobrenaturais, fascinantes e atraentes ou ameaçadoras e repelentes. Assim, o homem se movia num mundo animado por forças que ele precisava agradar para haver caça abundante, para fertilizar a terra, para que a tribo ou grupo fosse protegido, para que as crianças nascessem e os mortos pudessem ir em paz para o além afirmou Antonio Carlos Olivieri.
    Na idade contemporânea que vivemos falar de simbologia para algumas pessoas significa empirismo, arcaísmo, já que o interessante nos tempos atuais é a dessacralização. Entretanto a simbologia traz consigo histórias de lutas, de sabedoria, de manutenção de laços de povos que construíram uma cultura linda e rica que por vezes foi depreciada e usurpada. As histórias da Ashanti como de outras personagens da mitologia africana trazem consigo valores, força, resistência que transpõem qualquer tempo e as idades da Terra. Ser contemporâneo não significa perder a admiração e capacidade de aprender através dos ensinamentos dos nossos ancestrais compactuo com o pensamento do Giorgio Agamben: A contemporaneidade é, pois, uma relação singular com o próprio tempo, que adere a este e, ao mesmo tempo, toma distância dele. Mais exatamente, é "essa relação com o tempo que adere a este, por meio de uma defasagem e de um anacronismo". Os que coincidem de um modo excessivamente absoluto com a época, que concordam perfeitamente com ela, não são contemporâneos, porque, justamente por essa razão, não conseguem vê-la, não podem manter seu olhar fixo nela.

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  2. Há outro mito ashanti que não envolva anansi?
    Obg

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